TEXTO - Apocalipse 20

TEMA - O banimento e não a erradicação do mal

ICT - O capítulo começa com a chegada de um anjo que desce do Céu trazendo uma cadeia e uma chave que abre e fecha o abismo. O qual durante mil anos será o lugar provisório onde estará encerrado satanás.

OBJETIVO GERAL - Levar a congregação ao entendimento de que do ponto de vista do conceito de mal como elemento constituinte da moralidade humana não existe uma forma de erradicá-lo senão pela aniquilação da raça humana.

OBJETIVO ESPECÍFICO - Levar a congregação a se conscientizar de suas reais responsabilidades de tal maneira que ao terem que se identificar com alguém, que essa identificação seja com aquele que no atual texto está caracterizado pela figura do livro da vida.

TESE - O livro da vida é Jesus também chamado Cristo.



INTRODUÇÃO

     Uma abordagem que neste primeiro momento é fundamental, diz respeito a apropriação desde uma perspectiva de hermenêutica canônica ao que realmente se entende por apocalíptica, ou o que que efetivamente se entende por literatura apocalíptica. Este tipo de literatura é o que se pode definir como o que, em sua grande maioria, se encontra dentro de uma conceituação um tanto quanto generalizada, e a partir de um enquadramento multifacetado, generalizado e dimensionado pela literatura apócrifa. Mas, onde também, comparativamente levando em consideração o que é e o que não é canônico, se pode ver alguns traços característicos da mesma em alguns fragmentos dos evangelhos canônicos e, até mesmo, com tamanha especificidade no livro do Apocalipse, de onde, a partir do capítulo 20, passamos a extrair a referida reflexão.

     Quando se objetiva a produção de um texto em que a natureza do assunto é atravessada com elementos que remontam ao sobrenatural e sua intervenção na ordem das coisas tidas como naturais, ou como queiram na desordem das mesmas, já que o relato propriamente dito reproduz a possibilidade de instauração do caos. E este caos é muito representativo na dinâmica e perspectiva cristã como produto de uma ação desencadeada por elementos que compõem, um tanto quanto distorcida, a moralidade humana. O seu maior representante é aquele que é chamado de satanás, ou antiga serpente, ou dragão, ou diabo. Ele é, por excelência, o mentor de toda a maldade existente no mundo. Segundo o próprio Cristo, no evangelho de João capítulo 8:44, ele é o pai da mentira.

     O pressuposto temático deste texto dá indícios de que o mal é algo que não se pode erradicar, sob pena de que, se assim fosse, a própria raça humana seria extinta. Neste caso, este tipo de compreensão apenas pode ser possível se o entendimento, pela ordem, a cerca do pecado e do mal, seja algo que não possua substância, muito embora seja um elemento fundamental na constituição da consciência ética e moral do homem. Por outro lado, e mesmo que tenhamos feito uma analogia do mal como um dos componentes na constituição moral que ajuíza nossos atos e experiências a partir de parâmetros éticos e morais. Do ponto de vista de uma intervenção que venha do alto e sob a égide divina. Não se pode omitir que há consequências por demais danosas para o homem caso ele não se disponha a se submeter a direção e soberania divina. Isto ficou bastante claro no relato de Gênesis 3:3.

    A ideia que perpassa quase que na sua totalidade e desde uma ótica com tratamento hermenêutico e bíblico, é que toda vez que o Deus da tradição judaica e cristã desce do céu ou envia alguns de seus emissários, neste caso, um anjo, eles vêm com o intuito de tornar manifesto os juízos divinos a cerca de toda e qualquer conduta humana. O início do relato deste capítulo 20, mostra e reforça esta afirmação. O verso primeiro nos dá conta pelo relato de João(o vidente) que um anjo desce do céu trazendo consigo a chave do abismo e uma cadeia. Os versos dois e três, na sequência, informam que com a chave e a cadeia, o anjo amarra a satanás e o lança no abismo, onde permanecerá por mil anos. O final do verso três nos informa que, ao término dos mil anos, satanás haverá de ser solto por um pouco de tempo.

     A seguir o autor nos relata, especificamente no verso 4, que durante este período de mil anos os tronos que estavam vazios foram  ocupados por aqueles que naquele momento tinham o poder de julgar. A seguir há o relato dos que foram perseguidos e degolados pelo testemunho de Jesus, pela palavra de Deus, e que não adoraram a Besta, nem a sua imagem. Muito menos receberam a sua marca na testa ou nas mãos. No versos cinco e seis ele explica que estes que tomam parte na primeira ressurreição, são os que estão reinando com Cristo neste período de mil anos. Por isso mesmo eles são bem aventurados e santos e estão imunes para não experimentarem a segunda morte. 

     Grosso modo, a percepção que se tem a partir da inauguração do milênio. Que segundo a ordem cronológica estabelecida no texto como um tempo entre a prisão e soltura de satanás. É como se fosse o estabelecimento de um sabático período milenar. Aqueles que tomam parte na primeira ressurreição, de acordo com o verso 6, serão sacerdotes de Deus e de Cristo. Ou seja, tomam parte na primeira ressurreição apenas aqueles que se habilitaram a estarem na presença divina por disposição própria. Digamos que foram capazes de potencializar este lado e inclinação do homem para se relacionar com o que chamamos de transcendência, e assim se dispuseram a servir a Deus a partir da percepção deste lado e inclinação humana. Talvez, por isso, a denominação de sacerdotes de Deus e de Cristo para estes que com ele reinarão por mil anos.

     O verso 7 aponta como elemento indicador do término deste período milenar a soltura de satanás. Ao ser solto, ele fará tudo que sempre fez antes de sua prisão. Ele sairá a enganar as nações para incitá-los a guerra. Não me limitarei a tecer comentários mais específicos a cerca dos termos Gogue e Magogue, os quais são aludidos no verso 8. E que como guerreiros se ajuntarão para pelejarem contra o arraial dos santos. A referência nos versos 8 e 9 são de que eles são numerosíssimos a ponto de serem comparados com a areia do mar(Tem até espaço para alguma tipificação neste trecho, mas, não é este o objetivo perseguido neste momento). Entretanto, muito embora tenham sido incitados por satanás a pelejarem contra os santos. O Senhor Deus dos Céus lançará fogo sobre eles e os destruirá. Na expressão mais próxima do texto, eles foram devorados pelo fogo que veio do Céu.

