Púlpito Forte Igreja Saudável

 PÚLPITO FORTE IGREJA SAUDÁVEL.


"Por esta causa te deixei em Creta"

(Tito 1:5)


Paul's Greeting to Titus

(2 Corinthians 8:16-24)

1 Παῦλος δοῦλος Θεοῦ ἀπόστολος δὲ Ἰησοῦ Χριστοῦ κατὰ πίστιν ἐκλεκτῶν Θεοῦ καὶ ἐπίγνωσιν ἀληθείας τῆς κατ’ εὐσέβειαν 2 ἐπ’ ἐλπίδι ζωῆς αἰωνίου ἣν ἐπηγγείλατο ὁ ἀψευδὴς Θεὸς πρὸ χρόνων αἰωνίων 3 ἐφανέρωσεν δὲ καιροῖς ἰδίοις τὸν λόγον αὐτοῦ ἐν κηρύγματι ὃ ἐπιστεύθην ἐγὼ κατ’ ἐπιταγὴν τοῦ Σωτῆρος ἡμῶν Θεοῦ


4 Τίτῳ γνησίῳ τέκνῳ κατὰ κοινὴν πίστιν Χάρις καὶ εἰρήνη ἀπὸ Θεοῦ Πατρὸς καὶ Χριστοῦ Ἰησοῦ τοῦ Σωτῆρος ἡμῶν


Appointment of Elders on Crete

5 Τούτου χάριν ἀπέλιπόν σε ἐν Κρήτῃ ἵνα τὰ λείποντα ἐπιδιορθώσῃ καὶ καταστήσῃς κατὰ πόλιν πρεσβυτέρους ὡς ἐγώ σοι διεταξάμην




Introdução 



Nos três versos iniciais desta epístola, o apóstolo lança mão das justificativas teológicas, doutrinárias e dogmáticas, pelas quais ele estabelece Tito como pastor da Igreja em Creta. Paulo fala de sua investidura apostólica que possuía como missão essencial a condução dos eleitos de Deus à fé e ao conhecimento da verdade. Entender a profundidade das palavras do apóstolo é fundamental para tudo que vem pela frente. É fundamental, inclusive, para tratarmos de assuntos como a soberania de Deus no plano de salvação. Ou seja, Deus já tem os seus eleitos, e não nos cabe avocarmos pra nós mesmos nenhum tipo de glória ao considerarmos que quando alguém se converte isto acontece por causa da pregação de "A", "B", ou "C". A tarefa da pregação é pavimentar o caminho por onde esses eleitos devem trilhar. E o mote ou vetor estabelecido como parâmetro durante essa trajetória de fé é a esperança da vida eterna prometida por Deus. Promessa afiançada por Deus e acontecida antes dos tempos eternos. E que, segundo o apóstolo, ela se torna manifesta pela pregação, ou como queiram, pela proclamação(KĒRYGMA). 


Já o verso 4 nos apresenta Tito, a pessoa a quem está endereçada esta epístola. E quem é este Tito, senão um discípulo na acepção da palavra do apóstolo. Um homem gentio já que sua origem étnica conforme Gálatas 2:1-3, era grega. Por outro lado, não há como não notarmos o caráter bastante íntimo e expressivo com que o apóstolo trata este irmão.  Vale ressaltar que o tipo de paternidade aqui referenciada pelo apóstolo em nada pode se comparar ao que atualmente se tem difundido em alguns grupos sectários no protestantismo como alusão a um filho espiritual. Portanto, paternidade espiritual se tiver que ser aludida em nosso meio, apenas existe se estiver atrelada a nossa relação com Deus Pai e mediada pelo Cristo. Afinal de contas, é isto que temos depreendido na leitura desses quatro primeiros versos desta epístola. 


Outro diferencial que reforça essa palavra até aqui é quando comparamos, por exemplo, a relação de Paulo com Timóteo que em nenhum momento o apóstolo o trata como um filho espiritual, muito embora também o chame de filho(II Timóteo 1:2). E por uma simples razão. Quando Paulo conhece Timóteo(Atos 16:1),  o mesmo já possuía uma substancial formação religiosa, principalmente pelo fato de ser filho de mãe judia. E sua mãe já nesta época era uma mulher convertida(II Timóteo 1:5). Portanto, Timóteo é rapidamente integrado ao projeto missionário do apóstolo sem que houvesse qualquer tipo de relação que beirava a essa aberração chamada de paternidade espiritual. Mesmo o apóstolo João que em suas epístolas trata as igrejas ou crentes a quem suas epístolas são endereçadas tratando os mesmos como FILHINHOS, não faz por se considerar um pai espiritual deles.


Quem é então este Tito a quem o apóstolo faz alusão no verso 4 a um filho genuíno na fé comum? Primeiro de tudo, e o próprio verso 4 mostra isto, Tito é um cooperador de Paulo em seu projeto missionário, e, ao que tudo indica essa referência a uma filiação na fé, tem relação ao fato de que Tito é fruto desse trabalho missionário. Isso precisa ficar claro neste momento, pois quando adentramos ao verso 5, o apóstolo faz menção ao fato de que foi por causa disto que te deixei em Creta. Disto o quê? Por partilharem da mesma fé, ou da fé comum como o apóstolo assim sinaliza. 


É bastante também percebermos que a referência a uma fé comum não está necessariamente atrelada às imposições que, num primeiro momento, eram impostas pelo grupo dos judaizantes que perseveravam na igreja de Cristo com aquela ideia de que se os gentios não fossem circuncidados eles não teriam acesso ou direito a salvação. Para Paulo era suficiente uma profissão de fé pública pelo batismo que testemunhava a aceitação do crente a pregação apostólica que subentendia a morte e a ressurreição de Cristo(Romanos 6:1-6). A adesão dos gentios à pregação apostólica da qual Paulo é um de seus principais pregadores, é mais que suficiente para que estes mesmos gentios sejam participantes do plano salvífico divino revelado em Cristo. É pois, em função desse expediente que Paulo deixa o seu filho na fé,  também chamado de Tito, em Creta. O objetivo seria aquele de aparar as arestas, os pontos soltos que porventura pudessem deturpar essa mesma fé apostólica. 


É a partir dos comentários corolários dos versos de 1-4 do capítulo primeiro desta epístola, que agora faço a retomada da proposta temática desta semana teológica. E já faço não com o propósito de subverter esta verdade. Porém, se a direção do seminário me permitir, quero, e pretendo ser bem mais taxativo e rigoroso ao afirmar que SEM PÚLPITO FORTE NÃO HÁ IGREJA. Com isso, quero também afastar toda e qualquer tentativa que porventura passe pela cabeça e mente daquelas pessoas "bem intencionadas", que muitas vezes se infiltram em nosso meio. Porém, com objetivos nada republicanos se é que me entendem. Então qualquer tentativa de comparar esta fala com a do grande e célebre MÁRTIR cristão, Inácio de Antioquia, que esteja "Amarrado em nome de Jesus". (UBI CHRISTUS IBI ECLESIA), expressão atribuída a Inácio de Antioquia(SCHOENBORN, Ulrich. Migalhas Exegéticas. São Leopoldo, Sinodal, Página 20), que, ao fazer tal declaração, formou-se dentre a tradição romana a ideia de que se dizia respeito ao momento em que o bispo, ex-cáthedra, proferia sua homilia. E a intenção aqui ao se fazer referência a pregação trilha por objetivos que não se comparam às afirmações desse mártir do Cristianismo do segundo século.


