TEXTO - SALMO 90

TEMA - UM RELACIONAMENTO CONTURBADO

ICT - O relacionamento do homem para com Deus é conturbado. Porém, tal como o salmista nos ensina, o homem, ainda assim, precisa reconhecer a soberania divina sobre sua vida. Ao mesmo tempo que busca a construção da comunhão mais sólida e estável com Deus.

OBJETIVO GERAL - Levar a congregação, nesta noite de celebração, a ter uma consciência maior da presença real divina em sua vida.  

OBJETIVO ESPECÍFICO - Levar a congregação conscientização da presença real e divina e de que a mesma nos trás à memória a consciência de que também somos trazidos a juízo. 

TESE -  O relacionamento é conturbado e a oração é a ferramenta à nossa disposição para construirmos uma qualidade melhor de relacionamento.





INTRODUÇÃO



     Este salmo é o único a que se credita a autoria a Moisés. A maneira como o salmista dispõe este relacionamento conturbado do homem para com Deus, obedece uma dinâmica cronológica. Assim como aponta para o tempo como maior inimigo do homem, quando comparado com o ser divino que sequer sofre, ou padece das consequências relacionadas a erosão nessa linha tênue entre o tempo e a eternidade.

     A fidelidade divina é o elemento destacado pelo salmista nesta escala do tempo. As sucessivas gerações que se encontraram e se relacionaram com Deus no transcurso desse tempo cronológico e a capacidade que o salmista tem para quantificar este tempo é também a maneira como o próprio salmista faz um diagnóstico de que este relacionamento para com Deus tem sido bastante conturbado. 

    A mesma capacidade de leitura, digo, de quantificar o tempo e que no parágrafo anterior foi destacada como uma característica positiva do salmista. Também revela a sua limitação, que, muito embora, em sua busca pelo passado, enalteça a soberania, a fidelidade e acima de tudo o caráter sempiterno divino, mas sempre desde as experiências e testemunhos dos antigos que em grande parte são também frustrantes.

     A forma como o salmista se relaciona com o passado são as experiências que os antigos ou antepassados também tiveram com Deus. E nesta forma de se relacionar com o passado, o salmista é capaz de ver e constatar que desde sempre Deus foi um refúgio ou abrigo. E quando essa retrospectiva começa a se perder com o tempo. Ou seja, o salmista já não consegue mais quantificar o tempo. Há a alusão a um momento antes do tempo e que mesmo assim o ser Deus ainda é uma realidade incontestável: "(...)Mesmo de eternidade a eternidade, tu és Deus."

     Uma tentativa de se harmonizar as questões de natureza técnico-científica com o legado e a tradição bíblica quando o assunto são as origens do homem e toda espécie de celeuma que a discussão de um assunto como este pode gerar entre a comunidade científica e técnica e a comunidade religiosa, é o estabelecimento e equilíbrio entre as eras que demarcam a atribuição deste ou daquele elemento e ou documento histórico pertencente aos diversos estágios por onde se deu  o surgimento e a ocupação humana pelo espaço físico da terra. 

     Ainda com base ao que foi aludido no parágrafo anterior, quando lemos o capítulo 4 de Gênesis e a relação conturbada entre dois irmãos e o que resultou disto que foi um crime de homicídio. Percebe-se que o autor ao fazer o relato deste acontecimento lamentável, descreve também a transição entre algumas eras. E quem nos ajuda a ver dessa maneira é a própria ciência antropológica e arqueológica já que os versos 1 e 2 do capítulo 4 de Gênesis nos dão conta do tipo de atividade a que se dedicavam estes dois irmãos: Um era agricultor, o outro pastor de ovelhas. 

     A ciência diz que o NEOLÍTICO, ou pedra polida, é aquele período ou era que sucede o PALEOLÍTICO, pedra lascada. Localizar no tempo o ambiente dessa narrativa, em linhas gerais, significa colocá-la entre o PALEOLÍTICO, era anterior e o período da escrita a era posterior e, por conta disso, já nos encontramos com o período que chamamos de HISTÓRIA. De acordo com o relato encontrado no verso 22, onde se faz referência ao aparecimento de um dos descendentes de Caim, conhecido como Tubalcaim. A informação que se tem a respeito de sua atividade era de que ele era mestre em todo obra de cobre e ferro. Ou seja, estamos em plena era do bronze. 

