Uma coluna identificada como 360 Graus do Correio Brasiliense publicou uma matéria, no sábado passado 12/10/2019, por ocasião do dia das crianças, intitulada: "Eles são o futuro do Brasil". Evidentemente que não faltaram críticas ao periódico. Tanto que o próprio Correio Braziliense veio a público se retratar reconhecendo que errou ao deixar que tal matéria fosse publicada. E tudo isto em função de manifestações de seus leitores de acordo com o texto de retratação: "Leitores protestaram contra a hegemonia branca." 

     O que veio a seguir na tal retratação, apenas reproduz aqueles discursos que desde sempre estamos acostumados a ouvir nos variados setores da sociedade a partir de seus interlocutores, dentre os quais, não tenho a menor dúvida que o Correio Braziliense se inclui. Ou seja, discursos que, a rigor não levam a nada. E os seus objetivos são bastante definidos. Manter a situação tal qual está neste momento. Pra refinar um pouco mais, diria que servem apenas para a manutenção do STATUS QUO.

     E o tal do status quo a que me refiro está bem nítido, não necessariamente no teor da matéria em questão e objeto desta reflexão. E sim no referido texto de retratação e a referência feita ao tipo de insatisfação dos leitores que ao protestarem, protestaram contra a "hegemonia branca." Até acho que tanto a matéria em questão e o seu resultado que é a própria insatisfação dos leitores, foi algo articulado, melhor dizendo, orquestrado.

     Essa orquestração a julgar por boa parte do texto de retratação em que se enaltece a forma como o jornal surgiu e que está diretamente ligado a fundação do Distrito Federal e de como desde  o seu surgimento, Brasília se constituiu como elo de ligação das duas realidades de Brasil. Ou seja, aquela famosa xaropada de sempre que objetiva despertar a atenção para os valores que perpetuam o projeto de unificação do país e que estão representados na história e surgimento de Brasília e, por extensão, o Correio Braziliense é uma plataforma de mídia impressa que tem sua história também atrelada ao surgimento da cidade.

     A questão a cerca da insatisfação dos leitores, entendo e tenho  absoluta certeza que estes leitores se indignaram mesmo com o que foi publicado. Mas, é o tipo de indignação e insatisfação que não oferece algum tipo de efetividade prática. Primeiramente pelo fato de que leitores insatisfeitos é um dado por demais genérico. Também tenho certeza que, muito embora não tenha como precisar em níveis percentuais esse tipo de insatisfação, há também entre os leitores do jornal aqueles que se veem representados por esta matéria. 

     Talvez, fosse o caso de se levantar a totalidade dos assinantes, tidos como leitores do jornal. E depois comparássemos com o percentual dos que se manifestaram de forma contrária à matéria. De todo modo, a simples manifestação de leitores não oferece pra efeito de análise das repercussões da matéria absolutamente nada. Não são os indivíduos que ocupam papel proativo em qualquer grupo social. Por outro lado, como tento delimitar este texto, faço limitando a tecer alguns comentários que refletem duma maneira generalizada algumas de minhas percepções. 

     Estas percepções, muito pessoal de minha parte, carecem de um tratamento de cunho acadêmico que demande algum tipo de levantamento de informação no sentido de que a apuração e ajuizamento de uma situação gravíssima como esta possa repercutir e resultar em algum tipo de providência por parte dos agentes públicos, principalmente aqueles ligados ao judiciário e ao ministério público em especial. 

   No meu raciocínio, se o princípio constitucional afirma que todos são iguais perante a lei, por que será que uma matéria como esta em tom afirmativo e categórico indica que o futuro do país está restrito a uma determinada raça ou cor de pele tão somente? Será que o tipo de matéria não seria suficiente para provocar o ministério público em uma ação pública visando colher explicações do real objetivo a se buscar com a referida matéria?

     Fiz uma afirmação análise da quase pífia manifestação de insatisfação dos leitores, e que pelas razões já explicitadas, não produzem do ponto de vista de sua eficácia absolutamente nada. Mas, não falei dos movimentos sociais que como agentes representativos da sociedade civil têm o direito e a obrigação de se manifestarem com notas de repúdio e de buscar no conjunto de nossas leis, algo que embase uma ação civil que provoque o ministério público a se manifestar sobre a mesma. 

     Sinceramente, não sei dizer se isto aconteceu ou ainda acontecerá. Pois, como disse, este texto reflete muito mais uma reflexão de caráter pessoal. Ele também é produto de minha indignação e insatisfação, muito embora não seja leitor e muito menos assinante deste jornal. Porém, do ponto de vista da conjuntura política atual e a prevalência de princípios tidos e ditos de natureza conservadora. A matéria é emblemática e reflete o fato de que se demos um passo a frente, andamos dois para trás.

     Por outro lado, o que chama atenção nesses sucessivos lapsos de memória a cerca do compromisso e sentimento de civilidade que deveria ser a tônica nas redações ou ilhas de notícias espalhadas por este país. São os seguidos erros de juízos cometidos pela mídia e, neste caso em especial, um periódico que goza de um certo respeito na mídia impressa.

     Pode ser que a matéria tenha objetivado trazer a discussão a questão da educação e por extensão o futuro de uma infância que não é visto pela lente dos repórteres de mídia impressa e muito menos seja objeto de qualquer artigo de periódico, que por mais inclusivo que seja, a própria situação e catástrofe social a que estamos submetidos os impeça de um tratamento mais positivo quanto ao futuro daqueles pequeninos que não se adequam ao perfil traçado pela fotografia.

     Pode ser também uma jogada de marketing, já que houve retratação por parte dos editores do jornal. Nem por isso o jornal em questão deixou de ficar em evidência. E dessa maneira aguçou a curiosidade daquele cidadão com mentalidade inclusiva, mesmo que ao se expressar seja em tom de censura. Ao mesmo tempo que aquele mais conservador e defensor da ideia de que tudo que conseguiu na vida é ou foi por seus méritos se viu recompensado e representado em saber que o seu filh(a)o ou net(a)o tem sim um futuro garantido.

     A maior evidência de um jornal, mesmo que seja por uma, duas ou três semanas. Vai depender dos desdobramentos e repercussão que a referida matéria terá. Pode ser transformado em algum tipo de contrato publicitário, ou até mesmo algum contratante tenha encomendado tal matéria visando alcançar algum nicho de mercado. O que é certo e devidamente comprovado em tudo isto, é a existência de uma lógica capitalista e macabra. 

     E quando se faz alusão à lógica capitalista, não há como não pensar na existência de um mercado diversificado para a produção de conteúdos e bastante promissor a ser explorado. É por essas e outras que se impõe quase sempre ao que se chama de sistema capitalista o estigma de sistema imoral ou amoral, por conta da perseguição voraz aos lucros e dividendos. Não importando que ao longo de sua construção histórica, sua lógica perversa também tenha provocado debates e discussões acirradas a cerca de valores éticos e morais.

     Se tivéssemos que fazer uma análise do ponto de vista de uma mensagem subliminar, diria que, além do fato de que neste "país do futuro" não haja espaço para nossa diversidade étnica. A própria imagem fotográfica composta por três lentes. Sendo que a que possui o maior diâmetro serve como base para as outras duas com diâmetros menores, tem o formato da cabeça do Mikey Mouse. Se analisarmos esta matéria pelo viés nacionalista, o nosso inconformismo deveria ser muito mais gritante e apaixonante.

     Pode ser que no exato momento que este texto passe pelo olhar daqueles intelectuais de plantão. A web está repleta deles, um deles  ou mais de um queira opinar de tal maneira que faça a análise da expressão por mim utilizada no parágrafo acima: "Viés nacionalista." E já me deparei com muita regularidade nessa tentativa de se distinguir o sentido do que seja um nacionalista e um patriota. Sendo que o nacionalista, quase sempre que me deparei com esse tipo de análise e distinção, é aquele a quem se atribui teor  e significado pejorativo.

     Mas, voltando a falar do formato da foto que exibe esse enquadramento focal de lente e que faz referência ao Mikey Mouse. A cerca de uns 30 anos atrás, quando ainda estava na universidade, nesta época cursava letras na UERJ. E todo universitário tem aquele grupo com quem se identifica mais. Mesmo que fossemos de graduações diferentes, mas o sistema de créditos te ajuda a romper as diferenças entre os alunos de alemão, inglês, francês, italiano, etc. 