Até o presente momento este texto se preocupou em amarrar a fé cristológica no contexto da pregação, com isso, inapelavelmente construímos outros conceitos que emolduram o quadro da teologia sistemática. Que outros conceitos seriam estes? Quando falamos de morte e ressurreição isto nos remete a ideia do sacrifício vicário, ou substitutivo do Cristo em nosso lugar. Aludimos ao pecado, logo, ao que no sistema teológico chamamos de HAMARTIOLOGIA. Portanto, como não é minha intenção expandir a configuração esquemática da teologia. Vou me limitar ao que listei até aqui: Cristologia e Hamartiologia. Deixando claro que toda especificidade com a qual lidamos com estes temas tem como objetivo o serviço que prestamos à igreja de Cristo. Logo, o ambiente onde militamos com o objetivo de preservar a essência da fé cristã que chamamos de pregação apostólica. É o ambiente e contexto da igreja do Senhor Jesus.


Não custa nada lembrarmos que a congregação,  a igreja ou assembleia para ser igreja de Cristo precisa se reunir em torno da palavra. Palavra esta que se distingue das demais simplesmente por ser Palavra de Deus. E, neste caso, sendo bastante agostiniano, quando nos referimos a situações específicas acerca das nossas ações litúrgicas, que vislumbram e redimensionam a abrangência de tudo que se faz na igreja. Inclusive o entendimento de que na ordem discursiva quanto ao que se fala na igreja, as narrativas devem estar adequadas ao princípio escriturístico.  A história da salvação deve fazer parte da principal proposição  da fé(AGOSTINHO, A Instrução dos catecúmenos. Petrópolis, Vozes. P.38).E não há história da salvação se a mesma não estiver relacionada com o ato criativo de Deus da forma como está registrado nas escrituras desde o Gênesis.


Por isso mesmo, colegas pastores, professores deste seminário,  seminaristas e membros das igrejas aqui representadas. Qualquer ajuntamento de pessoas, mesmo que se reúnam dominicalmente, se não for para celebrar a palavra de Deus por meio da pregação genuinamente apostólica e expositiva. Esse ajuntamento ou reunião de pessoas pode ser tudo, menos a igreja de Cristo. O capítulo dois do livro do apocalipse, quando o Senhor se dirige ao anjo da igreja em Esmirna. Ele se apresenta como aquele que é o primeiro e o último e que foi morto e reviveu. 


O que testemunhamos no verso de número oito do capítulo dois do livro do apocalipse é que o anjo, ou pastor dessa igreja, estava se deixando levar por outros discursos, narrativas, vozes ou ecos de vozes que brotavam no contexto desta igreja. São aqueles subgrupos que se formam dentro de um grupo maior e que depois tentam se adonar de tudo. Um desses grupos eram daqueles que se diziam judeus. Mas, o Senhor Jesus os chama de a Sinagoga de Satanás. Qualquer ajuntamento de pessoas que se auto intitula igreja precisa exibir o compromisso com a Palavra de Deus. E a Palavra de Deus com conotação apostólica é o testemunho da morte e ressurreição de Cristo para a justificação de nossas vidas.


Não nos iludamos, olhemos para o exemplo de Pedro naquela célebre confissão na região de Cesareia de Felipe, e que se encontra registrada no capítulo 16:13-20 do evangelho de Mateus. O Senhor Jesus perguntou a seus discípulos o que os homens diziam acerca do Filho do Homem. E as respostas eram incrivelmente variadas, indo desde João Batista; Elias; Jeremias ou alguns dos profetas. Entretanto, quando o Senhor Jesus se vira com a mesma pergunta para o seu grupo de discípulos, Pedro tomando a palavra diz que ele é O Cristo, o filho do Deus vivo. Se naquele exato momento Pedro foi capaz de ser usado pelo próprio Deus para fazer tal declaração. Pois o Senhor Jesus o chama de bem aventurado por não ter revelado a carne e o sangue, mas o Pai Celeste. 


Logo depois deste acontecimento, quando o Senhor começa a deixar mais claro a sua real missão que seria de padecer nas mãos das autoridades religiosas em Jerusalém, o que resultaria na sua morte e, no terceiro dia, a sua ressurreição. Este mesmo Pedro passa a ter um comportamento junto ao mestre como de censura pelo que falou. E que de modo algum esse martírio de Jesus aconteceria. E qual foi a reação de Jesus senão  a de repelir com veemência tal iniciativa do apóstolo: "Arreda, Satanás! Tu és para mim pedra de tropeço, porque não cogita das coisas de Deus, e sim das dos homens" (Mateus 16:21-23). Querer desviar Jesus do caminho da cruz era o objetivo de Satanás. Como não não foi possível, agora seu objetivo é fazer com que os pregadores não preguem sobre o Cristo da Cruz.


Estamos em plena semana teológica e no contexto deste seminário. Porém, não nos esqueçamos que esta instituição acadêmica e teológica é produto do sonho de um pastor. Nem vou mencionar o nome dele agora, senão as coisas podem redundar rasgação de seda, ainda que ele mereça, mas, vamos deixar isto para uma outra oportunidade. O que precisamos entender e nos conscientizarmos é que teologia é sim uma função da igreja. Teologia também não é nem pregação nem aconselhamento(TILLICH, Paul, op. cit. pág 13-14). Toda Pregação precisa sim de um suporte teológico e a teologia é a melhor ciência para este suporte. O que se depreende dessa maneira de pensar é característico de um olhar ativo e perspicaz na história da própria teologia. Quando ela se torna refém dos guardas que a protegiam(BRAATEN, Karl & JENSON, Robert W. Dogmática Cristã Tomo I, página 34), as demais ciências,  ela perde sua funcionalidade no seio da igreja. 


O tipo de comentário exposto nas últimas linhas do parágrafo anterior serviu como análise crítica e de perspectiva histórica de como a teologia através do desenvolvimento dos tempos se tornou refém das demais ciências com as quais ela se valeu como instrumento de exposição. O autor faz uso da expressão "Revolta Palaciana". O que podemos neste momento da atual conjuntura perceber é que esta constatação de aprisionamento da teologia E seus conceitos, chegou a um estágio em que a teologia enquanto suporte consistente para a pregação perdeu sua funcionalidade. E a pregação propriamente dita foi substituída por todo tipo de narrativas fundamentadas em conceitos psicológicos, psicanalíticos e psicopedagógicos. 


De forma bastante otimista vejo que a iniciativa deste seminário é o resgate da tão chamada funcionalidade da teologia no seio da igreja de Cristo. E para ser funcional e de serviço na igreja o que precisamos entender é que ela não é tão somente, ou se presta apenas como o braço forte da academia. A academia tem suas regras e portanto ela acaba engessando ou se portando como uma camisa de força e faz tudo isso em nome de uma epistemologia racionalista e técnica. Nada, mas nada mesmo, contra essa postura da academia. Porém, grosso modo, todo material ou as fontes que compõem o material teológico de reflexão estão na revelação divina. E quando falamos em revelação divina, falamos daquilo que está sempre um passo à nossa frente. Haja vista o entendimento que temos de um determinado termo de origem grega: DOGMA. O que é um dogma, ou o que são os dogmas senão a racionalização de algo que em algum momento do passado foi uma revelação. 


De mais a mais, é impossível fazer qualquer tipo de explanação dessa natureza e que tenha como ambiente e contexto o solo do protestantismo brasileiro ou o que se pode chamar de arremedo deturpado, esdrúxulo, anacrônico e híbrido. É, de certa forma, muito complicado qualquer tipo de análise que leve em consideração os cânones consignados no período reformado da igreja cristã no Ocidente. Principalmente aqueles ocorridos na plataforma continental da Europa. Dá para se afirmar que é impossível o estabelecimento de uma linha histórica e de continuidade entre o protestantismo e seu nascedouro em solo europeu e o protestantismo segmentado por razões geopolíticas em nosso ambiente. E uma das poucas e boas tentativas de estabelecer e construir uma história do protestantismo no Brasil sempre o viu apenas como um apêndice do protestantismo europeu. E dentro de uma linha histórica bastante anacrônica. E tudo isso por uma dificuldade de se encontrar uma catalogação dos eventos em registros oficiais. 


