O QUE É A PÁSCOA SEM JESUS?


TEXTO - MARCOS 14: 1 - 10

IDEIA CENTRAL DO TEXTO - Enquanto o Senhor Jesus está descansando em Betânia na casa de Simão o Leproso. As autoridades religiosas estão em Jerusalém tramando a sua morte.



INTRODUÇÃO



      A princípio, e, historicamente, se quisermos nos limitar tão somente àquilo que nos afeta diretamente no ocidente, a Páscoa é uma data celebrada pela cristandade e eu prefiro sempre qualificá-la como uma celebração sem aquela típica conotação de festa, que, na maioria das vezes tem prevalecido. E se quiserem saber o que significa cristandade, infelizmente não será possível de se explicar neste tempo que temos para desenvolvimento do assunto principal(SHMIDT, Ervino. Teologia no Brasil-análise-histórico-sistemática. São Paulo, ASTE, 1985, p. 20) que é uma proposição de tema sob a forma de pergunta. E o texto do evangelho utilizado por mim nestas linhas é o texto do capítulo 14 do evangelho de Marcos. Onde encontramos o Senhor Jesus na casa de uma pessoa conhecida como Simão, o Leproso.

      Muito embora se tenha feito referência ao assunto cristandade e ao mesmo tempo dito que não se teria como falar sobre ele neste momento. Por outro lado, com relação a páscoa JUDAICA, e que precede em muito à páscoa que fiz referência no parágrafo anterior, esta celebrada pela cristandade, existe a necessidade de se falar algo sobre ela. Já que esta celebração é o ponto fundamental para o entendimento e redimensionamento da própria fé cristã ao longo dos séculos. Principalmente se nós pensarmos que, nestes últimos anos, as principais polêmicas teológicas que têm surgido dentre os grupos cristãos, e nisto também se inclui o próprio catolicismo, é a questão da liturgia e, mais especificamente a EUCHARISITIA.

      O que é então a Páscoa Judaica? E qual o grau de importância que ela tem para este povo? Ela é tudo enquanto elemento simbólico e representativo da história e da saga de um povo que, desde o seu início, isto é, desde a chamada de Abraão(Gênesis 12:1-5), se auto denominou povo de Deus. Não é tão necessário recapitular a vida deste povo antes deste evento páscoa. Afinal de contas, vocês todos conhecem a história de Abraão, Isaque e Jacó. E de como em um determinado momento da vida nômade desse povo eles tiveram que descer ao Egito. Eram beduínos do deserto, vivendo em cabanas, criando ovelhas, buscando água e pastagens para estas ovelhas e etc.


Mapa de localização da terra de gósen. Área cedida pelo Faraó onde a família de Jacó se estabeleceu no Egito.

      Quando eles deixam esta vida e descem ao Egito, recebendo terras para cultivo(Gênesis 47:6). Eles, por este espaço de tempo, deixaram a vida nômade e passaram a ter uma atividade mais sedentária. Agora, neste caso, nem dá pra dizer que o que é bom dura pouco. Pois eles permaneceram na vida agro-pastoril tal qual a receberam do Faraó por séculos(Êxodo12:40), esse tipo de informação aqui, grosso modo, não está incorreta, mas precisa ser melhor trabalhada quanto a alguns aspectos específicos que demandaria muito tempo, e que poderia interferir no andamento específico que buscamos aqui com este texto. Porém, o texto de Êxodo 1:8 relata que subiu ao trono um outro Rei que não conhecera a José. E foi aí que tudo começou quando o assunto é opressão. Ou seja, quando um povo é oprimido por outro povo. Vilipendiado naquilo que o dignifica como pessoa e ser humano.

       No Egito os hebreus estavam acostumados e adaptados a um tipo de atividade agro-pastoril, que não se repetiria na terra que eles estariam ocupando(Deuteronômio10:10-11).Aqueles que conhecem um pouco de geografia africana, vão ver que o Egito desde os tempos antigos floresceu com  a sua cultura, arte e poder bélico, por causa de sua estratégica posição ali no nordeste da África. Ele é banhado pelo Rio Nilo, o segundo maior Rio do Mundo. E forma ao se aproximar do Cairo um delta, pois se divide em vários leitos e braços por onde o rio se espalha. É justamente nas cheias do Nilo que suas águas se espalham, ao mesmo tempo em que trouxe consigo das montanhas por onde suas águas correram sedimentos de rochas e nutrientes. Verdadeiros adubos naturais para fertilização desta planície.

      A partir deste momento e saga deste povo, emerge uma outra figura ímpar e importantíssima em sua vida, Moisés, (ou MOSES, TUTMOSES - Filho de Toth; RAMSES - Filho de Ra). Logo do ponto de vista de uma provável gramática egípcia, MOSES pode ser entendido como FILHO DE. E no caso de Moisés, filho das águas, ou tirado das águas. Apesar do nome egípcio, aqueles que conhecem sua história sabem de como por um milagre ou providência divina ele vai se tornar um príncipe no Egito. E será através de sua vida que o Deus sem nome dos Hebreus operará as grandes maravilhas no Egito que ocasionará a sua saída para a liberdade, mas não sem antes atravessarem o deserto. Então chegamos ao ponto que nos interessa.

