Uma coluna identificada como 360 Graus do Correio Brasiliense publicou uma matéria, no sábado passado 12/10/2019, por ocasião do dia das crianças, intitulada: "Eles são o futuro do Brasil". Evidentemente que não faltaram críticas ao periódico. Tanto que o próprio Correio Braziliense veio a público se retratar reconhecendo que errou ao deixar que tal matéria fosse publicada. E tudo isto em função de manifestações de seus leitores de acordo com o texto de retratação: "Leitores protestaram contra a hegemonia branca." 

     O que veio a seguir na tal retratação, apenas reproduz aqueles discursos que desde sempre estamos acostumados a ouvir nos variados setores da sociedade a partir de seus interlocutores, dentre os quais, não tenho a menor dúvida que o Correio Braziliense se inclui. Ou seja, discursos que, a rigor não levam a nada. E os seus objetivos são bastante definidos. Manter a situação tal qual está neste momento. Pra refinar um pouco mais, diria que servem apenas para a manutenção do STATUS QUO.

     E o tal do status quo a que me refiro está bem nítido, não necessariamente no teor da matéria em questão e objeto desta reflexão. E sim no referido texto de retratação e a referência feita ao tipo de insatisfação dos leitores que ao protestarem, protestaram contra a "hegemonia branca." Até acho que tanto a matéria em questão e o seu resultado que é a própria insatisfação dos leitores, foi algo articulado, melhor dizendo, orquestrado.

     Essa orquestração a julgar por boa parte do texto de retratação em que se enaltece a forma como o jornal surgiu e que está diretamente ligado a fundação do Distrito Federal e de como desde  o seu surgimento, Brasília se constituiu como elo de ligação das duas realidades de Brasil. Ou seja, aquela famosa xaropada de sempre que objetiva despertar a atenção para os valores que perpetuam o projeto de unificação do país e que estão representados na história e surgimento de Brasília e, por extensão, o Correio Braziliense é uma plataforma de mídia impressa que tem sua história também atrelada ao surgimento da cidade.

     A questão a cerca da insatisfação dos leitores, entendo e tenho  absoluta certeza que estes leitores se indignaram mesmo com o que foi publicado. Mas, é o tipo de indignação e insatisfação que não oferece algum tipo de efetividade prática. Primeiramente pelo fato de que leitores insatisfeitos é um dado por demais genérico. Também tenho certeza que, muito embora não tenha como precisar em níveis percentuais esse tipo de insatisfação, há também entre os leitores do jornal aqueles que se veem representados por esta matéria. 

     Talvez, fosse o caso de se levantar a totalidade dos assinantes, tidos como leitores do jornal. E depois comparássemos com o percentual dos que se manifestaram de forma contrária à matéria. De todo modo, a simples manifestação de leitores não oferece pra efeito de análise das repercussões da matéria absolutamente nada. Não são os indivíduos que ocupam papel proativo em qualquer grupo social. Por outro lado, como tento delimitar este texto, faço limitando a tecer alguns comentários que refletem duma maneira generalizada algumas de minhas percepções. 

     Estas percepções, muito pessoal de minha parte, carecem de um tratamento de cunho acadêmico que demande algum tipo de levantamento de informação no sentido de que a apuração e ajuizamento de uma situação gravíssima como esta possa repercutir e resultar em algum tipo de providência por parte dos agentes públicos, principalmente aqueles ligados ao judiciário e ao ministério público em especial. 

   No meu raciocínio, se o princípio constitucional afirma que todos são iguais perante a lei, por que será que uma matéria como esta em tom afirmativo e categórico indica que o futuro do país está restrito a uma determinada raça ou cor de pele tão somente? Será que o tipo de matéria não seria suficiente para provocar o ministério público em uma ação pública visando colher explicações do real objetivo a se buscar com a referida matéria?

     Fiz uma afirmação análise da quase pífia manifestação de insatisfação dos leitores, e que pelas razões já explicitadas, não produzem do ponto de vista de sua eficácia absolutamente nada. Mas, não falei dos movimentos sociais que como agentes representativos da sociedade civil têm o direito e a obrigação de se manifestarem com notas de repúdio e de buscar no conjunto de nossas leis, algo que embase uma ação civil que provoque o ministério público a se manifestar sobre a mesma. 

     Sinceramente, não sei dizer se isto aconteceu ou ainda acontecerá. Pois, como disse, este texto reflete muito mais uma reflexão de caráter pessoal. Ele também é produto de minha indignação e insatisfação, muito embora não seja leitor e muito menos assinante deste jornal. Porém, do ponto de vista da conjuntura política atual e a prevalência de princípios tidos e ditos de natureza conservadora. A matéria é emblemática e reflete o fato de que se demos um passo a frente, andamos dois para trás.

     Por outro lado, o que chama atenção nesses sucessivos lapsos de memória a cerca do compromisso e sentimento de civilidade que deveria ser a tônica nas redações ou ilhas de notícias espalhadas por este país. São os seguidos erros de juízos cometidos pela mídia e, neste caso em especial, um periódico que goza de um certo respeito na mídia impressa.

     Pode ser que a matéria tenha objetivado trazer a discussão a questão da educação e por extensão o futuro de uma infância que não é visto pela lente dos repórteres de mídia impressa e muito menos seja objeto de qualquer artigo de periódico, que por mais inclusivo que seja, a própria situação e catástrofe social a que estamos submetidos os impeça de um tratamento mais positivo quanto ao futuro daqueles pequeninos que não se adequam ao perfil traçado pela fotografia.

