Apontamentos na epístola de Paulo aos Gálatas.

 



INTRODUÇÃO.


Sempre houve dificuldades no interior da Igreja de Cristo. Ela sempre se viu envolvida com perseguições devido a mensagem do Reino de Deus em que ela é a sua portadora. E neste caso, bem como em muitos outros, quando se aprofundam e endurecem as perseguições, a tendência é que se tornem mais violentas.

E ao se constatar que mesmo em meio às mais violentas perseguições, aqueles que são perseguidos continuam mais fortes e unidos. Então vem uma nova e mais demorada tentativa de se solapar e destruir qualquer movimento de união e unidade humana. Este segundo momento na perseguição começa a partir de um processo de constante infiltração de pessoas que se constituem como os agentes que implodem ou tentam implodir qualquer tipo de organização humana de dentro para fora.

Se hoje existe um grande problema no seio da Igreja de Cristo, este problema pode ser identificado como falta de maturidade. A simples referência ao tempo, atribuindo que este problema é atual, na realidade, quase todas as dificuldades por que tem passado a Igreja é resultante da falta de maturidade, logo o problema se quer é atual. Ele desde sempre esteve presente na história desta instituição divina.

A maturidade que me refiro é fruto das constantes investidas dos opositores da igreja que como afirmei, começaram essa investida de fora para dentro. Os motivos para tanta perseguição são muitos, diversificados e transmutados numa linha histórica e ascendente de tempo. Mas, em linhas gerais, eles obedecem uma certa lógica. E essa lógica é patrocinada por um poder temporal que se antepõe radicalmente a tudo que não faça parte dos seus domínios.

A retórica de pregação da igreja começou por celebrar um nome tendo-o como seu Rei. Este nome conhecido por Jesus trouxe ao seu povo a mensagem de um Reino, já que o Deus desse povo, agora presente na vida desse Jesus(A encarnação) é o símbolo por excelência da presença agora constante desse Reino: "Arrependei-vos pois é chegado o Reino de Deus".

Evidentemente que esse tipo de retórica jamais seria aceito por quem sempre esteve a frente e na liderança desse povo. Por outro lado, o que era um movimento pequeno e de poucas pessoas que a este movimento iam aderindo, de repente se avoluma de tal forma que não somente incomodaria as autoridades locais, bem como ao poder hegemônico e geopolítico representado pelo Império Romano.

Então, e tendo como pano de fundo as considerações iniciais deste texto. Que são considerações essencialmente genéricas, eu diria que uma das grandes dificuldades da raça humana é a convivência com o seu próprio semelhante. Eu não sou muito afeito a utilização de termos como espiritualidade. Mas entendo que o maior entrave para o desenvolvimento de uma espiritualidade humana, reside na dificuldade do homem em olhar para seu próximo e semelhante não com o objetivo de subjugá-lo.

Amar a Deus acima de qualquer coisa e amar ao próximo como a si mesmo, além de ser uma síntese do que está no DECÁLOGO, é o que fundamenta também a pregação da Igreja e toda a sua retórica ao longo dos séculos. Mas é também a pedra de tropeço desta mesma igreja. E eu diria que tudo isso começou desde que aquilo que chamamos de espírito comunitário começou a ser substituído de forma paulatina e natural pelo que chamamos de processo de institucionalização. E com a institucionalização veio também a hierarquização.

Não é leviano afirmar que este é o grande problema da raça humana. Todavia, como o nosso foco é a Igreja de Cristo, preciso me policiar para não incorrer em generalidades que interferem diretamente tanto na análise deste assunto quanto efetivamente ao sentido que se tenta emprestar ao mesmo.

Eu parto do princípio de que o sentido das coisas tem uma peculiaridade histórica. Ou seja, algo passível de uma mensuração no tempo. Para tanto o olhar de quem se volta par o tempo e as suas nuances obedece a critérios de natureza cultural e antropológica. Aduz-se ainda, uma variedade de vozes que, num primeiro momento, poderíamos cunhar, não sei se é o termo mais apropriado para isto neste momento, de POLIFONIA.

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Uma leitura no capítulo primeiro da Epístola de Paulo aos Gálatas.

Ao nos enveredarmos pelos textos paulinos, uma das primeiras características de suas epístolas, é sua maneira inconfundível de se apresentar. Ele não apenas se identifica assim como chama para si sua autoridade apostólica. E ao que tudo indica essa reivindicação de apóstolo chegou a ser bastante questionada em alguns ambientes das comunidades cristãs do primeiro século.

     Ele é apóstolo não da parte de homens e muito menos por intermédio de homem algum. Em seu histórico de vida cristã inexiste aquela chancela  por parte de um grupo denominado de apóstolos que se aplicava àqueles que tiveram suas experiências reunidas junto ao mestre quando esteve por aqui, até o momento em que foi crucificado e morto na cruz.

     Ele mesmo chega a fazer referência a sua experiência com Cristo quando em perseguição aos crentes a caminho de Damasco é tomado de uma grande e forte luz no meio da qual uma voz o interpelava do porque de sua perseguição aos crentes e consequentemente ao personagem da voz. E quando ele indaga de quem poderia ser aquela voz. A mesma lhe responde em tom categórico: "Eu sou Jesus a quem tu persegues."

    A narrativa com riqueza de detalhes, pode ser encontrada tanto em Atos 9:1-9; 22:1-10; 26:9-18. Entretanto, bastaria para nós como alusão a este contexto de chamada e autoridade apostólica o que ele mesmo, Paulo, nos relata em I Coríntios 15:1-10. Lá, ele traça uma cronologia das aparições do ressuscitado e de como este ressuscitado vem até ele por último. 

     É também uma característica sua nas cartas de apresentação, fazer alusão ao elemento trinitario do ser de Deus. Especialmente em Gálatas, o apóstolo destaca essa relação mais profunda, equilibrada e afinada entre Deus Pai e o próprio Jesus. E dessa maneira introduz o caráter maior da graça divina que foi a entrega voluntária do filho pelos pecados do mundo. A pregação da graça é como uma tônica maior nos discursos mais primitivos da pregação apostólica, há tanto a ênfase na morte de Jesus quanto no miraculoso ato de ressurreição operado por Deus Pai. E é exatamente dessa maneira que o apóstolo se dirige a estes irmãos da Galácia.

     Com isto, Deus em Cristo se propõe a desarraigar o homem dos seus pecados e deste mundo perverso e pervertido. Na pregação do apóstolo tudo ocorre pela vontade soberana de Deus e nosso Pai. E conquanto tudo isto se deu no tempo e no espaço, a figura do filho para seu cumprimento foi fundamental. É dessa maneira que o apóstolo conclama os Gálatas a glorificarem a Deus pelos séculos dos séculos.

     O "Amém!" final neste trecho introdutório destaca o caráter doxológico. O relato de Paulo não objetiva ser tão somente o estabelecimento dos princípios que norteiam a sua pregação. Sua forma de apresentação jamais dispensa a oportunidade de glorificação do nome de Cristo e do porque este nome precisa e deve ser reverenciado, uma vez que foi ele que de forma obediente cumpre com a vontade do Pai ao revelar seu amor e misericórdia a todos nós. Até mesmo os Gálatas foram objetos dessa graça maravilhosa.

    Terminada esta apresentação com teor doxológico. O apóstolo agora fala em tom de surpresa a cerca da reação dos Gálatas quanto a graça de Deus que a eles foi trazida por meio da pregação de Paulo. A afirmação em tom acusatório do apóstolo nos dá conta de que eles estavam passando da graça de Cristo, o evangelho anunciado por Paulo para outro evangelho. Segundo o apóstolo este novo evangelho era tão somente uma forma distorcida do que o apóstolo havia anunciado entre aqueles irmãos.

    A palavra do apóstolo em tom de juízo e maldição é no sentido de que se alguém lhes anunciasse um evangelho diferente, ou forma distorcida do evangelho que já foi pregado, que seja anátema. E volta a repetir esse juízo e maldição fazendo menção de que qualquer coisa que se apresentasse como evangelho e que fosse além daquilo que eles já tinham recebido, que seja anátema.

     Nas palavras do apóstolo, anátema não é tão somente um juízo condenatório. É também uma sentença que tem como função precípua erradicar do meio da comunidade quem se comporta de maneira a perverter a doutrina ou ensinamento de Cristo. Nós vamos começar a entender melhor o porque de uma atitude tão austera do apóstolo quando adentrarmos à análise dos versos subsequentes.

     Neste verso de número 10, vemos o apóstolo fazendo menção de como ele se comporta diante dos homens e do próprio Deus. E nessa dinâmica de relacionamento entre ambos, ele fala que busca tão somente agradar e glorificar a Deus. Caso não fosse assim ele não seria servo de Cristo. Portanto, a conclusão pela qual ele tenta levar o raciocínio aos Gálatas é de que o evangelho por ele pregado entre eles não é segundo o homem. E por uma simples razão. Ele não recebeu, nem aprendeu de homem algum. Tudo foi por intermédio de revelação e em Cristo Jesus.

    Os Gálatas precisam entender que a defesa do evangelho e a forma como ele lhes foi pregado por Paulo, não se limita a um conjunto de doutrinas ou ensinamentos que se apura através do homem e sua cultura. Aquilo que comumente chamamos de tradição. Pois é este o argumento de Paulo. Ele fala de revelação assinalando que o evangelho veio até ele por revelação direta de Jesus Cristo. 

     Aliás, esta é uma característica muito presente no pensamento de Paulo. Quando ele usa a expressão "Estar em Cristo", isto significa que há uma conexão direta com o Senhor Jesus e que categorias da finitude que nos ajudam a pensar, tais como tempo e espaço, caem por terra. É um tipo de conexão que independe de qualquer tipo de mediação.

     A seguir, o apóstolo apela para a memória dos Gálatas quando relata o tipo de procedimento por estar muito apegado ao judaísmo e às tradições de seus antepassados. E de que neste interin buscava perseguir a igreja de Deus e, como ele mesmo diz, provocava muitos danos e devastação.

