Como lidamos com  a pobreza desde uma abordagem evangélica, bíblica e teológica?


      A construção deste texto é uma tentativa de reintroduzir o assunto pobreza no radar de uma abordagem teológica. Entretanto o objetivo não é o de pensar que se pode fazer deste momento o uso indevido da questão propriamente dita. A pobreza é  e sempre será um problema e as alternativas como medidas ou políticas de governos adotadas são sempre  com o objetivo de se minimizar os efeitos nefastos por ela provocados. Se a olharmos como uma espécie de doença, ela pode, entre outras análises de descoberta de sua causa e origem, ser apontada como parceira dos obsoletos sistemas educacionais vigentes em boa parte do mundo dito civilizado e ocidental.  

      Esta reflexão também é a constatação de que neste momento e ao longo dos anos em que estive envolvido com esta temática, apontar as suas causas nem sempre é tarefa das mais enriquecedoras. Já que estamos falando não de números. Porém de seres humanos que se avolumam a cada dia que passa em contingentes cada vez maiores de pessoas desprovidas de recursos mínimos para a sua sobrevivência. E a medida que o tempo passa, a impressão que se tem é de que este problema se torna sem solução a médio e longo prazo.

     A pobreza é de longe a moeda de troca das ideologias para a construção de suas bases teóricas que justifiquem suas aspirações e, porque não, seus projetos políticos de poder.  Quando era mais jovem, eu tinha uma capacidade maior de raciocinar utilizando números que retratassem os grandes desafios e dilemas sociais que pudessem contribuir para a erradicação da pobreza. Esse tipo de idealismo que muitas vezes se confundia com altruísmo ainda continua vivo em mim, mas aquela capacidade  de raciocinar com desenvoltura se foi. 

      Por outro lado, a capacidade de percepção e síntese se amplia. Faço essa auto análise como resultado do meu desempenho ministerial. Assim como é também através dessa práxis pastoral que tento distinguir o assunto e temática pobreza daquilo que toca diretamente o pobre em seu contexto de vida comunitária. Especificamente sobre o pobre, o que faço são apontamentos que levam em consideração a minha atividade como pastor. Pode ser que a revelação que faço do ponto de vista de minhas capacidades encontre identificação  com colegas de minha faixa etária, mas não é este o objetivo a que se presta este texto.

      Pois bem, se é do alto de minhas experiências enquanto pastor que resolvi produzir este texto. Ele então deve tornar claro o matiz teológico e ou ideológico pelo qual se pauta. Não é nada surpreendente, logo, não pode nem deve causar espanto a opção de se constituir como referencial para este texto como forma de dialogação com alguns textos referências. Um deles é a Teologia Sistemática de alguém como Paul Tillich. Que sempre buscou o diálogo entre as muitas tendências teológicas. e jamais descartou ou abandonou o diálogo de conciliação naquelas questões mais conflitantes.   

      Já me debrucei mais de uma dezena de vezes sobre a Teologia Sistemática de Paul Tillich. E não sei avaliar  se cada pastor, do ponto de vista e ação ministerial que tem, se este nome pode ou não causar algum espanto ou terror. Eu tenho um amigo lá em Minas Gerais que é um ministro da IPB(Igreja Presbiteriana do Brasil). Ele sempre esboçou uma reação sintomática nas ocasiões em que citei algo relacionado ao pensamento de Tillich. Ele simplesmente se exaspera. Pois bem, o motivo atribuído por ele para tal atitude é de que a teologia de Tillich é a Bíblia dos presbiterianos independentes. 

      Desde uma situação específica como esta ocorrida em arrais presbiterianos, vou deduzir que as restrições que se fazem a este teólogo e seu pensamento são de natureza pessoal e, ou porque denotam um tipo de experiência amarga e histórica para sua denominação. Contudo, deixando as preferências de uns ou  as divergências de outros, o que se pode constatar nos textos de Tillich é sua capacidade de síntese. Essa constatação não é pessoal, mas de domínio público. Mas acompanho positivamente este pensamento dos seus críticos e(ou) admiradores. Todos eles são unânimes em afirmar que uma de suas grandes virtudes estava em dialogar com toda a tradição da igreja desde o período clássico até os seus últimos dias.

      Pessoalmente, o  que posso comentar a cerca dos textos de Tillich  que até o presente momento tive acesso, mostra alguém que, com muita maestria, ele não foi o único, soube historicizar e sistematizar o pensamento  cristão ocidental. Não o considero um historiador do cristianismo e muito menos do dogma, mas ao lidar com  todas as categorias do pensamento, claramente em suas respectivas épocas de manifestação além de seus principais protagonistas e representantes, ele é capaz de fazer com que cada um de nós perceba e veja, até com muita naturalidade, a simplicidade de seu método de CORRELAÇÃO. 

      Porém o assunto que aqui nos interessa, não se constitui numa aula de teologia ou de história da teologia. O que tenho em mente destacar quando  trago à memória uma das muitas qualidades desse grande teólogo é sim a sua grande capacidade de diálogo. Essa foi uma característica marcante em toda a sua carreira acadêmica. Ela lhe dava tanto uma perspectiva de entendimento para seu tempo a partir de um passado e facilitava consequentemente uma projeção quanto ao futuro sob a ótica da teologia protestante, ou como ele mesmo fazia questão de enfatizar: "O princípio protestante". 

     Ao fazer a introdução em sua Teologia Sistemática, Tillich também a relaciona uma análise pertinente ao que aconteceu à teologia no decorrer dos séculos quando historicamente ela deixou de ser a rainha das ciências na academia. A sua atitude ao aludir a queda de status da teologia foi uma adequação a esta nova realidade. Se a teologia é uma entre tantas outras ciências, seu fazer teológico acontecerá dialogando com todas as tendências e com a cultura. Decididamente ele não é um teólogo que vive na clausura e desde uma postura acadêmica, é um teólogo multidisciplinar.

      Este texto também não pretende deixar dúvida quanto a postura que tenho adotado enquanto ministro evangélico da palavra. Antes mesmo que ele possa gerar alguns males entendidos, ainda que, confesso que estamos passando por um daqueles períodos que a história tem apontado como bastante nebuloso. Infelizmente o patrulhamento ideológico também alcançou os nossos arraiais e uma palavra aqui, ou uma frase acolá mal interpretada, tem gerado algum mal estar não no meio do rebanho do Senhor, mas entre os seus ministros. 

      Portanto, vale dizer que o que se pretende discutir neste texto, não demanda por parte de quem quer seja nenhum tipo de ação repressiva. Pelo contrário, o objetivo é sempre o fortalecimento e troca de experiências entre todos e principalmente entre os colegas de ministério. E para não perder esse foco sobre as questões que se apresentam desde uma uma prática ministerial, é que tenho  feito a proposição de leitura do texto do evangelho de João 12:1-8.