     Pode ser também uma jogada de marketing, já que houve retratação por parte dos editores do jornal. Nem por isso o jornal em questão deixou de ficar em evidência. E dessa maneira aguçou a curiosidade daquele cidadão com mentalidade inclusiva, mesmo que ao se expressar seja em tom de censura. Ao mesmo tempo que aquele mais conservador e defensor da ideia de que tudo que conseguiu na vida é ou foi por seus méritos se viu recompensado e representado em saber que o seu filh(a)o ou net(a)o tem sim um futuro garantido.

     A maior evidência de um jornal, mesmo que seja por uma, duas ou três semanas. Vai depender dos desdobramentos e repercussão que a referida matéria terá. Pode ser transformado em algum tipo de contrato publicitário, ou até mesmo algum contratante tenha encomendado tal matéria visando alcançar algum nicho de mercado. O que é certo e devidamente comprovado em tudo isto, é a existência de uma lógica capitalista e macabra. 

     E quando se faz alusão à lógica capitalista, não há como não pensar na existência de um mercado diversificado para a produção de conteúdos e bastante promissor a ser explorado. É por essas e outras que se impõe quase sempre ao que se chama de sistema capitalista o estigma de sistema imoral ou amoral, por conta da perseguição voraz aos lucros e dividendos. Não importando que ao longo de sua construção histórica, sua lógica perversa também tenha provocado debates e discussões acirradas a cerca de valores éticos e morais.

     Se tivéssemos que fazer uma análise do ponto de vista de uma mensagem subliminar, diria que, além do fato de que neste "país do futuro" não haja espaço para nossa diversidade étnica. A própria imagem fotográfica composta por três lentes. Sendo que a que possui o maior diâmetro serve como base para as outras duas com diâmetros menores, tem o formato da cabeça do Mikey Mouse. Se analisarmos esta matéria pelo viés nacionalista, o nosso inconformismo deveria ser muito mais gritante e apaixonante.

     Pode ser que no exato momento que este texto passe pelo olhar daqueles intelectuais de plantão. A web está repleta deles, um deles  ou mais de um queira opinar de tal maneira que faça a análise da expressão por mim utilizada no parágrafo acima: "Viés nacionalista." E já me deparei com muita regularidade nessa tentativa de se distinguir o sentido do que seja um nacionalista e um patriota. Sendo que o nacionalista, quase sempre que me deparei com esse tipo de análise e distinção, é aquele a quem se atribui teor  e significado pejorativo.

     Mas, voltando a falar do formato da foto que exibe esse enquadramento focal de lente e que faz referência ao Mikey Mouse. A cerca de uns 30 anos atrás, quando ainda estava na universidade, nesta época cursava letras na UERJ. E todo universitário tem aquele grupo com quem se identifica mais. Mesmo que fossemos de graduações diferentes, mas o sistema de créditos te ajuda a romper as diferenças entre os alunos de alemão, inglês, francês, italiano, etc. 

     Lembro que um dos colegas cursava italiano e trazia em mãos o gibi do Mikey em italiano. Mas, em Italiano, Mikey não é Mikey, ele é TOPOLINO, o mesmo que ratinho na língua italiana. Aqueles agentes públicos do governo italiano que se ocupavam ou se ocupam das responsabilidades quanto a conteúdos, mesmo que esteja na linha de entretenimentos para uma faixa etária tão sensível como infância e adolescência. Sabem como nunca o valor cultural que uma língua nacional tem. Alguém certa vez disse que quem aprende uma outra língua, absorve a ideologia do povo falante da mesma(Passim). 

     E com todos os avanços que já alcançamos em educação, pois no passado, era muito pior. Não há setor mais sucateado do que a educação. E este sucateamento ocorre principalmente na educação pública. A figura do profissional de educação tem baixa remuneração, além de sempre ser desrespeitada sofrendo seguidas ações violentas por parte de outros órgãos da administração pública. A julgar novamente pela foto em formato de Mikey Mouse, e por uma lógica natural onde alguns elementos podem e devem ser descartados. Um deles é a escola pública, ou seja, esses que se apresentam nesse enquadramento de lente sob formato de cabeça do Mikey não são alunos de escolas públicas. 

     Também não são moradores de periferia das grandes cidades. São todos de classe média. Filhos e netos de profissionais como engenheiros, médicos, dentistas. O padrão de vida indica que tenham uma renda mínima em torno de R$30.000,00 (Trinta mil reais). Possuem dois ou mais imóveis na faixa de R$800,000,00 (Oitocentos mil reais). E seguindo a lógica estabelecida por este jornal, desde que fazendo pela análise quanto ao poder aquisitivo daqueles que realmente tem futuro neste país. Deduz-se que quem realmente tem vontade política para mudar esse quadro, ao contrário, luta pela sua manutenção.

     O que dizer então do nosso sistema educacional que vive a esquizofrenia estrutural. Totalmente avesso a qualquer tipo de política pública que objetive prover as camadas populares dos instrumentos necessários para sua de ascensão social. Seja qual for a intenção deste periódico desde a matéria bem como a retratação. Acho que estão dando um tiro no pé. Na realidade se alguém acha ou entende que apenas essas crianças da foto é que possuem futuro neste país. Na realidade, são essas crianças que não possuem futuro. Elas são minoria. Quando falamos em minoria, falamos de minoria num país com uma densidade populacional acima dos 200 milhões. E um dia essa conta será cobrada










 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Fiquem com a fé!!!

  Texto - Hebreus 12:1-16 Tema - Fiquem com a fé!!! ICT - Assim como essa grande nuvem de testemunhas do passado. É nosso dever e obrigação ...