     Desde uma perspectiva histórica e afetiva do salmista, uma vez que é a sua percepção que identifica os caminhos tortuosos que os homens tem tomado em sua vidas, e não por falta de advertências divina. É o modo como o salmista também reconhece o agir soberano de Deus tanto no passado quando trouxe seu juízo punitivo sobre a desobediência(Uma referência à queda no Éden e consequentemente a Adão e seus descendentes), quanto neste tempo de onde seu olhar observador para este passado está situado.

     Se contrapõe por isso mesmo a esse olhar observador e retrospectivo do salmista a forma como Deus observa, age e soberanamente traz juízo sobre todo e qualquer ato de impiedade que o homem pratica. Para o salmista é inútil quantificar o tempo já que este do ponto de vista de Deus trás à sua memória tanto a consciência de culpa pelos delitos pecaminosos iniciada pela sequência ou ciclo do dia, quanto a iminência de uma justiça punitiva por onde se manifesta a ira divina sobre esta mesma impiedade.

     O maior transtorno para o salmista é de saber que perante a face do Senhor não existe e não resiste um ser iníquo tal como é o próprio homem. Nada permanece oculto perante o olhar santo do Senhor. O resultado é o marasmo que se arrasta de uma vida pela sequência e viração dos dias de nossa vida e sob o furor e indignação divina por conta dos nossos pecados. A consciência de uma culpa por conta de nossos delitos pecaminosos, e o fato de não termos como resistir na situação que nos encontramos perante a face do Senhor é o fator preponderante que resulta em nossa finitude.

     O ponto central e paradigmático da finitude humana e suas tentativas de superar mesmo a partir das limitações impostas ao homem causadas pelo pecado é o que se pode considerar a partir dos seus registros que, afinal de contas, ficam para a posteridade. Neste verso há algumas tentativas marcadas em algumas versões das escrituras de se traduzir melhor este estado de coisas em que se encontra o homem. Algumas dessas versões a traduzem como uma situação fora de qualquer propósito. Eu sintetizaria o final do verso 9 como uma subjetividade fora de qualquer propósito, como aquilo que traduz melhor a nossa finitude.

     A partir do verso 10 já se pode tirar a  conclusão a que o salmista chega sobre a finitude humana desde sua perspectiva para aquele tempo em que vivia, mesmo que em alguns casos e por causa da boa saúde que um ou outro pudesse gozar, com o passar dos anos todos haverão de experimentar o seu ocaso. E impreterivelmente em consequência do pecado a ira de Deus permanece a mesma. O pecado aqui representado pela natureza pecaminosa do homem somente se paga com o preço maior que é a própria finitude humana.

     Com o verso 12 o salmista consciente da situação insustentável diante diante de Deus, busca através da súplica uma forma de equilíbrio nesse relacionamento conturbado. Ele vem dando desde o início deste salmo sinais de que tem capacidade para quantificar o tempo, muito embora, e, a partir deste momento reconheça que o que faz ainda não foi e não é suficiente. Então ele roga para que Deus que é também Senhor do tempo o ensine a contar os dias com a finalidade de que ao final, ou seja, com o objetivo de se adquirir sabedoria, ou corações sábios. E por que será que ele se presta a buscar esse coração sábio?  A finalidade é não mais pecar contra o Senhor.

     Eu não teria que fazer este tipo de analogia neste texto, buscando uma situação paralela e que também destoe do que até aqui tem se desenhado no tocante a análise e descrição deste salmo. Mas me lembrei do PANTHEON grego e entre esses deuses mitológicos destaca-se a figura de Zeus, o deus indo europeu da fertilidade. E a grande característica dessa divindade quando desce do Olimpo para seduzir alguma donzela, é se travestir em alguma forma humana ou animal, já que não pode se apresentar da forma como é(O exemplo mais emblemático foi a relação entre Zeus e Sêmele).     