     Lembro que um dos colegas cursava italiano e trazia em mãos o gibi do Mikey em italiano. Mas, em Italiano, Mikey não é Mikey, ele é TOPOLINO, o mesmo que ratinho na língua italiana. Aqueles agentes públicos do governo italiano que se ocupavam ou se ocupam das responsabilidades quanto a conteúdos, mesmo que esteja na linha de entretenimentos para uma faixa etária tão sensível como infância e adolescência. Sabem como nunca o valor cultural que uma língua nacional tem. Alguém certa vez disse que quem aprende uma outra língua, absorve a ideologia do povo falante da mesma(Passim). 

     E com todos os avanços que já alcançamos em educação, pois no passado, era muito pior. Não há setor mais sucateado do que a educação. E este sucateamento ocorre principalmente na educação pública. A figura do profissional de educação tem baixa remuneração, além de sempre ser desrespeitada sofrendo seguidas ações violentas por parte de outros órgãos da administração pública. A julgar novamente pela foto em formato de Mikey Mouse, e por uma lógica natural onde alguns elementos podem e devem ser descartados. Um deles é a escola pública, ou seja, esses que se apresentam nesse enquadramento de lente sob formato de cabeça do Mikey não são alunos de escolas públicas. 

     Também não são moradores de periferia das grandes cidades. São todos de classe média. Filhos e netos de profissionais como engenheiros, médicos, dentistas. O padrão de vida indica que tenham uma renda mínima em torno de R$30.000,00 (Trinta mil reais). Possuem dois ou mais imóveis na faixa de R$800,000,00 (Oitocentos mil reais). E seguindo a lógica estabelecida por este jornal, desde que fazendo pela análise quanto ao poder aquisitivo daqueles que realmente tem futuro neste país. Deduz-se que quem realmente tem vontade política para mudar esse quadro, ao contrário, luta pela sua manutenção.

     O que dizer então do nosso sistema educacional que vive a esquizofrenia estrutural. Totalmente avesso a qualquer tipo de política pública que objetive prover as camadas populares dos instrumentos necessários para sua de ascensão social. Seja qual for a intenção deste periódico desde a matéria bem como a retratação. Acho que estão dando um tiro no pé. Na realidade se alguém acha ou entende que apenas essas crianças da foto é que possuem futuro neste país. Na realidade, são essas crianças que não possuem futuro. Elas são minoria. Quando falamos em minoria, falamos de minoria num país com uma densidade populacional acima dos 200 milhões. E um dia essa conta será cobrada










 




Tema - Quem são os que se tornam receptivos à mensagem do Reino de Deus?

Texto - Mateus 11

ICT - O texto faz menção da dinâmica de vida imposta pelo mestre em seu ministério. Da chegada e consulta dos emissários do Batista. Da maneira como o mestre faz menção do ministério de João. E basicamente convida aqueles que estão cansados e afadigados com o jugo desta vida a virem até ele.

Objetivo geral - Levar a congregação ao entendimento de que a vida é muito mais do que fadiga e cansaço.

Objetivo Específico - Levar a congregação ao entendimento de que é muitas vezes numa palavra simples e de fácil percepção como esta do mestre que se revela a natureza profunda do Reino de Deus e do império e primazia da vontade divina.

Tese - O Reino de Deus não é comida nem bebida.




INTRODUÇÃO



     Começo esta leitura e reflexão transcrevendo em sua totalidade o que foi apenas registrado em parte e a propósito do que é a tese que será defendida no transcurso deste texto. Estou falando de Romanos 14:17, onde Paulo falando a cerca do Reino de Deus afirma: "O Reino de Deus não é comida nem bebida, mas justiça, e paz, e alegria no Espírito Santo." Ou seja, o Reino de Deus é a possibilidade factível de pautarmos nossas vidas e comportamentos por princípios que estão para além da vocação natural intrínseca em cada um de nós e consagrado no direito e justiça do homem.

     Todo e qualquer movimento nesta reflexão se deslocará de tal maneira a que tenhamos a nítida percepção de que muito embora não desconsideremos essa tendência e vocação natural do homem, marcadamente contingente e inexorável. Ainda assim a chave linguística para se tocar a vida cristã cristicamente é o conceito de ação coletiva do Reino de Deus inaugurado por Jesus em seus ensinamentos.

     Vale a pena assinalar que aqui faz-se necessário a fundamentação da ideia que se transmite por ensinamentos e de uma forma bem didática e suficientemente pedagógica. E, a se julgar pela maneira com que a multidão acorre para ouvir estes ensinamentos do Senhor Jesus. Isto significa que se tentará demonstrar nas linhas que se seguem, que estes ensinamentos estão longe de serem caracterizados como algo que, de tão simplório que é, acaba por insultar a inteligência daquelas pessoas que se sentem em melhores condições de entender a vida e seus dilemas.

     Senão, passemos a olhar com um pouco mais de especificidade as palavras introdutórias do capítulo 11 de Mateus, objeto desta reflexão. O texto alude a uma espécie de treinamento a que o mestre submete seus discípulos. A referência é clara no verso primeiro, pois tendo ele acabado de dar instruções aos seus doze discípulos, ele parte dali para ensinar e pregar nas cidades desses doze. 

     Faz bastante tempo que a utilização do termo treinamento era utilizado tão somente por empresas. E era um instrumento de melhoria e capacitação dos empregados, com objetivo de apurar com mais esmero a performance e rendimentos dos mesmos. Mas, esta prática popularizou-se de tal forma. Que atualmente ela tem se vulgarizado. E os objetivos para a sua utilização enquanto ferramenta de trabalho são os mais esdrúxulos possíveis.

     De qualquer forma, e da melhor possível. O que o Senhor Jesus aplicou aos seus discípulos enquanto método de trabalho alcançou resultados mais do que esperados. E como resultado disso a sua fama correu por toda a Palestina. Os evangelhos canônicos são testemunha desse fenômeno de popularização dos seus ensinamentos e doutrina, e, consequentemente de sua popularidade. A ponto de sua fama ter chegado a João Batista quando este já estava no cárcere de onde não mais sairia vivo.  

     Foi esta fama de Jesus que provocou o questionamento mais humano e sensato em um homem da envergadura de João Batista. João tinha consciência do tipo de ministério que ele exerceria. Em poucas palavras, era uma espécie de ponte que prepararia o povo para a chegada do Messias. Ele tem noção de que as coisas para ele no cárcere caminham cada vez mais para um desfecho final em sua vida. 

     Nesse ínterim, ele fica solícito e, porque não dizer, angustiado com o rumo dos acontecimentos. Portanto, seu desejo é se certificar que Jesus é realmente aquele sobre quem ele, João, criou todas as expectativas possíveis ante o povo para a chegada do Messias. Então, como providência, ele envia dois de seus discípulos a Jesus com a seguinte pergunta: "És tu aquele que havia de vir, ou esperamos outro?"

     Foi um questionamento tão sincero e objetivo, que não mereceria outra resposta senão a que Jesus manda a João. Ele então responde aos discípulos de João recomendando que eles relatem o que ouviram e viram. Fundamentalmente esse foi o princípio que norteou desde sempre a pregação apostólica. Quando o apóstolo João, que não é o Batista, escreve a sua primeira epístola, ele faz questão de assinalar que a base de sua pregação e testemunho a cerca da revelação divina em Cristo é: "O que vimos e ouvimos isso vos anunciamos..." (I João 1:3).

     Outro dado de bastante relevância para esta leitura diz respeito a forma como o Senhor Jesus falando àquelas pessoas tece comentários a cerca do caráter de João Batista. Que em boa parte deveriam conhecê-lo muito bem. Já que num passado não muito distante aquelas pessoas que agora estavam ali ouvindo os ensinamentos de Jesus, antes estavam seguindo a João e ouvindo os seus ensinamentos no deserto. É quando o mestre faz um comentário de João e de suas qualidades como a de um grande homem.

     Além do que, o mestre assinala que a figura de João se notabiliza pela forma emblemática em que se encontra desde uma a perspectiva histórica, apocalíptica e salvífica em Israel. E uma coisa que nos ajudará grandemente a entendermos esta palavra do mestre, talvez seja a visão escatológica subjacente a esta fala de Jesus ao estabelecer a relação entre a lei e os profetas, e, concomitantemente, o encerramento desta relação profética entre ambos. Algo detectável por uma simples leitura de movimento na história de redenção em Israel, e materializado pelo aparecimento de João Batista.