     Como principal consequência o diabo, o grande enganador é precipitado no lago de fogo e enxofre. E neste verso de número 10, é nos informado que neste lago já estão também precipitados a besta e o falso profeta. Onde passarão por tormentos eternamente. O que vem literalmente a seguir, já que adentramos ao verso 11, é o fato de que impreterivelmente haverá um ajuste de contas. Não temos como omitir a iminência do juízo divino. Por isso mesmo na referência que se faz ao grande trono branco, o simbolismo é claro quanto a lisura com que todos nós haveremos de ser jugados. O termo lisura agora pouco referenciado está na relação direta com brancura, pureza, etc. Esta lisura se constitui como contra ponto ao verso 4 que também fala em julgar. Mas, nada que se compare ao julgamento com equidade da parte de Deus e do cordeiro.

     Sempre que me deparo com este verso 11, a primeira coisa que me vem a memória, foi quando atravessei um momento muito difícil em minha vida. Eu estava sendo literalmente caluniado e, por não saber como me defender, o sentimento de impotência tomou conta de mim de tal maneira, que a única resposta que tinha na ponta da língua quando me interpelavam sobre o que estava acontecendo comigo era de que: Eu não posso ter medo da verdade e um dia ela há prevalecer em meio a tanta mentira. E o que este texto tem nos ensinado é que este que agora está assentado sobre este trono branco e sem mácula e que tanto terra e céu tentaram fugir de sua presença, é a peça chave e fundamental. O elemento representativo da verdade e que, em hipótese alguma, podemos ignorá-la.

     Já falamos do elemento representativo que é o fato de que sendo o trono de uma brancura inimaginável, sua relação com a pureza e a lisura, assim como o senso de justiça que emana deste lugar é um dado concreto. Agora, nos encontramos naquele momento em que somos literalmente trazidos a juízo. E isto ocorre com a menção da abertura dos livros e a leitura dos registros que neles se encontram e que fazem parte dos relatos a cerca do que fomos, do que fizemos e até mesmo do que desejamos algum dia fazer sem que tenhamos chegado às vias de fato. Certa vez quando estive fazendo leituras de algumas tragédias gregas, e depois, ao ler A Poética de Aristóteles, um dos  comentários que muito me impactou em termos de análise do que Aristóteles entendia a cerca desse gênero lírico era de que para ele as tragédias descreviam os homens tais quais são, tais quais podem ser e tais quais virão a ser.

     E esta ideia tão propalada neste gênero lírico, tem uma relação bastante concreta com o caráter da criação divina relatado no Gênesis a cerca do homem. O homem nunca foi uma criação fechada, até porque ele foi criado com o objetivo de interagir com o Deus eterno e seu criador. Não nos esqueçamos de que ele foi criado à imagem e semelhança divina(Gênesis 1:26-27). Essa característica humana, muito embora tenha ocorrido aquilo que chamamos conforme a escritura de Queda no Éden, nunca foi perdida por completo pelo homem. Tanto isso é verdade que o homem permanece com essa abertura, agora, do ponto de vista da Queda e da consciência de sua finitude, para o transcendente.

     Quando a escritura fala de pecado ela não dimensiona esse mal apenas no âmbito de uma práxis de vida. O pecado, entra na rotina de vida humana como uma prática contumaz. Ele está enraizado e faz parte da própria vida humana. Desde uma perspectiva que leva em consideração uma moralidade religiosa, o pecado e o conceito que traz consigo na morfologia da palavra de que significa errar o alvo, ou mudança de objetivo a ser alcançado. E foi justamente para estabelecer o contra ponto dessa ideia já morfologicamente embutida no conceito de pecado, que o N.T. estabelece como exigência para aqueles que quiserem seguir a Cristo que façam o movimento de meia volta(METANOIA). Entretanto, existe para aferição e confirmação de sua presença na raça humana o elemento de intencionalidade(Mateus 5:27-28). Este elemento está presente tanto na propensão para o pecado, vide a questão do adultério já referenciada aqui, quanto na mudança de rumo ou direção a que o termo METANOIA se refere. 

    Outro dado interessante é o fato de que tão somente a palavra de Deus pode ser o parâmetro de identificação do que seja pecado, começando com a perspectiva de intencionalidade que também fora referenciada neste texto. O texto de Hebreus 4:10-12 faz referência ao tipo de punição que aqueles que saíram do Egito foram submetidos ante o juízo divino. O motivo de tamanha punição foi como  sempre a desobediência. O autor desta epístola então faz uma contundente advertência quanto ao risco de não adentrarmos algum dia no repouso e gozo divino por conta dessa desobediência. E, mais uma vez, o elemento aferidor quanto a estarmos aptos ou não é a palavra de Deus que, segundo ele, é penetrante, cortante e atinge o ápice da alma humana sendo capaz de discernir seus pensamentos e intencionalidades. 

     O verso 13 é por assim dizer sublime sobre todos os sentidos. Primeiro pelo fato de que ele se constitui num complemento do que está sendo relatado no verso 12. Lá os mortos estão diante desse grande trono branco. Esses mortos são grandes e pequenos. Eles estão sendo julgados conforme os registros encontrados nos livros que estão sendo abertos. O complemento que fiz menção e que se encontra no verso 13 elenca como uma figura emblemática e metafórica, o mar. E na referência ao mar a ideia que perpassa é que o mar está devolvendo os seus mortos. Nada diante de Deus passou ou passa despercebido.

     As nossas mazelas que constantemente fazemos questão de deixá-las totalmente encobertas como se a cada momento estivéssemos varrendo nossa sujeira para debaixo do tapete,  nos acompanham e constantemente vêm a tona. Nossos fantasmas costumam de tempos em tempos saírem para fora do armário. Então, essa é a metáfora a que o mar se constitui como seu elemento representativo. O que o verso 13 está nos dizendo é que a morte juntamente com o além está entregando, devolvendo os que neles se encontravam. Há também um caráter extremamente ambivalente entre a morte e o além. Tanto aqueles que um dia partiram dessa vida carregam consigo a consciência de suas obras quer sejam boas ou más(Lucas 16:25-26), quanto àqueles que por aqui ainda permanecem devem ter consciência de que as vidas que já se foram não podem ser relegadas ao esquecimento. 