      É evidente que a proposta de apreciação deste texto não será objeto de análise sob a ótica dos pressupostos homiléticos e pastorais. Entretanto, isso não significa que a utilização deste texto seja meramente uma formalidade ou no máximo uma ocupação de espaço e um mero pretexto de utilização sem objetivos devidamente definidos. Porém o que demandou sua escolha foi a divulgação, por ocasião da comemoração dos 40 anos do CMI(Conselho Mundial de Igrejas), de que ocorreria uma consulta global teológica, e, esta restrita a alguns especialistas, tendo em vista a produção de um parecer que, a posteriori, servirá para orientar pastores e líderes das entidades membros do CMI quanto ao tratamento a ser dado à teologia da prosperidade.

      Basicamente o texto a ser utilizado é este de João 12:1-8. Neste a sua narrativa nos insere diretamente em um dos acontecimentos que precedem a chegada do Senhor Jesus à Jerusalém. Diferentemente de Mateus e Marcos, João introduz alguns detalhes redacionais, em que pese o fato de Jesus se hospedar em casa de Lázaro, e não na casa de Simão, o leproso(Mateus 26:6; Marcos 14:3), e de que segundo a narrativa Joanina a mulher que unge a Jesus não é uma desconhecida e sim Maria irmã de Lázaro. 

      Num primeiro momento, o que há de significativo neste texto é a sinalização de que que o Senhor Jesus jamais perde a oportunidade para estar e se reunir tanto com os discípulos quanto com  aquelas pessoas mais achegadas a ele. Nada melhor do que estar em casa de amigos e em torno de uma mesa. O cenário, o ambiente é a casa do amigo Lázaro. Porém, mesmo que fosse outro cenário e circunstâncias diferentes como em Mateus e Marcos, ainda assim o Senhor Jesus se encontra em torno de uma mesa.

      Isto já seria suficiente para que extraíssemos lições  bastante elucidativas e preciosas para as nossas vidas. Já que tanto num contexto de comunhão de mesa, ou em outra situação, as suas intervenções miraculosas são sempre positivas na vida das pessoas. Essas mesmas intervenções não somente se constituem como elementos de inserção social. Elas também se configuram como elementos de inserção histórica do Senhor Jesus.

      Sem que se objetive, deste momento em diante, qualquer tipo de ação elucidativa, investigativa e histórica como forma de se alcançar a fonte primária de um outro evangelho nesta passagem, em especial. O que se objetiva tendo por base a ação miraculosa de Deus em Cristo Jesus é ressaltar que, embora não haja um discurso teológico e Neo testamentário contra ou a favor da riqueza, toda ação de Cristo, e nenhuma delas deixa de ser miraculosa, está direcionada a favor dos pobres.

      Cristo é alguém que faz parte e por isso está inserido no processo histórico, cultural e social de seu tempo. Ele é capaz de agir, e, neste caso, alheio a qualquer discussão de caráter ideológico, a respeito e a favor dos pobres. Entretanto, há algumas semelhanças entre a comunidade dos seus seguidores e comunidade dos Essênios, quando o assunto é a comunidade de bens. O verso 6 do capítulo 12 de João é indício disto conforme Joachim Jeremias(JEREMIAS, Joachim. Teologia do Novo Testamento. p.267).

      O ponto focal deste texto que mereceu minha apreciação está na razão direta da ocorrência de um desperdício. Um bálsamo caríssimo foi despejado sobre os pés do Senhor Jesus e, por isso mesmo, foi considerado como uma grande perda. E acabou se tornando objeto de uma discussão. Já que o que foi desperdiçado poderia ser vendido e revertido a soma em dinheiro a favor dos pobres. A objeção feita por Judas quanto a melhor utilização daquele produto aromático está dentro de toda lógica que se tem falado a cerca de Jesus quanto a sua opção pelos pobres. Entretanto, e acho que é isto que o texto se esforça em registrar, dá conta de que este discurso vindo de quem vem, perde todo e qualquer tipo de legitimidade.

      O redator de João não poupa adjetivos para caracterizar o comportamento, o caráter sombrio e desonesto daquele que, segundo o texto, tendo a custódia da bolsa, sempre que possível subtraia o que nela era lançado. A mesma lógica desse discurso de Judas vai persistir nas palavras de Jesus daqui pra frente. Mas isto não é motivo pra que ele atropele e passe por cima daquela mulher, e desconsidere sua atitude bem intencionada. Sua apalavra para com Judas não se constitui em algum tipo de censura ou reprovação. Porém o adverte para o fato de que a atitude da mulher obedece a um contexto de antecipação escatológica que naquele momento passava despercebido por Judas, pelos demais discípulos presentes na casa e pela própria Maria, irmã de Lázaro.

      Jesus não falou com Judas com o objetivo de censurá-lo, mas suas palavras mostram muito bem como ele desconstrói esse discurso hipócrita a cerca dos pobres que é capaz de insinuar uma defesa dos pobres alegando uma total de falta de sentido com  aquela atitude tomada por Maria ao derramar o bálsamo caríssimo sobre seus pés. Logo não seria aquele aparente ato impensado, desprovido de qualquer sentido imediato(Venda do produto) que anularia a ação bem intencionada daquela da mulher e que foi capaz de fazer com que o Senhor Jesus entendesse como ato profético que corroboraria com sua missão messiânica.

      Os pobres até hoje continuam presentes entre nós e o que se depreende disso com base nos ensinamentos do próprio Cristo é que o problema da pobreza não é de responsabilidade divina. Até porque o Senhor Jesus ao fazer tal afirmação a Judas no verso 6, não faz como se fosse uma profecia. E está mais do que provado que a pobreza não é um mal inerradicável. O que sempre aprendi desde a minha mais tenra idade, é que Deus nunca faz aquilo que podemos fazer. E se naquilo que podemos fazer e não fazemos, somos por isso mesmo trazidos a juízo. Isto é tão dramático para nós, que o redator do evangelho de Mateus 25:31-46 elenca alguns aspectos caracterizadores da pobreza, dentre tantos outros, em todos os tempos, como elementos balizadores do juízo divino na PAROUSIA DE CRISTO, tanto para a salvação quanto para o castigo eterno.

      Retomando o assunto gerador deste texto, que alude àquela consulta teológica do CMI, e o seu posicionamento ante ao conceito teológico de prosperidade tão massificado entre os cristãos pentecostais e neo pentecostais nos últimos 20 anos, pelo menos. Buscando seguir este encaminhamento de questão pela via histórica, constata-se que este movimento é ocasional e oportunista. Seu espaço no cenário religioso e social toma corpo e forma durante  o período de declínio do movimento dos teólogos progressistas católicos que, no cenário interno do catolicismo, era duramente combatido por João Paulo II.