     Por outro lado, o mestre não poupa sua crítica aos seus contemporâneos (Esta geração)  pela falta de aprofundamento nestas questões de natureza histórica e religiosa em Israel. Tanto que é sintomático o tipo de analogia que utiliza para qualificar a expressão "Esta geração". Sua fala reflete a insensibilidade destes que qualifica como meninos. Tanto a palavra representativa em João e que testemunha dos movimentos da história salvífica até que chegue a sua pessoa e existência histórica. Quanto a palavra representativa simbolizada pelo testemunho do Filho do Homem que representa o fim da história, nada é para esta geração.   

     A despeito de a fala do mestre se caracterizar neste capítulo como uma espécie de recuperação dos eventos históricos que se deram como cumprimento até aquele momento e que têm passado despercebidos por "Esta geração". A fala do mestre tem um conteúdo de crítica quanto a forma impenitente com que o povo a estava tratando. E neste momento, ele não omite que o tipo de comportamento do povo não era algo que passaria sem maiores consequências. E tratando-se de juízos divinos, teria consequências danosas.

     Para tanto, o mestre compara o que foi oferecido àquelas cidades: Tiro, Sidom e Sodoma no passado e, por conta de suas incredulidades, sofreram pesados juízos de destruição. A palavra de Jesus chama a responsabilidade ao que se tem e foi oferecido a estas cidades como Corazim e Cafarnaum e os prodígios que lá foram operados. E, mesmo assim, não ofereceram nenhum sinal de arrependimento. A advertência é de que haverá menos rigor no dia do juízo para aqueles que sucumbiram em Tiro e Sidom, bem como os de Sodoma do que para aqueles que testemunharam os prodígios operados em Corazim e Cafarnaum.

     O bloco final deste capítulo que vai do verso 25-30. Tem uma peculiaridade bastante salutar. Pois, o tratamento redacional do evangelista contrapõe uma relação nas formas de tratamento com que o Senhor Jesus aborda a questão daqueles que dominam o conhecimento e que portanto se auto intitulam detentores da verdade. E aqueles, representativo dos setores mais populares, e, que são desprovidos de qualquer tipo de conhecimento no sentido de que possam pautar ou balizar algo como a verdade.

     Curiosamente está subentendido na fala de Jesus em forma de oração que seus ensinamentos se davam com base em perguntas e respostas. Pelo menos é o que se vê em suas palavras no verso 25. Aquelas pessoas ali e naquele exato momento deveriam estar apreensivas quanto a iminência desse juízo divino e avassalador ao serem advertidas por Jesus. Pode ser que uma delas ou um grupo delas o arguiram a cerca da melhor maneira de se tornarem imunes ao juízo condenatório divino que está por vir.
     Por conta disso, a oração enquanto via de acesso a Deus é a forma mais simples e acessível para o povo se penitenciar. Vale lembrar que esse tipo de oração a que o Senhor Jesus utiliza não pode ser confundido com aquelas rezas ou grupo de rezas que fazem parte até hoje como guias litúrgicos de sinagogas judaicas(Kadish)(*). Esta oração de Jesus é aquela que é intimista, subjetiva e que pode ser feita a qualquer hora do dia e em qualquer lugar e está livre de qualquer tipo de formalidade litúrgica ou cúltica.

     É por esta oração que vislumbramos na experiência de relacionamento do mestre com o Pai o único modo de nos sentirmos aliviados de nossas cargas. E a possibilidade de adesão por parte destes que são considerados como os mais humildes e desprovidos de qualquer tipo de conhecimento, ou até mesmo de ter acesso ao conhecimento da verdade por méritos próprios dada sua incapacidade de absorção e aprendizagem. Por isso e, por conta disso se faz menção do caráter revelacional que está em Cristo Jesus na sua relação com Deus-Pai.  

     Esta oração também nos ensina que apenas e somente nestas condições, podemos nos sentir no direito de tratarmos a Deus como Pai. Já que o Pai do ponto de vista de sua relação com o Filho é também a transcendência do Filho. Por essas e outras razões, dá para se deduzir que este tipo de ensinamento ministrado pelo mestre não acontece em um ambiente tal como uma sinagoga daquelas que existiam na região da Galileia no primeiro século. Mesmo porque o verso de número 7 nos informa que ele ao começar a falar de João, falava a um grande número de pessoas. E uma sinagoga não é um local apropriado com condições de abrigar uma grande multidão.




I - É todo aquele que ao estar diante de Jesus se vê na condição de discípulo.(V.V. 1-6)



     Estes primeiros versos, como foi devidamente colocado na introdução, mostram uma relação mais próxima de Jesus com seus discípulos. E o texto deixa claro quanto ao que acontece após o término de uma reunião de treinamento em que Jesus dá instruções a seus discípulos. Logo após estas instruções, ele sai e começa a pregar e ensinar nas respectivas cidades de onde esses discípulos eram naturais, ou onde esses discípulos tinham suas vidas seculares até que recebessem a chamada do mestre.

     Ao se estabelecer na cidade de Cafarnaum (Mateus 4:13; 9:1)como seu domicílio, o mestre está sinalizando não apenas a sua opção natural por um lugar onde ele já  se encontrava devidamente ambientado. Pois, parte de sua infância e adolescência se deram em Nazaré que também ficava na Galileia. Essa escolha acontece a partir do momento em que fica sabendo da prisão de João Batista. Era natural que boa parte de seus seguidores mais diretos também viessem desta cidade ou das cidades circunvizinhas. Betsaida, Cafarnaum e Corazim  são cidades circunvizinhas ao Mar da Galileia

     Não custa lembrar a forma como ocorre a chamada desses discípulos. Em Cafarnaum conforme este evangelho no capítulo 4:18,21 ele chama Simão Pedro e André seu irmão; Tiago e João seu irmão que são filhos de Zebedeu. E um detalhe muito peculiar e próprio desses quatro primeiros discípulos a serem chamados pelo mestre, ambos exerciam a atividade da pesca em Cafarnaum. Outro que fazia parte dos doze é Felipe que era natural de Betsaida juntamente com André e Pedro e que provavelmente também vivesse em Cafarnaum quando foi chamado. (João 1:44)

     Obviamente que o objetivo aqui não se limita a fazer um levantamento das origens de cada discípulo do mestre. E sim estabelecer de forma clara e equilibrada como esta relação entre Jesus e seus discípulos ocorria. Ao mesmo tempo que o texto também relata a relação de Jesus com João Batista e consequentemente a relação dele com os discípulos de João. Queiramos ou não, este tipo de relacionamento pode ser balizado por patamares diferentes conforme se vislumbram alguns sinais de inexistência de afinidades entre um grupo e outro.

     No capítulo 11:1 do evangelho de Lucas, por exemplo, encontramos o relato de um fato onde o mestre havia terminado fazer sua oração e um discípulo não identificado no texto e que observava a maneira como Jesus orava lhe faz um pedido. Neste pedido ele diz para o mestre o ensinar a orar, tal como João, neste caso, o Batista ensinou aos seus discípulos. O que fica bastante claro e sintomático é a existência de nuances distintivas entre um e outro discipulado. Isto pode ser melhor detectado no livro dos Atos dos Apóstolos.

      A pergunta a que os discípulos de João estão imbuídos de fazer a Jesus diz respeito ao que estava por vir e que era a marca do discipulado de João. Pois, ele dizia que não era o Messias e que após ele viria alguém que era maior do que ele. O discipulado de João Batista era um discipulado de transição. Logo, aquela preocupação de João traduzida pela grande pergunta refletia não apenas a preocupação de João como também uma inquietação entre seus discípulos. Por outros detalhes que não nos interessam a esta altura de nossa reflexão, não se pode afirmar com clareza que esta transição tenha ocorrido naturalmente.

     Entretanto, a forma com que Jesus responde a estes discípulos é natural e potencializadora de muitos outros momentos onde a ação efetiva do poder de Deus através do mestre ocorre. A resposta de Jesus, e já fiz menção deste detalhe na introdução é que tendo aqueles discípulos presenciado algumas maravilhas operadas, eles deveriam relatar o que tinham ouvido e visto. Os milagres, ou intervenção sobrenatural de Deus acontecem por meio de Jesus e isto é visível, público e notório. E, acima de tudo, estava havendo o anúncio do Reino de Deus também aos pobres. E feliz é aquele que não se escandalizar em mim, ou comigo.