     Ele fala de seu extremo zelo e de como superava a muitos de sua idade. Após o que ele lembra que aquele que o separou antes de nascer e lhe chamou pela sua graça, foi do seu agrado revelar Jesus nele. E o objetivo era tão somente de que pregasse o evangelho aos gentios. E para tanto ele não se viu na obrigação de consultar ninguém. E acrescenta que se quer subiu a Jerusalém para ver aqueles que já eram apóstolos antes dele.

     Então Paulo, seguindo em seu histórico de narrativa que serviu como testemunho para os Gálatas, afirma que somente depois de três anos passados de sua conversão, ele subiu a Jerusalém para se avistar com Cefas(Pedro) e de ter permanecido com ele quinze dias. E nesse período não viu nenhum outro apóstolo a não ser Tiago, irmão do Senhor. Seu intento em relatar tais fatos era no sentido de deixar claro que seu ministério não dependia e jamais dependeu de uma chancela ou licença por parte daqueles líderes da igreja em Jerusalém. E faz questão de dizer que o seu relato é testemunho fiel e não há mentira nele.

     O apóstolo esteve em regiões como Síria e Cilícia. Porém, jamais se preocupou em ser conhecido pelas igrejas da Judeia, que estavam em Cristo. No máximo o que se ouvia a seu respeito, era que ele de perseguidor da igreja passou a ser aquele que pregava o que esta igreja perseguida sempre pregou. Agora prega a fé que um dia visou destruir. E essas histórias eram motivos para que Deus fosse glorificado a seu respeito. 

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Uma leitura do capítulo 2 da Epistola de Paulo aos Gálatas.


Decorridos 14 anos após Paulo ter ido a Jerusalém, e ter estado com Cefas e Tiago, ele retorna novamente a Jerusalém. Porém deixa claro que esteve lá por obediência a uma revelação. Desta vez ele estava acompanhado de Barnabé e Tito. Seu objetivo era esclarecer o evangelho que pregava entre os gentios. E segundo ele, ainda que não devesse obediência alguma a liderança da igreja em Jerusalém, ele não queria fazer a obra a revelia do que eles também pregavam.

A grande questão que se colocava nesta época era se os gentios deveriam ou não, ao aderirem a pregação do evangelho, ser circuncidado. Mas, Paulo que tendo levado a Tito que era de origem grega, disse que jamais se viu constrangido por quem quer que seja a circuncidá-lo. E o motivo de todo esse mal estar, eram aqueles falsos crentes que se infiltraram no seio da igreja com o objetivo de espionar a liberdade que se alcança em Cristo Jesus e reduzir novamente a comunhão da igreja do Senhor em escravidão.

Paulo afirma que jamais se dobrou a estes por uma simples razão para que a verdade do evangelho permanecesse entre todos na igreja. A cerca daqueles que exerciam liderança na igreja, o apóstolo é de opinião que em nada acrescentaram. Ele também achava que esta liderança teve algum tipo de eficácia no passado, por ora tinham apenas aparência e para Deus aparência é algo inaceitável.

A única conclusão sensata que Paulo tirou desta liderança em Jerusalém foi quanto a seu ministério entre os gentios e de que continuasse com a pregação do evangelho da incircuncisão. Tendo Cefas como responsável pelo evangelho da circuncisão. Neste caso, e a partir dessa relação e atribuição de função entre Cefas e Paulo. O apóstolo retoma aquela dinâmica estabelecida nos Atos do Apóstolos onde de uma forma velada essa demarcação entre uma pregação e outra já era notada.

O apóstolo fala da satisfação daqueles líderes, ao tomarem conhecimento do que Deus através de seu ministério estava realizando. Aqueles tidos como os colunas da igreja em Jerusalém, Tiago, Cefas e João estenderam a mão da comunhão a Paulo e a Barnabé que estava com ele. Ou seja, eles possuíam formalmente o aval daquela liderança e consequentemente da igreja de Jerusalém com uma recomendação específica de que não esquecessem dos pobres.

Feito estes esclarecimentos e estabelecidas as condições e atribuições de uma e de outra vertente aqui representados por Cefas e por Paulo. O apóstolo relata que em uma outra ocasião. Quando este grupo ou parte desse grupo se encontrava em Antioquia. Tanto aqueles que seguiam e pregavam o evangelho da circuncisão quanto aqueles como Paulo e Barnabé que pregavam o evangelho da incircuncisão. Paulo relata ter havido um incidente provocado pela conduta de Pedro.

O apóstolo relata que antes da chegada do grupo de Tiago, Cefas comia com os gentios. Ao avistar a chegada do grupo de Tiago ele se afastou dos gentios de uma maneira dissimulada a ponto de até mesmo Barnabé se deixar levar por tamanha dissimulação. O contra senso apontado por Paulo dizia respeito ao fato de que ao pregarem o evangelho da circuncisão impunham aos gentios que eles deveriam viver como judeus. Porém, eles mesmos não se comportavam como judeus.

O argumento de Paulo é de que embora ele, Cefas, Barnabé, Tiago, João e tantos outros judeus de natureza, não sejam contados como pecadores entre os gentios. Devem ter pelo menos a consciência de que os judeus não são justificados por obras da lei. Mas, mediante a fé em Cristo Jesus. Por isso os judeus têm crido em Cristo Jesus para alcançarem a justificação pela fé em Cristo e não por obras da lei. Pois, pelas obras ninguém será justificado.

Em seu argumento, o apóstolo fala de uma incompatibilidade entre a fé em Cristo e o seu resultado direto que é a justificação e as obras da lei. Pois é impossível que se busque uma justificação em Cristo e ao mesmo tempo o homem se encontre na condição de pecador. Cristo não é ministro do pecado. Esse argumento de Paulo serve para alertar e ilustrar a armadilha daqueles que queriam convencer os Gálatas da necessidade de uma circuncisão como elemento também de justificação.

A lei termina para o judeu com a aceitação do sacrifício, morte e ressurreição de Cristo. Eles foram achados na condição de herdeiros da promessa que se concretizou pela lei. Mas, o princípio legal jamais logrou sua eficácia para a justificação dos seus pecados. Ele apenas indica uma solução final que se atinge com a obra de Deus em Cristo mediante a operação da graça.

Os Gálatas enquanto gentios estão dispensados desse processo que por natureza é prerrogativa do povo da promessa. Se é que existe alguma vantagem nessa prerrogativa. A seguir Paulo faz de seu testemunho pessoal e, por fazer parte do povo da promessa, um comparativo de sua relação com a lei quando afirma que morreu para a lei a fim de viver para Deus. A imagem por ele pintada é de que no sacrificio de Cristo ele é solidário com ele e com ele é crucificado.

Assim não é mais ele quem vive e sim Cristo que vive nele. O seu viver na carne, é vivido pela fé no filho de Deus que o amou e se entregou a si mesmo por ele. Para concluir este capítulo, o apóstolo que até este momento tem dado o seu testemunho pessoal. Afirma que existe apenas uma maneira de não se anular a graça de Deus e esta maneira se dá pela forma solidária pela qual entendemos o nosso relacionamento com Cristo e de como neste relacionamento ele ocupa esse espaço em nossa vida e ser. Com isso se conclui que a justiça ou justificação é mediante a fé e não pelas obras da lei.

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Leitura do capítulo 3 da epístola de Paulo aos Gálatas.


A começarmos pelo verso primeiro deste capítulo, a crítica do apóstolo, que por sinal, é veemente, indica a falta de sensibilidade daqueles crentes. Vocês são insensatos ANÓETOI, falta de sensibilidade decorrente da própria ignorância. Objetivamente poderia se questionar esse tom um tanto quanto sarcástico por parte do apóstolo. Mas este tipo de construção que beira a ironia, é capaz de reproduzir o sentimento de profunda decepção ante ao que estava acontecendo entre o Gálatas.

O lamento do apóstolo reflete uma subversão de valores ante a tudo que aqueles crentes puderam experimentar a época em que Paulo esteve com eles e tudo quanto foi ministrado em favor do crescimento de suas vidas. Esses crentes após serem impactados pela ministração da palavra de Deus, a pregação do evangelho. Agora, foram seduzidos por algo menos substancial e mais representativo.

Eles estão se deixando levar por algo ilusório que explora muito mais uma pseudo visão do que o que ouviram através do testemunho da palavra. É o que Paulo através do verso 2 questiona: "Recebestes o Espírito pelas obras da Lei, ou pela pregação da fé?" De certa forma o apóstolo está apelando, parece até irônico falar sobre isso, para a sensibilidade adormecida ou perdida dos crentes de Gálatas.

Desde o verso 2 até o 5 o apóstolo explora dialeticamente toda esta situação. Obras da Lei em vez de pregação da fé; começa pelo Espírito e acaba pela carne; Padecimento em vão ou não; E o perigo de se subverter, por conta disso, aquela certeza de que aquele que lhes dera o Espírito é também o mesmo que opera os milagres.

Quando afirmei categoricamente que o sentido das coisas tem uma peculiaridade histórica e reafirmo essa peculiaridade. Também quero dizer que esta peculiaridade obedece a critérios hermenêuticos. A alusão feita a Abraão e a justiça divina imputada a ele por causa de sua fé é o que faz com que cada crente da igreja da Galácia seja filho de Abrão, ou quem quer que tenha crido em Cristo.

A referência a Gn 12;3 e o entendimento de que estas bençãos prometidas a Abraão é uma realidade e cumprimento que acontece na vida de cada não judeu(GENTIO) que em Cristo Jesus são alcançados pela graça. Mostra como essa forma de dialogação do apóstolo com a cultura e tradição religiosa de seu povo perde o ar de algo comunitário e restrito ao âmbito de uma etnia. Ela ganha características de uma mensagem de diversidade e universalismo.

Como foi dito no parágrafo anterior. Essa conclusão tipicamente comunitária, doméstica e religiosa de Paulo, é capaz também de alcançar o mundo. E que conclusão é esta a que chega o apóstolo? Todos nós que temos crido em Cristo e o aceitamos como nosso salvador, somos bem aventurados. Fazemos parte da promessa que o Deus dos hebreus havia feito ao grande patriarca Abraão: "Em ti serão benditas todas as famílias da terra."