      Esse movimento progressista católico também intitulado de Teologia da Libertação era notadamente de orientação marxista, e que fluía com tamanha especificidade no ambienta latino americano. De certa forma a ênfase nesta tal teologia da prosperidade deixa transparecer algum tipo de contra ofensiva liberal e capitalista na acepção da palavra. O homem que recebe a benção divina é alguém que propõe uma espécie de prova performática com Deus. A benção divina está condicionada ao desafio que ele próprio propõe ao Senhor. Este tipo de proposição já se encontra presente em Jacó, mas é objeto de descarte, por conta do embate entre a Existência Profética e a Existência Cultual-Legal, uma vez que atitude arrogante do patriarca condiciona o culto de Betel ao atendimento de suas preces.(FOHRER, Georg. Estruturas Teológicas Fundamentais do A.T. p.122)

      O vento que soprou a partir do contexto católico e latino americano e que buscava reformas estruturais capazes de diminuir a grande concentração dos bens de produção  em mãos de uma minoria. Que gerava como principal consequência uma grande massa de espoliados, afetou, em menor escala, é claro, os nosso arraiais. Longe de ajuizar a instrumentalização deste matiz ideológico sob a ótica e ética marxista, o que precisamos refletir e um momento como  este, é se, afinal de contas, persistem os mesmos fundamentos que produziram e alimentaram este movimento teológico durante décadas?

      Grosso modo, a despeito do encaminhamento de algumas políticas públicas de governo, também conhecidas como ações afirmativas. E por serem políticas de governos e não de estado, têm seus prazos de validade determinado e ainda trazem consigo um viés assistencialista. Por si só, essas políticas já se configuram como paliativos. Não necessariamente por causa dos programas, ideias e intenções que os acompanham, mas especialmente devido aos gestores governamentais. É ponto pacífico aquela máxima existente no país de que a corrupção é endêmica.

      Uma coisa que é altamente preocupante na dinâmica dessa teologia da prosperidade é o alijamento dos mais humildes da comunhão na igreja. Se no passado já persistia uma crítica quanto a adesão de algumas igrejas históricas aos poderosos e que sempre conduzia os pobres à periferia de tudo, uma vez que eram, em razão do seu baixo poder aquisitivo, uma peça descartável. O juízo que se construiu a partir daí foi que a igreja sem os pobres era um lugar vazio e abandonado por Jesus.

      Estamos em uma encruzilhada e não podemos sob o estigma do fantasma demagógico, abrir mão de nossas responsabilidades enquanto pastores e líderes. A essa altura do campeonato, não existe espaço para qualquer atitude omissa de nossa parte. Mesmo que não venhamos a construir um discurso de matiz ideológico diante de uma realidade que afronte aos nossos olhos. Mesmo que apoiemos as várias ações afirmativas patrocinadas pela totalidade das esferas de governos. Ainda haverá uma substancial defasagem  entre o ideal e o real que, seguindo o exemplo da fé veterotestamentária logrou lugar e espaço para  o profetismo bíblico. Onde sua principal base de sustentação estava na dependência única e exclusiva da providência divina.

      Quando no início deste texto fiz menção de Paul Tillich, fiz pelo fato dele próprio afirmar que o ambiente gerador de toda a teologia é a igreja. O teólogo produz sua teologia na igreja e para a igreja. Somo teólogos, e já que nosso ambiente de trabalho e de maturação de nossas ideias tem como pano de fundo o ambiente eclesiástico e, embora a orientação que damos ao nosso ministério não corresponda a expectativa desta ou daquela coloração teológica, ou seja, se não somos adeptos da teologia da prosperidade e muito menos da teologia da libertação. Que espécie de teologia estamos produzindo desde um ambiente onde transitamos como eleitos de Deus e chamados para apascentar o rebanho do Senhor?

      Desejo encerrar este texto trazendo à lembrança uma situação significativa e que envolve a figura do próprio Cristo. No evangelho de Mateus 9:36, o Senhor Jesus ao olhar a multidão do alto de um monte teve compaixão dela, pelo simples fato de andarem como ovelhas que não têm pastor. Logo, penso que o que deve orientar e inspirar nossas ações, será também este sentimento que incondicionalmente esteve presente no coração de nosso Senhor Jesus Cristo e na condução de todas as suas intervenções miraculosas a nosso favor. Que Deus nos abençoe. Amém!

      

      

      

      
      

      

      

        

      


      









John 12 Byzantine
1Ὁ οὖν Ἰησοῦς πρὸ ἓξ ἡμερῶν τοῦ Πάσχα ἦλθεν εἰς Βηθανίαν, ὅπου ἦν Λάζαρος ὁ τεθνηκώς, ὃν ἤγειρεν ἐκ νεκρῶν. 2Ἐποίησαν οὖν αὐτῷ δεῖπνον ἐκεῖ, καὶ ἡ Μάρθα διηκόνει· ὁ δὲ Λάζαρος εἷς ἦν τῶν ἀνακειμένων σὺν αὐτῷ. 3Ἡ οὖν Μαρία λαβοῦσα λίτραν μύρου νάρδου πιστικῆς πολυτίμου, ἤλειψεν τοὺς πόδας τοῦ Ἰησοῦ, καὶ ἐξέμαξεν ταῖς θριξὶν αὐτῆς τοὺς πόδας αὐτοῦ· ἡ δὲ οἰκία ἐπληρώθη ἐκ τῆς ὀσμῆς τοῦ μύρου. 4Λέγει οὖν εἷς ἐκ τῶν μαθητῶν αὐτοῦ, Ἰούδας Σίμωνος Ἰσκαριώτης, ὁ μέλλων αὐτὸν παραδιδόναι, 5Διὰ τί τοῦτο τὸ μύρον οὐκ ἐπράθη τριακοσίων δηναρίων, καὶ ἐδόθη πτωχοῖς; 6Εἴπεν δὲ τοῦτο, οὐχ ὅτι περὶ τῶν πτωχῶν ἔμελεν αὐτῷ, ἀλλ’ ὅτι κλέπτης ἦν, καὶ τὸ γλωσσόκομον εἴχεν, καὶ τὰ βαλλόμενα ἐβάσταζεν. 7Εἴπεν οὖν ὁ Ἰησοῦς, Ἄφες αὐτήν· εἰς τὴν ἡμέραν τοῦ ἐνταφιασμοῦ μου τετήρηκεν αὐτό. 8Tοὺς πτωχοὺς γὰρ πάντοτε ἔχετε μεθ’ ἑαυτῶν, ἐμὲ δὲ οὐ πάντοτε ἔχετε.