     A mensagem que Jesus envia a João é um claro recado de que ele, embora estando na cadeia, não deve se preocupar ou cultivar algum tipo de angústia por um erro ou fracasso na missão que Deus lhe dera para que fosse o precursor do próprio Jesus na preparação do seu caminho. É uma mensagem de mestre para mestre. Por outro lado, a mensagem também se direciona ao discipulado de João uma vez que estavam cientes de que o ministério de João era de transição e aquele que substitui a João é Jesus. Por tudo isto, Jesus também adverte àqueles que por alguma razão ao se escandalizarem nele, tal como faz referência, atribui isto a uma infelicidade.

     O que poderia então significar a expressão escandalizar nele? Basicamente uma deliberação de caráter pessoal que levasse, com relação aos discípulos de João, a não aceitar se submeter ao discipulado de Jesus. Caso uma atitude dessa natureza acontecesse com algum discípulo de João, estaria claro que este não teria entendido ou levado a sério os ensinamentos de seu mestre. A proposição temática sob a forma de uma interrogação onde busca responder o que nos torna receptíveis à mensagem do Reino de Deus, está vinculada a um ato de submissão daquele que se diz discípulo de Jesus. Discípulo é aquele que está ou vive sob a regra ou disciplina de seu mestre(STOTT, John. O discípulo Radical. Viçosa, MG: Ultimato, 2011, p.10)


II - São também aqueles que tendo anteriormente um mestre construíram uma capacidade de discernimento a tal ponto de migrarem de um mestre para outro.(V.V. 7-11)



     Notemos aqui que após o diálogo entre Jesus e os discípulos de João. O Senhor retoma o seu ministério de pregar às multidões. E a referência neste momento é com relação a João Batista. Segundo o que conhecemos com base nos inúmeros exemplos de vidas monásticas, as ordens religiosas e seus respectivos mosteiros. São pessoas que optam por uma vida de consagração a Deus e portanto se retiram de uma provável vida secular aderindo ao monasticismo. Do ponto de vista do isolamento, podemos dizer  que João era um eremita por opção. Ele tinha o deserto como sua moradia ou local de vida reclusa. E isto influenciou até mesmo nos seus hábitos alimentares e de vestimenta(Mateus 3:4) 

     Jesus tendo o exemplo de vida de João Batista pergunta a multidão o que, afinal de contas, eles foram ver no deserto? Ele sabe que João apareceu pregando no deserto(Mateus 3:1). É deste lugar inusitado e sombrio que ecoa um ar de esperança, um suspiro de vida. Foi do deserto e não da cidade ou dos centros e escolas rabínicas que Deus por instrumentalidade de João começa após um grande período de silêncio falar ao  povo. A interpelação de Jesus para com a multidão tem um ar de sarcasmo: O que existe de atrativo no deserto pra que vocês tenham ido até lá? Será que valeria a pena todo este esforço em se deslocar a um lugar inóspito e nada acolhedor tão somente para se contemplar uma vara ou caniço balançando ao vento?

  Não são necessariamente os movimentos e aqueles que aderem a eles com forte apelo popular a razão e o que se busca nestas palavras interrogatórias de Jesus a multidão. Mas, ele chama a atenção daqueles que neste momento o ouvem e que pelas muitas e variadas razões fizeram com que se dirigissem ao deserto a procura de João. Ele torna a repetir a pergunta cada vez mais sarcástica sobre o real motivo daquela multidão ter ido ao deserto. Lá eles não encontrariam ninguém trajando vestimentas finas, pois os que trajam roupas finas podem ser e são encontrados apenas nos palácios. Então, o mestre responde que eles foram ver um profeta e reafirma que era muito mais que um profeta.

     Um profeta prega, profere os juízos de Deus a seu povo e, em algumas situações faz vaticínios a cerca de julgamentos futuros. Apenas aquele que é detentor ou possui o espírito de Deus, pode ser chamado de profeta(JEREMIAS, Joachim. Teologia do Novo Testamento. São Paulo, Ed. Paulinas, 1977, p. 123-124).E nas palavras de Jesus ao afirmar que João foi mais que um profeta reflete o seu lugar desde uma perspectiva bíblica e histórica onde a cerca dele a escritura se manifestou estabelecendo de que maneira, caso queiram olhá-lo como um profeta, aconteceria o seu ministério. João é um profeta a cerca de quem a escritura profetizou e que o Senhor Jesus estava ali para reforçar o cumprimento desta profecia na vida, ministério e existência histórica de João Batista.  

     O Senhor Jesus está ali não somente para atestar o cumprimento de uma profecia acerca de João. Ele também testemunha a cerca de sua grandeza entre aqueles nascidos de mulher. Objetivamente, que espécie de grandeza seria esta? E algumas atitudes traduzidas por algumas palavras do Batista respondem esta indagação. Se lembrarmos de suas respostas toda vez que alguém pensou ou foi levado a pensar que talvez João fosse o Messias(João1:20)e ele de forma humilde e no estrito cumprimento do que a escritura a cerca dele falava(João 1:23)  respondia dentro da serenidade que todo servo de Deus tem, e, por ter consciência de que sua missão está desempenhada conforme a vontade de Deus.

     Não apenas a consciência e sensação de dever cumprido, bem como o fato de que aqueles que por ele, João, foram orientados agora terão que ter a consciência e discernimento de que tudo que ele fez foi no sentido de abrir caminho para o que agora se apresenta e se materializa na figura do próprio Senhor Jesus. Os discípulos de João e todos aqueles que uma vez tiveram contato com ele através de suas pregações no deserto. Agora estão tendo a oportunidade de constatar na pessoa do Senhor Jesus aquele de quem João falara e acerca do qual ele chegou mesmo a dizer que não era digno de desatar a correia de suas sandálias(João1:27).

     O ato declaratório de Jesus a cerca da grandeza de João Batista do ponto de vista de uma visão puramente histórica e na linha de uma progressividade no tempo, mostra que em João a história humana tem o seu ápice. Como disse a dois parágrafos atrás, o ato de grandeza de João começa pela sua busca primeira e essencial de tão somente cumprir o que dele estava escrito. Ele foi obediente à prescrição da escritura. Ele também não se deixou levar por qualquer outra distração que não fosse o cumprimento da escritura. Talvez, fosse por isso e por ter entendido a responsabilidade da missão se resguardou dos apelos do mundo e optou desde muito cedo por uma vida reclusa e afastada no deserto.

     E o recado de Jesus  juntamente com o reconhecimento que faz em relação a vida e ministério de João. Vem no sentido de dizer que João teve sua grandeza reconhecida, mas o que está para ser revelado através da inauguração do Reino de Deus é muito maior do que até aqui fora visto. E portanto, aquele mais humilde membro do Reino de Deus é muito maior do que João. Esta mensagem era para todos, discípulos ou não de João. O que João e todos os que o precederam fizeram foi fazer com que o povo construísse uma consciência tal que lhes desse o discernimento necessário para entender a forma paulatina com que Deus veio falando a seu povo até que se chegasse a esse desfecho final de um ciclo, que desde uma perspectiva histórica e teológica se resume à revelação final de Deus que agora em Cristo Jesus chega a sua plenitude(Hebreus1:1-3).   



III - São aqueles que ouvem com discernimento e entendem os movimentos da história como o mover sobrenatural de Deus.(V.V. 12-15)



     Inicio este tópico destacando a necessidade de um melhor entendimento e recuperação do que foi e do que é a importância da tradição profética em Israel. Para tanto e em poucas palavras começo por distingui-la da tradição sacerdotal que doravante a identificaremos com o que nos tempos de Jesus estava representado por aqueles que se ocupavam dos serviços religiosos no templo, incluindo assim os escribas e rabinos. Isto é, aqueles que se debruçavam sobre os rolos da lei não apenas para reproduzi-los zelando por sua conservação, bem como interpretá-los. 

     Essa tradição profética ainda que seja uma marca que qualifica a todo Israel, a meu ver desenvolveu-se com mais vigor desde o momento de ruptura política de Israel no Reino do Norte. Alguém poderá me interpelar dizendo _ Mas os gigantes da profecia são quase todos do Reino do Sul tais como Isaías, Jeremias, Ezequiel, etc. E eu poderia responder que embora todos eles tenham sido fundamentais a seu tempo para a tradição profética, digamos que eles foram grandemente influenciados pelo templo e pela elite sacerdotal que do templo se ocupava.