     A mensagem cristã ao aludir ao juízo final faz uma clara menção disto ao afirmar em tom categórico que é Jesus quem julgará os vivos e os mortos(II Timóteo 4:1). E o que se vê neste capítulo 20 é o cumprimento desta profecia. Apenas e tão somente num segundo momento, que aqui é chamado de segunda morte. Que tanto a morte quanto o inferno são lançados no lago de fogo. Precisamos ter consciência aqui de algumas imagens em caráter mitológico que estão sendo utilizadas. Entretanto, se há uma expressão que explica com riqueza de detalhes esta situação é aquela expressão muito utilizada por Paulo em suas epístolas: "Em Cristo." Pois se alguém está em Cristo é nova criatura(II Cor 5:17); Somos filhos de Deus mediante a fé em Cristo_ Fomos batizados em Cristo_ Somos um em Cristo(Gálatas 3:26-28). Está claro que o que nos livra da segunda morte e de sermos lançado no lago de fogo e de esquecimento é a nossa condição de estarmos em Cristo. E estar em Cristo neste capítulo é estar inscrito no livro da Vida.



I - UMA ATITUDE PROVIDENCIAL DA PARTE DE DEUS.(V.V. 1-3)

     Com Deus nada acontece por acaso e nem seus atos obedecem a uma lógica imediatista e inconsequente. Toda ação divina tem sua efetividade. Por isso mesmo Ele age de maneira providencial. É evidente que o tempo e sequência estabelecido pelo texto estão enquadrados pelo relato dos movimentos que se articulam conforme a sequência de visão descrita por seu autor. E sua primeira visão toma a vulto e ocasião em destacar que há uma ação contínua e efetiva da parte de Deus contra o grande artífice do mal, que é Satanás. O caráter providencial e seu atrelamento a basicamente tudo que diz respeito a redenção do homem, está devidamente caracterizado pela forma sequencial e histórica com que este agente do mal é descrito e que remontam as suas ações desde os tempos imemoriais. 

     Uma primeira sinalização que  não se pode omitir, sob pena de agirmos injustamente com relação a Deus, é de que não podemos negar que sua ação em nosso favor é perfeitamente colocada neste texto. Ela acontece a partir do momento que envia um de seus emissários, que doravante chamaremos de anjo. O objetivo ao enviar seu anjo é público e notório. Também se revela como uma ação rápida, eficaz e cirúrgica. O anjo desce do Céu com a missão de prender Satanás. E assim ele procede de forma célere.

     As circunstâncias em que ocorre esta prisão nos oferecem algumas perspectivas de como deveremos conduzir a leitura deste capítulo. Esse anjo trazia em suas mãos a chave do abismo e uma grande corrente. O que ele faz então? Ele prende a Satanás com esta corrente, o lança no abismo e com a referida chave tranca e sela aquele lugar de tal maneira que não poderá ser violado ou aberto por aquele que se encontra em seu interior. É claro que o uso de outras tantas formas verbais nos manuscritos gregos nos sugerem para esta leitura uma variedade de recursos e elementos a serem explorados. 

     O que estes primeiros três versos do texto nos informam é que Satanás foi(está) preso e confinado em um lugar(Abismo) impenetrável. A principal característica que também este texto nos informa sobre este lugar, é que aquele que se encontra confinado não possui qualquer tipo de influência sobre os que se encontram do lado de fora. As pessoas podem viver suas vidas como se aquele que se encontra confinado no abismo não existisse. Ou seja, Satanás não tem qualquer tipo de influência maligna ou maléfica sobre aquele que comete seus crimes ou pecados estando na condição de confinado no abismo.

     O que efetivamente chama a atenção nestes três primeiros versos. É a forma como o autor conclui o verso de número 3: "É necessário que ele seja solto pouco tempo." Tenho que deixar uma palavra para efeito de advertência a mim mesmo e a todos quantos se depararem ou se prestarem a ler este texto, no sentido de que devemos estar atentos a forma como o autor, na narrativa deste texto, lida com o tempo. Não sei se o esquema de roteiro de um filme, suas abordagens e enquadramentos de cenas quadro a quadro podem ser o melhor exemplo de caracterização dos eventos desencadeados até aqui, e consignados pelos tempos verbais utilizados.

     Muito embora tenhamos começado com uma análise sequencial desde a descida do anjo, a prisão de Satanás e seu confinamento no abismo impenetrável. Há uma diversidade  de situações decorrentes da forma como os tempos verbais e as formas nominais se encontram dispostas nesta narrativa. O fato de Satanás ter sido lançado no abismo e a possibilidade de seu retorno como o final do referido verso 3, faz com que também não identifiquemos este abismo com o Lago de fogo ardente para onde futuramente haverá de ser lançado juntamente com a Besta e o falso profeta(V. 10).

     Pois bem, por que causa de que, então, a atitude divina em prender Satanás por este período de mil anos, e enviar seu anjo e emissário para que cumprisse com sua ordem? Fica bastante claro neste trecho do capítulo 20:1-3 que toda e qualquer atitude ou ação divina não acontecem de forma aleatória. Por isso uma abordagem neste primeiro tópico não poderia se iniciar sem esta referência a uma ação divina em caráter providencial. Ao mesmo tempo, tanto este primeiro tópico, bem como a totalidade desta leitura precisam criar em nós a consciência de que muito embora o maligno esteja manietado e sem qualquer possibilidade de interferir ou influenciar quem quer que seja para a prática contumaz do pecado e do mal, ainda assim os homens continuam pecando. 


II - A REPERCUSSÃO DO CARÁTER EFETIVO E PROVIDENCIAL DA AÇÃO DIVINA(V.V. 4-6).

     Foi devidamente enfatizado no tópico precedente a ação providencial divina ao enviar um anjo com a missão de prender Satanás. E destacar essa ação neste momento se justifica pelo fato de que a partir dela decorrem todas as demais ações que acontecem e que estão aqui relatadas por aquele que as vê. Do ponto de vista do ajuizamento em tom moralista das coisas, o primeiro tópico se encarrega de relatar aquilo que apenas o soberano Deus é capaz de executar. Ao mesmo tempo perpassa a ideia de que este agir único sob a responsabilidade divina, em que pese a relação de tempo que nós reles mortais temos, e que se rege por uma sequência linear, progressiva e histórica, oferece algumas nuances fundamentais.