Até aqui temos chegado a uma razão dialética desenvolvida por Paulo e com alguma argumentação e fundamentação histórica entre os crentes de gálatas e sua relação com a herança dos patriarcas, ainda que não pautada pelo principio legal e escriturístico. A fundamentação até aqui não conta com o aval da escritura, mas com uma hermenêutica escriturística.

Se pensarmos que a vida deste apóstolo foi uma constante entrega a escritura e que, num determinado momento, esta vida sofre um guinada espetacular. O cenário é o caminho de Damasco adornado com uma mistura de névoa, luz e uma voz misteriosa que a ele se apresenta como Jesus.

É evidente que as coisas não são assim tão simplórias a ponto de, ao fazermos alusão a esta guinada espetacular, imaginarmos que uma mudança tão radical de vida pudesse acontecer como que num flash de luz. Mas, a escritura exerceu papel preponderante na vida deste apóstolo. Mesmo depois de sua conversão ocorrida inicialmente a partir de seu encontro pessoal com o Cristo e no caminho que o levava a Damasco.

O que muda no apóstolo é a sua relação com a escritura a partir de uma nova abordagem hermenêutica. E a conclusão que ele é capaz de tirar da escritura, e esta, simbolizada pela Lei, é que ela está posta numa relação bastante bipolarizada e na forma da letra. O resultado triste desta relação bipolar quando o assunto é a escritura, será somente um; CONDENAÇÃO.

Então o apóstolo conclui que foi Cristo que se fez maldição por nós por ter assumido essa condenação da Lei. Ele sofreu todo um martírio com direito a execração pública e o seu objetivo era nos livrar de toda esta situação vexatória; "Cristo nos regatou da maldição da Lei." Para tanto ele se fez maldição por nós.

Há uma infinidade de outras nuances, corolários desta hermenêutica paulina. E que ficaram em período de hibernação. As quais poderão ser identificadas em período tardios da história da igreja. Esta afirmação é tão real que se pegarmos alguns dos grandes teólogos e pais da igreja veremos que a fonte inspiradora de suas teologias foram as cartas do apóstolo e, uma grande epístola em especial: ROMANOS.

Quem não permanece naquilo que está escrito se torna maldito. Isto se diz daquele que se torna consciente dos registros escriturísticos. Mas e aqueles que não chegaram ao conhecimento e reconhecimento de culpa pela forma da letra, a Lei é inimputável a este? Para o apóstolo não, e o seu argumento se sustenta na soberania divina afirmando que o agir providencial de Deus na forma da Lei constitui-se numa ferramenta que dimensiona a gravidade do delito do homem que precedeu a Lei(Romanos 5:20).

Logo, na visão do apóstolo é somente o evangelho de Jesus Cristo e este tal qual foi anunciado aos Gálatas(gentios) que deve possuir relevância para isentá-los de um cumprimento da Lei mosaica com o objetivo de se obter uma justificação diante de Deus. A chave linguística na interpretação de Paulo que leva o homem a justificação é a FÉ por ele depositada em Cristo Jesus.

Ninguém melhor do que Paulo para saber e ter consciência do fardo que a Lei representa. Principalmente por ele ter sido durante boa parte de sua vida um judeu extremamente zeloso no cumprimento da Lei. Porém, quando ele fala da Lei, e muito embora ela tenha essa atribuição de um grande fardo, Isto não significa que haja rancor em seu coração.

O apóstolo quando faz referência a Lei, ele usa a metáfora de uma PEDAGOGA. Uma orientadora que tem como objetivo nos orientar em nossa formação desde a infância de tal maneira que alcancemos a maturidade. Esta maturidade é chegar a Cristo. Ao estabelecer o período mosaico como elemento de transição para se adquirir a maturidade em Cristo Jesus, ele conclui que a tentativa de se impor aos gentios as amarras desse período não é parte do plano divino e muito menos de sua justiça.

A Justiça de Deus agora revelada, em Cristo Jesus, aos homens, estabelece que a Lei não pode invalidar a promessa. O que se pode depreender da atitude do apóstolo eu chamo de uma proposição pró ativa quanto a eleição dos gentios. E ao se utilizar de uma outra metáfora, entre a raiz e os ramos. Onde os naturais(Judeus) foram quebrados e em seu lugar enxertados os outros povos(Gentios), Romanos 11:16-24.

Todo esse arcabouço teológico construído pelo apóstolo é para justificar que a eleição de Deus ocorrida em Cristo Jesus é o anteparo para todas as barreiras étnicas e culturais. Nele nos encontramos unidos pela soberana vontade de Deus. Fomos feitos descendentes de Abraão e, desta forma, herdeiros conforme a promessa que Deus mesmo fizera ao grande patriarca.

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Leitura do capítulo 4 da Epístola de Paulo aos Gálatas


Paulo fez menção sobre falsos irmãos que espreitam a nossa liberdade alcançada em Cristo e buscam fazer com que sejamos novamente reduzidos a escravidão. Agora, ele se vale do princípio legal para apontar a nossa situação em um momento em que ele mesmo descreve nossa realidade para o referido momento, como quando nós nos encontramos sem maturidade e, portanto, sem autonomia sobre o rumo de nossas vidas. E ele diz que ao nos encontrarmos nesta situação, embora sejamos herdeiros, em nada nos distinguimos dos servos ou escravo

Assim que nesta situação até o tempo estabecido pelo pai estamos sob tutores e curadores. Houve um tempo de nossas vidas quando éramos menores em que estávamos sujeitos aos rudimentos ou elementos do mundo, os quais por si só estão condicionados pelo princípio legal. Isto apenas mudou em face do cumprimento do tempo. E este tempo é demarcado e caracterizado com a vinda de Cristo. Ou seja, foi quando Deus enviou seu filho ao mundo. E ele verdadeiramente se inseriu neste mundo de forma concreta ao nascer de mulher e declarado homem pela tutela da Lei

O objetivo estava claro em sua missão ao nos resgatar do julgo dessa Lei. Ao fazer isto somos recebidos como filhos por adoção. Ao nos colocar na condição de filhos, Ele também proporcionou aos nossos corações que recebêssemos o espírito de seu filho. E mediante quem nós clamamos a ele como Pai. Em outras palavras, Deus em Cristo Jesus nos proporciona a condição de filhos. Mais do que isso, por ele temos como principal aquisição a nossa maturidade e consequente liberdade. Com isso deixamos de ser escravos e nos tornamos filhos e herdeiros de Deus e de suas promessas

Paulo faz uma comparação entre o tempo antes dos Gálatas terem conhecido a Deus. Ele então faz alusão a cultura politeísta deles e o fato de que eles ainda não conheciam a Deus. Era um tempo de culto pagão que para nada servia. Porém, depois de terem conhecido a Deus por meio do evangelho, mesmo já sendo conhecidos de Deus. O apóstolo revela todo seu inconformismo pelo fato deles agora ensaiarem voltar àqueles rudimentos fracos e pobres e o que é mais absurdo, uma vez tendo experimentado a liberdade agora desejam retornar ao que antes os escravizava

Uma atitude em direção ou retorno ao passado tal qual o apóstolo descreveu neste verso oito. É um tremendo e estupidk retrocesso. Ele também inibe, quando o homem está sob controle de um poder escravista e opressor, a capacidade humana em contar seus dias, meses, e tempos, e anos. Somente pela liberdade alcançada em Cristo, o homem é capaz de fazer um exame e ele próprio estabelecer o quanto ele cresceu e se desenvolveu. Ao mesmo tempo que projeta de forma positiva seus pensamentos e mentes para o futuro. E se torna ainda mais frustrante quando o apóstolo fala de seu receio em ter trabalhado em vão junto aos Gálatas

A seguir e em tom de súplica o apóstolo apela para a sensibilidade dos Gálatas. Chama a atenção no sentido de que os Gálatas devem olhar para ele e concluírem que tanto Paulo quanto os Gálatas são iguais em seus sentimentos e se disponibilizaram a servirem o mesmo Deus em Cristo Jesus. Eles em nada têm ofendido a Paulo. Paulo lembra a maneira como pregou o evangelho pela primeira entre eles. E foi por causa de uma enfermidade. Pode ser que o apóstolo estivesse apenas de passagem por aquela região, mas a enfermidade o fez permanecer por mais tempo. E, segundo o apóstolo, a enfermidade nunca foi algo de tão pesado e tentador. Pelo contrário mostrou o profundo sentimento de acolhida por parte deles

E agora o apóstolo pergunta pelo sentimento de felicitações e de acolhimento por parte deles. E lembra o profundo sentimento de entrega por parte deles que se possível arrancariam os próprios olhos em favor do apóstolo. E ainda pergunta, será que ao falar a verdade corro o risco de me tornar seus inimigos agora? A revelação que o apóstolo faz a partir deste momento é no sentido de que aqueles que cortejam os Gálatas agora, não fazem para o bem. Senão para o bem deles mesmos

O caráter afetuoso das palavras do apóstolo ao chamar os Gálatas de filhos e a revelação do quanto lhe doeu estando longe do convívio desta igreja no presente momento em que redige esta epístola. O fato de estar falando duro quanto ao está acontecendo no seio desta igreja. E talvez se estivesse presencialmente no meio deles o tom de voz teria se alterado e não fosse tão duro e com força de juízo

Um dado bastante interessante neste verso 21, resume-se ao tipo de argumentação do apóstolo ao chamar a atenção daqueles que desejam viver sob o jugo da lei. E quando o apóstolo remete este tipo de questão aos tais, ele estabelece uma relação entre o que se ouve e o que está escrito sob forma de registro na escritura: "Não ouvia a Lei?"_ "Pois está escrito." A sequência narrativa então reproduz a saga do patriarca Abraão e a duas mulheres que lhe deram filhos. Entretanto, com o agravante de que uma é escrava e a outra é livre

A aparente relação conjugal do patriarca não apenas serve para ilustrar os dois tipos de aliança de que se vale o apóstolo para falar dos desdobramentos dos respectivos nascimentos. E de que o filho da escrava é nascido segundo a carne e o filho da livre é nascido segundo a promessa. Ele também esclarece que são duas alegorias. Por onde encaminha sua narrativa e o desenvolvimento da mesma tendo por base os desdobramentos históricos e o que eles representam em termos de escatologia para toda a tradição cristã