     No caso do salmista e, especialmente neste salmo, ele sabe, e tem consciência da dimensão e grandeza do ser de Deus e da incompatibilidade de convivência Deste, o todo poderoso no meio do seu povo e o risco de serem consumidos. Ainda assim busca pela presença do Senhor com o objetivo de que Ele vire seus olhos na direção dos homens. É uma maneira de fazer com que Deus agora direcione para o homem um olhar de misericórdia: "Aplaca-te com os teus servos." O salmista então está rogando a Deus pra que Ele seja mais suave, mais ameno para com os homens de tal maneira que a convivência possa efetivamente acontecer com aqueles que se prontificam na contra partida a servi-lo. 

     Se no sexto parágrafo desta introdução que numa clara alusão ao verso 4 deste salmo, fiz menção deste ciclo de vida pecaminosa onde o homem está inserido. Agora, a partir dos versos 14 e 15, o salmista não sugere alteração dos rumos do ciclo da vida; mas sugere que Deus derrame das suas misericórdias sobre este mesmo homem e que ambos nesta nova fase de convivência possam se alegrar. É entendimento do salmista de que esta convivência alegre, festiva e sadia seja recompensadora e supra, inclusive, os anos em que os homens passaram sob a aflição de estarem debaixo da ira divina.

     Não resta dúvida de que ao se fazer algumas referências neste salmo ao Gênesis e a criação, o salmista automaticamente abordou a questão da queda como resultado direto da desobediência. E a partir do momento que faz da súplica o elemento de aproximação com Deus pra que o homem tenha uma convivência pacífica com o Senhor. Ele propõe que este mesmo homem esteja na condição de servo. Acertar as arestas entre o homem e Deus colocando o homem em sua situação de servo restaura em parte aquela condição que o homem possuía antes da queda em ser esplendor ou reflexo do ser divino: "Façamos o homem a nossa imagem e conforme a nossa semelhança"(Gênesis 1:26).

     



I - MESMO COM UM RELACIONAMENTO CONTURBADO, DEUS É A REFERÊNCIA E O PONTO DE REFÚGIO OU MORADA DOS HOMENS. (V.V.1-3)



     Alguns críticos das escrituras apontam para uma origem histórica deste salmo. E já falamos aqui de que ele é apontado como sendo de autoria de Moisés. E provavelmente Moisés estava no deserto em meio as correrias e demandas daquele povo. A sua memória histórica advém da relação histórica deste povo para com o seu Deus. A referência portanto a Deus como refúgio de geração em geração tem uma relação direta com essa memória histórica.

     E fazer alusão à memória histórica significa que muito embora e apesar de todos os problemas advindos dessa relação conturbada do homem com Deus, o salmista não se esquece de como ainda assim o Senhor tem se mantido fiel. Numa relação de confiança que envolve responsabilidades recíprocas, não há como, desde essa visão do salmista, questionar a fidelidade divina. Deus tem sido sobre maneira fiel para conosco.

     O ponto de equilíbrio, de sustentação, de preservação do povo de Deus é o seu próprio Deus. E essa capacidade do salmista de testemunhar da fidelidade divina é por onde se identifica a forma pela qual Deus não somente age na direção do seu povo, se mantém fiel a seu compromisso e pacto com  esse povo, assim como revela que está presente na história ao se constituir como refúgio ou morada para este povo. 

     Desde uma visão antropomórfica onde o autores bíblicos se valem de conceitos e valores humanos para fazerem algum tipo de referência com relação ao ser de Deus. Acho que esse tipo de análise pode ser utilizada aqui neste verso 3. Principalmente se neste verso o autor dá uma guinada quanto ao olhar de quem para quem. Por causa de sua perenidade Deus antropomorficamente assiste às sucessivas situações de finitude experimentadas pelos homens desde o evento queda.