É exatamente pelo que foi relatado no parágrafo anterior, que minha principal preocupação no momento de fazer uma leitura do texto de Tito 1:1-5, buscará sempre, na medida do possível, a construção de uma hermenêutica fundamentada tão somente na exegese. Sob pena de incorrer, em algum momento, no cometimento de algumas incoerências,  uma vez que dado o não alinhamento histórico entre o protestantismo europeu do ponto de vista de sua origem, o que nos resta é uma interpretação textual da referida passagem bíblica e sua relação e adequação à proposta temática desta semana teológica. O que também poderá oferecer a oportunidade para o desenvolvimento de metodologias outras e regras de interpretações que estejam mais ao alcance dos nossos seminaristas.   




I - Púlpito forte igreja saudável no contexto da hierarquia(V.1a)


Pode ser que alguns dos irmãos aqui presentes não tenham notado que há uma hierarquia subjacente desde o primeiro verso no sentido de que quem é comissionado na obra do Senhor precisa estar alinhado com aquele que se constitui como o Senhor da missão. Na apresentação, o apóstolo Paulo se apresenta como servo de Deus e apóstolo de Cristo. Sua missão enquanto pregador do evangelho está atrelada ao serviço e comissionamento vindo da parte de Deus e chancelada pela obra e vontade de Cristo. A hierarquia se estabelece numa relação bastante verticalizada. Principal característica dessa relação hierárquica, é que ela se baseia em princípios. É bastante para uma obra baseada em princípios que aquele que se sente comissionado é também um vocacionado. 


E por vocação se entende aquele que é chamado para pregar a palavra a Palavra de Deus. A hierarquia aqui não pode ser entendida da forma como vemos hoje. Ela não é tão somente uma relação de poder. Ela é sinteticamente a forma como a gradação desde os tempos eternos, onde habita o Pai de todas as misericórdias(A transcendência por excelência) estabelece pela pregação o principal instrumento de sua revelação. E aqueles que se sente vocacionados para o exercício de tal ministério. A prerrogativa de se tornar um ministro da palavra deve ser considerada tanto um privilégio, quanto um ofício de extrema responsabilidade. Desse ofício depende o avanço da obra de redenção e do juízo de Deus sobre os homens, em Cristo Jesus neste mundo.


Se lermos conforme está escrito na epístola aos Hebreus, no capítulo 2:1-4, trecho que nos adverte para que levemos com seriedade a pregação da palavra. A questão principal de tal advertência é de que com a pregação também vem os juízos de Deus. Lá no início deste texto, eu fiz a alusão de que nós somos chamados para pavimentar, sinalizar, etc. o caminho dos eleitos. O tipo de pavimentação a que me refiro é aquela em que você lança mão da obra com afinco, empenho e dedicação para os que vêm atrás, seguindo o mesmo exemplo, possam fazer para os que os antecedem. Todavia, o tipo de pavimentação se baseia na percuciência, na acústica propriamente dita da palavra.


E não nos esqueçamos que uma das principais características de um poder hierárquico, é justamente quando ele tem que fazer uso de seu poder punitivo. E quando assim procede ele faz com equidade e justiça. O tom e efeito comparativo que o autor de Hebreus faz referência ao colocar que se a palavra que fora pregada pelos anjos permaneceu firme, e toda transgressão e desobediência recebeu a justa retribuição,  como escaparemos nós, caso não atentarmos para uma tão grande salvação, ou seja, a palavra que começou ser anunciada pelo Senhor Jesus, e que depois nos foi confirmada pelos que a ouviram? A teologia paulina é a principal teologia que nos coloca num estado de graça diante de Deus. Por outro lado, jamais omite que é pela justiça de Deus que se revela a ira sobre todo homem.


Essa relação hierárquica, por isso mesmo, está intimamente ligada ao ofício do pregador que é a pregação. Logo, ela não alcança ou está redimensionada pelas relações de poder que têm como eixo central a eclesiologia. Vocês lembram de Inácio de Antioquia: "Ubi Christus ibi eclesia". Ou seja, onde está Cristo aí está a sua igreja. Igreja representada pela figura do bispo. Estamos falando sim da centralidade da palavra, porém, deixando claro que a palavra aqui, é a mesma palavra referenciada nos 4 primeiros versos da epístola aos Hebreus. E fizemos menção dela por ser palavra de Deus revelada a homens santos e separados. Por isso, aquele princípio da constituição helvética: "Predicatio verbi dei est verbum dei.  




II - Púlpito forte igreja saudável é para os eleitos de Deus. (V. 1b)


Já falamos aqui que a pregação da palavra é para os eleitos de Deus. E ela serve como elemento orientador, para pavimentar de tal maneira a estrada ou caminho dos eleitos do Senhor. Tudo que efetivamente fazemos na igreja do Senhor é para os seus escolhidos. Eles precisam adquirir conhecimento pleno da verdade? Sim, e esta também é função do pregador e homem de Deus e não deixando de considerar um fator fundamental que tudo isso é mediante a piedade, os  bons sentimentos. E Paulo quando faz menção à piedade, ele, sem sombra de dúvida, estava se mirando no evento ocorrido no Éden logo após a queda do primeiro casal. Onde Deus de maneira providencial expulsa o primeiro casal do Éden para que eles já maculados pelo pecado não lancem mão da árvore da vida(Gênesis 3:22).


Os eleitos conforme a orientação de Paulo estão em todo lugar, inclusive em Creta. Não há nenhum outro tipo de distinção para aqueles que estão ou estarão sob a graça divina do que a designação  de eleitos. E se Paulo desejou deslocar Tito para Creta é sinal de que em Creta havia sim eleitos de Deus para serem alcançados. Falamos da inexistência de qualquer outro tipo de distinção para aqueles que foram ou serão alcançados pela graça divina. Porém, não nos esqueçamos que também não há distinção de lugar. Tito foi para Creta, como poderia ter ido para qualquer outro daqueles lugares conhecidos do mundo antigo. É como se fosse a consolidação das palavras de Jesus a Hananias quando o mesmo fala do receio em se lidar com um certo Saulo de Tarso. O Senhor então lhe responde: "Este é para mim um vaso escolhido para levar o meu nome aos gentios." (Atos 9:15)


É exatamente por isso que me reporto ao fato de que a referência a Tito como filho genuíno na fé comum é uma referência explícita ao cristão que recebe a mensagem de salvação em Cristo e a aceita de bom grado. Este não tem uma relação com os preceitos, princípios e fundamentos da fé judaica daqueles tempos. E como disse anteriormente, a fé e a forma como Tito foi alcançado pela graça de Cristo não eram semelhantes ao que expus por comparação e fiz menção de outro cooperador de Paulo na pregação do evangelho, que era Timóteo. Daí também toda a justificativa paulina para não aceitar as imposições feitas pelos judeus cristãos para que também os gentios fossem submetidos à circuncisão. Por isso mesmo, é justa aquela declaração enfática e efusiva de Paulo em Efésios 2:8: "Porque pela graça sois salvos por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus."


Não se pode omitir no horizonte dessa reflexão a parábola do semeador narrada por Jesus. E dentre tantas reflexões que já ouvimos dessa parábola, o que não se pode perder de vista é o fato de que a semente é a mesma que cai em cada local. Logo, o que está em cheque nesta parábola não é a qualidade da semente e sim a qualidade do solo. A semente lançada pela pregação do evangelho e que teve no início da expansão a presença marcante de Paulo, cumpre essa mesma função. Daí essa referência à piedade. Quando se tem sentimentos piedosos a adesão, acolhimento e recepção da palavra ocorre, pois aquele que a recebe, recebe como palavra de Deus(I Tessalonicenses 2:13). Dessa forma, o crente constrói um zelo e cuidado com a palavra que o distingue dos demais: "Quem creu na nossa pregação" (Isaías 53:1).




III - Púlpito forte igreja saudável é indicativo de que existe discernimento por parte de quem ouve a pregação (V. 2).