     Nossa relação com o tempo tem primeiramente uma repercussão que chega a ser assustadora do ponto de vista de nossa existência. Ela revela o caráter de nossa finitude. Tempo e espaço são duas das categorias que filosoficamente marcam a nossa finitude e o assombro que elas provocam em nós. Muito embora estejamos encerrados nesse contexto de existência, o que esse texto através de seus relatos nos tem ensinado, é que diante desse agir providencial divino as repercussões decorrentes dele mexem não apenas com o nosso presente e altera nosso futuro. Ele também é capaz de mexer e fazer com que também o nosso passado seja alcançado e se constitua como parte integrante de nosso ser .

     Pois bem, então nós temos uma primeira visão do autor deste texto compreendida pelos versos de 1-3, que exibe por se relacionar ao agir divino uma ação efetiva, providencial e oniabrangente. Esta ação efetiva divina se justifica e se materializa devido a tudo que passa a ser narrado pelo autor a partir do verso 4. A revelia de Satanás por estar preso, mas não de Deus, este verso nos dá conta em caráter sintético de tudo que os homens fazem e de tudo que são capazes. Esse verso de número 4 nos oferece a oportunidade para discutirmos até que ponto desde uma perspectiva de autoridade de que somos investidos, existe de fato um endosso divino para as nossas ações. É justamente por isso que devemos ser bastante claros em nossas tratativas da forma como lidamos com o tempo.

     No primeiro tópico a ação efetiva divina se destaca e, neste segundo tópico, o relato se presta a fazer uma descrição horizontalizada das coisas, onde são elencadas as principais características das nossas ações humanas e de como a partir de nossas relações sociais com espírito coletivo essas ações se materializam. O primeiro elemento a ser destacado é a autoridade e aqueles que dela são investidos. No caso deste verso são os reis(tronos) e se diluirmos este conceito numa forma bem mais abrangente, podemos acrescentar os governantes de um modo geral, e em todas as épocas, uma vez que o relato tem sua fonte geradora localizada em seu tempo e espaço que, neste caso e de forma generalizada, é a Ilha presídio de Pátmos do primeiro século.     

      Ou seja a relação com o tempo ocorre como um eixo central de onde decorrem os relatos daquele que se coloca a ver não apenas os fatos que brevemente acontecerão, bem como seus desdobramentos presentes e atuais. Assim como suas ramificações e capilaridades no conjunto e escopo de tempo que envolve um diagrama atemporal: passado-presente-futuro. Não sei se seria possível acrescentar o conceito de síndrome, acho que não. Pois qualquer que seja a ideia que se queira passar neste momento seria difícil desvincular o mesmo de seu aspecto pessoal. 

    Ou seja, muito embora estejamos relacionando tudo que está acontecendo ao ato providencial divino já referenciado no primeiro tópico e não queiramos passar aquela ideia de cunho deísta que despersonifica a Deus alijando-o de sua ação neste mundo. Jogando por terra aquilo que temos de mais precioso em nosso relacionamento com ele que é a Revelação(Neste livro o relato das visões de seu autor). Quero dizer com isso que Deus não é o criador da história, mas é ele quem dá seu fundamento e quem  a sustenta. 

     Afinal de contas, o que se pressupõe aqui é o fato de que nada tem vida própria sem ele. A tentativa de se especificar tamanha situação visa entre outras coisas articular nossos pensamentos da forma mais apropriada. E aí não vejo como isso é possível, senão através de uma linguagem e pensamento que se articula em paradoxos. É portanto uma característica peculiar de toda esta questão levantada a atribuição do ponto de vista teológico e filosófico de que nos encontramos diante de uma situação ambígua.

     Os perigos de se ajuizar de forma injusta aqui são muitos. Eles se constituem em uma via de mão dupla. somos injustos quando tentamos atribuir a responsabilidade pelos males do mundo a Deus. Somos também injustos quando tentamos eximir de responsabilidades pelos grandes males do mundo àqueles que a seu tempo estiveram investidos de autoridades. O relato do autor de que viu tronos e de que sobre estes tronos se assentaram aqueles que foram investidos de autoridade. Mostra na sequência, e aí não se deve generalizar o julgamento sobre os que ocupam posições ou são investidos de autoridade. 

     Mas é fato que os que foram perseguidos por causa de Jesus ocupam um lugar proeminente nesta narrativa e na sequência do verso 4. Mostra-nos que esta perseguição é o resultado direto da ação iníqua daqueles que estiveram investidos dessa autoridade de que estamos falando. Uma das coisas que mais me chamam a atenção naquele segundo momento de diálogo de Jesus com Pôncio Pilatos. Já depois que ele foi açoitado. Foi quando Pilatos fala de sua autoridade e do poder que teria para livrá-lo de uma pena mais severa que seria a morte. O mestre atribui a sua autoridade como tendo origem do alto, entretanto a investidura de tal autoridade mesmo vinda do alto não isenta quem quer que seja de suas práticas iníquas e pecaminosas(João 19:10-11).

     São estes perseguidos por causa de Jesus que formam o contingente dos que hão de se constituir como integrantes do Reino de Deus e reinarão com Cristo neste período de era milenar, tal como assinala o final do verso 4. São eles que reinam com Cristo durante este período conhecido por milênio. E a se considerar esta narrativa da forma como tem sido conduzida sua leitura até agora, e mais uma vez lançando mão do conceito de tempo. Mesmo que seu conceito de foco narrativo fosse deslocado para outras condições de conjuntura espaço-tempo. Ainda assim ficaria difícil trabalhar com algo que acontecerá lá na frente, ou com algo que aconteceu no passado.

     Há uma certa preferência pelo entendimento de que a visão ora descrita pelo autor obedece ao critério descritivo simultâneo dos fatos, porém sem esquecer que, por conta desta preferência por parte do autor, ou daquele que o interpreta, incorre em certo grau de ambiguidade entre o fato propriamente dito e descrito e a pressuposição de que o mesmo ora se realiza ou mesmo teve seu lugar no tempo e no espaço. Isto fica mais claro quando adentramos o verso 5. Toda a narrativa que descreve a dinâmica da vida precedida pela prisão de Satanás e seu lançamento no abismo faz menção do escolhido de Deus e de como neste período eles vivem como súditos do Reino de Deus e de Cristo.