     E esta observância por parte do Senhor é o elemento que marca não somente a sua perenidade assim como estabelece em decorrência da queda a pena que está imposta ao homem por causa de sua desobediência. O texto em sua versão mantém o caráter proativo e soberano de Deus. Entretanto, sabemos que a versão objetivou sustentar essa característica ou peculiaridade que é própria da gramática e língua hebraica. Mas, por causa da queda, o homem não subsiste ao tempo.




     
II - O OLHAR DIVINO É AVASSALADORAMENTE  DESPROPORCIONAL, QUANDO COMPARADO AO RESQUÍCIO DE VIDA PRESENTE NO HOMEM TAL COMO O CICLO DE VIDA DA ERVA.  (V.V. 4-7)


     Quando adentramos ao verso 3 no tópico passado, fiz a observação de que a partir deste verso houve uma guinada quanto a observação e olhar divino. O olhar narrativo migrou do olhar desde uma perspectiva humana para o olhar divino propriamente dito. E ao alterar a perspectiva da narrativa transferindo-a sob a égide do olhar divino percebe-se de cara uma relação infinitamente assimétrica entre um olhar e outro. Ou seja, entre o olhar divino e  o humano e que vai na direção, do ponto de vista da eternidade ou não, entre o que é passageiro e o que é eterno.

     Do ponto do homem e a fugacidade do tempo, o salmista consegue quantificar o tempo e ao equiparar o que são mil anos desde uma consciência construída com base no conhecimento que se tem a cerca do ser de Deus, ele também consegue ver a grandiosidade dessa relação fugaz que o homem tem com o tempo. O que são efetivamente mil anos para Deus? Para o salmista mil anos é no máximo, caso queira compará-lo, o dia de ontem, que se foi, ou como a vigília da noite. É como um sono, ou como uma erva que cresce, corta-se e seca. Ou seja, tudo é muito fugaz.

     Estamos falando desde que o homem começou a quantificar o próprio tempo, de ciclos de vida e neste contexto, podemos falar da própria vida humana. Já que até mesmo a questão narrativa colocada até aqui, define a vida desde uma ótica que leva em conta conceitos tais como o de intencionalidade e daí e por consequência uma razão muito forte subjetiva se encontra presente em toda esta estrutura narrativa.

     A percepção de que o olhar divino se sobrepõe ao homem chega a ser algo que incomoda ao homem e lhe traz à memória não somente a sua condição de pecador e indigno de permanecer diante presença divina, assim como em decorrência dessa indignidade o homem tome consciência de sua finitude. Agora, ter consciência da finitude inclui também a consequência do que isso representa: Na condição em que nos encontramos atualmente, estar na presença de Deus nos conduz a percepção do pavor devido ao caráter de Deus, justo e santo. E pela justiça divina se toma conhecimento de sua ira.
    




III - MESMO QUE AS NOSSAS INIQUIDADES E PECADOS OCULTOS POSSAM NOS TRAZER LETARGIA E INCONSEQUÊNCIAS DE COMPORTAMENTOS, NÃO ESTAMOS IMUNES AO OLHAR E AJUIZAMENTO DIVINO A CERCA DE NOSSAS VIDAS. (V.V. 8-10)


     Uma verdade que se repete com tamanha naturalidade e os salmos são o maior exemplo disto, é que homem algum se torna incógnito ou passa despercebido diante do olhar do Senhor. E o que causa bastante desconforto por parte do homem é saber que nenhum pecado ou falta fica encoberto. As nossas iniquidades e pecados vêm à tona por causa do olhar do Senhor. E não adianta criarmos algum emaranhado de situações em que estejamos envolvidos de tal maneira que alcancemos algum tipo de discurso ou justificação para as nossas ações. Nada disso é suficiente para que haja alum tipo de justificação diante de Deus.

     Qualquer ação de nossa parte neste sentido é totalmente ineficaz. O verso 9 aduz a este olhar inquisidor divino, por conta dos nossos pecados, a questão da fugacidade do tempo ao afirmar que é como um suspiro(Bíblia de Jerusalém) e que também pode ser equiparado ao que a aranha faz ao tecer sua teia(Vulgata), ou seja, um emaranhado onde a cada momento nossas vidas cada vez mais se afundam. Um castelo de cartas, onde se percebe a engenhosidade como qualidade do homem, mas que não se sustenta quando se depara com as vicissitudes da vida.