No caminho de Damasco



   


      Foleando o meu novo testamento grego, nesta semana, me deparei com esta narrativa do livro de Atos, onde o apóstolo Paulo fala sobre o que foi a sua experiência de encontro com Cristo na estrada, ou caminho de Damasco. E como gosto, sempre que posso, de estabelecer alguns paralelos sobre o que a narrativa apresenta e o que ela ainda nos permite relacionar quanto a materialidade do testemunho nela exposto, e comparar com o que de relevante está para nós nesses dias de modernidade ou pós modernidade, em pleno século XXI. A primeira coisa que podemos fazer e sem muito esforço, é nos certificar que Damasco é uma das cidades mais antigas habitadas continuadamente no mundo. É a capital do moderno estado da República Árabe da Síria. Este país apesar de ter uma maioria muçulmana, nele ainda subsiste um remanescente tanto de cristãos quanto de judeus.


      Mas como fiz referência ao Novo Testamento, preciso também especificar de que texto estou me valendo. E tanto para os entendidos quanto menos entendidos em narrativas bíblicas, crítica textual, ou mesmo a manuscritologia, nada disso, a rigor nos interessa aqui. O texto que utilizo para esta reflexão é o TR(Textus Receptus - Texto Recebido) do livro de Atos dos Apóstolos capítulo 22:1-30. Nele, o apóstolo depois de preso em Jerusalém, passa a narrar a partir do verso 6-16, o que foi a sua experiência de encontro com Cristo na estrada de Damasco. E o que provocou a mudança radical de sua vida. Entretanto, como o povo está agitado e ávido por um linchamento público. O apóstolo, ao fazer uso da palavra em sua defesa, começa o seu discurso em idioma hebraico. A sua estratégia deu resultado de imediato, pois a multidão ao perceber a sua versatilidade linguística se acalma e passa a ouvi-lo com mais atenção.


      É claro que, por força do hábito e de expressão, afirmei que a multidão alvoroçada se acalma ao ouvir o discurso que o apóstolo faz em sua defesa na língua dos rabinos(Hebraico). A plebe mesmo, não entendia absolutamente nada. Logo, quem se encarrega de acalmar o povo são os mesmos que estavam incitando as pessoas para que o apóstolo fosse executado. Ao se analisar o ambiente desta narrativa, precisamos levar em consideração que o acesso à informação nesta época era restrito a uma elite religiosa. E que até hoje eles têm a custódia dos rolos da Lei os quais são escritos e preservados em hebraico antigo. Uma questão que pode ser levantada, é de como deve ter sido a reprodução deste discurso de Paulo em hebraico antigo para o grego de falar comum(Koiné) do NT? Se é que ele realmente fez  o discurso em hebraico, ou apenas se utilizou de uma frase de enfeito em hebraico, para logo depois retomar sua fala na língua de todos.


      E aí entram em ação questões  de natureza redacional, tais como as fontes elencadas e buscadas que visavam dar ao texto a forma final que hoje possuímos. Jamais esquecendo alguns outros questionamentos secundários que neste intervalo de preservação e reprodução do texto e suas fontes, o que lhe teria acontecido, quando sob a supervisão de algum copista? E, que tipo de acréscimo ele tenha feito com o propósito de melhorar a redação? Evidentemente que questões desta natureza não são resolvidas de uma hora para outra e muito menos de forma automática. Elas demandam tempo, dedicação, planejamento e um investimento muito substancial de fundos. Algo que foge, em muito, de nossa realidade. Por conta disso, cabe-nos levantar estas questões que são passíveis e patentes. Já que o que se tenta discutir aqui, parte tão somente de uma leitura do texto sob análise.



Rua Direita em Damasco
      Porém, uma coisa muito mais confiável, dada a sua materialidade histórica, e que procede do texto que efetivamente narra o episódio, complementando este discurso de Paulo. Pois o capítulo 22 é tão somente a reprodução do evento através de uma oratória. Mas no capítulo 9 deste mesmo livro, há o relato deste evento. E ali acontece um diálogo místico somente entre Paulo e o Senhor Jesus. E a recomendação que o Senhor Jesus lhe faz para que procure em Damasco na Rua chamada Direita um certo homem chamado Ananias. Esta Rua Direita está ali em Damasco até os dias de hoje. Certa vez ouvi  de um arqueólogo que falava a cerca da cidade de Roma. Ele dizia que Roma é um museu a céu aberto. Pois para onde se olha existe um monumento arquitetônico cheio de história e significados. O mesmo se pode dizer desta rua localizada na parte velha da cidade de Damasco e que está lá até os dias de hoje.


      O encontro místico a que me refiro no parágrafo anterior diz respeito ao tipo de diálogo nada convencional que Paulo manteve com o Senhor Jesus. Ele se caracteriza tipicamente como uma análise e enquadramento sob o aspecto e pressuposição naturalista. Não ocorre, portanto conforme às leis naturais ou físicas e está carregado de subjetivismo. A narrativa de sua experiência de conversão aponta para uma radical transformação em todos os sentidos na vida deste apóstolo. Essa constatação se evidencia pela alusão que faz ao seu passado de israelita zeloso e educado conforme a tradição de seu povo e aos pés de um dos maiores rabinos de sua época. Paulo apresenta este evento de natureza espiritual, existencial e interior que causa uma reviravolta em sua vida, a partir do encontro com Cristo, como justificativa de sua mudança na abordagem hermenêutica que, após este acontecimento no caminho de Damasco, faz da Lei. Mas que não invalida a sua relação com o Judaísmo e a tradição dos seus antepassados.


       Quando ele faz menção de ter sido envolvido com uma luz vinda do alto e que aqueles que com ele estavam foram testemunhas, não da luz mas de que falava com alguém(Atos 9:7), ele também faz deste evento que é sua experiência espiritual, uma analogia com as THEOPHANIAS do AT que geralmente marcam o fim de uma época e início de uma nova era ou etapa na vida de uma pessoa ou grupos que estejam envolvidos. Foi assim com Jacó no Val do Jaboque, foi assim com Moisés no Sinai e foi assim também com Elias no Monte Horebe. No caso de Paulo e seu literal envolvimento com a luz, o que num primeiro momento ele experimenta é a impossibilidade de ver e, de certa maneira, é o que provoca uma mudança de direcionamento em seu olhar que passa a ser mais introjectivo. Pode ser que seu apego a Lei tenha feito dele um sujeito duro e intransigente na aplicação do que a Lei previa quanto aos que dela se desviassem. Mas acho que ele jamais produziria e com extrema sensibilidade um texto de extrema beleza e requinte como I Coríntios 13 se permanecesse tão somente um judaísta zeloso.