     Todavia fazer alusão ao que precede ou ao que sucederá no tempo não pode de maneira alguma prevalecer como elemento normativo da escala de tempo. Digamos que isso se torna passível de ser encarado como eventos de natureza simultânea onde a única escala progressiva de tempo ou da natureza e desenrolar de tais eventos se configuram sob a ótica de participação simbólica e humana no agir divino(Lampejos que ecoam de Gênesis 3, onde o homem toma consciência de sua queda e se lança em seu mundo unicamente existencial).  

     O que é fato, é que o verso 5 deixa claro a não participação de um outro grupo. Torna-se bastante injusto chamar os mortos que ainda não ressuscitaram de outro grupo, até porque eles permanecem mortos. E, neste caso, estar morto é estar alijado de tudo, de todos e de si próprio. A narrativa de Lucas na parábola contada por Jesus do Rico e Lázaro retrata o tipo de agonia de que se via cercado o homem rico. Que quando em vida desfrutava de todos os prazeres que a vida podia lhe oferecia. Enquanto do outro lado e vizinho a ele, ainda que desprovido de uma visão e atitude coletiva e social, o rico não conseguia enxergar o ser humano cujo nome era Lázaro o qual ardia em desejo de se alimentar das migalhas que caiam de sua mesa(Lucas 16:19-21).

   É evidente que o objetivo deste texto é assinalar o estabelecimento do Reino de Deus e daqueles que se habilitaram como escolhidos para fazerem parte do mesmo. Eles tomam parte na primeira ressurreição. Todavia, a consciência de uma MASSA PERDITIONIS(Massa dos perdidos) toma conta do ser e pensamento de quem se encontra com esta narrativa. E são alusões ao texto sagrado como a que se encontra no evangelho de Lucas, já referenciado em seu capítulo 16 que torna latente a consciência do sofrimento neste segundo grupo. 

     A principal advertência do texto de Lucas é que o castigo eterno imposto ao rico resulta na consciência de que não teve consciência da existência de alguém como Lázaro. A mesma parábola nos dá conta de que ambos morreram. Ao morrerem seus destinos não estão mais unidos. Segundo Abraão, nesta parábola, há um grande abismo entre ambos. Isto faz com que se introduza neste momento a questão que envolve a segunda morte e porque ela não tem AUTORIDADE sobre aqueles que tomam parte na primeira ressurreição.

     O autor para responder a questão levantada no parágrafo anterior a cerca da segunda morte e por causa de que ela não tem poder sobre aqueles que tomam parte na primeira ressurreição, introduz o conceito hierárquico de religião atribuindo a estes o ofício de sacerdotes. Esse modelo hierárquico e sacerdotal é trazido como elemento de comparação já que propicia a ideia de que para se desempenhar esse ofício existe a necessidade de se pertencer a um único tronco familiar. E acima de tudo há a exigência de uma preparação séria e minuciosa. Para a partir daí estar na presença de Deus. Estar na presença de Deus ou Deus se fazer uma presença constante na vida de cada um de nós, é o antídoto contra o poder e autoridade da segunda morte.


III - A REPERCUSSÃO E OS DANOS PROVOCADOS EM ESCALA GLOBAL PELO PRINCIPAL AGENTE DO MAL(V.V. 7-10).

     De certa forma, mas não da mais direta possível, há um objetivo ou tentativa de se enfatizar que, muito embora durante o período de mil anos, e, apesar de neste período satanás se encontrar preso. É fato que a maldade ou prática do mal não cessou por parte dos homens. E o fato dele agora estar solto e ser capaz de mobilizar as pessoas em escala global, mostra a sua grande capacidade de sedução manipulando psicologicamente esse aspecto ou falta grave caracterizado pela psicologia comportamental humana, que desde uma perspectiva incondicional e religiosa, nós a chamamos de pecado(Isto porque a prática contumaz do pecado somente pode ser detectada em seus aspectos de ordem comportamental). 

     O maligno em seu retorno e forma de agir não revela qualquer tipo de alteração ou novidade. A novidade agora é que sua prática de sedução contará não apenas com o desejo e sedição humana, porém com este fator multiplicado exponencialmente pelas estruturas de comunicação construídas graças a engenhosidade do homem. Com isso, o monopólio e capacidade de mobilização resulta diretamente na arregimentação geopolítica ou supranacional das pessoas e são perfeitamente exequíveis e factíveis de serem alcançadas. Gogue e Magogue são os maiores exemplos do que estamos falando. Após percorrer e arregimentar nos quatros cantos da terra, toda essa diversidade da cultura humana foi reduzida a um grande enxame de pessoas(Areia do mar) concentradas em apenas um lugar e manipuladas para se insurgirem contra o povo de Deus.

    Ao mesmo tempo que destacamos a facilidade que terá e que fará com que o alcance de suas mentiras se pulverizem  pelos quatro cantos da terra. Introduz-se uma questão de caráter extremamente teológico: Como isto é possível se o Maligno, Satanás não possui nenhum atributo divino, dentre os quais, destaco a onipresença? Ainda que na leitura desse trecho eu fique impossibilitado de um aprofundamento maior. Reconheço propositalmente que ela é muito superficial, já que não é meu interesse a esta altura levantar maiores questionamentos a cerca deste assunto em especial. Em parte, atribuo o adiamento do assunto a uma ineficiência de minha parte, que decorre das minhas limitações e poucas inserções na teologia bíblica do A.T. e a consequente falta de embasamento nas línguas semíticas.

     De qualquer maneira a forma como o maligno arregimenta o número expressivo daqueles que se prontificaram a guerrear contra o povo de Deus. Segundo o texto o número deles é como a areia do mar. Podemos afirmar que ele se utilizou de uma rede de comunicação dotada de uma capilaridade sem igual. A época do império romano toda essa estrutura de comunicação fundada no conceito de uma cadeia de comando, era simbolizado pelos correios e suas estradas(80 mil km de estradas chamadas CURSUS PUBLICUS). Quando pensamos numa realidade como a de hoje onde usufruímos de uma mesma base de capilaridade em comunicação. Porém, com um detalhe que faz toda a diferença, já que desfrutamos dela quase que em tempo real. Imagine o estrago que pode proporcionar sendo controlada, como diz o texto, por uma mente sedutora?  