     O que estava acontecendo no Reino do Norte e devido às instabilidades políticas constantes aliado a uma crescente busca por outras expressões de caráter religioso que não tinham relação com a tradição nômade e israelita e suas manifestações teofânicas tais como a que ocorreu com Moisés e seu povo no Sinai. Foi num contexto de instabilidade política e de desagregação social que emerge a figura do grande profeta Elias. E é sintomático e emblemático a referência que se faz a Elias. O contexto onde surge o nome de Elias é o contexto da Galileia, que a rigor, nos tempos de Elias e com a divisão dos reinos compreenderia a parte Norte cuja capital era Samaria.

     Já falamos de contextos com instabilidade política, social, religiosa. Fizemos um paralelo entre este contexto de instabilidade especificamente relacionada ao Reino do Norte. E com isto chegamos a figura ímpar do grande profeta Elias. Ele se notabilizou por ser alguém de origem desconhecida, já que em sua identificação, ou seja, por ser  conhecido na escritura apenas como o TISBITA, da região de Gileade(I Reis 17:1). E que aparece em um cenário caótico em Israel(Reino do Norte) e em nome de Deus questiona os atos do rei. Ele ataca este rei por ter, através de sua esposa a rainha Jezabel, introduzido em Israel um culto pagão em adoração a Baal e a Aserá(I Reis 18:19).

     Também não dá para passar despercebido a forma como o redator do evangelho conduz sua narrativa. Ele elenca para a reflexão e de uma maneira esplêndida ao enaltecer a figura de João Batista, seu ministério profético, e o compara ao profeta Elias. No desenvolvimento do redator é Jesus que alude a Elias e o traz para o cenário atual ao comparar o ministério de Elias com o de João Batista. Ambos foram perseguidos por Reis e eram potenciais vítimas desses reis por influência de suas esposas. Elias condena a idolatria do rei influenciado pela esposa Jezabel e que na tradição bíblica e religiosa é o mesmo que se prostituir. João condena de forma contundente a relação incestuosa e adúltera de Herodes Antipas e por ele também é perseguido. E no exato momento destas palavras de Jesus encontra-se em um cárcere.

     Muito embora neste tópico, e, a despeito de uma descrição de um contexto caótico que se equivalem tanto o ocorrido nos tempos de Elias quanto ao que se sucede nos tempos de Jesus, no exato momento em que faz referência a João Batista. O que não se pode perder de vista é que mesmo assim é passível de se ver que Deus tem estado no controle das coisas. E graças a estes homens que estão a seu serviço para chamarem a consciência tanto seu povo quanto aqueles que se prestam a prevaricar contra o Senhor. Estes homens são chamados de profetas pelo fato de se comprometerem, desde que possuídos pelo Espírito de Deus, a condenar todo tipo de injustiça e pecado que se comete. 

     Quando um profeta do Senhor fala, temos a obrigação de estarmos atentos às suas palavras. E ouvir com a orientação divina a fim de que possamos com o discernimento que nos vem da parte do Senhor Jesus, a exemplo do que se caracterizou o ministério profético de João Batista. A palavra do profeta serve como alerta e advertência para esta disposição em querermos ouvir a voz de Deus por meio de seus servos. A descrição e detalhamento de questões relacionadas a  contextos sociais, políticos, culturais e religiosos, não deve ofuscar o elemento revelatório que se encontra intrínseco neste caos a que se tem tornado a vida humana. O Senhor Jesus chama-nos a responsabilidade enquanto ouvintes para esta situação: "Quem tem ouvidos para ouvir, ouça." apesar do caos instaurado a mensagem do Reino de Deus está para ser filtrada.



IV - A relação dos pais com os filhos e o tipo de inocência apontada por Jesus CONCLUSÃO relação é o grande ponto negativo dessa palavra.(V.V. 16-19)



     A rigor, o trecho acima destacado não faz referência a uma relação entre pais e filhos e sim a filhos enquanto meninos num relacionamento entre faixas etárias iguais. Numa especie de racionamento humano tal como este que tem como característica principal a horizontalidade. E o que chamo de horizontalidade é o que se pode deduzir de algo que não busca um fundo histórico e hierárquico. Portanto, sem nenhuma razão para se aprofundar. É algo de natureza e caráter superficial.

     É basicamente o tipo de analogia que se pode ver quando Jesus se dispõe a comparar o tipo de geração com que ele no exato momento de seu discurso se depara. Meninos tendo o seu momento de lazer numa praça queimando suas calorias. Vale dizer que este tipo de analogia não tem por objetivo ajuizar algum tipo de ação condenatória da parte de Jesus. Esse tipo de analogia mostra o quanto ele estava antenado com sua época. Assim como revela sua capacidade de diálogo ao elencar fatos corriqueiros da vida de um povo em sociedade.

     Como não existe nenhum tipo de aprofundamento a nível de uma reflexão mais aprofundada sobre questões da vida que mais nos afligem. Nossas palavras proferidas são bastante aleatórias e descompromissadas. E, como disse, isto faz parte de nossa vida social e comunitária. São entendidas modernamente como lazer e quando nos encontramos em um estado de espírito como este, a dimensão histórica, existencial e tudo quanto é carga que paira sobre nós se pararmos e contemplarmos as questões que mais nos afligem tendem a nos jogar pra baixo e a exigir um pouco mais de esforço de nossa parte. Isso é deprimente e desgastante.

     A forma banal e descomplicada com que tratamos os nossos problemas acarreta atitudes que beiram a irresponsabilidade pelo fato de não fazermos caso de nenhuma delas. Nos tópicos anteriores foram feitas algumas analogias entre a figura de João Batista e a dimensão e alusão histórica entre ele e o grande profeta Elias. A analogia era bastante adequada até por que ambos embora vivendo em épocas e momentos históricos diferentes em Israel tinham semelhanças quanto aos embates em que estiveram envolvidos e até mesmo no tipo de vida reclusa e solitária eram parecidos. Nas palavras e discurso de Jesus João Batista é dimensionado e equiparado do ponto de vista de um olhar retrospectivo e histórico ao profeta Elias.

     Mas, e esta geração contemporânea a Jesus? Ele simplesmente equipara a pessoas não imbuídas de objetivos, e, portanto, sem qualquer tipo de princípio norteador. A palavra adequada a eles era banalidade. Isto se revela pelo tipo de atitudes que tomavam e que se traduziam por palavras que atingiam em cheio a pessoa naquilo que de mais abjeto o homem faz ao desmerecer e reduzir qualquer pessoa através de um rótulo quase sempre depreciativo. No caso do Batista como fala o Senhor Jesus: "Tem demônio"; e no caso do Filho do Homem e sua missão: "Eis aí um comilão e beberrão."

     A palavra chave neste tópico é relacionamento. É chave por se tratar de um grande desafio. E o que se percebe nas afirmações de Jesus é que relacionamento é o que não existe. Pelas muitas razões e algumas foram aqui observadas e muitas outras são passíveis de se observar. Mas, elas se resumem ao que sinteticamente afirmamos quando não queremos ou não aceitamos que alguém faça parte de nossa vida ou das nossas relações. E se resume no amor ao próximo. Amar o próximo é aceitá-lo fazendo parte de nossa vida enquanto pessoa, enquanto ser humano. Pelo contrário a todo momento estamos dizendo às pessoas que se afastem de nós. Não as queremos perto e muito menos respirar o ar juntos em um mesmo local.

     Relação ou relacionamento como já foi dito até aqui é o grande ponto negativo da existência do homem. E isto tem uma ligação muito forte com o sentido de hierarquia ou hierarquização das coisas. Mas, não pensemos nisto como algo impositivo, autoritário e que nos faça menor do que já somos. Aliás da compreensão deste termo em sua aplicabilidade depende nossa própria existência e posteridade. Quando Jesus alude aos meninos comparando-os a sua geração ele fala das atitudes inconsequentes própria de nossas tenras idades e implicitamente está dado que precisamos da intervenção dos nossos pais para corrigir, orientar e fazer ver, se, nossas atitudes, sejam elas quais forem, têm sempre consequências quando não danosas para nós, para o próximo, ou para ambos. Os pais ou nossos orientadores são o tipo de relação hierárquica da qual dependemos.
     