Almejar a vida eterna não é privilégio ou prerrogativa de todos. Aspirar a vida eterna não pode ser considerado como um desejo egoísta e mesquinho. Aspirar a vida eterna, ou uma vida perene pode ser até que seja o sonho da grande maioria de seres humanos. Mas, até para isto precisa haver critérios. E um dos critérios que desejo colocar neste texto para reflexão diz respeito ao discernimento humano. Falamos neste texto e fizemos menção do episódio narrado no Gênesis logo após a queda do primeiro casal. Que Deus de forma providencial expulsou o primeiro casal do jardim para que eles não lançassem mão da árvore da vida. E o que quero elencar como discernimento é esta peculiaridade e íntima relação com a narrativa bíblica da queda. O discernimento é o que faz com que cada um de nós tenha a consciência de que tanto fomos criados por Deus, quanto também fomos eleitos por ele. Portanto, está no nosso DNA esta vocação para a eternidade desde que ela passe por essa relação próxima e bastante íntima com nosso criador.


Além dessa relação mais próxima e achegada com Deus que exibe como principal característica a questão do discernimento. Precisamos em algum momento exibir uma relação mais horizontalizada. Esta relação acontece a partir do momento em que identificamos o homem de Deus. O homem de Deus é aquele que recebe a missão de pregar a palavra. Falamos no tópico passado acerca da forma e atitude com que recebemos a pregação da palavra como palavra de Deus. Agora, precisamos focar que quem prega a palavra de Deus é apenas aquele que se constitui ou é constituído por Deus como seu arauto e pregador da palavra. Então precisamos falar do homem de Deus. E quem ouve a palavra precisa ter consigo este discernimento que é próprio de quem tem uma vida dirigida pelo Espírito de Deus. Isto está muito claro principalmente quando Paulo em I Coríntios 12:3 afirma que ninguém pode falar que Jesus Cristo é Senhor se não for pelo Espírito de Deus. Ao mesmo tempo que encontramos o testemunho daquela viúva de Sarepta de Sidom, ao afirmar para o profeta Elias e homem de Deus que reconhecia que a palavra de Deus na boca daquele profeta era verdade(I Reis 17:24).


Nada melhor e sobremaneira mais agradável do que falar de vida eterna. E sabendo que essa vida eterna é promessa de Deus. E como já disse antes é também uma promessa que, muito embora saibamos que Deus jamais pode mentir, é uma promessa divina com base na graça e com base única e exclusivamente na fidelidade de Deus pra consigo próprio. Por outro lado, como creio que não há dificuldade de se entender até aqui o que temos falado da graça divina e como, a partir dessa graça, possuímos elementos concretos em que nos baseamos na construção de nosso arcabouço teológico quando o assunto e temática é o próprio ser de Deus. Mas, há um ponto de vista que preciso tentar entender invertendo o direcionamento de olhar e pode também alterar em algum momento nossa perspectiva hermenêutica. Essa virada de olhar para este tempo precisa estar concentrada do ponto de vista do tempo. Porém, de um tempo que se avizinha para o que está a frente. Já que tudo que estamos falando neste exato momento, inclusive essa promessa de vida eterna é uma promessa que acontece em função do que aconteceu antes: A queda.


Então a referência de tempo é alguma coisa ou ponto localizado entre a queda e os tempos eternos. Logo, não é possível buscar algum tipo de fundamentação para quem, por exemplo, queira se intitular um defensor do supralapsarianismo. O texto e a visão do apóstolo nesta passagem e no que diz respeito à promessa de vida eterna acompanha o ritmo e segmento dos acontecimentos que têm seu lugar no tempo e no espaço. Isso precisa ficar bem claro pelo fato de estarmos abordando neste tópico a questão do discernimento das razões de quem ouve a pregação da palavra é entender que essa pregação leva em consideração toda e qualquer exposição bíblica e veterotestamentária que possa proporcionar a casa crente o entendimento histórico da narrativa bíblica tanto da criação quanto da queda.




IV - Púlpito forte igreja saudável é manifestação da palavra de Deus pela pregação (V. 3).


Eu fico me imaginando que enquanto estou na condição de pregador, eu preciso ter, afinal de contas, um exímio poder de síntese. E confesso que toda vez que estou para assumir o púlpito daqui ou de qualquer outra igreja do Senhor para fazer uso da palavra, este tipo de preocupação e sentimento é o que mais me incomoda. É um verdadeiro martírio, pois envolve uma responsabilidade muito grande. Por outro lado, este mesmo tipo de sentimento deveria estar ocorrendo por parte de quem sempre se propõe a ouvir a palavra e entender que o que ele está recebendo é a palavra de Deus. Do ponto de vista da língua e sua definição enquanto signo linguístico. Entre aquele que prega e o que ouve a palavra deveria haver um acordo tácito ou tratado de convenção em que ambos estivessem cientes de que o que se prega é a palavra de Deus e que: "A pregação da palavra de Deus é palavra de Deus" (PREDICATIO VERBI DEI EST VERBUM DEI) BARTH, Karl. Introdução a teologia evangélica. São Leopoldo, Sinodal, Página 112)


Então, e por conta do que falávamos no tópico anterior. Podemos dimensionar que o espaço de vigência da pregação ocorre pós-queda e antes dos tempos eternos. É o que está exposto com a devida claridade neste verso de número 3. Foi no tempo próprio estabelecido por Deus onde ele mesmo manifestou sua palavra pela pregação que Paulo assinala que lhe foi confiada. Ou seja, a pregação é revelação, é palavra de Deus e que cumpre sua função quando se torna instrumentalizadora de todos aqueles que são vocacionados para o exercício de seus ministérios. Notem os senhores que o exercício deste ministério ocorre por conta de um tempo que não é nosso. O tempo é de Deus e é Ele que administra tudo de maneira soberana. O pregador só é pregador da palavra por uma vontade soberana de Deus. O apóstolo fala da pregação que foi confiada por Deus. 


Se você acha ou se encontra na condição de pregador por um ato voluntário de sua parte, você não é pregador da palavra. Se é este o entendimento que você tem de seu ministério, quando você se der conta do que realmente faz, você chegará a conclusão de que durante sua trajetória ou carreira você foi tudo: Coach, palestrante, psicólogo, psicanalista, etc. Mas, como pregador, você deixou a desejar. A pregação e o agir soberano de Deus são como se fossem irmãs gêmeas, ou faces da mesma moeda. Agir soberano é mandamento divino e todo pregador precisa ter consciência que sua função ou ministério é uma condição que nos é imposta. Precisamos entender que o que fazemos é uma responsabilidade pesadíssima. E fazemos, repito mais uma vez, por causa do mandamento divino: "Porque, se anuncio o evangelho, não tenho de que me gloriar, pois me é imposta essa obrigação; e ai de mim, se não anunciar o evangelho!" (1 Coríntios 9:16).


O mandamento é de Deus. Ele é soberano e age da forma como lhe aprouver. É Ele que chama e nos torna capazes sem sermos capazes. Pois Ele nos capacita pelos seus dons que são distribuídos por sua vontade. Paulo chegou mesmo a aconselhar Timóteo no sentido de que enquanto jovem e pregador pudesse valorizar o que ele tinha recebido do Senhor para fazer a sua obra: "Não desprezes o dom que há em ti, o qual te foi dado por profecia, com a imposição das mãos do presbitério" (1 Timóteo 4:14).




V - Púlpito forte igreja saudável busca identificar e arregimentar aqueles que professam uma fé comum(V. 4).