     De todos esses benefícios ou facilidades seja lá a época ou situação política e social de onde emerge uma estrutura de comunicação que dá sustentação e manutenção às próprias estruturas de poder. É também dessa maneira que o maligno enquanto sedutor e mentiroso, se apropria e, a partir daí se articula e arregimenta forças contra os filhos de Deus. Independente de minha limitação já aludida em relação a cultura semítica e a relação desta com a expressão Gogue e Magogue, esses dois termos são os referenciais de aglutinação de todos aqueles que se insurgem contra os escolhidos.

     É fato que Satanás ao ser solto encontrou todas as facilidades proporcionadas pela engenhosidade humana para colocar seu plano em ação. Não apenas os arregimentou como os colocou em marcha sobre a superfície da terra contra o arraial do povo de Deus. Entretanto, tão rápida quanto foi sua mobilização e marcha foi também a forma como sucumbiram literalmente nessa investida contra o povo de Deus. E o texto afirma taxativa e literalmente que desceu fogo do Céu e os consumiu. Ou seja, já neste momento, o que se percebe da parte de Deus que não há mais como transigir em sua relação com o homem que de maneira contumaz se entrega incondicionalmente à prática do pecado.

     E por último, já que temos falado de como o diabo, caracterizado como sedutor ou enganador, conseguiu a façanha de enganar tanta gente a ponto de, ao fazermos referência como o autor neste capítulo tem feito a cerca dos seus seguidores, o próprio autor compara o número deles com o número da areia do mar. Também foi feita a referência ao sistema de correios no império romano que se constituía numa ferramenta articulada com o objetivo de interligar os súditos do império em qualquer parte dos seus domínios à cadeia de comando superior que se encontrava em Roma e, neste caso, simbolizado pelo sumo pontífice também conhecido como o imperador.

     Então, o verso dez nos dá conta depois dessa derrota final, que futuro é esperado para o diabo e os seus auxiliares diretos nessa cadeia de comando e que deram durante um longo tempo toda a sustentação possível a este poder supra nacional de opressão e perseguição aos crentes e testemunhas de Jesus. O futuro dele é o lago de fogo e enxofre onde também já se encontram a besta e o falso profeta. A rigor, tanto a \besta quanto o falso profeta são os seus auxiliares imediatos na escala de poder que se preservou por bastante tempo entre nós por conta dos enganos e mentiras. E uma dessas mentiras era a possibilidade de se anteporem entre o homem e Deus constituindo-se assim nos seus interlocutores.


IV - O RESULTADO FINAL DE TODA E QUALQUER DESOBEDIÊNCIA É O DESTERRO E O ESQUECIMENTO SOB PENA DE TORMENTO ETERNO(V.V. 11-15).

     Mesmo que tenhamos um relato sequenciado que obedeça uma certa cronologia quando observamos mais de perto os aspectos que nos condicionam e nos dão conta de nossa inserção nos muitos e variados contextos históricos ao longo de nossa existência. E são representativos das multifacetadas experiências pelas quais tem passado o  povo de Deus. Contextos estes que foram suficientes para o condicionamento e relato do próprio autor como um cativo na ilha presídio de Pátmos por causa do testemunho de Jesus(Apocalipse 1:9).

     O olhar e relato que o autor apresenta está condicionado pelo arcabouço de seu contexto histórico. Foi a partir daí que ele foi não somente escolhido por Deus e capacitado para poder testemunhar a cerca dos eventos que sucederiam com conotações que passam pelo crivo tanto da historia quanto do historiador. Assim como aquelas conotações que foram ou são descartadas desse olhar nem tão perscrutador que o historiador também exibe. E nesse ínterim, cabe uma advertência quanto ao tipo de intencionalidade quando nos propomos investigar os relatos das últimas coisas apontadas neste texto, bem como da totalidade dos relatos contidos neste livro.

     A grande figura emblemática que toma conta deste trecho que por ora analisamos e que, num primeiro momento, ocorre pela presença do grande e imponente trono branco e o que se assenta sobre ele o faz com virtude e dignidade. O autor está dizendo que sobre este trono se assentou a figura ímpar e capaz não apenas de se assentar, bem como se estabelecer como o justo juiz neste momento. Porém ele não teve a mesma sorte quando esteve entre nós. Passou por todo tipo de injustiça e por fim foi alijado da terra dos viventes como um verdadeiro indigente. Foi este que, de acordo com o verso 11, de cuja presença fugiram terra e céu.

     Este livro enquanto relato do que se sucederá no fim. Em todo momento chama a atenção dos seus leitores para o único que é digno de receber glória e louvor. O capítulo 5 deste mesmo livro de Apocalipse fala em outro momento de  como o cordeiro de Deus é digno de abrir o grande Livro e de desatar os sete selos que o lacram. O trono branco e aquele que sobre ele se assenta está revestido de virtudes e dignidades. E é exatamente ele que também guiado pela pureza e lisura haverá de julgar. O grande contra ponto entre os versos 4 e 11, está no fato de que os que julgavam no verso 4 receberam esta missão como uma investidura. A eles foi oferecida a autoridade para julgar. Aquele que se assenta no trono e agora julga conforme o verso 11, ocupa por dignidade e por ser esta a sua vocação natural.

     A partir do momento que ocorre a abertura dos livros, as coisas começam vir a tona. A única percepção que se tem é de que nada em absoluto fica encoberto. Não adianta ensaiarmos fugir da presença de Deus como se não devêssemos dar qualquer tipo satisfação a Ele. O apóstolo está especificando que em sua visão não há qualquer tipo de distinção social. Todos, impreterivelmente, estão diante do trono e são julgados conforme os registros dos livros que são abertos. Agora em contra ponto, neste caso, do verso 6 com o verso 12. Estes que estão sendo julgados após serem trazidos a vida. Não são bem aventurados, já que estão tomando parte na segunda ressurreição.