V - São aqueles que se tornam imunes aos juízos divinos que estão para acontecer num futuro bem próximo.(V.V. 20-24)



     O fato de que estamos a cada dia, todos os dias e sempre com aquela sensação de que algo não anda bem, algo está errado. Prenuncia de alguma forma que há em nós intrinsecamente uma espécie de capacidade para discernimento das coisas. Temos a consciência de que o pecado se alojou e se enraizou em nós. Ao mesmo tempo que, quando adquirimos ainda que superficialmente, a capacidade de não nos conformarmos com este sentimento e sensação incômoda em nós. Entendemos, ou esta presença inoportuna nos faz refletir que nossa criação e vocação não é para o pecado. Eu me lembro de Paulo em seus momentos de crise e da forma como poética e teologicamente se expressa acerca da presença incômoda do pecado. Esse inconformismo de Paulo tem uma vitalidade descomunal:
  "Mas vejo nos meus membros outra lei, que batalha contra a lei do meu entendimento, e me prende debaixo da lei do pecado que está nos meus membros." (Romanos 7:23)

Mas vejo nos meus membros outra lei, que batalha contra a lei do meu entendimento, e me prende debaixo da lei do pecado que está nos meus membros.

Romanos 7:23
Mas vejo nos meus membros outra lei, que batalha contra a lei do meu entendimento, e me prende debaixo da lei do pecado que está nos meus membros.

Romanos 7:23


     Por outro lado, a presença incômoda, inoportuna, inconveniente, e etc. do pecado, aponta para o fato de que somos sim passíveis de sermos trazidos a juízo. Apesar de trazermos conosco um caráter e natureza distorcido pelo pecado. E de que em alguns momentos temos a tendência de justificarmos o injustificado. Ainda assim somos seres morais e, por conta disso, deveríamos ter o desprendimento e capacidade para percebemos que a glória de Deus não cessou de se revelar a nós. Mas, como o próprio Paulo afirma: Distorcemos no sentido de transformar a revelação do Deus incorruptível em algo corruptível (Romanos 1:23)

     Levando em consideração as palavras do apóstolo no parágrafo anterior, podemos deduzir que ao elencar tais fatos como atitudes mesquinhas e depravadas do homem. Paulo poderia estar pensando também nos episódios a que o Senhor Jesus se reporta neste texto de Mateus e do rigor com que as pessoas das cidades, pela ordem: Tiro, Sidom e Sodoma, foram punidas pagando com a própria vida. E mesmo que não estivesse pensando neles especificamente, esses eventos relatados pelo Senhor Jesus se enquadram no tipo de palavra que o apóstolo se utiliza para fazer referência ao que hoje chamamos dentro da HAMARTOLOGIA(**), de depravação do homem.

     A palavra de advertência que Jesus dirige aos seus contemporâneos é no sentido de que se aquele juízo divino foi tão rigoroso para Tiro, Sidom e Sodoma, o tipo de juízo divino que se reserva à sua geração. E especificamente para as cidades da Galileia onde ele mais operou milagres e prodígios. O rigor do juízo divino será ainda maior. Vale aqui um adendo a esse respeito: Muito embora, eu não seja um perito em direito penal. Aqui, não se fala de culpar uns e absolver outros. No que diz respeito ao pecado todos nós somos indesculpáveis. Mas, eu imagino que apesar da passividade da culpa, a dosimetria de aplicação de penas leva em consideração o tipo de delito que se comete. Um homicídio triplamente qualificado terá uma pena maior do que uma infração de transito que redundou apenas em danos materiais.

     Nas palavras de Jesus o que está em discussão não é o tipo de condenação, mas o fato de que por estarmos propensos a pecar independente ou não da gravidade do delito sempre haveremos de transgredir o princípio legal imposto. Este princṕio vale para qualquer ser humano e em qualquer situação. E para nos limitarmos apenas às cidades da Galileia por onde o Senhor mais andou e por onde operou a maior parte de seus milagres. Do ponto de vista social, cultural e principalmente religioso. Eram cidades onde habitavam pessoas humildes. Tanto que na resposta que Jesus envia a João Batista no cárcere, ele diz que aos pobres é anunciado o Reino de Deus. A condição social dessas pessoas não impediu Jesus de lhes pregar o evangelho para arrependimento dos pecados. E estas pessoas não se encontravam imunes diante de Deus de tal forma que não mais fossem passíveis de receber um juízo condenatório divino. 

     Nas palavras de Jesus todos e em qualquer geração que estejam são passíveis de Juízo. No entanto, o rigor seria menor para os de Tiro, Sidom e Sodoma. E porque isto, qual a razão desse abrandamento? Os contemporâneos de Jesus têm um vasto relato de situações e fatos onde a intervenção divina se fez presente de uma forma ajuizadora de pecados e faltas cometidas pelo povo. Como se não bastasse, nesse ato contínuo de revelação progressiva de Deus (Hebreus 1:1), o tempo escatológico é o aspecto demarcador pelo qual Deus se revela agora e de forma definitiva através do Filho. Não existe mais nada a ser revelado da parte de Deus aos homens que vá além dessa relação filial entre Deus e o homem e que se encontra revelado em Cristo.

     Pelas próprias palavras de Jesus fica claro que ninguém pode se tornar indesculpável diante de Deus. O fato de que haverá menos rigor para Tiro, Sidom e Sodoma do que para aquela geração contemporânea de Jesus não os exime de que são passíveis de Juízo e serão submetidas à condenação divina. Embora o rigor seja menor, ainda assim existe um juízo e, portanto, a pressuposição de culpa. Por outro lado, se no passado a manifestação divina fosse mais clara e mediada por intervenções fenomenológicas. Agora, no exato momento em que o Senhor profere essas palavras dos juízos vindouros e divinos a pena destes que não conseguem ver a revelação divina, será por não perceberem a revelação de Deus em Cisto tal qual nos ocuparemos no tópico a seguir. E apenas haverá imunidade quanto aos juízos divino que estão para se manifestar se as pessoas forem capazes de aceitarem se relacionar com Deus pela mediação do filho.

VI - São aqueles que veem na relação e revelação filial de Jesus o caminho da reconciliação com Deus.(V.V. 25-30)



     Outro detalhe que o redator através do texto deixa claro, é que Jesus está sendo interpelado pelos seus contemporâneos. E a forma como ele responde às indagações é outra maneira de apontar a mudança de perspectiva quando o assunto é revelação divina. Apesar do fato de que os prodígios e maravilhas que ele operava no meio do povo seja o indício de que fosse detentor de dons CHARISMATICOS(***). Aquelas pessoas não deveriam apenas se preocupar com o que estavam vendo e sim, em se perguntarem como ele operava tais prodígios. Não nos esqueçamos de que uma das calúnias que sempre se levantou contra ele era de que operava aquelas maravilhas, uma delas a expulsão de demônios, pelo príncipe dos demônios(Mateus 9:34,12:24; Marcos 3:22; Lucas 11:15). Neste mesmo texto, não apenas Jesus, mas o próprio Batista foi vítima deste tipo de blasfêmia(Verso 18). 

     Mas foi feita a afirmação no parágrafo passado de que em Jesus se experimenta, pela observação que se faz ao tipo de relacionamento entre ele e o Pai, uma transformação radical com respeito ao relacionamento com Deus via religião ou culto religioso. Parece que toda aquela parafernália de instrumentais litúrgicos do templo estava carregada de elementos com poder restritivo quando o assunto era um relacionamento direto, próximo e mais intimo com Deus. Ao que tudo indica e há vários indicadores desse pensamento, a religião em Israel nos tempos de Jesus afastava mais do que aproximava o homem de Deus. Aliás este afastamento, historicamente, conduzia o povo a uma espécie de comoção nacional por trazer consigo algumas inquietações nacionalistas ocasionadas pela geopolítica de dominação romana.

     Não é sem propósito que o redator deste evangelho alinha, pela ordem de surgimento no cenário político e religioso em Israel, João Batista e Jesus. Ele conduz a narrativa tendo como pano de fundo o tipo de sentimento que dominou o imaginário político de Israel desde que Deus não mais levantou profeta para falar a seu povo. Pairava sobre todos o sentimento de que Deus literalmente abandonara seu povo, e por isso não mais levantava profeta. E os que se levantaram buscando ocupar este espaço no imaginário do povo não foram a diante e pelas razões óbvias. Primeiro porque não eram chamados por Deus. E depois, com a ocupação romana nesta região da Palestina, no máximo eram oportunistas insurretos que buscavam formar e encabeçar movimentos nacionalistas(Atos 5:34-37), e, para tanto, aduziam ao modo de interpelar o povo elementos com conotações políticas e religiosas.