     A dificuldade que temos em nos comportar de maneira natural quando nos encontramos sob o olhar perscrutador e inquisidor, principalmente quando quem nos observa é o próprio Deus dá bem a dimensão do que é também a nossa situação diante dele. Eu estava meditando em algumas situações que podem ter levado o tradutor da versão que utilizo nesta reflexão(ACF, Almeida Corrigida e Fiel). E comparando-a com a imagem que a Vulgata utiliza: "Sicut aranea meditabantur". Ela tece a sua teia que é a sua proteção, mas também a sua ruína.

    Por mais que sejamos capazes de criar um emaranhado de situações, e temos expertises quanto a isso. O tempo desde uma cronologia própria e nossa. O nosso tempo é o tempo do relógio. Nossa vida, os nossos passos, são todos cronometrados. Logo, eles também exibem um caráter de finitude próprio de nossa situação. E a única conclusão que se chega é que o nosso tempo é finito. Ele tem fim e com o fim do tempo também se decreta a nossa finitude. O Ser infinito e eterno impassível a erosão que este tempo cronológico nos impõe está aí para nos lembrar disso.

     O tempo enquanto ciclo e delimitador de uma existência como  a nossa é elemento fundamental, e funciona como suporte para muitas das nossas meditações ou reflexões. A mitologia grega tinha uma fórmula capaz de dominar o tempo tal qual conhecemos, e, por conta disso, alcançar a eternidade. Esta fórmula é contada através da gerra dos Titãs, ou TITANOMACHIA. Na tradição grega, Zeus alcançou a eternidade ao destronar seu pai o Titã CHRONOS, ou seja, o Deus do tempo.

     É evidente que por ser uma tradição mitológica e estar carregada de uma beleza estética e poética, ainda assim, pesa sobre cada um de nós o juízo divino e não há como nos livrarmos de tamanho juízo. Mesmo que queiramos apelar para um senso crítico, porém, de juízo estético com a ajuda da ética e da lógica como faziam os antigos gregos.

     

      

IV - A CAPACIDADE QUE O HOMEM POSSUI DE QUANTIFICAR O TEMPO ATRELADA AO RELACIONAMENTO CONTURBADO COM DEUS PODE GERAR DUAS SITUAÇÕES. (V.V. 11-12)


     Em tese, já afirmamos aqui que a única maneira de começarmos um relacionamento sadio saudável para com Deus, envolve uma relação de obediência e de reconhecimento da soberania divina sobre a nossa a vida. E desde que iniciamos a redação deste texto, viemos falando e até mesmo enaltecendo, pelo menos, do ponto de vista da capacidade do salmista,  a sua destreza em quantificar o tempo. Por outro lado, como se pode ver, somente isso não é suficiente e não resolve o tipo de relacionamento conturbado que temos para com Deus.

     O que falta então? Já que este tipo de habilidade de quantificar o tempo e com o tempo todo e qualquer ser humano seria capaz de fazer tal coisa. Era somente uma questão de tempo de adestramento dos demais seres humanos. Há um dom colocado no homem pelo próprio Deus no homem, seu criador. Que é a sua capacidade de se reinventar. E o homem se reinventa por ser capaz de, ao fazer uso de sua memória afetiva, histórica, etc. Rever em que condições e aspectos ele errou e na sequência não repetir aqueles mesmos erros.

     Mas, somente isso não é suficiente. Pois se ele é capaz de se reinventar. Se ele é capaz de repetir as mesmas ações em contextos ou situações semelhantes sem que incorra novamente nos mesmos erros, por que então não se corrige? Eu poderia afirmar que a nossa maior dádiva na criação, também é a nossa maior tragédia. E aqui, não quero, em hipótese alguma, entrar na questão do livre arbítrio, propriamente dito. Quero falar tão somente de um dado que, em alguns momentos passa despercebido. O pseudo discernimento que achamos que temos a cerca de tudo, inclusive a cerca do nosso próprio futuro.