Todavia, o ponto focal e fundamental aqui abordado passa com certo grau de imperceptibilidade. Já que, o que está em jogo aqui é o tipo de hermenêutica utilizada por Paulo que visa dar sentido a tudo que os Gálatas tinham aprendido quando foram evangelizados por ele. De uma maneira célere e sintética o que o apóstolo usa como recurso para advertir aos Gálatas é o mesmo recurso utilizado por ele ao se referir em uma outra situação a cerca de Lei e sua respectiva hermenêutica inaugurada com o evento de Cristo. Quando a mesma é iluminada pelo Espirito de Deus: "A letra mata, mas o Espírito vivifica." (II Coríntios 3:4-5)

É esta liberdade alcançada, dinamizada e impulsionada pela ação do Espírito que nos transforma em ousados na hora de analisar e interpretar o texto da escritura. Foi dentro desta lógica que Paulo desenvolve sua hermenêutica, ao mesmo tempo que é capaz de elencar que aliada a esta hermenêutica responsável está o backgroud de sua perspectiva histórica no auxílio dessa leitura. Entre Ágar e Sara pode se estabelecer, não querendo parafrasear um grande filósofo, a dialética da senhora e da escrava. E de posse desse conhecimento da escritura, o apóstolo propõe uma enquete em que os Gálatas são levados a escolher de quem eles preferem ser filhos, da escrava ou da mulher livre

Paulo ao puxar pela memória da tradição dos patriarcas e ao relacionar o dilema ou querela entre a serva e a livre. Agora, e em tom categórico afirma aos Gálatas que eles são os filhos da promessa, tal como Isaque. E assim como o filho segundo a carne perseguia o filho da promessa que é segundo o Espírito. Assim é a situação agora em que os Gálatas se vêem envolvidos. E novamente apelando para o que a escritura diz. Pois o filho da escrava juntamente com a mãe são despedidos e lançados fora. Assim também está determinado que em hipótese alguma o filho da escrava herdará o lugar do filho da livre

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Leitura do capítulo 4 da Epístola de Paulo aos Gálatas.


Paulo fez menção sobre falsos irmãos que espreitam a nossa liberdade alcançada em Cristo e buscam fazer com que sejamos novamente reduzidos a escravidão. Agora, ele se vale do princípio legal para apontar a nossa situação em um momento em que ele mesmo descreve nossa realidade para o referido momento, como quando nós nos encontramos sem maturidade e, portanto, sem autonomia sobre o rumo de nossas vidas. E ele diz que ao nos encontrarmos nesta situação, embora sejamos herdeiros, em nada nos distinguimos dos servos ou escravos.

Assim que nesta situação até o tempo estabecido pelo pai estamos sob tutores e curadores. Houve um tempo de nossas vidas quando éramos menores em que estávamos sujeitos aos rudimentos ou elementos do mundo, os quais por si só estão condicionados pelo princípio legal. Isto apenas mudou em face do cumprimento do tempo. E este tempo é demarcado e caracterizado com a vinda de Cristo. Ou seja, foi quando Deus enviou seu filho ao mundo. E ele verdadeiramente se inseriu neste mundo de forma concreta ao nascer de mulher e declarado homem pela tutela da Lei.

O objetivo estava claro em sua missão ao nos resgatar do julgo dessa Lei. Ao fazer isto somos recebidos como filhos por adoção. Ao nos colocar na condição de filhos, Ele também proporcionou aos nossos corações que recebêssemos o espírito de seu filho. E mediante quem nós clamamos a ele como Pai. Em outras palavras, Deus em Cristo Jesus nos proporciona a condição de filhos. Mais do que isso, por ele temos como principal aquisição a nossa maturidade e consequente liberdade. Com isso deixamos de ser escravos e nos tornamos filhos e herdeiros de Deus e de suas promessas.

Paulo faz uma comparação entre o tempo antes dos Gálatas terem conhecido a Deus. Ele então faz alusão a cultura politeísta deles e o fato de que eles ainda não conheciam a Deus. Era um tempo de culto pagão que para nada servia. Porém, depois de terem conhecido a Deus por meio do evangelho, mesmo já sendo conhecidos de Deus. O apóstolo revela todo seu inconformismo pelo fato deles agora ensaiarem voltar àqueles rudimentos fracos e pobres e o que é mais absurdo, uma vez tendo experimentado a liberdade agora desejam retornar ao que antes os escravizava.

Uma atitude em direção ou retorno ao passado tal qual o apóstolo descreveu neste verso oito. É um tremendo e estupidk retrocesso. Ele também inibe, quando o homem está sob controle de um poder escravista e opressor, a capacidade humana em contar seus dias, meses, e tempos, e anos. Somente pela liberdade alcançada em Cristo, o homem é capaz de fazer um exame e ele próprio estabelecer o quanto ele cresceu e se desenvolveu. Ao mesmo tempo que projeta de forma positiva seus pensamentos e mentes para o futuro. E se torna ainda mais frustrante quando o apóstolo fala de seu receio em ter trabalhado em vão junto aos Gálatas.

A seguir e em tom de súplica o apóstolo apela para a sensibilidade dos Gálatas. Chama a atenção no sentido de que os Gálatas devem olhar para ele e concluírem que tanto Paulo quanto os Gálatas são iguais em seus sentimentos e se disponibilizaram a servirem o mesmo Deus em Cristo Jesus. Eles em nada têm ofendido a Paulo. Paulo lembra a maneira como pregou o evangelho pela primeira entre eles. E foi por causa de uma enfermidade. Pode ser que o apóstolo estivesse apenas de passagem por aquela região, mas a enfermidade o fez permanecer por mais tempo. E, segundo o apóstolo, a enfermidade nunca foi algo de tão pesado e tentador. Pelo contrário mostrou o profundo sentimento de acolhida por parte deles.

E agora o apóstolo pergunta pelo sentimento de felicitações e de acolhimento por parte deles. E lembra o profundo sentimento de entrega por parte deles que se possível arrancariam os próprios olhos em favor do apóstolo. E ainda pergunta, será que ao falar a verdade corro o risco de me tornar seus inimigos agora? A revelação que o apóstolo faz a partir deste momento é no sentido de que aqueles que cortejam os Gálatas agora, não fazem para o bem. Senão para o bem deles mesmos.

O caráter afetuoso das palavras do apóstolo ao chamar os Gálatas de filhos e a revelação do quanto lhe doeu estando longe do convívio desta igreja no presente momento em que redige esta epístola. O fato de estar falando duro quanto ao está acontecendo no seio desta igreja. E talvez se estivesse presencialmente no meio deles o tom de voz teria se alterado e não fosse tão duro e com força de juízo.

Um dado bastante interessante neste verso 21, resume-se ao tipo de argumentação do apóstolo ao chamar a atenção daqueles que desejam viver sob o jugo da lei. E quando o apóstolo remete este tipo de questão aos tais, ele estabelece uma relação entre o que se ouve e o que está escrito sob forma de registro na escritura: "Não ouvia a Lei?"_ "Pois está escrito." A sequência narrativa então reproduz a saga do patriarca Abraão e a duas mulheres que lhe deram filhos. Entretanto, com o agravante de que uma é escrava e a outra é livre.

A aparente relação conjugal do patriarca não apenas serve para ilustrar os dois tipos de aliança de que se vale o apóstolo para falar dos desdobramentos dos respectivos nascimentos. E de que o filho da escrava é nascido segundo a carne e o filho da livre é nascido segundo a promessa. Ele também esclarece que são duas alegorias. Por onde encaminha sua narrativa e o desenvolvimento da mesma tendo por base os desdobramentos históricos e o que eles representam em termos de escatologia para toda a tradição cristã.

Todavia, o ponto focal e fundamental aqui abordado passa com certo grau de imperceptibilidade. Já que, o que está em jogo aqui é o tipo de hermenêutica utilizada por Paulo que visa dar sentido a tudo que os Gálatas tinham aprendido quando foram evangelizados por ele. De uma maneira célere e sintética o que o apóstolo usa como recurso para advertir aos Gálatas é o mesmo recurso utilizado por ele ao se referir em uma outra situação a cerca de Lei e sua respectiva hermenêutica inaugurada com o evento de Cristo. Quando a mesma é iluminada pelo Espirito de Deus: "A letra mata, mas o Espírito vivifica." (II Coríntios 3:4-5).

É esta liberdade alcançada, dinamizada e impulsionada pela ação do Espírito que nos transforma em ousados na hora de analisar e interpretar o texto da escritura. Foi dentro desta lógica que Paulo desenvolve sua hermenêutica, ao mesmo tempo que é capaz de elencar que aliada a esta hermenêutica responsável está o backgroud de sua perspectiva histórica no auxílio dessa leitura. Entre Ágar e Sara pode se estabelecer, não querendo parafrasear um grande filósofo, a dialética da senhora e da escrava. E de posse desse conhecimento da escritura, o apóstolo propõe uma enquete em que os Gálatas são levados a escolher de quem eles preferem ser filhos, da escrava ou da mulher livre.

Paulo ao puxar pela memória da tradição dos patriarcas e ao relacionar o dilema ou querela entre a serva e a livre. Agora, e em tom categórico afirma aos Gálatas que eles são os filhos da promessa, tal como Isaque. E assim como o filho segundo a carne perseguia o filho da promessa que é segundo o Espírito. Assim é a situação agora em que os Gálatas se vêem envolvidos. E novamente apelando para o que a escritura diz. Pois o filho da escrava juntamente com a mãe são despedidos e lançados fora. Assim também está determinado que em hipótese alguma o filho da escrava herdará o lugar do filho da livre.

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Leitura do capítulo 5 da Epístola de Paulo aos Gálatas.


Para aprendermos e entendermos o conceito de liberdade em Paulo que é o tema fundamental deste capítulo 5. É fundamental que se tenha lido o capítulo anterior. Primeiramente pelo fato de que ao sermos alcançados pela graça de Cristo alcançamos a liberdade, porém não necessariamente por uma escolha que fosse nossa e sim porque assim aprouve o agir de Deus em nosso favor por meio de Cristo.