Tito se notabiliza do ponto de vista do apóstolo como o modelo que tipifica o processo de universalização da pregação da Palavra de Deus. Universalização aqui pelo fato da pregação da palavra estar ao alcance e buscar a todos. Portanto, abandonem qualquer entendimento de que este pastor tem ideias universalistas no tocante à salvação. Em algum momento das palavras deste texto, fizemos uma breve comparação entre Timóteo  e Tito. A ideia da fé comum tem uma relação muito forte com aquelas pessoas desprovidas de uma formação religiosa prévia. Por ocasião da comparação feita entre Timóteo e Tito, fizemos alusão ao fato de Timóteo ser filho de mãe judia e, posteriormente, de ter sido circuncidado. Ao passo que Tito quando se tem alguma outra informação a seu respeito nas epístolas de Paulo. A única grande informação era de que ele era de origem grega tão somente. 


Tito serve, inclusive, como parâmetro ao fato de que a pregação da palavra de Deus não se constitui de proselitismo e não deve ser reduzida a isto. Não há intrinsecamente falando uma disputa entre as mais diferentes tradições e confissões religiosas. É simplesmente a pregação da palavra do Deus Todo Poderoso que de forma soberana chama, ou vocaciona os seus arautos para o ministério da palavra. E Tito é a representação desse homem comum que foi alcançado por esta pregação e depois aderiu ao chamado divino. E outro detalhe que não pode passar despercebido é que fé comum não é o mesmo que graça barata. A graça continua sendo a Graça dispensada pelo Deus Pai e mediada pela ação salvífica e salvadora de Cristo. Aqueles princípios de Graça que norteiam a teologia paulina continuam vivos e detentores da mesma eficácia desde sempre.


Quando se fala de agir soberano de Deus é necessário que se leve em consideração que Deus tão somente diz ou estabelece quem são os seus escolhidos e não há quem tenha qualquer tipo de ascendência sobre suas escolhas. Quando Paulo levanta a questão em sua carta aos Romanos, no capítulo 8:33,  sobre quem intentará acusação contra os escolhidos de Deus? Ele imediatamente responde que é Deus quem os justifica. Independentemente de nossas origens étnicas, de nossa formação religiosa, e do tipo de tecido social em que estejamos inseridos, a fundamentação da fé comum a que Paulo faz menção, é aquela que professa ou se orienta desde sempre pelos princípios contidos na pregação apostólica. Não É isto que observamos quando neste verso 4, o apóstolo fala da Graça e Paz proveniente da parte de Deus Pai e de nosso Salvador Jesus Cristo?


A pregação da morte e ressurreição de Jesus Cristo operada por Deus Pai(Atos 13:30) É e haverá de sempre ser o pilar da pregação apostólica na igreja de Cristo. Quando afirmei que sem púlpito forte não existe igreja, para, de certa forma, abordar a temática para esta semana teológica. Fiz com a intenção de chamar a atenção para o fato de que há muita gente pregando um falso evangelho atualmente. E aquela advertência de Paulo para a igreja da Galácia de que tão depressa tinham mudado para outro evangelho que não era o evangelho da graça de Cristo. Esse outro evangelho não tinha nada de outro. E sim, por causa dos caprichos de alguns que se encarregaram de perverter o evangelho de Cristo(Gálatas 1:6-7). Paulo estava dizendo para aqueles crentes da Galácia e de origem gentílica que aceitar a circuncisão era invalidar a doutrina da salvação pela graça que ele pregava. E aquela atitude era a de aceitar um falso evangelho e portanto, de cair da graça para aceitar o jugo pesado lei(Gálatas 5:2-6;6-12-15).




VI - Púlpito forte igreja saudável tem como resultado a busca de uma estrutura organizacional da igreja(V. 5).


Após fazermos algumas exposições sobre algumas características bastante significativas tanto com relação ao apostolado de Paulo, quanto de sua proatividade no processo de expansão missionária. E esta epistola se enquadra neste contexto de expansão missionária enquanto cuidado muito meticuloso do apóstolo de estabelecer pessoas responsáveis que pudessem conservar os avanços da obra missionária. Para tanto, os crentes de Creta precisavam de alguém que substituísse ao apóstolo. Mesmo que fosse por um período de transição até que o mesmo constituísse presbíteros e demais oficiais das igrejas naquela ilha. Por isso a escolha de Paulo pesou sobre Tito. Paulo está preocupado com a formação da liderança da igreja. Por conta disso, sua recomendação a Tito é de que ele obedeça alguns critérios na hora de nomear presbíteros na igreja. Temos tido, a todo momento neste tempo presente, que lidar com desafios que nos colocam como exigência, que a igreja deve ser bem mais inclusiva do que é por natureza, já que ela tem por obrigação pregar o evangelho e convidar todos a fazerem parte dessa grande família de Deus. Nada contra uma igreja inclusiva do ponto de vista de sua mensagem evangelística, mas a igreja não pode ser permissiva e a todo instante ficar flertando com o pecado. 


Paulo então estabelece para Tito alguns critérios na escolha de seus líderes e para que a igreja pudesse ter uma governança responsável e digna. Em algum momento da redação deste texto, cheguei a fazer uma singela comparação da pregação da palavra com aquele tratado linguístico que, por si só, já distingue uma língua da outra. Esse tipo de acordo pode ser utilizado no sentido de entendermos as reais condições em que estejamos preparados para ouvirmos e recebermos de bom grado a palavra pregada como palavra de Deus. Para tanto, a igreja precisa estar suficientemente bem preparada. Isso demanda, dentre tantas outras coisas, uma estrutura organizacional bem sólida e preparada para todos os desafios que se nos apresentam. Além disso, aqueles líderes eleitos para ocuparem funções nesta estrutura organizacional precisam também de um mínimo de comprometimento moral, espiritual e social. Precisam ter uma família bem ajustada e com os filhos sendo criados em sujeição. 


Agora, desde muito cedo, quando ainda era calouro no seminário(STBSB), eu tinha aprendido que a igreja cristã se mirou como modelo de reunião e de culto para suas reuniões, na estrutura física da sinagoga. Mas, acho que o modelo não parou apenas por aí. Pois você olha a estrutura de governança na igreja e a própria constituição de seus líderes, dá para ver que a constituição de oficiais ou ofícios como o de PRESBÍTEROS, esses líderes têm uma relação direta com o Conselho dos anciãos que havia em Israel como lideranças do povo. Presbíteros são o equivalente aos anciãos e seus conselhos em Israel. Paulo, por ser hebreu, trouxe consigo muito dessa influência da hierarquia de poder existente no judaísmo de seu tempo para o seio da igreja. Seu mandamento para que Tito executasse à risca suas ordens, era para que de acordo com critérios estabelecidos por ele, Tito estabelecesse de cidade em cidade em Creta, um conselho de anciãos ou presbíteros. 


Mais uma vez, esta é a justificativa para que Tito,  ainda que fosse em caráter provisório, permaneceria em Creta: "Por esta razão te deixei em Creta." O apóstolo dá provas de sua preocupação pelo zelo e cuidado para essas comunidades de crentes. Provavelmente eles deveriam existir ali naquela ilha desde quando houve aquela miraculosa manifestação do Espírito Santo no dia de pentecostes: "Cretenses e árabes, todos nós temos ouvido em nossas próprias línguas falar das grandezas de Deus." (Atos 2:11). De qualquer maneira, e embora em Creta existisse uma comunidade de crentes bastante diversificada entre judeus da diáspora, gentios como Tito e outros tidos como prosélitos do judaísmo, ainda assim era uma igreja que precisava de líderes de pulso forte, moralmente irrepreensíveis para que liderasse a igreja de Cristo naquela região e foi exatamente por isso que o apóstolo escala alguém de sua inteira confiança e que tivesse pulso forte.




Conclusão 



O propósito desta semana teológica jamais ousou ser o esgotamento de tal assunto. Porém, o objetivo a ser alcançado é jamais perder de vista a necessidade de se conservar os princípios basilares da pregação cristã e expositiva. Pregar a palavra é uma necessidade constante. É ter a certeza de que através da pregação cristã o Senhor Jesus continua falando conosco. E continua também trazendo a nossa memória que o motivo de andarmos em plena comunhão com Deus Pai foi por causa de seu sacrifício na cruz pelos nossos pecados. Há uma recomendação paulina na forma de um imperativo no sentido de que ao falar com Timóteo de que deveria pregar a tempo e fora de tempo(II Timóteo 4:2); "κήρυξον τὸν λόγον ἐπίστηθι εὐκαίρως ἀκαίρως ἔλεγξον ἐπιτίμησον παρακάλεσον ἐν πάσῃ μακροθυμίᾳ καὶ διδαχῇ". 