       Essa mudança está em seu testemunho a cerca de como, após retornar a Jerusalém, seriam suas atitudes pós conversão ao CAMINHO. O verso 17 fala de um arrebatamento enquanto orava. Neste momento ele recebe ordens expressas de sair de Jerusalém pois procuravam tirar-lhe a vida. Ele ainda pondera que não havia justificativa para que se fizesse isso contra ele depois de tudo que fizera em nome de sua fé e dedicação à Lei. Ainda afirma que a morte de Estevão foi executada por homens sob seu comando(Verso 20). Mas a ordem era expressa e fazia parte do plano do Senhor em levar a sua palavra até os gentios de longe. Após isto houve uma irritação geral dos que ali se faziam presentes e já não há mais como contê-los, O ato de rasgar as vestes muito comum no oriente como sinal de tristeza e angústia. Nesta situação, transformou-se visivelmente em um ódio exacerbado contra Paulo, por aqueles que ali se encontravam.


       A relação de Paulo com o Judaísmo e com suas tradições religiosas e culturais era tão abnegada e zelosa que ele faz menção da forma como, em alguns momentos violenta, perseguiu o que ele chama de "CAMINHO". Tanto o sumo sacerdote como o conselho dos anciãos são testemunhas disso(Versos 4 e 5). Com isso se pode alegar que o judaísmo nunca foi condescendente  com movimentos sectários em seu interior. Principalmente o judaísmo dos rabinos de Jerusalém. O que conhecemos como cristianismo hoje tem seu surgimento no judaísmo do primeiro século que paulatinamente no transcurso da história foi se institucionalizando, em decorrência da atitude purista das autoridades religiosas em Jerusalém. Até que historicamente adquire status de religião. Até então e a época desta narrativa do livro de Atos o que se tem são seguidores do dito CAMINHO, porém, são judeus, que tiveram o judaísmo como sua religião, em sua grande maioria.


     Bom isso é o que Paulo usa em seu argumento de defesa. Mas os seus interlocutores não estão nem um pouco interessados em seus argumentos. Já se prevê uma espécie de queima de arquivo ou faxina ideológica e religiosa. A mesma de que se viu vítima o próprio Cristo e com a parceria e conivência de autoridades romanas. Comparar o que aconteceu ao próprio Cristo com o que estava para acontecer com Paulo pode demandar por parte algumas pessoas excessivamente religiosas algum tipo de restrição a esta comparação. Mas, querendo ou não o processo caminhava a passos largos nesta direção. E começa com um complô armado(Atos 21:27-29), onde ele literalmente é acusado de subverter os ensinamentos da Lei, bem como de profanar o Templo ao introduzir impuros em seu interior(Uma referência a Tito que o acompanhava e era de origem grega). As alegações dos algozes do Senhor Jesus têm uma relação similar com o que estava acontecendo ao apóstolo Paulo. Eles, por exemplo, acusam Paulo de profanar o Templo; no caso de Jesus ele é acusado de proferir um sacrilégio dizendo que derrubaria o templo e em três dia o reergueria(Mc. 14:58).



Açoite - Chicote com várias tiras pesadas de coro e com duas
 pequenas bolas de chumbo amarradas nas pontas.
      Falamos no parágrafo anterior de uma coisa que aqueles caras não queriam, que era absolver Paulo das acusações que lhe faziam. Também fizemos menção da conivência das autoridades romanas ali presentes. O que se verá a seguir é o tribuno ordenando que se confinasse o apóstolo na fortaleza e que usasse dos métodos de tortura. O verso 24 é claro ao falar da prática do açoite como forma de interrogatório, semelhante ao que fizeram com o Senhor Jesus. O destino de Paulo teria sido o mesmo de Jesus, a não ser por um detalhe que fez toda a diferença. Ele era um cidadão romano(Verso 25).


      Algumas semanas atrás um frei dominicano brasileiro, mais conhecido como frei Beto, foi interpelado sobre seu envolvimento de religioso com questões políticas no Brasil e ele respondeu que o seu mestre(Jesus) foi um prisioneiro político e que foi violentamente torturado nas masmorras romanas. Era esta também a sorte que estava reservada a Paulo. Mas diante de tal revelação ao centurião romano, houve um recuo. Decididamente e desde sempre, a Lei não vale para todos. E também pode se constatar que sempre houve do ponto de vista das análises dos tecidos sociais em qualquer tempo, cidadãos de primeira, segunda e terceira categoria. Então Paulo alega que na sua condição de cidadão romano ele deveria ter primeiro um julgamento justo e aí sim, depois de condenado, caso fosse, caberia um tratamento com açoites.


      Alguns textos são muito maleáveis quanto a tradução deste trecho, principalmente no verso 24. Os romanos já estavam preparados para  um interrogatório violento e que segundo ordem expressa do tribuno era para se tirar a verdade do interrogado no porque que as autoridades religiosas em Jerusalém queriam tanto a sua morte(Verso 25). A outra alegação de que se compra privilégios de cidadão com grandes somas de dinheiro é outra verdade. Pois, tomando conhecimento o tribuno de que Paulo era realmente  um cidadão romano, ele confidencia ao apóstolo que conseguiu tal privilégio a custa de muito dinheiro(Verso 28). 


      A alegação do apóstolo quanto a sua cidadania ser de nascimento, pode ser deduzida de sua herança paterna. Já que conforme sua afirmação de que foi educado aos pés de Gamaliel(Atos 22:3). E Gamaliel é um rabino de Jerusalém, cidade onde Paulo passou boa parte de sua vida. Pois ele se declara fariseu(Filipenses 3:5) e não consta a presença de fariseus fora do contexto palestiniano. Mas sendo ele de Tarso, provavelmente era de uma família abastada na diáspora e o pai ou comprou a cidadania ou foi agraciado com ela por causa de bons serviços prestados ao império. Por isso a alegação de ser cidadão romano de nascimento, uma herança paterna.


     Foi no caminho de Damasco que Paulo com a autoridade que possuía e indo  na direção desta grande e importante cidade, pretendia trazer preso os seguidores do CAMINHO do qual ele era perseguidor. Mas ele jamais imaginou que nesta viagem sua vida se transformaria de tal forma que de perseguidor ele se tornaria perseguido. E o caminho a que faz menção se tornaria no que ele chama de igreja de Cristo. Foi o zelo pela Lei que o fez perseguidor do CAMINHO, por ele agora chamada de igreja(Filipenses 3:6). O caminho já não é mais aquele grupo de seguidores de Cristo no judaísmo, mas a igreja numa amplitude e caráter universal. E Paulo foi o instrumento divino para construção dessa ponte de que a mensagem e os ensinamentos do Cristo não se restringiam em sua aplicação a apenas uma região e a um grupo de religiosos. Era  o cumprimento de uma ordenança: "Portanto ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando -as em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo;" 






