Sobre a Reforma Protestante.



     Depois de todo o frisson por conta das celebrações de 31/10/2017, que para o mundo cristão evangélico e protestante é uma data emblemática e simbólica. Este ano então se reveste ainda mais de nuances significativas. Por conta disso, estive pensando em como abordar um acontecimento ocorrido há quase 500 anos e que foi capaz de transformar drasticamente a vida de milhões de pessoas.
A Reforma foi um evento de natureza interna no seio do catolicismo romano do século XVI que teve como resultado imediato um cisma. Todavia, as consequências desse cisma ainda não podem ser mensuradas com precisão, pois provocou um efeito dominó avassalador em todas as instituições políticas, sociais, culturais e, claro, religiosa de sua época.


     Também não foi um evento pacífico. Muitas vidas foram ceifadas por causa dessas disputas no campo teológico e religioso e seus desdobramentos trouxeram consequências diretas na vida dos mais humildes, aqueles que sempre estiveram e estão na base da piramide social. Nesta época, os camponeses.


     Mas o meu objetivo ao fazer algumas considerações a cerca do evento Reforma, não resulta de um apanhado histórico. Acho até, que por causa da magnitude deste evento no seio da cristandade europeia, existe um volume imenso de informações viabilizadas por inúmeros historiadores que o abordam com muito mais propriedade. Estas informações estão aí para serem consultadas e com uma vasta gama de registros históricos devidamente catalogados e documentados.


     Mas então, qual poderia ser o objetivo ao me debruçar sobre esta temática? E começando a responder a questão a cerca dos reais objetivos dessa abordagem, eu gostaria de dizer que a minha perspectiva tentará se manter como aquele que olha para o vasto leque destes registros históricos, mas de fora desse ambiente. Essa perspectiva se justificará por alguns argumentos que mais a frente serão esboçados.


     Caracterizando melhor este olhar de fora, eu diria que pode ser identificado pela perspectiva daquele que foi colonizado e não do colonizador. Sim senhor, a minha perspectiva é a mesma daqueles que sofreram a ação da empresa da colonização. Daqueles que foram subjugados por um poder hegemônico representado por duas monarquias católicas.


     O ambiente da reforma é representado por um cenário tipicamente europeu e está restrito a este continente. Por outro lado, este cenário pode mascarar a real situação a que estava envolvida toda a Europa. Já que à margem desse debate de natureza interna do catolicismo, havia um grande número de grupos religiosos que jamais se submeteram ao catolicismo romano. E que deliberadamente viveram e buscaram sempre viver à sua margem.

   
    Eles eram independentes e mesmo depois de consolidado esse grande cisma, continuaram independentes. Por conta disso foram também perseguidos pelos reformadores. Esta antipatia inicial e belicosa entre católicos e protestantes, que estava restrita ao continente europeu. Acabou contaminando todos contornos de áreas que estavam sob influência europeia.


     Especialmente a América ou mundo novo, recentemente descoberta, e tendo como metrópole as duas nações ibéricas governadas por Reis católicos: Espanha e Portugal. Foi um verdadeiro laboratório de experimentação ao ar livre. Medidas foram tomadas no sentido não somente de ocupação dessas imensas áreas a serem exploradas, bem como uma bem sucedida apropriação e doutrinação do corpo e alma da população autóctone aqui encontrada.


     Além do projeto de apropriação e posse territorial, estava em andamento o projeto catequético para a conversão dos povos neste novo mundo encontrados. Este projeto também buscava uma compensação pela perda considerável de rebanho no velho mundo, a Europa.


     Então, ao propor uma linha de abordagem deste texto e concentrá-lo desde uma perspectiva que leva em consideração aquele que foi e que é explorado. Os pontos positivos que, a rigor, alguém poderia tentar apontar, praticamente desaparecem. O que dá pra se perceber ao olharmos para o continente europeu pós Reforma é um sintomático desmoronamento como o de um castelo de cartas.


     Aquela estrutura piramidal religiosa e europeia que ruiu, foi transposta e imposta de forma bem mais agressiva e violenta no continente americano. Principalmente na América Latina e especialmente no cone sul. E isso ficou bem claro pela maneira com que foram organizados os colégios jesuítas. E a forma metódica e hierarquizada para a sua constituição. Para tanto foi desenvolvido um guia pedagógico de estudos com objetivos a serem alcançados.


     Este guia mais conhecido como RATIO ATQUE STUDIORUM, teve sua forma inicial escrita pelo fundador da ordem, Ignacio de Loyola e, ao longo de décadas, foi passando por aperfeiçoamentos em sua forma escrita e conceitual. Mas até hoje, do ponto de vista dos resultados obtidos, recebe críticas bastante positivas até mesmo daqueles menos simpáticos aos Jesuítas.


     A Reforma, em que pese as circunstâncias de seu desenvolvimento, pode ser entendida como a ponta de um ice berg, que em seu topo transparece aquela imagem de um exuberante branco. Porém que penetra ao mar abissal e gélido, mascarando tudo quanto possa irromper como emanação de calor. Ela foi um movimento ocorrido no seio do catolicismo que visava reformar esta instituição e patrocinado por insurgentes de dentro dessa estrutura religiosa.


     Se começarmos a refletir sobre as mudanças paulatinas que ocorrem no continente europeu e que são indícios de que os parâmetros de aferição da verdade estão sendo não substituídos, porém enquadrados a partir de uma diversidade de perspectivas. Pode se afirmar com tranquilidade que o movimento reformador está naturalmente localizado neste contexto de enquadramento.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Fiquem com a fé!!!

  Texto - Hebreus 12:1-16 Tema - Fiquem com a fé!!! ICT - Assim como essa grande nuvem de testemunhas do passado. É nosso dever e obrigação ...