O tempo e modo verbal aqui em II Timóteo 4:2, constitui-se num suporte linguístico para que não se interrompa essa necessidade de pregação da palavra. Não custa nada lembrar que o verbo κήρυξον _ Kērykson, está no tempo Aoristo e no modo imperativo. Portanto, a noção de aspecto que ele passa, não é de extrema constância e duratividade quanto ao ato pregar. Isto apenas seria possível caso o tempo e modo verbal fosse o presente do indicativo. E por não estarem no presente do indicativo grego, houve a necessidade de utilização das formas adverbiais εὐκαίρως e ἀκαίρως (A tempo e fora de tempo respectivamente). Logo, a pregação da palavra não pode ser algo passível de sofrer a erosão do tempo. Ela permanece sempre atual. Mais do que nunca, hoje, nestes tempos sombrios e difíceis a pregação da palavra de Deus é um patrimônio da fé cristã de extrema necessidade para esta geração.  


Nós estamos falando da pregação e, por alguma razão, não temos falado do pregador. Queiramos ou não, a pregação depende do pregador. E o pregador tem que ser um homem de Deus. Novamente retornamos àquele conceito de soberania divina. Quem escolhe é Deus. Vamos pensar um pouco sobre o verso 3 deste primeiro capítulo de Tito. Paulo, neste verso, fala de um tempo oportuno em que Deus revelou sua palavra pela pregação que lhe fora confiada, e de acordo com o mandamento de Deus. Ou seja, nós estamos falando de uma vontade soberana de Deus "ἐφανέρωσεν δὲ καιροῖς ἰδίοις τὸν λόγον αὐτοῦ ἐν κηρύγματι ὃ ἐπιστεύθην ἐγὼ κατ’ ἐπιταγὴν τοῦ Σωτῆρος ἡμῶν Θεοῦ". Deus não confia sua palavra ou revelação a homens incrédulos e não comprometidos com a sua vontade.


Qualquer pregador que deseja arcar com a responsabilidade de pregar a palavra de Deus, deve ter consciência de que sobre si pesa uma grande responsabilidade. Deve ter consciência da preparação para o desempenho de tão grande responsabilidade e dela não pode se eximir. Segundo o próprio Paulo, é uma obrigação que nos é imposta (1 Coríntios 9:16). O púlpito será forte se aqueles, ou aquele que dele se ocupa para ministrar a palavra de Deus for alguém chamado por Deus para o exercício de tal função. Deve ter consciência de que realmente foi chamado para esta função. E deve exercer tal função e chamada com extrema humildade, sabendo que a posição que ocupa não se deve a sua competência e sim a Graça e misericórdia divina.


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Bibliografia


SCHOENBORN, Ulrich. Migalhas Exegéticas. São Leopoldo, Sinodal. 1982. 229 p.


TILLICH, Paul. Teologia Sistemática. Tomo I. São Paulo, Es. Paulinas. São Leopoldo, Sinodal. 1982. 709 p.


BRAATEN, Karl & JENSON, Robert W. Dogmática Cristã Tomo I. São Leopoldo, Sinodal. 1984. 551 p.


BARTH, Karl. Introdução à Teologia Evangélica. São Leopoldo Sinodal. 3 es. 1981. 123 p.


AGOSTINHO, Santo. Instrução aos catecúmenos. Petrópolis, Vozes. 2 edição.  1978. 119 p.









Púlpito forte igreja saudavel.

 PÚLPITO FORTE IGREJA SAUDÁVEL.


"Por esta causa te deixei em Creta"

(Tito 1:5)



Nos três versos iniciais desta epístola, o apóstolo lança mão das justificativas teológicas pelas quais ele estabelece Tito como pastor da Igreja em Creta. Ele fala de sua investidura apostólica que possuía como missão essencial a condução dos eleitos de Deus à fé e ao conhecimento da verdade. Entender a profundidade dessas palavras do apóstolo é fundamental para tudo que vem pela frente. É fundamental, inclusive, para tratarmos de assuntos como a soberania de Deus no plano de salvação. Ou seja, Deus já tem os seus eleitos, e não nos cabe avocarmos pra nós mesmos nenhum tipo de glória ao considerarmos que quando alguém se converte isto acontece por causa da pregação de "A", "B", ou "C". A tarefa da pregação é pavimentar o caminho por onde esses eleitos devem trilhar. E o mote ou vetor estabelecido como parâmetro durante essa trajetória de fé é a esperança da vida eterna prometida por Deus. Promessa afiançada por Deus e acontecida antes dos tempos eternos. E que, segundo o apóstolo, ela se torna manifesta pela pregação, ou como queiram, pela proclamação(KĒRYGMA). 


Já o verso 4 nos apresenta Tito, a pessoa a quem está endereçada esta epístola. E quem é este Tito, senão um discípulo na acepção da palavra do apóstolo. Um homem gentio já que sua origem étnica conforme Gálatas 2:1-3, era grega. Por outro lado, não há como não notarmos o caráter bastante íntimo e expressivo com que o apóstolo trata este irmão.  Vale ressaltar que o tipo de paternidade aqui referenciada pelo apóstolo em nada pode se comparar ao que atualmente se tem difundido em alguns grupos sectários no protestantismo como alusão a um filho espiritual. Portanto, paternidade espiritual se tiver que ser aludida em nosso meio, apenas existe se estiver atrelada a nossa relação com Deus Pai e mediada pelo Cristo. Afinal de contas, é isto que temos depreendido na leitura desses quatro primeiros versos desta epístola. 


Outro diferencial que reforça essa palavra até aqui é quando comparamos, por exemplo, a relação de Paulo com Timóteo que em nenhum momento o apóstolo o trata como um filho espiritual, muito embora também o chame de filho(II Timóteo 1:2). E por uma simples razão. Quando Paulo conhece Timóteo(Atos 16:1),  o mesmo já possuía uma substancial formação religiosa, principalmente pelo fato de ser filho de mãe judia. E sua mãe já nesta época era uma mulher convertida(II Timóteo 1:5). Portanto, Timóteo é rapidamente integrado ao projeto missionário do apóstolo sem que houvesse qualquer tipo de relação que beirava a essa aberração chamada de paternidade espiritual. Mesmo o apóstolo João que em suas epístolas trata as igrejas ou crentes a quem suas epístolas são endereçadas tratando os mesmos como FILHINHOS, não faz por se considerar um pai espiritual deles.


Quem é então este Tito a quem o apóstolo faz alusão no verso 4 a um filho genuíno na fé comum? Primeiro de tudo, e o próprio verso 4 mostra isto, Tito é um cooperador de Paulo em seu projeto missionário, e, ao que tudo indica essa referência a uma filiação na fé, tem relação ao fato de que Tito é fruto desse trabalho missionário. Isso precisa ficar claro neste momento, pois quando adentramos ao verso 5, o apóstolo faz menção ao fato de que foi por causa disto que te deixei em Creta. Disto o quê? Por partilharem da mesma fé, ou da fé comum como o apóstolo assim sinaliza. 


É bastante também percebermos que a referência a uma fé comum não está necessariamente atrelada às imposições que, num primeiro momento, eram impostas pelo grupo dos judaizantes que perseveravam na igreja de Cristo com aquela ideia de que se os gentios não fossem circuncidados eles não teriam acesso ou direito a salvação. Para Paulo era suficiente uma profissão de fé pública pelo batismo que testemunhava a aceitação do crente a pregação apostólica que subentendia a morte e a ressurreição de Cristo. É pois, em função desse expediente que Paulo deixa o seu filho na fé,  também chamado de Tito, em Creta. O objetivo seria aquele de aparar as arestas, os pontos soltos que porventura pudessem deturpar essa mesma fé apostólica. 