1.ανδρες αδελφοι και πατερες ακουσατε μου της προς υμας νυν απολογιας
2.ακουσαντες δε οτι τη εβραιδι διαλεκτω προσεφωνει αυτοις μαλλον παρεσχον ησυχιαν και φησιν
3.εγω μεν ειμι ανηρ ιουδαιος γεγεννημενος εν ταρσω της κιλικιας ανατεθραμμενος δε εν τη πολει ταυτη παρα τους ποδας γαμαλιηλ πεπαιδευμενος κατα ακριβειαν του πατρωου νομου ζηλωτης υπαρχων του θεου καθως παντες υμεις εστε σημερον
4.ος ταυτην την οδον εδιωξα αχρι θανατου δεσμευων και παραδιδους εις φυλακας ανδρας τε και γυναικας
5.ως και ο αρχιερευς μαρτυρει μοι και παν το πρεσβυτεριον παρ ων και επιστολας δεξαμενος προς τους αδελφους εις δαμασκον επορευομην αξων και τους εκεισε οντας δεδεμενους εις ιερουσαλημ ινα τιμωρηθωσιν
6.εγενετο δε μοι πορευομενω και εγγιζοντι τη δαμασκω περι μεσημβριαν εξαιφνης εκ του ουρανου περιαστραψαι φως ικανον περι εμε
7.επεσον τε εις το εδαφος και ηκουσα φωνης λεγουσης μοι σαουλ σαουλ τι με διωκεις
8.εγω δε απεκριθην τις ει κυριε ειπεν τε προς με εγω ειμι ιησους ο ναζωραιος ον συ διωκεις
9.οι δε συν εμοι οντες το μεν φως εθεασαντο και εμφοβοι εγενοντο την δε φωνην ουκ ηκουσαν του λαλουντος μοι
10.ειπον δε τι ποιησω κυριε ο δε κυριος ειπεν προς με αναστας πορευου εις δαμασκον κακει σοι λαληθησεται περι παντων ων τετακται σοι ποιησαι
11.ως δε ουκ ενεβλεπον απο της δοξης του φωτος εκεινου χειραγωγουμενος υπο των συνοντων μοι ηλθον εις δαμασκον
12.ανανιας δε τις ανηρ ευσεβης κατα τον νομον μαρτυρουμενος υπο παντων των κατοικουντων ιουδαιων
13.ελθων προς με και επιστας ειπεν μοι σαουλ αδελφε αναβλεψον καγω αυτη τη ωρα ανεβλεψα εις αυτον
14.ο δε ειπεν ο θεος των πατερων ημων προεχειρισατο σε γνωναι το θελημα αυτου και ιδειν τον δικαιον και ακουσαι φωνην εκ του στοματος αυτου
15.οτι εση μαρτυς αυτω προς παντας ανθρωπους ων εωρακας και ηκουσας
16.και νυν τι μελλεις αναστας βαπτισαι και απολουσαι τας αμαρτιας σου επικαλεσαμενος το ονομα του κυριου
17.εγενετο δε μοι υποστρεψαντι εις ιερουσαλημ και προσευχομενου μου εν τω ιερω γενεσθαι με εν εκστασει
18.και ιδειν αυτον λεγοντα μοι σπευσον και εξελθε εν ταχει εξ ιερουσαλημ διοτι ου παραδεξονται σου την μαρτυριαν περι εμου
19.καγω ειπον κυριε αυτοι επιστανται οτι εγω ημην φυλακιζων και δερων κατα τας συναγωγας τους πιστευοντας επι σε
20.και οτε εξεχειτο το αιμα στεφανου του μαρτυρος σου και αυτος ημην εφεστως και συνευδοκων τη αναιρεσει αυτου και φυλασσων τα ιματια των αναιρουντων αυτον
21.και ειπεν προς με πορευου οτι εγω εις εθνη μακραν εξαποστελω σε
22.ηκουον δε αυτου αχρι τουτου του λογου και επηραν την φωνην αυτων λεγοντες αιρε απο της γης τον τοιουτον ου γαρ καθηκον αυτον ζην
23.κραυγαζοντων δε αυτων και ριπτουντων τα ιματια και κονιορτον βαλλοντων εις τον αερα
24.εκελευσεν αυτον ο χιλιαρχος αγεσθαι εις την παρεμβολην ειπων μαστιξιν ανεταζεσθαι αυτον ινα επιγνω δι ην αιτιαν ουτως επεφωνουν αυτω
25.ως δε {VAR1: προετεινεν } {VAR2: προετειναν } αυτον τοις ιμασιν ειπεν προς τον εστωτα εκατονταρχον ο παυλος ει ανθρωπον ρωμαιον και ακατακριτον εξεστιν υμιν μαστιζειν
26.ακουσας δε ο εκατονταρχος προσελθων απηγγειλεν τω χιλιαρχω λεγων ορα τι μελλεις ποιειν ο γαρ ανθρωπος ουτος ρωμαιος εστιν
27.προσελθων δε ο χιλιαρχος ειπεν αυτω λεγε μοι ει συ ρωμαιος ει ο δε εφη ναι
28.απεκριθη τε ο χιλιαρχος εγω πολλου κεφαλαιου την πολιτειαν ταυτην εκτησαμην ο δε παυλος εφη εγω δε και γεγεννημαι
29.ευθεως ουν απεστησαν απ αυτου οι μελλοντες αυτον ανεταζειν και ο χιλιαρχος δε εφοβηθη επιγνους οτι ρωμαιος εστιν και οτι ην αυτον δεδεκως
30.τη δε επαυριον βουλομενος γνωναι το ασφαλες το τι κατηγορειται παρα των ιουδαιων ελυσεν αυτον απο των δεσμων και εκελευσεν ελθειν τους αρχιερεις και ολον το συνεδριον αυτων και καταγαγων τον παυλον εστησεν εις αυτους


   













A praticidade da comunhão






       Vivemos uma época de muita liberdade quando o assunto diz respeito ao acesso às informações, mas o outro extremo também tem procedência. Por uma dessas ironias do destino, o que chamamos de democratização da informação tem sido o nosso tendão de Aquiles. Pois nunca as pessoas se fecharam tanto dentro de si como se tem visto agora. O pensamento é até bastante simplista, o que tenho, isso me basta. O acesso às tecnologias da informação e suas consequentes habilidades de manipulação se tornaram ferramentas indispensáveis para a sobrevivência do homem dito pós moderno. Toda essa loucura desencadeou em escalas nunca vistas o aparecimento de patologias mentais que até algum tempo atrás eram matérias de debate na abordagem de estéticas literárias, ou seja, era assunto de intelectuais. A Depressão é o exemplo mais emblemático desse novo tempo. Ela, há muito tempo, adquiriu o status de epidemia. Podemos falar dela hoje como uma pandemia, uma vez que segundo informes científicos da OMS, é a segunda causa de mortes no mundo.  