     Torno a destacar a questão de uma relação de obediência e serviço do homem para com Deus, e que se vislumbra neste verso de número 12. O salmista faz um contundente pedido ao Senhor para que Ele o ensine, o conduza em contando o tempo no sentido de o quantificar pra que ele alcance um coração sábio. O salmista tem plena consciência de que ele precisa buscar a complacência, compaixão, misericórdia divina. Não somente isso, ele também precisa buscar ajuda divina para que através da melhor e mais apropriada forma de se quantificar o tempo ele também alcance um coração mais sábio.

     Buscar um coração sábio tem um objetivo que é o de não mais pecar contra o Senhor. Há inúmeras passagens bíblicas, inclusive nos salmos, onde encontramos por parte de outros salmistas, principalmente o Rei Davi, uma preocupação em não pecar contra o Senhor(Salmo 41:4; 51:4; 119:11). E talvez, a principal preocupação do salmista ao pedir auxílio do Senhor na sua maneira de contar os seus dias, não é no sentido primordial de se ter uma sobrevida além daquela que o próprio salmista faz referência no verso 10. E sim, mesmo que vivendo apenas na média uns setenta anos, que seja uma vida de relacionamento saudável para com Deus.

     



V - É INCONDICIONAL O RECONHECIMENTO DE QUE CARECEMOS DA PRESENÇA DE DEUS EM NOSSO MEIO.(V.V. 13-17)


     Pelo menos, é isso que o salmista a partir do verso 13 destaca ao se voltar na direção do Senhor com um clamor pedindo pra que Ele seja mais complacente para com o seu povo. Ele literalmente apela para a misericórdia divina. O clamor que faz contempla a qualidade de um servo que busca a misericórdia de seu mestre e Senhor. Mesmo que consideremos as circunstâncias em que viviam as pessoas no mundo antigo e aquela percepção pagã de que por qualquer motivo os deuses podiam se irar contra os seres humanos. O salmista com esta atitude e em reconhecimento a tudo que o Senhor tenha feito por seu povo, memória histórica de Israel, clama pela presença do Senhor.

     Já foi falado aqui e inúmeras vezes da capacidade do salmista em quantificar o tempo, ao mesmo tempo, que o mesmo se ressente da presença pela ausência do Snhor, e isto em virtude de sua não condescendência com o pecado. Já oi falado, inclusive, que por causa do pecado o resultado é apenas um, um relacionamento conturbado e quase irreconciliável. Porém, não falta, pelo menos, por parte do salmista, o desejo de se restabelecer um mínimo possível de um relacionamento entre o o homem, neste caso o povo  de Israel, e o seu povo.

     Por conta daquele sentimento de finitude já descrito neste salmo ao se olhar e contemplar a perenidade divina exemplificada não somente por causa de sua fidelidade para com seu povo. Já que as gerações vão passando e dia após dia, o que se vê é o homem caminhando em direção daquilo que lhe foi imposto por punição por causa da desobediência. O salmista enxerga a possibilidade de se reverter esta situação do ponto vista da situação que o homem se encontra hoje e sua real situação quando comparada a sua condição para com Deus.

     "Farta-nos com a tua benignidade", ou seja, é somente pela mudança de atitude de Deus para conosco, quando Ele deixa de ser exigente do ponto de sua justiça, tão somente para estar junto de nós, vindo em nossa direção movido pela sua misericórdia, compaixão, benignidade. É o que o salmista dá a entender que a presença divina em nosso meio é imprescindível para a nossa existência e preservação. Portanto, pode-se concluir que é incondicional o reconhecimento de que carecemos da presença divina em nosso meio.

     A súplica pela presença divina no meio de seu povo é a prova cabal de que carecemos sim de sua presença. Pois, quando o Senhor está entre nós a alegria retorna aos nossas corações. E o motivo, ou explicação é simples. A presença divina nos traz discernimento moral. Uma coisa foi provar o mal pela prática da desobediência tal qual está relatado no Gênesis. Outra coisa, é o que veio a seguir por causa dessa desobediência do passado, e ao  virarmos as costas para  o Senhor a nossa situação tornou-se deplorável e catastrófica.