Eu não possuía antes de ser alcançado por Cristo uma prerrogativa de escolha que me fosse segura. Mas, pela revelação de Cristo em seu evangelho, hoje eu possuo uma mente esclarecida. Neste sentido, e apenas neste sentido, há uma concordância de minha parte quando os calvinistas falam de uma depravação total que interfere em toda minha vida e por extensão aos meus juízos de valores. Os quais me impediam, antes de conhecer a Cristo, de fazer qualquer tipo de escolha que estivesse imune ao pecado.

Paulo então conclama aos Gálatas para que estejam firmes na liberdade com que Cristo os havia libertado. A condição de livres alcançada pelos Gálatas apenas acontece após terem conhecido Cristo. Se eles agora possuíam o poder da escolha, esta condição foi adquirida pela experiência do evangelho de Cristo que lhes foi pregado. O apóstolo então apela para essa prerrogativa agora adquirida no sentido de que eles se mantenham firmes na condição de livres e não mais aceitem se colocar sob o jugo da servidão.

Aceitar o jugo da servidão naquele momento por parte dos Gálatas e conforme a palavra do apóstolo, era o mesmo que aceitar ser circuncidado. O apelo do apóstolo faz referência, caso eles aceitassem sobre si a circuncisão. E alertava que se as coisas se dessem dessa maneira Cristo para nada serviria. Receber o jugo da lei pela circuncisão era o mesmo que anular a graça de Cristo. Pois quem se deixa circuncidar está obrigado a guardar toda a lei.

O apóstolo faz alusão a fraternidade ou comunidade do Espírito por onde se constrói a fé e por meio da qual se conserva e preserva a esperança da justificação. Em Jesus nem circuncisão nem incircuncisão têm qualquer valor. E sim a fé que opera pelo amor.

Mas, ainda assim, o apóstolo continua intrigado e sem saber quem poderia ter objetivado colocar esses entraves no sentido de que os Gálatas viessem a descumprir e desobedecer a verdade. Ele então está a procura de respostas. Porém, de uma coisa ele tem certeza conforme registra no verso 8. Esse tipo de persuasão veio de fora, já que não veio "Daquele que vos chamou."

A desconfiança do apóstolo é de que existe alguém acrescentando algum fermento à massa e este fermento é muito estranho. O fermento faz a massa levedar, crescer, inchar. E além de não se ter a identidade de quem anda acrescentando este fermento, a forma e a maneira como a massa crescia se tornou desproporcional.

O apóstolo revela sua preocupação com o tipo de sentimento que os Galatas possam ter desenvolvido a partir desse fermento aplicado. E mais uma vez e sem ainda saber da identidade de quem faz tal coisa. Ele pondera em tom de juízo que aquele que provoca inquietação entre os Gálatas seja ele quem for, sofrerá as consequências de um juizo de condenação.

Para Paulo não há qualquer lógica se ele prega a circuncisão e ser perseguido. E se ele faz isso o escândalo da cruz é aniquilado. Ele prefere ver aqueles que têm provocado inquietações entre os Gálatas cortados, expurgados do meio deles. A liberdade em Cristo é um bem precioso e não deve ser usado para dar ocasião aos desejos da carne. Pelo contrário, o mandamento de serviço no meio deles deve ser mútuo. Servir uns aos outros em amor.

Quando o apóstolo afirma que toda a Lei se cumpre numa só palavra. Muito embora esta palavra esteja omitida neste verso 14: "Amor." Com toda a objetividade e praticidade que é o que se pede no verso e que se o contexto de igreja e a realidade exposta na especificidade da igreja dos Gálatas revela o tipo de inquietação provocada por distúrbios e desavenças de tal forma que os crentes já não mais se entendem. E buscam se moder e devorar-se mutuamente. Na ótica do apóstolo não dá pra falar de amor a Deus de todo o coração sem a prática efetiva do amor ao próximo. Segundo a nota de roda pé "z" do capítulo 5:14, da Bíblia de Jerusalém, para Paulo o segundo mandamento inclui o primeiro.

A recomendação é andar conforme o Espírito buscando não satisfazer as obras da carne. Tanto a carne quanto o espírito, segundo o próprio apóstolo, possuem aspirações contrárias e jamais vão se entender. Eles se opõem mutuamente. E se eles derem algum tipo de abertura a carne depois de terem conhecido a Cristo. Acontecerá aquilo que Paulo revela ser sua grande preocupação. Aqueles crentes não mais terão controle sobre si. Ou seja, escravizarão suas próprias vontades.

A alternativa para não se retornar ao estado de dependência e subjugação da vontade que acontecia antes de se conhecer a Cristo, é o que Paulo aponta como recomendação imperativa. Tal como está no verso 16 que é de se andar no Espírito. É o antídoto para não ceder e satisfazer as obras da carne. E se somos guiados pelo Espírito não estamos sob o jugo da Lei. Em seguida o apóstolo estabelece como elemento de distinção entre um quadro bastante pedagógico e elucidativo em que mostra as características de quem anda pela carne e de quem anda pelo Espírito. E tal como o próprio Cristo certa vez nos ensinou ao trazer a nisso conhecimento a metáfora da árvore boa e da árvore má. E nos ensinou, pelos seus frutos nós as reconheceríamos(Mateus 7:20).

Então o apóstolo conclui que se vivemos no Espírito devemos andar no Espírito. Em outras palavras, não se desvincula uma coisa da outra. As relações pessoais de irmão para irmão devem ser abertas e transparente. Sem qualquer tipo de provocação e sem invejas entre si. Ou seja, todos devem buscar o bem comum e a fraternidade que é resultado do amor incondicional a Deus e ao próximo.

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Leitura do capítulo 6 da Epístola de Paulo aos Gálatas.


     Neste último e derradeiro capítulo desta epístola, o apóstolo encaminha algumas possíveis situações que poderão acontecer no seio desta congregação e que demandará o exercício e prática de quem, em Cristo Jesus e pela experiência da igreja, possui um espírito comunitário. Em caso de algum tipo de ofensa por parte de alguns de seus integrantes, a recomendação é de que aquele que se sentiu ofendido seja encaminhado e tratado com espírito de mansidão. No bom português, as coisas devem ser de tal forma acomodada pelos que são espirituais, ou andam segundo o conselho de Paulo no capítulo anterior, no Espírito. Para que esse tipo de querela ou desavença não se torne uma prática recorrente e ao alcance de todos.

     Eles também são admoestados a levarem as cargas uns dos outros pois isto faz com que a igreja em sua totalidade se coloque na condição de que todos estão numa mesma relação de igualdade e de submissão a ação do Espírito. De certa forma, esse tipo de recomendação Paulina tem como objetivo desfazer o laço que se tentou colocar sobre os Gálatas para que aderissem a circuncisão. E com isso se introduziria a noção de mérito nas obras. Era a forma mais danosa de se acabar com o espírito comunitário que somente aquele que está em Cristo possui a capacidade de exercitá-lo.

     Apenas e tão somente quando o crente é solidário e se prontifica a carregar a carga uns dos outros que o amor se revela e se cumpre o mandamento que vem com força de Lei. O crente quando está cheio de si e que cuida ser alguma coisa, terá a glória em si mesmo, e não em outro. E cada um acaba levando sua própria carga. E no verso 6 como coroamento de todas essas instruções, o apóstolo reforça o dom da partilha. Porém, de uma maneira satisfatória e que proporcione prazer e alegria. 

     As consequências de se adotar um rumo diferente daquele inspirado por Cristo e seu exemplo maior. E devido a condição de livres em que os Gálatas naquele momento se encontravam, era de que se entrassem e escolhesse andar nas obras da carne. Primeiro era de que Deus jamais se deixou escarnecer e de que seguindo aquela regra de uma justiça retributiva aquilo que o homem plantasse ele também colheria. Diferentemente do Espírito que se colhe a vida eterna. Aquele que semeia na carne colhe apenas corrupção.

     A prática do bem não deve ser algo enfadonho. E além de ser uma demanda com limite de tempo já que ao nos vermos diretamente envolvidos nesta prática o que menos deve importar é se haverá tempo hábil para que sejamos retribuídos. Então, o apóstolo conclui que enquanto tivermos tempo que façamos então bem a todos, porém, não por ordem de chegada, e sim privilegiando aos domésticos da fé. E por uma razão bastante lógica, pois é dessa maneira que se conserva e se constrói o espírito comunitário.

     A ação impositiva de alguns infiltrados na igreja de Gálatas e as tentativas de se impor a prática da circuncisão, revela apenas uma coisa a cerca do caráter destes: Querem aparentar algo que não são. Estes mesmos agem dessa maneira como se fosse um anteparo para se esconderem da Cruz de Cristo. Eles não guardam a Lei. Todavia querem impor a circuncisão como forma de se gloriarem na carne daqueles crentes de Gálatas. A marca física da circuncisão é como se fosse um troféu por suas conquistas.

     Novamente no verso 14, Paulo faz uso de seu testemunho pessoal para dizer que ele apenas se glória na Cruz de Cristo. Pois por ela tanto o mundo está crucificado para ele quanto ele para o mundo. E novamente ele faz uso dessa expressão tão significativa e emblemática para ele: "EM CRISTO Jesus, nem a circuncisão, nem a incircuncisão têm virtude alguma e sim a nova criatura que se alcança em Cristo Jesus.

     Paulo faz menção daqueles que andam por esta regra desejando paz e misericórdia sobre cada um deles e sobre todos aqueles que se juntam da mesma forma em outros lugares e regiões além da Galáxia, os quais chama de Israel de Deus. E que ninguém precisa perder tempo em querer inquietar ou perturbá-lo. Ele traz no corpo as marcas de Cristo. Já vi e li algumas interpretações sobre isto. Algumas afirmam que este trazer no corpo essas marcas é o resultado dos açoites e torturas pelas quais passou por causa do evangelho. Pode até ser, mas entendo que essas marcas têm relação com aquele jeito solidário do apóstolo para com o Cristo crucificado. E como ele mesmo afirmou que apenas se gloria na Cruz de Cristo, a rigor, e como contraponto às marcas deixadas no corpo pela circuncisão. A única marca que lhe interessa são as marcas da Cruz de Cristo.