      Atualmente aquela simplicidade que sempre foi a característica da vida perdeu espaço neste universo de convivências saudáveis entre as pessoas. Pequenos gestos como desejar um bom  dia para o vizinho, ajudar a carregar a bolsa de compras da senhora idosa ou gestante, pedir a benção a pai e mãe, ou até mesmo contar uma estorinha para o filho antes de dormir são raridades entre as pessoas e principalmente no convívio familiar. Quando o assunto é religião então, aí o caldo entorna de vez. Estamos muito presos aos nossos dogmatismos e fanatismos. Ao que parece o mundo cristão inteiro acabou se tornando uma igreja como a de Corinto. Nesta igreja, o apóstolo Paulo chega a ponto de qualificar aqueles crentes como imaturos. Eles são partidários de determinadas figuras da igreja, inclusive do próprio apóstolo. Quando se reúnem para celebrar a ceia(EUCHARSITIA), são tudo, menos, e na acepção do significado etimológico da palavra companheiro¹, companheiros uns dos outros.


      Recentemente estava assistindo um documentário em vídeo que faz parte de ações produzidas pela comissão da verdade com fins educativos de conscientização e de formação da cidadania. Onde aqueles mais jovens que hoje acreditam em determinadas falas que negam a existência de um período na história do Brasil marcado por um sistema de governo ditatorial. E quase nunca se falam de jovens, membros de igrejas evangélicas, que também foram presos e torturados por estes governos do passado. Em um determinado momento, uma dessas vítimas ao relatar a forma como estava sendo interrogado pela autoridade policial. Conta que o agente indaga se ele era comunista? Ele nega veementemente que seja comunista. Então seu interrogador lhe pergunta: "Em quem você acha que devo acreditar, em você que nega ser comunista ou no seu pastor que te denunciou?" É evidente que neste período, ou, qualquer outro período da história, onde impera uma tal ordem, muito peculiar, diga-se de passagem, dos governos de exceção. Um período marcado pelo uso excessivo da força e onde as liberdades individuais são muito restritas, ocorre também esta característica tipicamente inquisitorial. Parece que as pessoas têm prazer em denunciar as outras, e sequer lhes outorgam o benefício da dúvida.


      Como disse anteriormente, vivemos dias difíceis onde princípios antes tidos como balizadores da vida e da sociedade, de um modo geral são levados a ruína. Desmoronam-se como num castelo de cartas e num efeito dominó. Não tenho a intenção de, ao me comunicar através deste texto, revelar um romantismo barato e piegas. Quero sim, e sem muito esforço, buscar como um garimpeiro que maneja a sua bateia objetivando achar aquela pepita que ele tanto almeja. Uso a metáfora do garimpeiro por achar que está mais próxima de nós do que o arqueólogo. Já que a vida, de uma maneira geral, não necessita de um profissional dessa envergadura para se valer e mostrar as riquezas que se nos apresentam a cada dia sem que dela façamos caso algum. Quando o assunto é Bíblia então, mesmo que exista aquela possibilidade de se especializar de tal forma em seus conhecimentos e toda a tradição que se construiu ao longo desses 200 nos, pra ser mais específico. Prefiro também deixar de lado essa tradição exegética, arquelógica e textual, para me ocupar daqueles exemplos tão simples que o mestre de todos os mestres nos legou e que estão relatados nestes registros escriturísticos e acessíveis a quase todos e de forma bem democrática.


      Por conta disso, é que resolvi me ocupar do  assunto comunhão e de como ele deve ser tratado com extrema praticidade. E seguindo na linha do que nos ensinou o nosso mestre. Muito mais do que falar, o que para Jesus significava  a comunhão, era a vivência e a expressão do convívio que se revelava na aceitação do outro. Era um convívio sem restrições a ninguém. A ele acorriam de todos os cantos da Palestina e de fora da Palestina. Doentes, endemoniados, religiosos, escribas, fariseus, publicanos, pecadores de um modo geral. Era principalmente um agradável e saudável assentar-se a mesa para saborear uma iguaria(Pão) e tomar uma bebida(Vinho). É comportamento típico de algumas pessoas nos finais de expedientes de trabalho e nas sextas feiras, assentarem-se em uma mesa de bar, tomar um chopp, comer o famoso tira gosto. Mas em Jesus a restrição ao tipo de pessoa que devia se assentar com ele a mesa fora abolida. A mesa de Jesus era bastante democrática e para onde ele se deslocava essas pessoas o seguiam: "Veio o Filho do Homem, que come e bebe, e dizeis: Eis aí um homem comilão e bebedor de vinho, amigo dos publicanos e pecadores," (Lc. 7:34). Seguiam Jesus tanto os que se assentavam com ele a mesa quanto os seus críticos, geralmente religiosos, ou espias enviados por estes. Agora pouco estava falando do que foi o período de ditadura no Brasil e de como as pessoas, muitas vezes eram presas e torturadas, sem saberem quem as denunciou. O ambiente religioso e tipicamente eclesiástico é muito propício a este tipo de comportamento dúbio e inescrupuloso.


      Também fizemos menção da EUCHARISTIA e infelizmente a transformamos em um símbolo religioso. Quando isto aconteceu, nos esquecemos de como este símbolo religioso surge na praticidade do dia a dia do mestre. Nas comunhões de mesa de Jesus, muito presentes nos registros do NT. São relatados os seus deslocamentos de um lado pra outro. Pois a cada lugar que chega, cansado das viagens, ele precisa de uma hospedagem para repousar e se alimentar. Muitas vezes quem o hospeda não é aquele que, segundo a moral religiosa e que também o segue, é o mais digno(Mc. 2:15-17; Lc. 19:2-10). Quando alguém que goza de boa reputação no meio social e religioso lhe oferece uma hospedagem e uma mesa farta, o mestre é capaz de apontar alguns aspectos que deixam a desejar naquele local de comunhão(Lc. 7:44-46). As parábolas de Jesus falam de banquetes e mesmo quando faz referência a ausência de alguém, ou porque se negaram comparecer ao banquete oferecido(Lc. 14:16-20); ou foram mesmo alijados de se fazerem presentes em relatos mais específicos a cerca do juízo final. Neste caso, em especial, aponto para uma situação bastante emblemática nas palavras do mestre, ao referenciar a questão da herança de Israel e o seu lugar no Reino dos Céus. Já que muitos viriam do oriente e do ocidente, e assentar-se iam a mesa com Abraão, Isaque e Jacó, no reino dos Céus(Mt. 8:11).