     O verso 13 é bastante pedagógico e educativo. Ele nos ensina que aqueles que estão sendo julgados e que têm como único destino a condenação eterna, em muitas situações representam aquele tipo de pessoa que sempre aparentou o que jamais foi. Suas vidas sempre se pautaram por um faz de conta, ou uma cortina de fumaça. Em parte, a vida destes têm relação com o tipo de conduta farisaica. É por isso que sempre que o Senhor Jesus esteve envolvido em algum embate com esta classe de religiosos em Israel, o Senhor Jesus os chamava de hipócritas. Ou seja, aqueles que se especializavam na arte de representar sem que realmente vivessem da forma como pregavam. Em outras palavras, não levaram a sério a relação que deviam ter com Deus e com o próximo.

     O verso 13 mostra-nos que eles estão sendo julgados não pelo que aparentavam ser, porém, pelo conjunto dos relatos de registros contidos nos livros que estão sendo abertos. Os quais reproduzem o que eles efetivamente fizeram: "Segundo as suas obras." O elemento representativo desse tormento eterno é o destino daqueles que ao contrário de tudo a que faz referência o verso 4 deste capítulo, eles trilharam um outro caminho. Este caminho pode ser entendido com o caminho da desobediência. Foi a desobediência que levou os nossos pais a se alijarem da presença divina(Gênesis 3). Foi também a desobediência que fez com que a geração do Êxodo que saiu do Egito ficasse pelo deserto(Josué 5:6).

     A conclusão a que se chega ao término de leitura deste capítulo, é que o lago de fogo é a segunda morte e nele serão precipitados além da besta e do falso profeta, Satanás(Verso 10) e todos os que não estarão com seus nomes registrados no Livro da Vida(Verso 15). Ele não apenas simboliza um lugar de tormento. Também significa um lugar de esquecimento e de isolamento. Um isolamento capaz de proporcionar um sentimento de extrema agonia. Tal qual a situação do rico na parábola do Rico e Lázaro contada por Jesus em Lucas 16:19-31.

     O verso 10 deste capítulo e em seu final afirma que aqueles que forem precipitados no Lago de Fogo serão atormentados. E o tipo de expressão que ilustra bem a qualidade e especificidade deste tormento, é de que ele se multiplicará pelo tempo. A expressão "Pelos séculos dos séculos", combinada com um estado da alma e da mente quando a mesma se vê em situações como ansiedade, angústia e toda sorte de males patológicos que nos jogam pra baixo, nestes casos, a sensação de que o tempo parou e que você se encontra num emaranhado de problemas a cerca dos quais o sentimento de impotência o impedem até mesmo de reagir e transformar sua situação é muito grande.  




CONCLUSÃO

     O texto do capítulo 20 acentua dois momentos fundamentais da visão do autor. Esses dois momentos são marcadamente pontuados por narrativas que descrevem tais visões e os desdobramentos das mesmas de onde decorrem outras situações demandando o emprego de formas verbais entre passado, presente e futuro. O fato de o autor(Vidente) estar ocupando uma posição privilegiada ao assistir o que se passa desde os acontecimentos que têm seu lugar no passado, não o isenta de uma hermenêutica sua e muito pessoal que ao atribuirmos e qualificarmos dessa maneira levamos em consideração o contexto histórico, cultural, social e principalmente religioso de seu tempo.

     Na visão de tais acontecimentos o grande protagonismo não é e jamais poderia ser atribuído a Satanás. O protagonismo embora tenha sido ofuscado pela sedução maligna desde os tempos imemoriais(A antiga serpente, o dragão...) sempre esteve sob o controle divino. É também em função desse protagonismo divino que sempre que possível faço questão de ressaltar como tenho feito nesta leitura, o caráter providencial divino em favor do seu povo. O ACTUS PURUS, como forma filosófica de caracterizar o ser de Deus, talvez tenha uma aplicabilidade mais efetiva neste contexto de fala com o objetivo de se entender melhor a natureza e transcendência divina.

     A simples referência ao ACTUS PURUS enquanto princípio filosófico não pode fazer com que consideremos tanto do papel proativo de Deus na ordem dos acontecimentos e da história. Portanto, temos a justificativa de sua ação providencial. Por outro lado, maldade no mundo se multiplica com a presença ou a revelia de Satanás. Não, não é nossa intenção eximi-lo de sua responsabilidade enquanto agente do mal. Entretanto, a prática contumaz do pecado por parte do homem independe desse incentivo proveniente do maligno. Simultaneamente, proporciona e se volta para um sentido horizontalizado de nossas relações.

     É uma pena que objetivamente e a partir tão somente do que nos propomos enquanto leitura deste texto, não nos seja possível avançar nesta discussão. Mas, o que é fato e isto conseguimos apurar tão somente neste capítulo 20. É que mesmo estando o maligno preso e selado dentro do abismo, ainda assim a maldade e a perseguição as testemunhas de Cristo não cessaram. Foi durante o período do milênio que aqueles que se assentaram em tronos e que lhes foi a autoridade para julgar; ao mesmo tempo está acontecendo a perseguição aos escolhidos e testemunhas de Cristo. É também este o momento para a besta e falso profeta surgirem e arrebanhar muitos na face da terra. 

     O trono branco que simboliza a equidade de Deus em seus juízos é o grande corte existencial que simboliza a ineficiência daqueles que foram galgados à condição de governantes e magistrados(V 4). Tiveram tudo para conduzir no desempenho de suas responsabilidades com extrema justiça e imparcialidade. Tal qual lhes foram colocadas. Todavia não desempenharam com equidade e desenvoltura o que lhes fora proposto por ordenação divina e à revelia de Satanás, pois este neste exato ínterim que compreendera os mil anos estava preso. Este trono branco, por conta disso, é o seu grande contra ponto. Mas, ele deveria ser o referencial para as ações humanas.

     Muito embora estivéssemos conforme o relato deste capítulo e no ínterim do período do milênio, a única certeza que deveríamos e devemos ter em relação a este mundo é de que sempre teremos aflições. Nós não fomos chamado para fazermos parte de um reino que tenha fortes raízes com este mundo. E dentro de uma perspectiva em que nos encontramos aqui por um pouco tempo, aprendemos, ainda que sem conivência com toda prática de pecado ou injustiça, conviver com este mundo. Contudo, e com extrema fidelidade a quem nos fez a promessa de que se formos fiéis até morte receberemos a coroa da vida(Apocalipse 2:10).