     A situação em Israel do ponto de vista político, social e religioso era catastrófica. Se por um lado, e, muito embora vivessem sob o jugo romano, esta situação era bem cômoda para a elite religiosa e intelectual principalmente daqueles que habitavam em Jerusalém. Para o restante do povo que habitavam as demais regiões o ambiente era desalentador. Não nos esqueçamos do arranjo político ocorrido entre os romanos e Herodes e que lhe deu o direito de usurpar o trono em Israel sem que, por lei ou linhagem, tivesse qualquer tipo de direito.

     Ainda assim e apesar do quadro catastrófico tal qual fora pintado nos parágrafos anteriores. Jesus em sua oração é claro em afirmar que tudo tem estado debaixo do controle de Deus Pai. E nada do que tinha acontecido até o exato momento de sua oração fugia a ao controle do Pai. Ele também se apresenta como único e real herdeiro do que Deus tem para os homens. E, afinal de contas, toda e qualquer benção que o homem tenha que receber da parte de Deus Pai, apenas acontecerá por meio do Filho. Pois, segundo ele: "Tudo me foi entregue por meu Pai."

     Há algo de emblemático em suas palavras pois alcançar o conhecimento de Deus conforme a oração do mestre, agora depende de como o homem vê, entende e aceita a relação de Jesus enquanto filho de Deus. Não entender, ou não aceitar esta relação significa fica de fora do que Deus tem para revelar ao homem. Ele conhece o Pai e do Pai é conhecido e o conhecimento de Deus agora acontece pela vontade do Filho. Pois apenas se conhece a Deus porque o Filho por sua vontade quis revelar. E essa relação afetiva que envolve a relação do Pai com o Filho que será o padrão utilizado para que também o homem conheça e tenha acesso a revelação divina. É uma relação de pertencimento e de envolvimento.

     Neste convite afetivo e amabilíssimo do mestre a todos os homens, ele sabe que o homem anda sobrecarregado com os afazeres deste mundo. Ele sabe que por mais que o homem possa se tornar alguém bem sucedido profissional e financeiramente, ainda assim isto não é suficiente para que o homem se sinta em paz consigo mesmo. O grande calcanhar de Aquiles do homem desde o Éden foi o fato de que ele almejou ser igual a Deus. E por isso, a sua queda foi trágica e danosa para todos que vieram depois. O que Jesus neste gesto de amor e com uma palavra convidativa faz é ofertar ao homem a oportunidade de se redimir do sentimento que desde a "Queda" faz parte da vida do homem. E essa redenção ocorre pelo reconhecimento de que em Cristo o homem se submete novamente a Deus.

     O primeiro efeito depois dessa atitude de submissão do homem a Deus por meio de Cristo é o alívio desse fardo que o homem tem carregado. Isto implica no reconhecimento de que apesar de sermos livres para tomarmos a decisão que julgarmos correta. Podemos até mesmo dizer que somos escravos da nossa própria liberdade. O que o evangelho nos ensina não é que seremos livres sem que não devamos qualquer tipo de obediência a Deus. Pelo contrário, o que Jesus convida que façamos é nos submetermos ao senhorio e vontade divina.

     Tomar sobre nós o seu jugo, ou canga, ou parelha. A metáfora desse instrumento que faz com que o animal de tração seja conduzido conforme a vontade do seu condutor. A princípio, pode parecer uma atitude arbitrária, impositiva e por demais violenta. Porém, ao mesmo tempo que o Senhor Jesus propõe o seu jugo ao homem ele pede para que este homem aprenda com ele que é manso e humilde de coração.

     Por mais violenta que possa parecer a imagem utilizada por ele. Ele pede ao homem que preste atenção não apenas no que a imagem por si só apresenta. Ele quer que o homem independente da imagem que é forte quanto ao jugo, preste atenção na figura do condutor que é o próprio Senhor Jesus. Ao experimentar o jugo de Jesus o homem aprenderá que ele é manso e humilde de coração. Ao primeiro contato com o mestre aceitando e se submetendo a seu jugo. Ele diz que o homem encontrará descanso para sua alma. Por uma simples razão: O jugo dele é suave e o seu fardo é extremamente leve. 




CONCLUSÃO


     Ver-se na condição de discípulo significa ser alguém que está propenso a ser discipulado por Cristo e o aceita como seu mestre. Significa que se propõe se submeter enquanto discípulo à disciplina de Jesus. Neste caso, e somente por meio do discipulado de Cristo, nos tornamos receptivos. E apenas e tão somente propagamos a mensagem do Reino de Deus, pelo fato de termos nos tornado antes discípulos de Jesus e receptivos a sua mensagem acerca do Reino de Deus. 

   Curiosamente é com a mensagem trazida por Jesus sobre o Reino de Deus que o mesmo se torna uma realidade. Isto é, o Reino pode ser entendido como aquele estado de espírito onde o que impera é a vontade soberana de Deus. Há vários exemplos no Novo Testamento que evidenciam com clareza este tipo de afirmação. Porém, de minha parte, pelo menos, o exemplo que mais chama minha atenção é a narrativa da oração do Pai Nosso (Mateus 6:9-13; Lucas 11:2-4).
     
   Aqueles que alcançam a condição de discípulos de Jesus, foram capazes através do discernimento que o próprio Jesus lhes oferece de migrarem de um discipulado a outro. Isto aconteceu com boa parte dos discípulos de João Batista. Tanto durante o período de peregrinação de Jesus pela Galileia, quanto durante o período de expansão do cristianismo relatado no livro dos Atos dos Apóstolos (Atos 18:24-25; 19:1-7).  

  E migrar de discipulado significa migrar de um mestre para outro. Notemos que a forma distintiva detectada e que fazia toda a diferença está nas palavras de Paulo do capítulo 19 de Atos, no verso 4. O apóstolo observa que aquele batismo era de transição tal qual foi o ministério de João Batista. O selo de novo batismo está simbolizado pela imposição de mãos, assim como o processo de transição de um discipulado para outro. Aqueles 12 servos agora são discípulos de Jesus.


   E embora tenham a capacidade de migração de um mestre para outro mestre, aduz-se a isso a capacidade de observarem os movimentos da história e discernirem o agir sobrenatural de Deus.  Esse tipo de capacidade deve ser uma realidade sempre presente na vida e experiência de cada discípulo de Jesus. Não dá para ficar apenas na expectativa de que as coisas se modifiquem sem que tenhamos um papel mais proativo em nossas posturas enquanto discípulos. 

     E papel proativo significa percebermos tal qual o próprio evangelho de Mateus neste trecho do capítulo 11: 12-15. Onde o mestre nos ensina a maneira de olharmos o movimento da história com a abordagem de um agir sobrenatural de Deus. Isso faz com que possamos agir com discernimento e poder de síntese. Foi o que Jesus fez neste trecho do evangelho ao aludir a eventos da história de seu povo Israel relacionando-os com a figura de João Batista. 

    João por ser também um profeta, o mestre em forma de advertência deixa aquela expressão típica e característica da qual todo profeta ao falar ao povo em nome de Deus fala: "Quem tem ouvidos para ouvir, ouça." A questão do ouvir era de crucial importância para aquela época. Por possuir forte apelo popular. E por uma simples razão. Apenas as classes abastadas dos palácios e uma elite intelectual e minoritária de rabinos dominavam a confecção e produção de informações através da escrita de textos.

   Por estarmos falando de uma forma em que a participação do discípulo seja proativa. E isto pelo fato de que a interpelação de Jesus deixa margem para isto, já que ele convida a todos a analisarem e observarem com ele os rumos que a história de seu povo tem tomado. Pode ser que alguns entendam e vejam o Reino de Deus apenas com aquela aparência de um ideal subjetivo a ser buscado; Porém, ele é balizador de um ponto vista hierárquico, com uma relação profunda e ajuizadora de nossas ações de tal forma que não nos apresentamos como crianças levianas e inconsequentes. 

   Muito embora a crítica velada de Jesus girasse em torno de uma atitude pueril por parte de seus contemporâneos, isto por si só não os isenta do rigor de Deus quando este traz o homem a juízo. Independente das condições em que nos encontramos somos a todo momento trazidos a juízo por Deus. A única coisa que devemos ter clareza é de que o juízo pode ser mais, ou menos rigoroso. Mas, não há nada que, a rigor, nos isente da culpa que carregamos por sermos pecadores e dos atos que praticamos estando nesta condição de pecadores.