É a partir dos comentários corolários dos versos de 1-4 do capítulo primeiro desta epístola, que agora faço a retomada da proposta temática desta semana teológica. E já faço não com o propósito de subverter esta verdade. Porém, se a direção do seminário me permitir, quero, e pretendo ser bem mais taxativo e rigoroso ao afirmar que SEM PÚLPITO FORTE NÃO HÁ IGREJA. Até o presente momento este texto se preocupou em amarrar a fé cristológica no contexto da pregação, com isso, inapelavelmente construímos outros conceitos que emolduram o quadro da teologia sistemática. 


Que outros conceitos seriam estes? Quando falamos de morte e ressurreição isto nos remete a ideia do sacrifício vicário, ou substitutivo do Cristo em nosso lugar. Aludimos ao pecado, logo, ao que no sistema teológico chamamos de HAMARTIOLOGIA. Portanto, como não é minha intenção expandir a configuração esquemática da teologia. Vou me limitar ao que listei até aqui: Cristologia e Hamartiologia. Deixando claro que toda especificidade com a qual lidamos com estes temas tem como objetivo o serviço que prestamos à igreja de Cristo. Logo, o ambiente onde militamos com o objetivo de preservar a essência da fé cristã que chamamos de pregação apostólica. É o ambiente e contexto da igreja do Senhor Jesus.


Não custa nada lembrarmos que a congregação,  a igreja ou assembleia para ser igreja de Cristo precisa se reunir em torno da palavra. Palavra esta que se distingue das demais simplesmente por ser Palavra de Deus. E, neste caso, sendo bastante agostiniano, quando nos referimos a situações específicas acerca das nossas ações litúrgicas, que vislumbram e redimensionam a abrangência de tudo que se faz na igreja. Inclusive o entendimento de que na ordem discursiva quanto ao que se fala na igreja, as narrativas devem estar adequadas ao princípio escriturístico.  A história da salvação deve fazer parte da principal proposição  da fé. E não há história da salvação se a mesma não estiver relacionada com o ato criativo de Deus da forma como está registrado no Gênesis.


Por isso mesmo, colegas pastores, professores deste seminário,  seminaristas e membros das igrejas aqui representadas. Qualquer ajuntamento de pessoas, mesmo que se reúnam dominicalmente, se não for para celebrar a palavra de Deus por meio da pregação genuinamente apostólica e expositiva. Esse ajuntamento ou reunião de pessoas pode ser tudo, menos a igreja de Cristo. O capítulo dois do livro do apocalipse, quando o Senhor se dirige ao anjo da igreja em Esmirna. Ele se apresenta como aquele que é o primeiro e o último e que foi morto e reviveu. 


Ou seja, o que estamos testemunhando aqui neste verso de número oito do capítulo dois do livro do apocalipse é que o anjo ou pastor dessa igreja estava se deixando levar por outros discursos, narrativas, vozes ou ecos de vozes que brotavam no contexto desta igreja. São aqueles subgrupos que se formam dentro de um grupo maior e que depois tentam se adonar de tudo. Um desses grupos eram daqueles que se diziam judeus. Mas, o Senhor Jesus os chama de a Sinagoga de Satanás. Qualquer ajuntamento de pessoas que se auto intitula igreja precisa exibir o compromisso com a Palavra de Deus. E a Palavra de Deus com conotação apostólica é o testemunho da morte e ressurreição de Cristo para a justificação de nossas vidas.


Não nos iludamos, olhemos para o exemplo de Pedro naquela célebre confissão na região de Cesareia de Felipe, e que se encontra registrada no capítulo 16:13-20 do evangelho de Mateus. O Senhor Jesus perguntou a seus discípulos o que os homens diziam acerca do Filho do Homem. E as respostas eram incrivelmente variadas, indo desde João Batista; Elias; Jeremias ou alguns dos profetas. Entretanto, quando o Senhor Jesus se vira com a mesma pergunta para o seu grupo de discípulos, Pedro tomando a palavra diz que ele é O Cristo, o filho do Deus vivo. Se naquele exato momento Pedro foi capaz de ser usado pelo próprio Deus para fazer tal declaração. Pois o Senhor Jesus o chama de bem aventurado por não ter revelado a carne e o sangue, mas o Pai Celeste. 


Logo depois deste acontecimento, quando o Senhor começa a deixar mais claro a sua real missão que seria de padecer nas mãos das autoridades religiosas em Jerusalém, o que resultaria na sua morte e, no terceiro dia, a sua ressurreição. Este mesmo Pedro passa a ter um comportamento junto ao mestre como de censura pelo que falou. E que de modo algum esse martírio de Jesus aconteceria. E qual foi a reação de Jesus senão  a de repelir com veemência tal iniciativa do apóstolo: "Arreda, Satanás! Tu és para mim pedra de tropeço, porque não cogita das coisas de Deus, e sim das dos homens" (Mateus 16:21-23). Querer desviar Jesus do caminho da cruz era o objetivo de Satanás. Como não não foi possível, agora seu objetivo é fazer com que os pregadores não preguem sobre o Cristo da Cruz.


Estamos em plena semana teológica e no contexto deste seminário. Porém, não nos esqueçamos que esta instituição acadêmica e teológica é produto do sonho de um pastor. Nem vou mencionar o nome dele agora, senão as coisas podem redundar rasgação de seda, ainda que ele mereça, mas, vamos deixar isto para uma outra oportunidade. O que precisamos entender e nos conscientizarmos é que teologia é sim uma função da igreja. Teologia também não é nem pregação nem aconselhamento(TILLICH, Paul, op. cit. pág 13-14). Toda Pregação precisa sim de um suporte teológico e a teologia é a melhor ciência para este suporte. O que se depreende dessa maneira de pensar é característico de um olhar ativo e perspicaz na história da própria teologia. Quando ela se torna refém dos guardas que a protegiam, as demais ciências,  ela perde sua funcionalidade no seio da igreja. 


De forma bastante otimista vejo que a iniciativa deste seminário é o resgate da tão chamada funcionalidade da teologia no seio da igreja de Cristo. E para ser funcional e de serviço na igreja o que precisamos entender é que ela não é tão somente, ou se presta apenas como o braço forte da academia. A academia tem suas regras e portanto ela acaba engessando ou se portando como uma camisa de força e faz tudo isso em nome de uma epistemologia racionalista é técnica. Nada, mas nada mesmo, contra essa postura da academia. Porém, grosso modo, todo material ou as fontes que compõem o material teológico de reflexão estão na revelação divina. E quando falamos em revelação divina, falamos daquilo que está sempre um passo à nossa frente. Haja vista o entendimento que temos de um determinado termo de origem grega: DOGMA. O que é um dogma, ou o que são os dogmas senão a racionalização de algo que em algum momento do passado foi uma revelação. 













Púlpito forte igreja saudável.

 PÚLPITO FORTE IGREJA SAUDÁVEL.


"Por esta causa te deixei em Creta"

(Tito 1:5)



Nos três versos iniciais desta epístola, o apóstolo lança mão das justificativas teológicas pelas quais ele estabelece Tito como pastor da Igreja em Creta. Ele fala de sua investidura apostólica que possuía como missão essencial a condução dos eleitos de Deus à fé e ao conhecimento da verdade. Entender a profundidade dessas palavras do apóstolo é fundamental para tudo que vem pela frente. É fundamental, inclusive, para tratarmos de assuntos como a soberania de Deus no plano de salvação. Ou seja, Deus já tem os seus eleitos, e não nos cabe avocarmos pra nós mesmos nenhum tipo de glória ao considerarmos que quando alguém se converte isto acontece por causa da pregação de "A", "B", ou "C". A tarefa da pregação é pavimentar o caminho por onde esses eleitos devem trilhar. E o mote ou vetor estabelecido como parâmetro durante essa trajetória de fé é a esperança da vida eterna prometida por Deus. Promessa afiançada por Deus e acontecida antes dos tempos eternos. E que, segundo o apóstolo, ela se torna manifesta pela pregação, ou como queiram, pela proclamação(KĒRYGMA). 