     Volta-te pra nós, aplaca-te (Ira), farta-nos com a tua benignidade, alegra-nos como compensação por todas as aflições que já passamos, apareça ou revele a tua obra e a tua glória, seja sobre nós a tua formosura e que as obras de nossas mãos tenham a tua confirmação, a tua chancela. Cada sentença verbal enumerada tem uma súplica específica. Porém todas elas confirmam o grande anseio do salmista de que o Senhor seja uma presença constante em sua vida. Ele resignadamente revela por meio dessas súplicas enumeradas o desejo de que em qualquer situação em que se encontre, tudo quanto fizer tenha a chancela divina.
     





CONCLUSÃO
  

     Uma síntese bastante plausível em toda a escritura e que pode ser aqui confirmada através da leitura deste salmo, é que, muito embora e desde a queda, em que o homem teve abalada a sua relação com Deus, e portanto, o teor e a temática neste texto foi desenvolvida sob este ponto de vista. É que, a despeito de Deus não ser condescendente com o pecado, e esta foi a causa de seu afastamento em relação ao homem. A reconciliação ou aproximação junto ao homem jamais foi descartada. Entretanto, o homem precisa estar ciente de que a reconciliação é possível e obedece alguns ordenamentos dentre os quais pode se destacar uma relação de submissão.

     Quantas vezes nós já ouvimos e até mesmo falamos a cerca da soberania divina? Em teologia, este tipo de temática gera até mesmo desavenças e debates por demais contundentes, principalmente entre os protestantes. Ultimamente este debate tem sido um pouco mais acirrado. Talvez por causa do advento e proliferação das mídias sociais. Quem é que nunca ouviu falar das querelas existentes entre arminianos e calvinistas. E tudo isto gira em torno da questão da soberania divina. E quando adentamos em um assunto como este não há como não acorrermos para o Gênesis e, em especial, ao trecho que trata especificamente da QUEDA(Gênesis 3).

     Foi a partir da queda que o relacionamento entre o homem e Deus ficou abalado e cada vez mais com o passar dos anos ele ficando conturbado. E foi exatamente o que foi sendo observado e de forma paulatina na leitura deste Salmo. Um dado ficou por demais destacado nesta leitura. Ele se acentuou devido ao peso da culpa que o homem tem carregado sobre si devido  a sua desobediência. O dia raia, entra a tarde, chega a noite e novamente o raia novamente e homem continua carregando esse fardo de culpa por causa da desobediência.

     Então o salmista deixa claro que a primeira coisa a se fazer para se tentar recuperar um relacionamento com Deus. Começa por apelar a sua misericórdia, sua benignidade. Ele entende e chega a esta conclusão neste mesmo salmo que Deus somente se voltará para ele e seu povo se efetivamente se buscar pela sua misericórdia. E se Deus, por causa de sua misericórdia, se voltar para ele, então, é hora de mostrar também a disposição de se submeter a seu senhorio. Ele precisa deixar que o Senhor, somente o Senhor seja soberano em sua vida. Lembro-me aqui das palavras de Jesus: "Não se pode servir a dois senhores." (Mateus 6:24; Lucas 16:13).

     Então a relação de submissão a Deus é elevada a categoria de alguém que deseja ter uma vida de sabedoria e entendimento a cerca das coisas. Quando a escritura, principalmente no AT relaciona a sabedoria a uma vida de submissão, ela acompanha o entendimento e o espírito daquele que cria e depositava toda sua confiança no Deus Santo e misericordioso que se revelou a seu povo Israel(Salmo 111:10; Provérbios 1:7, 9:10; Jó 28:28). A chave para o entendimento de que nossa vida pode ser tocada sem que estejamos em um constante relacionamento conturbado para com Deus, é buscarmos de forma submissa pela misericórdia divina. Que Deus nos abençoe e tenha misericórdia de nós, Amém!

     

     

      

     



     

     

     

        

     

      

     

     







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