     Agora, vou me valer da oração enquanto uma ferramenta extremamente poderosa e eficaz tal como Jesus nos demonstra a cada momento em que ele interpela a Deus-Pai em oração. Por agora, é importante saber que uma das característica das orações de Jesus é que elas são literalmente desprovidas desse caráter litúrgico  do qual todas elas, sem exceção, se revestem. E mais uma vez a mão do redator aparece de forma providencial neste capítulo. Já que depois dos discursos encadeados por palavras de advertências que marcadamente ditam o ritmo da própria narrativa. O último tópico revela a maneira afetiva com que o Filho se relaciona com o Pai.

     Se observarmos o movimento de todo este capítulo, veremos que o mestre termina de dar instruções a seus discípulos e é logo abordado por alguns discípulos que não são os seus. Porém, são emissários de alguém que falava e pregava a cerca da chegada dele, Jesus. Estes discípulos são instruídos a perguntarem se ele, Jesus, correspondia às expectativas criadas pela pregação de João Batista. E, caso a resposta fosse positiva, esses discípulos consequentemente seriam incorporados ao grupo dos discípulos e seguidores de Jesus.

    Na resposta oferecida pra que estes discípulos levassem a João há o relato de uma série de milagres e prodígios operados por Jesus. Todavia, e ao final do relatos dessas operações milagrosas, o que Jesus acrescenta é que além disso aos pobres é anunciado o Reino de Deus. E quero pegar essa referência ao pobre não necessariamente por razões ideológicas. Até porque, já afirmei inúmeras vezes que o problema da pobreza não é algo que Deus tenha que resolver: "Os pobres sempre os tendes convosco" (João 12:8).

     Essa palavra pobre ou o substantivo pobreza é emblemática, principalmente quando aparece na boca de Jesus. No caso deste capítulo e, especialmente pelo fato de que o mestre fala aos pobres e mesmo assim não abre mão falar principalmente que Deus trará todos a juízo, quer sejam ricos; quer sejam pobres. Outro detalhe interessantíssimo é o fato de que a escolha da Galileia para residir e de onde tem início seu ministério está vinculada a forma como ela sempre fora tratada. Era uma região habitada por gentios. E por isso estigmatizada como região e sombra da morte. Um lugar onde Deus não habitava (Mateus 4:14-17).

     Os pobres ou a forma como a pobreza é tratada a todo tempo e em todo lugar. São a massa, ou os imensos contingentes de pessoas que sem voz se veem alijados de qualquer papel proativo no meio social em que vivem. Eles não têm existência própria e, por conta disso, também não possuem existência histórica. No máximo, o que acontece a partir deles é o descolamento de alguma dessas figuras que emergem de seu meio e potencializam suas amarguras e sofrimentos.

      Anunciar o Reino de Deus aos pobres é dar identidade, autonomia e responsabilidade a ele. E por causa disso eles também são passíveis do juízo divino. E é aí que novamente retomo aquela ideia colocada no início deste tópico onde falava da oração enquanto ferramenta utilizada por Jesus. A sua relação íntima e afetiva junto a Deus-Pai é indicadora de que agora e independente daqueles aspectos litúrgicos e mágicos das orações praticadas nos templos e sanagogas. Agora e em qualquer lugar Deus é passível de ser encontrado e aquele que o invoca pode ter a certeza de que por Ele é ouvido.

     A forma meiga com que Jesus trata o Pai e de como ele convida as pessoas a virem a sua presença. Não apenas inaugura um novo tempo e uma nova maneira de nos relacionarmos com Deus. Ela também nos ensina que nem por isso Deus deixou de impor a sua vontade e soberania. Ela nos convida a aceitarmos o senhorio de Cristo em nossas vidas. Este convite aliado ao conceito de senhorio e soberania é uma forma de aprendizado. E naturalmente experimentamos o quanto este fardo que resolvemos assumir ao aceitar Jesus é suave e leve. Amém !!!


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BIBLIOGRAFIA

STOTT, John. O discípulo radical. Tradução: Meire Portes Santos
       Viçosa - MG: Ultimato, 2011. 120 p.

JEREMIAS, Joachim. Teologia do Novo Testamento. Trad. João Rezende Costa
       São Paulo, Ed. Paulinas. 1977. 497 p.

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 (*) KADISH - Expressão do aramaico que significa sagrado. Grupo de rezas cotidianas que têm como ênfase a glorificação do nome de Deus.

(**) HAMARTOLOGIA - Termo de origem grega com o qual a Teologia Sistemática aborda a doutrina do pecado.

(***)CHARISMATICOS - termo de origem grega e que está relacionado a dons. O mesmo que capacitação que vem diretamente da parte de Deus e mediada pelo seu Espírito.


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Καὶ ἐγένετο ὅτε ἐτέλεσεν Ἰησοῦς διατάσσων τοῖς δώδεκα μαθηταῖς αὐτοῦ μετέβη ἐκεῖθεν τοῦ διδάσκειν καὶ κηρύσσειν ἐν ταῖς πόλεσιν αὐτῶν
δὲ Ἰωάννης ἀκούσας ἐν τῷ δεσμωτηρίῳ τὰ ἔργα τοῦ Χριστοῦ πέμψας διὰ τῶν μαθητῶν αὐτοῦ εἶπεν αὐτῷ Σὺ εἶ ἐρχόμενος ἕτερον προσδοκῶμεν Καὶ ἀποκριθεὶς Ἰησοῦς εἶπεν αὐτοῖς Πορευθέντες ἀπαγγείλατε Ἰωάννῃ ἀκούετε καὶ βλέπετε τυφλοὶ ἀναβλέπουσιν καὶ χωλοὶ περιπατοῦσιν λεπροὶ καθαρίζονται καὶ κωφοὶ ἀκούουσιν καὶ νεκροὶ ἐγείρονται καὶ πτωχοὶ εὐαγγελίζονται καὶ μακάριός ἐστιν ὃς ἐὰν μὴ σκανδαλισθῇ ἐν ἐμοί

Jesus Testifies about John
16 Τίνι δὲ ὁμοιώσω τὴν γενεὰν ταύτην ὁμοία ἐστὶν παιδίοις καθημένοις ἐν ταῖς ἀγοραῖς προσφωνοῦντα τοῖς ἑτέροις 17 λέγουσιν Ηὐλήσαμεν ὑμῖν Καὶ οὐκ ὠρχήσασθε Ἐθρηνήσαμεν Καὶ οὐκ ἐκόψασθε 18 Ἦλθεν γὰρ Ἰωάννης μήτε ἐσθίων μήτε πίνων καὶ λέγουσιν Δαιμόνιον ἔχει 19 ἦλθεν Υἱὸς τοῦ ἀνθρώπου ἐσθίων καὶ πίνων καὶ λέγουσιν Ἰδοὺ ἄνθρωπος φάγος καὶ οἰνοπότης τελωνῶν φίλος καὶ ἁμαρτωλῶν καὶ ἐδικαιώθη σοφία ἀπὸ τῶν ἔργων αὐτῆς

Woe to the Unrepentant
20 Τότε ἤρξατο ὀνειδίζειν τὰς πόλεις ἐν αἷς ἐγένοντο αἱ πλεῖσται δυνάμεις αὐτοῦ ὅτι οὐ μετενόησαν 21 Οὐαί σοι Χοραζίν οὐαί σοι Βηθσαϊδά ὅτι εἰ ἐν Τύρῳ καὶ Σιδῶνι ἐγένοντο αἱ δυνάμεις αἱ γενόμεναι ἐν ὑμῖν πάλαι ἂν ἐν σάκκῳ καὶ σποδῷ μετενόησαν 22 πλὴν λέγω ὑμῖν Τύρῳ καὶ Σιδῶνι ἀνεκτότερον ἔσται ἐν ἡμέρᾳ κρίσεως ὑμῖν 23 Καὶ σύ Καφαρναούμ μὴ ἕως οὐρανοῦ ὑψωθήσῃ ἕως ᾅδου καταβήσῃ ὅτι εἰ ἐν Σοδόμοις ἐγενήθησαν αἱ δυνάμεις αἱ γενόμεναι ἐν σοί ἔμεινεν ἂν μέχρι τῆς σήμερον 24 πλὴν λέγω ὑμῖν ὅτι γῇ Σοδόμων ἀνεκτότερον ἔσται ἐν ἡμέρᾳ κρίσεως σοί

Rest for the Weary
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Fiquem com a fé!!!

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