     E para encerrar esta leitura, gostaria de lembrar uma proposta  por Jesus a cerca do joio e do trigo(Mateus 13:29). Por enquanto crescemos juntos com o joio e não há de ser por nós que a separação acontecerá. Mas, o dono da seara saberá no tempo certo fazer a separação. O resultado todos nós sabemos, o que nos resta fazer é aguardarmos o tempo certo. De uma coisa também temos certeza, o que é joio é joio e o que é trigo é trigo. O Senhor jamais confundirá um com outro. Que Deus nos abençoe e nos conserve com vida e com fidelidade a sua palavra. Amém!!!   

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    Καὶ εἶδον ἄγγελον καταβαίνοντα ἐκ τοῦ οὐρανοῦ ἔχοντα τὴν κλεῖν τῆς ἀβύσσου καὶ ἅλυσιν μεγάλην ἐπὶ τὴν χεῖρα αὐτοῦ καὶ ἐκράτησεν τὸν δράκοντα  ὄφις  ἀρχαῖος ὅς ἐστιν Διάβολος καὶ  Σατανᾶς καὶ ἔδησεν αὐτὸν χίλια ἔτη καὶ ἔβαλεν αὐτὸν εἰς τὴν ἄβυσσον καὶ ἔκλεισεν καὶ ἐσφράγισεν ἐπάνω αὐτοῦ ἵνα μὴ πλανήσῃ ἔτι τὰ ἔθνη ἄχρι τελεσθῇ τὰ χίλια ἔτη μετὰ ταῦτα δεῖ λυθῆναι αὐτὸν μικρὸν χρόνον
‹Καὶ εἶδον θρόνους καὶ ἐκάθισαν ἐπ’ αὐτούς καὶ κρίμα ἐδόθη αὐτοῖς καὶ τὰς ψυχὰς τῶν πεπελεκισμένων διὰ τὴν μαρτυρίαν Ἰησοῦ καὶ διὰ τὸν λόγον τοῦ θεοῦ καὶ οἵτινες οὐ προσεκύνησαν τὸ θηρίον οὐδὲ τὴν εἰκόνα αὐτοῦ καὶ οὐκ ἔλαβον τὸ χάραγμα ἐπὶ τὸ μέτωπον καὶ ἐπὶ τὴν χεῖρα αὐτῶν καὶ ἔζησαν καὶ ἐβασίλευσαν μετὰ τοῦ χριστοῦ χίλια ἔτη› Οἱ λοιποὶ τῶν νεκρῶν οὐκ ἔζησαν ἄχρι τελεσθῇ τὰ χίλια ἔτη αὕτη  ἀνάστασις  πρώτη μακάριος καὶ ἅγιος  ἔχων μέρος ἐν τῇ ἀναστάσει τῇ πρώτῃ ἐπὶ τούτων  δεύτερος θάνατος οὐκ ἔχει ἐξουσίαν ἀλλ’ ἔσονται ἱερεῖς τοῦ Θεοῦ καὶ τοῦ Χριστοῦ καὶ βασιλεύσουσιν μετ’ αὐτοῦ τὰ χίλια ἔτη
Satan Cast into the Lake of Fire
Καὶ ὅταν τελεσθῇ τὰ χίλια ἔτη λυθήσεται  Σατανᾶς ἐκ τῆς φυλακῆς αὐτοῦ καὶ ἐξελεύσεται πλανῆσαι τὰ ἔθνη τὰ ἐν ταῖς τέσσαρσιν γωνίαις τῆς γῆς τὸν Γὼγ καὶ Μαγώγ συναγαγεῖν αὐτοὺς εἰς τὸν πόλεμον ὧν  ἀριθμὸς αὐτῶν ὡς  ἄμμος τῆς θαλάσσης Καὶ ἀνέβησαν ἐπὶ τὸ πλάτος τῆς γῆς καὶ ἐκύκλευσαν τὴν παρεμβολὴν τῶν ἁγίων καὶ τὴν πόλιν τὴν ἠγαπημένην καὶ κατέβη πῦρ ἐκ τοῦ οὐρανοῦ καὶ κατέφαγεν αὐτούς 10 καὶ  διάβολος  πλανῶν αὐτοὺς ἐβλήθη εἰς τὴν λίμνην τοῦ πυρὸς καὶ θείου ὅπου καὶ τὸ θηρίον καὶ  ψευδοπροφήτης καὶ βασανισθήσονται ἡμέρας καὶ νυκτὸς εἰς τοὺς αἰῶνας τῶν αἰώνων
The Final Judgment
11 Καὶ εἶδον θρόνον μέγαν λευκὸν καὶ τὸν καθήμενον ἐπ’ αὐτόν οὗ ἀπὸ τοῦ προσώπου ἔφυγεν  γῆ καὶ  οὐρανός καὶ τόπος οὐχ εὑρέθη αὐτοῖς 12 καὶ εἶδον τοὺς νεκρούς τοὺς μεγάλους καὶ τοὺς μικρούς ἑστῶτας ἐνώπιον τοῦ θρόνου καὶ βιβλία ἠνοίχθησαν Καὶ ἄλλο βιβλίον ἠνοίχθη  ἐστιν τῆς ζωῆς καὶ ἐκρίθησαν οἱ νεκροὶ ἐκ τῶν γεγραμμένων ἐν τοῖς βιβλίοις κατὰ τὰ ἔργα αὐτῶν 13 καὶ ἔδωκεν  θάλασσα τοὺς νεκροὺς τοὺς ἐν αὐτῇ καὶ  θάνατος καὶ  ᾅδης ἔδωκαν τοὺς νεκροὺς τοὺς ἐν αὐτοῖς καὶ ἐκρίθησαν ἕκαστος κατὰ τὰ ἔργα αὐτῶν 14 Καὶ  θάνατος καὶ  ᾅδης ἐβλήθησαν εἰς τὴν λίμνην τοῦ πυρός οὗτος  θάνατος  δεύτερός ἐστιν  λίμνη τοῦ πυρός 15 καὶ εἴ τις οὐχ εὑρέθη ἐν τῇ βίβλῳ τῆς ζωῆς γεγραμμένος ἐβλήθη εἰς τὴν λίμνην τοῦ πυρός

     

     





    

    



    

    










     

Fiquem com a fé!!!

  Texto - Hebreus 12:1-16 Tema - Fiquem com a fé!!! ICT - Assim como essa grande nuvem de testemunhas do passado. É nosso dever e obrigação ...