     E como fechamento doxológico e planejado dessa epístola, ele abençoa esta igreja de uma maneira que destaca não apenas a liberação da graça sobre aqueles irmãos. Mas, que esta graça esteja sobre o espírito comunitário de cada um daqueles crentes que ainda tinham se deixado levar pelas falácias daqueles que intentavam impor a prática da circuncisão. Por isso, e, neste caso, o Amém é bastante enfático. Amém!!!

                               

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 TEXTO: Deuteronômio 11:10-14

Porque a terra que passas a possuir não é como a terra do Egito, de onde saíste, em que semeavas a tua semente, e a regavas com o teu pé, como a uma horta.

Mas a terra que passais a possuir é terra de montes e de vales; da chuva dos céus beberá as águas;

Terra de que o Senhor teu Deus tem cuidado; os olhos do Senhor teu Deus estão sobre ela continuamente, desde o princípio até ao fim do ano.

E será que, se diligentemente obedecerdes a meus mandamentos que hoje vos ordeno, de amar ao Senhor vosso Deus, e de o servir de todo o vosso coração e de toda a vossa alma,

Então darei a chuva da vossa terra a seu tempo, a temporã e a serôdia, para que recolhais o vosso grão, e o vosso mosto e o vosso azeite.


Deuteronômio 11:10-14

10ἔστιν γὰρ ἡ γῆ εἰς ἣν εἰσπορεύῃ ἐκεῖ κληρονομῆσαι αὐτήν, οὐχ ὥσπερ γῆ Αἰγύπτου ἐστίν, ὅθεν ἐκπεπόρευσθε ἐκεῖθεν, ὅταν σπείρωσιν τὸν σπόρον καὶ ποτίζωσιν τοῖς ποσὶν αὐτῶν ὡσεὶ κῆπον λαχανίας· 11ἡ δὲ γῆ εἰς ἣν εἰσπορεύῃ ἐκεῖ κληρονομῆσαι αὐτὴν γῆ ὀρεινὴ καὶ πεδινή, ἐκ τοῦ ὑετοῦ τοῦ οὐρανοῦ πίεται ὕδωρ· 12γῆ ἣν Κύριος ὁ θεός σου ἐπισκοπεῖται αὐτὴν διὰ παντός, οἱ ὀφθαλμοὶ Κυρίου τοῦ θεοῦ σου ἐπ᾽ αὐτῆς ἀπ᾽ ἀρχῆς τοῦ ἐνιαυτοῦ καὶ ἕως συντελείας τοῦ ἐνιαυτοῦ.


13Ἐὰν δὲ ἀκοῇ εἰσακούσητε πάσας τὰς ἐντολὰς ἃς ἐγὼ ἐντέλλομαί σοι σήμερον, ἀγαπᾷν Κύριον τὸν θεόν σου καὶ λατρεύειν αὐτῷ ἐξ ὅλης τῆς καρδίας σου καὶ ἐξ ὅλης τῆς ψυχῆς σου, 14καὶ δώσει τὸν ὑετὸν τῇ γῇ σου καθ᾽ ὥραν πρόιμον καὶ ὄψιμον, καὶ εἰσοίσεις τὸν σῖτόν σου καὶ τὸν οἶνόν σου καὶ τὸ ἔλαιόν σου· 


TEMA: Uma inversão de olhar quanto ao tempo.

ICT: Uma advertência velada a maneira como este povo, após a experiência de um cativeiro "secular" e uma jornada miraculosa e espetacular pelo deserto, deve se comportar ao se apropriar de uma terra que Deus prometera com fidelidade aos seus antepassados.

Objetivo Geral: Levar a congregação ao entendimento de que todo o aspecto descritivo quanto a jornada deste povo até estar as portas da Terra prometida. Mostra que a contagem do tempo mudou radicalmente.

Objetivo Específico: A contagem do tempo se alterna entre um passado de servidão em terra estranha e a possibilidade de um presente que projeta situações futuras.

Tese: Quando o povo se submete ao senhorio de seu Deus, ele está dizendo sim a sua fidelidade.


Introdução

     Quando no ano passado, mais precisamente no dia 27 de Dezembro de 2020. Ocasião em que estive aqui falando sobre aquela temática que tinha uma relação com o Natal. Afinal de contas, dois dias eram passados das celebrações natalícias e comemorações familiares. Falávamos naquela ocasião, e por conta do texto escolhido para reflexão, que o autor estava preocupado com a condução de sua narrativa em colocar o Senhor Jesus de uma maneira prática e bastante proativa no cerne de sua messianidade. Porém, tendo consciência de que ele está a caminho de Jerusalém.

     E para finalizar, naquela ocasião, foi feita uma ênfase no que tange ao que nos é colocado para rememorarmos e o que a escritura, o Novo Testamento, nos recomenda. E a recomendação é que nos lembremos do martírio que culmina com a morte de Jesus pendurado num madeiro. Este também é o mote que orientará toda a retórica de pregação apostólica: A morte e a ressurreição de nosso Senhor Jesus Cristo.

     O objetivo lá ao fazer uso dessa abordagem era no sentido de não nos prendermos a datas que constituem sim parâmetros e pressupostos de consolidação de nossa fé e esperança. Porém, jamais devem ser vistos sob o aspecto de uma visão cíclica e repetitiva. E quanto a isto também fiz questão de ressaltar o caráter redacional do autor de Marcos, ao destacar seu aspecto pragmático de narrativa que visa assinalar a messianidade de Jesus, tendo o próprio Jesus consciência de seu caráter proativo a cerca de sua messianidade.

     Mas, o que me fez pensar e buscar uma referência textual para o assunto a ser explorado nesta prédica, é o caráter flutuante de perspectivas que de acordo com as variações ou mudanças de ambientes e contextos iluminam o nosso curto entendimento a cerca do agir de Deus. Por conta de uma forma de se ver a história e com ela a evolução do tempo. Fazer história tem como objetivo, entre tantas outras prioridades, a apropriação de forma pedagógica dos princípios e fundamentos que caracterizam algo como parte da cultura humana, espírito humano, bem como o seu desenvolvimento no mundo.

     E para tanto, exige-se uma forma de olhar mais criterioso. Olhar este que a partir de agora e enquanto narrativa de livramento, numa referência clara ao cativeiro caminha numa direção evolutiva e histórica. Até porque no mínimo estamos falando de três situações ou ambientes: O cativeiro que representa uma inflexão do tempo; a trajetória no deserto rumo uma promessa representada por uma terra ou lugar de chegada. E depois os preparativos efetivos para a apropriação da terra.

     As duas primeiras etapas foram vencidas e agora, o povo está às portas de seu lugar de chegada, a terra prometida e dada pelo Senhor como herança. Por outro lado, existem alguns requisitos que envolvem uma relação de fidelidade recíproca entre Deus e seu povo. O povo terá que andar conforme os preceitos e princípios registrados na Lei para que seja bem sucedido na terra que está para possuir.

     É evidente que uma exigência de compromisso para com Deus que precedeu ao ato de posse da terra remete-nos a algum ou alguns códigos de conduta já celebrado. Há portanto algo como que de uma base legal e escrita. Senão, seria pouco provável que este tipo de narrativa começasse com ocorrências narradas e que remontam ao passado desse povo. Sendo que as mesmas não se sustentariam tendo por base apenas uma provável tradição oral.

     Entretanto, precisamos sinalizar a necessidade de buscarmos alguns elementos que elucidem nossa passagem pela leitura proposta neste texto. Muito embora, o texto específico que nos serve para meditação seja o que já foi anunciado e lido diante desta congregação. Não custa nada lembrar para efeito de melhor entendimento deste contexto. Que Moisés começa este capítulo falando do compromisso de fidelidade do povo para com seu Deus.

     Então Moisés puxa, digamos, por uma memória ao mesmo tempo que afetiva por tudo que esta memória representa de livramento de seu povo quando esteve cativo no Egito. E de como Deus com mão forte livrou seu povo daquele cativeiro e da tirania de Faraó. Ele não apenas puxa pela memória bem como faz referência àqueles antepassados que testemunharam esses feitos milagrosos do Senhor no meio de seu povo e de como também com rigor e com justiça tratou daqueles que se insurgiram na travessia do deserto contra o próprio Moisés e os planos de Deus que naquele momento estavam em execução. O texto, mas especificamente o verso 6, faz uma referência direta a Datã e Abirão.

     É exatamente por conta dessas mudanças de ambientes desde a saída do cativeiro e o ensejo de uma vida de peregrinação pelo deserto que durou décadas onde problemas como questionamento de lideranças principalmente por parte daqueles que num determinado momento começam a ensaiar um movimento de retorno ao Egito. E demais outras situações que refletiam uma espécie de insatisfação do povo. E Moisés tendo que lidar com todo esse tipo dificuldades até o momento em que este povo se depara com a terra da promessa.

     Moisés se vale do artifício da escritura e do registro dessas memórias. Sua fala alude aos antepassados que já não se fazem presentes. A experiência de toda esta jornada até o momento em que se deparam com a terra é a experiência dos antepassados e não dos filhos. E o registro da mesma tal qual está fazendo. É o registro da experiência desses antepassados para com Deus. A escritura então e, neste caso, o registro dos atos de Deus é o instrumento para que agora estes filhos que passarão a possuir a terra tenham como requisito básico para a direção de suas vidas e o bem estar deste povo e nação a observância dos mandamentos do Senhor. É dessa maneira que o verso de número 8 enfatiza a observância dos mandamentos.

     O que também haveremos de perceber é que muito embora o agir de Deus em épocas passadas na memória e experiência de seu povo haverá de mudar. E este aspecto quanto a ação divina se estabelece pela própria característica da terra que agora seu povo passará a possuir. E o verso 10 acrescenta que esta terra não é como a terra de onde eles saíram. E é desta maneira que pretendemos refletir por alguns minutos durante esta noite.