      O assunto é a comunhão e a forma como a vivenciamos em nosso cotidiano. É fundamental que tenhamos sempre como exemplo maior de vida em comunhão o que nosso Senhor e mestre Jesus Cristo nos ensinou. E se ele ensinou, é imprescindível que para vivermos uma vida de comunhão sigamos os seus exemplos. E se temos que seguir seus exemplos, isto demanda uma vida de discipulado. Não existe a mínima possibilidade de sermos discípulos de Jesus e não acatarmos os seus ensinamentos como verdades para nossas vidas. John Stot em seu último livro: "O discípulo Radical", destaca o fato de que para sermos discípulos de Jesus precisamos andar debaixo de sua disciplina². A origem da palavra discípulo é latina³. Mais uma vez me reporto às palavras do apóstolo Paulo quando chamava a igreja de corinto de imatura. Eles se consumiam em partidarismos dentro da igreja ao se dizerem seguidores de Pedro, Apolo, ou do próprio Paulo. Ao mesmo tempo que ignoravam o único fundamento da igreja. Fundamento este que foi capaz de constituir o ministério de Paulo e a palavra que pregava, o próprio Cristo. Também não se pode encarar a falta de maturidade na igreja de corinto e apontada por Paulo como uma situação menos relevante no contexto da igreja. Ela tinha consequências sociais e religiosas danosas. E estas consequências materializavam-se principalmente no momento mais precioso e de celebração da igreja, na a ceia do Senhor ou eucharistia(ICor. 11:20-22).


      A coisa mais difícil e que tem se notabilizado como um dos grandes desafios na igreja do Senhor, é a nossa incapacidade de convivência, harmonia e de amor uns para com os outros. Lá no passado, nos tempos do AT, já há uma exaltação e exortação para que esse convívio fosse sim uma realidade. O Salmo 133:1, fala da solene singularidade e de como é especial a convivência pacífica do povo de Deus. A tal ponto de se tornar motivo mais do que justo para uma celebração quando os irmãos vivem em união. É bom e suave este momento de união entre o povo de Deus. Ele exala um clima como se fosse uma unção sacerdotal. Para tanto, tem que haver justiça. Sem justiça não existe harmonia entre os povos. Sem respeito aos direitos de cada pessoa humana e sua dignidade é impossível manter a paz. E o Deus todo poderoso não se agrada da opressão imposta às pessoas em quase todas as partes do mundo. Quem se torna adepto e defensor da opressão que se impõe aos mais necessitados não pode ser discípulo do mestre. E não entendeu jamais a praticidade efetiva com que o Senhor Jesus demonstra como devemos amar ao nosso próximo. Talvez uma inspiração como esta letra do Padre Zezinho possa nos ajudar na recuperação de uma vida cristã verdadeira e espelhada nos exemplos práticos de vida e discipulado que o Senhor Jesus nos deixou:


Por um pedaço de pão e por um pouco de vinho

Eu já vi mais de um irmão se desviar do caminho

Por um pedaço de pão e por um pouco de vinho

Eu também vi muita gente encontrar novamente o caminho do céu
Eu também vi muita gente voltar novamente ao convívio de Deus

Por um pedaço de pão e um pouquinho de vinho
Deus se tornou refeição e se fez o caminho
Por um pedaço de pão, por um pedaço de pão (Bis)

Por não ter vinho nem pão, por lhe faltar a comida
Eu já vi mais de um irmão desiludido da vida
E por não dar do seu pão, e por não dar do seu vinho
Vi quem dizia ser crente, perder de repente os valores morais
Vi que o caminho da paz só se faz com justiça e direitos iguais

Por um pedaço de pão e por um pouco de vinho
Eu já vi mais de um irmão tornar-se um homem mesquinho
Por um pedaço de pão e por um pouco de vinho
Vejo as nações em conflito e este mundo maldito por não partilhar
Vejo metade dos homens morrendo de fome, sem Deus e sem lar


      


      Vida cristã é vida de comunhão e comunhão é partir o pão com o próximo. Tenho ouvido de uns anos para cá com muito mais intensidade algumas falas de pessoas que dizem que se uma pessoa está passando fome foi porque ela mereceu, ou porque fez por onde estar naquela situação. Algumas dessas pessoas se dizem cristãs. Afora aquele grande exemplo que se tem do texto do AT. Onde a nora de Noemi, a moabita Rute, saiu para colher espigas(Ru. 2:1-3), há outros tantos exemplos de passagens bíblicas que o Senhor recomenda o cuidado para com aqueles que se encontram em uma situação de dependência e fragilidade, enfrentando o flagelo da fome(Dt. 15:7). O mais triste é que aqueles que se insurgem contra estas situações e passam a construir um discurso de natureza social e política tendo como inspiração a própria escritura sagrada são estigmatizados como esquerdistas, esquerdopatas e comunistas.


      Todos nós temos ciência de que sempre e em qualquer situação, existem os espertos que adoram tirar vantagens, inclusive das desgraças alheias. Existem pessoas que fazem sim discursos demagógicos sobre a desgraça dos pobres e tiram  algum tipo de vantagem ou dividendo nisto. Temos um exemplo disso no NT. Lá no capítulo 12 e verso 3 do Evangelho de João, Maria uma das irmãs de Lázaro unge a Jesus com um unguento caríssimo. O texto neste momento faz menção de que judas Iscariotes, segundo este mesmo texto, aquele que cuidava da bolsa, ponderou sobre o desperdício daquele líquido balsâmico dizendo que se o vendessem poderia se adquirir um bom dinheiro para ajudar os pobres. E o verso 6 ao comentar esta fala de Judas Iscariotes, informa que esta afirmação de Judas não procedia por causa dos cuidados que tinha com os pobres, mas porque era ladrão e subtraia parte dos recursos que entrava na bolsa que ele cuidava. O próprio NT nos deixa este exemplo de uso demagógico da pobreza com objetivos de se conseguir vantagens.


      Pra encerrar quero mais uma vez lembrar o quanto é maravilhoso vivermos em comunhão. Já falamos do Salmo 133. Mas quero lembra neste momento de como a igreja surgiu e de como ela era era em seus primórdios com apenas uma expressão que está lá em (Atos 2:44): "E todos os que criam estavam juntos, e tinham tudo EM COMUM". Este é o melhor exemplo para encerrar este texto. Este é o melhor exemplo para fazer referência aquilo que os teólogos chamavam de COMMUNION SANCTORUM, a comunhão dos santos. Todavia, jamais nos esqueçamos que o melhor exemplo de praticidade e de comunhão temos em Cristo Jesus. A paz!!!

      



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¹COMPANHIA, É um substantivo feminino de origem latina que serve para ressaltar a presença de uma ou mais pessoas. Nada melhor do que a metáfora de uma refeição conjunta - cum-edere-panes. Logo, o companheiro é aquele que come pão junto.

²STOT, John. O discípulo Radical, Ultimato, Viçosa/MG, p. 10. 2011

³É o Latim DISCIPLINA, "instrução, conhecimento, matéria a ser ensinada", E esta deriva de DISCIPULUS, "aluno, aquele que aprende", do verbo discere. 

     

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