Já o verso 4 nos apresenta Tito, a pessoa a quem está endereçada esta epístola. E quem é este Tito, senão um discípulo na acepção da palavra do apóstolo. Um homem gentio já que sua origem étnica conforme Gálatas 2:1-3, era grega. Por outro lado, não há como não notarmos o caráter bastante íntimo e expressivo com que o apóstolo trata este irmão.  Vale ressaltar que o tipo de paternidade aqui referenciada pelo apóstolo em nada pode se comparar ao que atualmente se tem difundido em alguns grupos sectários no protestantismo como alusão a um filho espiritual. Portanto, paternidade espiritual se tiver que ser aludida em nosso meio, apenas existe se for diretamente relacionada a nossa relação com Deus Pai e mediada pelo Cristo. Afinal de contas, é isto que temos depreendido na leitura desses quatro primeiros versos desta epístola. 


Outro diferencial que reforça essa palavra até aqui é quando comparamos, por exemplo, a relação de Paulo com Timóteo que em nenhum momento o apóstolo o trata como filho. E por uma simples razão. Quando Paulo conhece Timóteo,  o mesmo já possuía uma substancial formação religiosa, principalmente pelo fato de ser filho de mãe judia. E sua mãe já nesta época era uma mulher convertida. Portanto, Timóteo é rapidamente integrado ao projeto missionário do apóstolo sem que houvesse qualquer tipo de relação que beirava a essa aberração chamada de paternidade espiritual. Mesmo o apóstolo João que em suas epístolas trata as igrejas ou crentes a quem suas epístolas são endereçadas tratando os mesmos como FILHINHOS, não faz por se considerar um pai espiritual deles.


Quem é então este Tito a quem o apóstolo faz alusão no verso 4 a um filho genuíno na fé comum? Primeiro de tudo, e o próprio verso 4 mostra isto, Tito é um cooperador de Paulo em seu projeto missionário, e, ao que tudo indica essa referência a uma filiação na fé, tem relação ao fato de que Tito é fruto desse trabalho missionário. Isso precisa ficar claro neste momento, pois quando adentramos ao verso 5, o apóstolo faz menção ao fato de que foi por causa disto que te deixei em Creta. Disto o quê? Por partilharem da mesma fé, ou da fé comum como o apóstolo assim sinaliza. É bastante também percebermos que a referência a uma fé comum não está necessariamente atrelada às imposições que, num primeiro momento, eram impostas pelo grupo dos judaizantes que perseveravam na igreja de Cristo com aquela ideia de que se os gentios não fossem circuncidados eles não tinham acesso ou direito a salvação. Para Paulo era suficiente uma profissão de fé pública pelo batismo que testemunhava a aceitação do crente a pregação apostólica que subentendia a morte e a ressurreição de Cristo. É pois, em função desse expediente que Paulo deixa o seu filho na fé,  também chamado de Tito, em Creta. O objetivo seria aquele de aparar as arestas, os pontos soltos que porventura pudessem deturpar essa mesma fé apostólica. 


É a partir dos comentários corolários dos versos de 1-4 do capítulo primeiro desta epístola, que agora faço a retomada da proposta temática desta semana teológica. E já faço não com o propósito de subverter esta verdade. Porém, se a direção do seminário me permitir, quero, e pretendo ser bem mais taxativo e rigoroso ao afirmar que SEM PÚLPITO FORTE NÃO HÁ IGREJA. Até o presente momento este texto se preocupou em amarrar a fé cristológica no contexto da pregação, com isso, inapelavelmente construímos outros conceitos que emolduram o quadro da teologia sistemática. E que outros conceitos seriam estes? Quando falamos de morte e ressurreição isto nos remete a ideia do sacrifício vicário, ou substitutivo do Cristo em nosso lugar. Aludimos ao pecado, logo, ao que no sistema teológico chamamos de HAMARTOLOGIA. Não é minha intenção expandir a configuração esquemática da teologia. Portanto, vou me limitar ao que listei até aqui: Cristologia e Hamartologia. Deixando claro que toda especificidade com a qual lidamos com estes temas tem como objetivo o serviço que prestamos à igreja de Cristo. Logo, o ambiente onde militamos com o objetivo de preservar a essência da fé cristã que chamamos de pregação apostólica. É o ambiente e contexto da igreja do Senhor Jesus.


Por isso mesmo, colegas pastores, professores deste seminário,  seminaristas e membros das igrejas aqui representadas. Qualquer ajuntamento de pessoas, mesmo que se reúnam dominicalmente, se não for para celebrar a palavra de Deus por meio da pregação genuinamente apostólica e expositiva. Esse ajuntamento ou reunião de pessoas pode ser tudo, menos a igreja de Cristo. O capítulo dois do livro do apocalipse, quando o Senhor se dirige ao anjo da igreja em Smirna. Ele se apresenta como aquele que é o primeiro e o último e que foi morto e reviveu. Ou seja, o que estamos testemunhando aqui neste verso de número oito do capítulo dois do livro do apocalipse é que o anjo ou pastor dessa igreja estava se deixando levar por outras vozes ou ecos de vozes que brotavam no contexto desta igreja. São aqueles subgrupos que se formam dentro de um grupo maior e que depois tentam se adonar de tudo. Um desses grupos eram daqueles que se diziam judeus. Mas, o Senhor Jesus os chama de a Sinagoga de Satanás. Qualquer ajuntamento de pessoas que se auto intitula igreja precisa exibir o compromisso com a Palavra de Deus. E a Palavra de Deus com conotação apostólica é o testemunho da morte e ressurreição de Cristo para a justificação de nossas vidas.


Não nos iludamos, olhemos para o exemplo de Pedro naquela célebre confissão na região de Cesareia de Felipe, e que se encontra registrada no capítulo 16:13-20 do evangelho de Mateus. O Senhor Jesus perguntou a seus discípulos o que os homens diziam acerca do Filho do Homem. E as respostas eram incrivelmente variadas, indo desde João Batista; Elias; Jeremias ou alguns dos profetas. Entretanto, quando o Senhor Jesus se vira com a mesma pergunta para o seu grupo de discípulos, Pedro tomando a palavra diz que ele é O Cristo, o filho do Deus vivo. Se naquele exato momento Pedro foi capaz de ser usado pelo próprio Deus para fazer tal declaração. Pois o Senhor Jesus o chama de bem aventurado por não ter revelado a carne e o sangue, mas o Pai Celeste. Logo depois deste acontecimento, quando o Senhor começa a deixar mais claro a sua real missão que seria de padecer nas mãos das autoridades religiosas em Jerusalém, o que resultaria na sua morte e no terceiro dia a sua ressurreição. Este mesmo Pedro passa a ter um comportamento junto ao mestre como de censura pelo que falou. E que de modo algum esse martírio de Jesus aconteceria. E qual foi a reação de Jesus senão  a de repelir com veemência tal iniciativa do apóstolo: "Arreda, Satanás! Tu és para mim pedra de tropeço, porque não cogita das coisas de Deus, e sim das dos homens" (Mateus 16:21-23). Querer desviar Jesus do caminho da cruz era o objetivo de Satanás. Como não não foi possível, agora seu objetivo é fazer com que os pregadores não preguem sobre o Cristo da Cruz.













Fiquem com a fé!!!

  Texto - Hebreus 12:1-16 Tema - Fiquem com a fé!!! ICT - Assim como essa grande nuvem de testemunhas do passado. É nosso dever e obrigação ...