I - Atribui como experiência apenas o passado.(V.10)

      Primeiramente precisamos entender em que altura da história bíblica tendo como perspectiva a formação e o estabelecimento de Israel enquanto povo de Deus nos encontramos. Se observarmos a dinâmica de como funciona a vida e experiência dos patriarcas começando por Abraão. Veremos que este patriarca deixa a cidade de Ur, que ficava na Caldeia após uma vocação ou chamado divino(Gênesis 12:1-7). Abraão vivia e era estabelecido numa cidade e tinha uma vida sedentária. Ele deixa este sedentarismo, por conta desse chamado para peregrinar em Canaã. E ali passa a ter uma vida semi nômade.

     O mesmo acontece com os seus sucessores e herdeiros da promessa(Isaque e Jacó). Eles desenvolvem uma vida com atividades pastoris. Eram pastores e cuidavam de seus rebanhos de ovelhas. Porém é com Jacó e seus filhos que ocorre a mudança mais significativa do ponto de vista das atividades deste clã. Já que por intermédio de José, Jacó e todos os seus descendentes se transferem para o Egito. Lá, conforme o registro da escritura, eles se instalam numa das terras mais férteis do Egito(Gênesis 47:27).

     Basta apenas observarmos o mapa do Egito para deduzir o privilégio que Jacó e seus descendentes receberam de se instalarem nesta região que faz parte como localização geográfica do Delta do Nilo. Em sua corredeira rumo ao mar mediterrâneo, esta região no período das cheias do Nilo se torna um canal natural que com a engenhosidade do homem alcança e se expande ao mesmo tempo que amplia suas fronteiras agrícolas. E é justamente por onde as águas se espalham. O curso do Nilo até chegar a seu delta, passa por regiões montanhosas desde suas nascentes. Pode se dizer que quando este rio chega ao Egito, ele é a confluência de três nascentes de rios: Nilo Azul, Nilo Branco e Rio Atbara. Ele leva consigo os nutrientes das regiões por onde passa. São suas próprias águas que trazem consigo estes nutrientes. Eles são o adubo natural para agricultura egípcia. Um grande historiador na antiguidade cujo nome era Heródoto disse certa vez que o Egito é uma dádiva do Nilo.

     Ou seja, o povo desenvolveu uma atividade agrária e pastoril no Egito e sem maiores dificuldades por conta da terra que lhe fora dada e de sua localização. E o que Deus está dizendo a ele neste momento é de que a terra que estão para possuir, não é como a terra do Egito: Vocês exerciam suas atividades sem se preocupar com a chuva. A preocupação era tão somente com a estação do ano e o período das cheias do Rio Nilo. A rigor, tudo girava em torno de um ciclo da natureza. Eis também a razão pela qual os egípcios reverenciavam este rio como uma divindade.

     Deus está dizendo a seu povo que as experiências do passado como um ciclo natural de fartura devido às condições climáticas e geográficas. Terão que ser reexaminadas. Muito embora nos últimos tempos de cativeiro eles tenham experimentado, do ponto de vista de suas liberdades, opressão, amarguras e falta de sentido da própria existência. Ainda assim o Egito continuava sendo uma terra próspera, muito em virtude do que o Nilo representa até hoje para esta nação.

     Isso é tão verdadeiro que mesmo depois de libertos do cativeiro e da opressão. E em meio a caminhada pelo deserto, havia aqueles que ainda achavam que eles deveriam voltar para o Egito, pois tinham saudades da fartura dos caldeirões de carnes(Êxodo 16:3). Uma inversão de olhar quanto ao tempo e consequente ambiente e contexto diferente exige de qualquer um de nós a capacidade de se readaptar ao momento novo que nos espera. Isso também pode ser chamado, pensando na experiência desse povo, de reconstrução de sua liberdade.

     O povo está entrando numa terra para a possuir e dela tirar o seu sustento. Através dela construir sua liberdade depois das experiências traumáticas do cativeiro egípcio. Mas, a rigor, esta terra tem um dono muito especial e que está facilitando a sua posse desde que também este povo aprenda a se comportar diante daquele que lhe proporciona esta benção. E a exigência em nada pode ser qualificada como estranha, exdruxula e impraticável. Deus apenas pede a este povo fidelidade de sua parte para com aquele que os tirou com forte mão e braço estendido da opressão sofrida no Egito.

     A combinação entre terra e água está aqui colocada. A água no Egito que tinha como símbolo maior um rio e a sua relação com a divindade, não pode mais ser parâmetro para o tipo de experiência que agora este povo terá na posse desta terra. O terreno é acidentado com montanhas e vales. E agora essa combinação entre terra e água, tem como principal ingrediente a maneira como esta água chega a terra. Deus está falando literalmente por meio de Moisés que esta terra bebe a água das chuvas do céu. E consequentemente aqueles que haverão de ocupar esta por herança, também beberão da água que desce do céu.

     Ou seja, se tivéssemos que fazer uma analogia especificamente sobre este verso 11. E, quem sabe, até mesmo utilizando o método alegórico. A benção divina simbolizada pela chuva que desce do céu e vem da parte do Deus de Israel. Dadas as condições do solo e do clima e que em nada se assemelham a experiência com o campo por parte dos israelitas. Deus através de Moisés já tem dado a título de advertência que esses agricultores terão que adaptar-se a uma nova forma para cultivo do solo. A experiência de cultivo do solo tal como adquiriram no Egito não terá a eficácia necessária para uma produção dita próspera. E, logo, terá que ser revista e até mesmo reinventada.


II - A relação com o tempo agora é explicitamente admitida. E está sob o controle direto de Iavé. (V.V.11-12)

     Precisamos entender que a relação do povo com a terra no Egito não é uma relação mediada por uma evolução sincrônica com o tempo. Os hebreus, inclusive, nunca foram os donos da terra. A terra pertencia ao Faraó e eles tinham que recolher nos celeiros do Faraó um quinto de tudo que produziam. Eles e todos os egípcios. Esse sistema de acordo com Gênesis 47 foi estabelecido por José desde que, com o advento daqueles dois períodos em que foram vaticinados que haveria sete anos de muita fartura e depois sete anos de uma intensa seca. José esteve à frente de todo este sistema de recolhimento dos tributos para o tesouro do Faraó. Até que teve como resultado o fato de que Faraó se tornou senhor e dono de todas as terras do Egito. Não é uma situação difícil de se explicar. Porém, demanda um pouco mais de tempo. Talvez fossemos capazes de observar processos semelhantes de apropriação do solo para a sua produção onde o agricultor não é necessariamente o dono da terra.

     A relação com o tempo no Egito passa a ser de menos importância a partir do momento que o povo hebreu passa a ser considerado como uma massa de cativos. A contagem do tempo interessa apenas aqueles que se tornam senhores dos escravos. Para a grande massa de cativos embalada pela opressão que sofrem, a banalidade da própria vida, a falta de perspectiva e de sentido é o que dita o ritmo de suas existências.

     Pensando dessa forma, a advertência divina no sentido de que o povo tenha consciência desses aspectos fundamentais e distinguiveis entre uma terra e outra, cresce em relevância. Havia toda uma organização, quiçá, idealizada pelo próprio José para que todo esse patrimônio de Faraó fosse administrado. Esses administradores eram os olheiros e fiscais do império. Mas, a terra que o povo está prestes a entrar, quem cuida dela é o próprio Deus. Eu não possuo nenhum tipo de intimidade com o texto hebraico. Porém, o texto grego da Septuaginta quando assinala que Deus cuida da terra o termo grego utilizado é EPISCOPEITAI. Do verbo EPISCOPEO e que significa administrar, supervisionar, etc. Esta terra sempre esteve sob supervisão direta de Deus.

     A experiência no deserto em nada contribui neste aspecto. Uma vez que a jornada de travessia é uma peregrinação de tipo e característica nômade. E neste período, ao que se tem notícia, não se desenvolve qualquer tipo de expertise quanto a qualquer tipo de técnica de produção agrária. Eles consomem o Maná, aquele pão que caía do céu. Bebiam a água que brotava da rocha. Era a forma espetacular, miraculosa com que Deus cuidava de seu povo durante a travessia do deserto. Quando no verso 12 tomamos consciência de que os olhos do Senhor estão continuamente sobre esta terra, percebe-se um grau muito maior de responsabilidade por parte daqueles que estão entrando para possuir esta terra por herança.

     Se no Gênesis, Deus entregou a terra a Adão como mordomo no sentido de que cuidasse dela. E deu no que deu, já que ele tinha apenas como responsabilidade dar contas a Deus apenas na viração do dia. Agora, esta terra conforme o texto está sob o olhar divino de forma contínua. Isso significa que não se pedirá contas do seu cuidado ao final do dia. Mas, haverá uma exigência do tipo pacto selado que para manter bem e sem problemas na administração da terra o povo deve se manter fiel a aquele que doa a terra.

     Há uma imposição para a posse desta terra e ela demanda compromisso ou pacto. O Deus que estabelece este compromisso, é o mesmo Deus que se insurgiu contra o Faraó do Egito e o tipo de tratamento sub-humano que se impunha injustamente a seu povo. E como Ele é um Deus misericordioso. O clamor do seu povo acabou chegando aos seus ouvidos. Foi quando Ele providenciou seu livramento por meio de Moisés.

     Entretanto, por ser um Deus de justiça, ele também exigirá que seu povo trilhe esses caminhos de justiça traçados por Ele. E as coisas não serão fáceis para este povo. A conduta deles terá que ser de tal maneira irrepreensível. Caso contrário, eles correm o risco, ao se entregarem a uma conduta indigna, de profanarem uma terra que lhes fora dada e que é terra santa.


III - Quando a relação de subserviência e serviço muda. (V.V. 13-14)

     Quando ensaiamos um tipo de análise que seja comparativa entre a relação estabelecida entre o povo hebreu e Faraó no Egito com o que Deus agora está propondo. A comparação para por aqui. Ela não tem como prosseguir se o que se objetiva é estabelecer as vantagens e desvantagens entre uma e outra. E, como eu disse, não há como prosseguir. Vimos que no Egito, a relação do povo com Faraó era uma relação de subserviência impositiva. Ao mesmo tempo que se mostra incapaz de oferecer uma alternativa que fosse. A rigor, e em tais condições, o que se tem como comprovação factível é a perda da liberdade.

     A posse da terra da prometida é um problema que se resolve estabelecendo parâmetros de condutas a serem seguidos. Os quais por si só não são impositivos. Entretanto, exibe elementos condicionantes que vão num código de conduta recíproco entre o povo e seu Deus. Um aspecto que chama a atenção neste trecho do texto, em especial, o início verso 13. É a maneira com que Deus através de Moisés exige de seu povo obediência. 

     Por mais que tenha a aparência de uma ação impositiva da parte do Deus de Israel, tal qual a relação de Faraó com seus súditos, inclusive os hebreus cativos. Isto não se dá nos termos estabelecidos por Deus para que se ocupe a terra que lhe está sendo dada. Fizemos alusão a uma espécie de conduta recíproca onde se especificam com uma exuberância de detalhes as responsabilidades de ambos os lados entre o povo e seu Deus. Aqui também já foi mencionado com base especificamente no verso 12 de que a terra é do Senhor. E ele cuida dela de tal maneira e com extremo zelo. A tal ponto de a supervisionar continuamente: "Os seus olhos estão sobre ela continuamente."

     É esta terra que o Senhor está oferecendo a seu povo. E, no pacto por Ele proposto, a exigência que fica de responsabilidade ao povo é de fidelidade, compromisso e serviço ou adoração. Todas essas exigências são inegociáveis, pois Deus quer de seu povo fidelidade e culto com exclusividade. Mesmo porque, para todos nós que observamos a forma como o Senhor desde o início tratou o seu povo, vimos como ele não transige com qualquer tipo de relação do seu povo com outras divindades.

     Um bom exemplo para o que aqui está reafirmado e de forma categórica. É o relato do capítulo 20 de Êxodo. Deus através da proclamação dos seus mandamentos ou decálogo. Faz num primeiro momento menção de como seu povo foi resgatado do cativeiro em que se encontrava no Egito. Ele literalmente apela para a memória desse povo proclamando que Ele é aquele que tirou este povo do cativeiro. E em seguida faz a exigência incondicional de que este povo estava proibido de cultuar qualquer divindade ou ídolo. A certa altura da proclamação do Decálogo Ele faz menção de como é zeloso e do extremo cuidado que possui com tudo que é de sua propriedade.

     O que quero deixar claro nessa mudança de relação de subserviência, que é o tipo de relação que com peculiaridade se percebe na relação de Faraó com todos os seus súditos. E que não dá para destacar qualquer tipo de semelhança com o que Deus propõe a seu povo. E a própria história subsequente a ocupação da terra mostrará este dado com mais riqueza de detalhes. O tipo de relação proposto por Deus atribui responsabilidades ao homem e se alguma coisa não estiver dando certo, isto se deve aos desvios ou falta de observância deste povo ao pacto firmado com seu Deus.

     Por outro lado, e novamente haveremos de buscar algum embasamento hermenêutico e escriturístico que preencha uma dúvida, ou mais precisamente uma mudança de discurso da parte de Deus. E faço menção de que a mudança de discurso ocorre na parte que compete a Deus em sua tratativa junto a seu povo. Já que, até o exato momento em que estamos em busca de fazermos uma leitura que seja a mais fiel e compromissada com sua exposição velada no próprio texto. Vemos que a mediação entre as tratativas de Deus com seu povo, até o verso 13, é mediada pela escritura tendo como amanuense da mesma o próprio Moisés.

     A partir do verso 14 e chegando até o 15 ainda que este último não faça parte do trecho escolhido previamente e que é fruto desta reflexão. Porém, o que se percebe nós dois versos ora referenciados é uma mudança brusca de discurso. Agora é o Senhor que pessoalmente faz uso do discurso direto(Bíblia de Jerusalém, alínea "i". Referente ao verso 14 do capítulo 11 de Deuteronômio).

     O aspecto condicionante presente no verso 13. Que se prende pela obediência a cerca das ordenanças deixadas por Deus e que fazem parte de um pacto previamente selado, sacramentado e de teor escriturístico, agora é deixado de lado, não significando que será negligenciado, porém que é obrigação de todos tê-lo como referencial de vida. Entretanto, pelo fato de as coisas estarem caminhando para uma relação mais formal do que de comprometimento e relações afetivas e pessoais.

     Agora, Deus toma uma atitude que pode se encarada como uma relação pessoal, ou seja de pessoa a pessoa com seu povo. O povo precisa entender que há um compromisso pessoal de seu Deus em manter esta terra próspera e fértil. E isto apenas será possível se a seu tempo o Senhor enviar a chuva temporã e serôdia(as primeiras e as últimas). Este tipo de situação demandada pelo evento climático propriamente e demarcado pela temporada de tais chuvas, obrigam o povo a construir uma perspectiva diferente de contagem e de relação com o tempo.

    Tínhamos visto conforme o próprio Deus alertou a seu povo neste texto. Que esta terra não era como a terra do Egito, versos 10-11. Ela, assim como o povo que haverá de ocupá-la, precisam desenvolver uma relação de dependência. A dependência é da chuva que vem do alto. E quem a manda é o Senhor. A dependência também, a partir de agora é do Senhor. Se o povo trilhar os caminhos de justiça traçados pelo próprio Deus em seus mandamentos. Ele haverá de alcançar a benção, a paz e a prosperidade.


Conclusão

    Vemos no antigo testamento uma situação trágica de casamento, porém real, onde o profeta Oséias vivia uma relação de amor para com sua mulher e o que ela lhe dava em troca era apenas infidelidade. O profeta, entretanto nunca deixou de amá-la, muito embora não fosse correspondido. 

     Foi esse tipo de infidelidade para com Deus que na prática conforme o relato do profeta no capítulo primeiro de seu livro que decreta o fim trágico do Reino do Norte. Por causa da infidelidade do povo ao se prostituir com o culto cananeu. O culto cananeu simbolizava a prostituição não apenas pelas orgias que aconteciam em suas celebrações. Ele também era prostituição pelo fato de o povo deixar de lado sua relação com Deus e praticar esses atos litúrgicos condenados e a revelia da vontade divina que sempre condenou tais práticas.

     Todo o capítulo primeiro de Oséias explora uma relação muito pessoal entre Deus e seu povo. A maneira como a esposa de Oséias age para com seu esposo ao trair essa relação conjugal, é o mesmo modus operandi pelo qual o povo se comporta ao trair o pacto estabelecido com Deus antes de adentrar a terra prometida. Ou seja, o povo se prostituiu ao aderir as práticas litúrgicas do culto cananeu.

     O interessante é que ao se detectar esse tipo de relação pautada pela infidelidade tanto a conjugal, no caso do profeta, quanto a relação com Deus. Percebe-se também uma espécie de deformação mental e teológica quanto ao conceito que se deve ter de divindade. E isto apenas se torna detectável caso se faça pela própria narrativa encontrada nos textos uma análise mais criteriosa e intrumentalizada por algumas ciências que levem em consideração aspectos históricos, literários, exegéticos, culturais, religiosos, antropológicos, etc.

     O caráter interdisciplinar nestas análises não deve ser de forma alguma omitido ou negligenciado. O próprio relacionamento de Deus para com seu povo reflete esse tipo de alternância entre o que está formalmente celebrado no pacto via escritura e a partir destes registros, o que também se reflete é a mudança de humor da parte do Deus de Israel por conta de seus deslizes no cumprimento de suas obrigações para com seu Deus.

     Todo o progresso e prosperidade auferidos pela posse da terra, sinaliza que dependem do relacionamento que o povo tem ou poderá ter com Deus. Essa afirmação não quer ser, em hipótese alguma, algo que soe como aleatória e sem fundamento. O que com a posse da terra foi estabelecido a título de se ter um relacionamento com Deus, era de que tudo vinha do alto, inclusive o socorro divino(Salmo 121:1).

     Assim como qualquer tipo de iniquidade cometida pelo povo tem graves e severos danos como consequência desse pecado para a sua terra e sua colheita. O que está em discussão aqui não é a fidelidade divina que sempre se manteve firme. Porém, o que se discute a infidelidade e o caráter volúvel deste povo para com os compromissos firmados com Deus desde a sua entrada na terra prometida.

     Quando Salomão faz a dedicação do templo a Deus. Fato este relatado no capítulo 7 de II Crônicas. Deus se revelará ao Rei e novamente reafirmará os seus princípios e termos estabelecidos anteriormente e jamais observado por parte do povo. Revela também que as consequências de se ter uma terra que não gera o sustentado apropriado para seu povo ocorre pela prática de toda sorte de pecado e iniquidade.

     Mas, o Senhor está sempre disposto a ouvir a oração de seu povo desde que haja confissão de pecado com devoção e humilhação. Assim como, apesar desta relação cada vez mais formalizada pela própria construção e dedicação do templo, ainda assim, e nas condições estabelecidas por ele, os seus ouvidos estariam abertos às orações daquele lugar.

     O resultado nesta relação verticalizada onde Deus está na parte ou andar de cima. É de perdão dos pecados e de cura e sara da terra. Foi o tempo, bem como a forma com que a sua contagem se estabeleceu, o elemento que gerou uma perspectiva diferente para construção dos conceitos básicos da religião de Israel. Aduz-se a isso a experiência daqueles que foram contados como testemunhas dessa manifestação de Deus. Onde em cada ocasião e apesar das diferentes épocas e contextos sociais. O Deus todo poderoso se fez presente para abençoar seu povo.

     É este mesmo tempo que com as narrativas de que dispomos que nos proporciona essa inversão de olhar. Capaz de fazer com que olhemos para o alto identificando como lugar de sua morada e de onde também ele desce em socorro para nos abençoar. Fiquemos como última palavra para esta noite com aquela imagem que a oração do Pai nosso nós transmite. Onde nela, o Cristo ao tratar este mesmo Deus, chamando-o de Pai. Nos indica tanto a sua alteridade bem como a sua transcendência e santidade. Ela também aponta para a necessidade em andarmos ou afinados com sua vontade. E tão somente depois é que devemos pedir pelo sustento diário (pão) e pelo perdão das nossas dívidas. Amém.


      





Fiquem com a fé!!!

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