       A Páscoa para o judeu e remanescente dos hebreus tem o sentido de uma data cívica e religiosa. Ela é primeiramente religiosa, pois antes de Israel ser ou se apresentar ao mundo como Estado moderno, independente e soberano, e isto é muito mais recente, ela sempre teve esse seu lado religioso. Se quisermos falar de libertadores dos povos mundo a fora, encontramos centenas deles espalhados por todos os continentes em lugares e épocas das mais variadas. Com relação aos judeus, você vai ouvir falar de Moisés. E Moisés é lá do 15 século AC. Ele é considerado o PROFETA entre os judeus.

       Todo o desenvolvimento deste texto até aqui sobre a páscoa. Foi paulatinamente a tentativa de construir uma resposta ante a grande questão proposta pelo tema. Uma primeira e parcial resposta pode ser aqui colocada da seguinte forma: A páscoa, do ponto de vista da sua origem, e passando pelas crenças do povo que, primeiramente enquanto fato histórico a experimentou, e esta é sua experiência fundante. A páscoa continua sendo páscoa até hoje sem Jesus. Literalmente a páscoa para o Judeu é páscoa independente de Jesus.



QUE TIPO DE VISÃO TINHAM DE JESUS AQUELES QUE SE DIZIAM DETENTORES DA VERDADEIRA TRADIÇÃO PASCAL ?


      Evidentemente que esta alusão é feita em referência ao sistema religioso vigente na Palestina a época em que, por ocasião de uma celebração pascal, foi preso, torturado, crucificado e morto um GALILEU cujo nome era YOSHUA. Ele era alguém que tinha como ofício a arte da carpintaria, que era a maneira como sua família ganhava a vida. E o registro histórico ainda diz que ele foi crucificado e morto quando Pôncio Pilatos era Governador Romano da Judeia(Mateus 27:2; Marcos 15:15; Lucas 3:1; Atos 4:27; I Timóteo 6:13). Quem são os seus captores e eles estão a serviço de quem, ou de que poder investido? algumas questões continuam sem respostas até hoje.

       YOSHUA não era nenhum rabino e muito menos um herdeiro de alguma tradição rabínica na Palestina. Mas, por aproximadamente 3 anos ininterruptos vinha dando o que falar e aguçando a curiosidade de todos. Ele anunciava que o Reino de Deus havia chegado(BASILEIA TOU THEOU). Praticava a arte da cura e por isso multidões vindas de todas as partes a ele acorriam. E, como um mestre, as pessoas se assentavam a seu redor para ouvirem as suas histórias(PARABOLÉ). E ainda se dizia filho de DEUS com capacidade e poder para perdoar pecados(Mc 2:10-11; Mt 9:6; Lc 5:24).

    O sacerdotes em Israel na época da ocupação romana tinham um certo poder de polícia que visavam principalmente conter algum tipo de abuso quanto a prática de algum crime que tivesse um fundo de natureza religiosa e que pudesse transgredir algum princípio legal. Entretanto, a intenção deles foi sempre de desvincular a acusação que intentavam promover contra Jesus de um caráter religioso. Para tanto intencionavam envolver o próprio Pilatos nesta trama. Pilatos, que a rigor, não somente possuía o poder de fato em toda aquela região, assim como segundo a própria legislação romana tinha os dispositivos necessários para julgar o indivíduo se este estivesse transgredindo algum princípio legal que afetasse diretamente o direito de jurisdição que Roma afirmava ter sobre aquela região.



Afresco de Giotto representando Jesus diante Caifás


     Muito embora o tal dolo fizesse parte dos planos das autoridades em buscar uma insatisfação de Roma quanto a figura de Jesus. O próprio Pilatos ao dizer que lavava as mãos por não ver nenhum crime praticado pelo réu(Jesus), faz cair este primeiro intento por terra. E já que estamos falando de duas importantes sedes de poder nesta região, não custa nada lembrar uma terceira representada por Herodes que, nesta época, era tão somente um fantoche nas manipulações geo políticas dos romanos(Lucas 3:1).

      Mas como se pode perceber na leitura dos dois primeiros versos deste capítulo 14 do evangelho de Marcos. As autoridades religiosas já se articulavam em conversas paralelas na melhor maneira de tirar o Senhor Jesus do cenário sem que causasse algum tipo de alvoroço entre a multidão. Ou seja, pra se responder a esta pergunta formulada sobre o tipo  de visão que eles tinham de Jesus? A resposta mais simples e clara era a de um inimigo que precisava urgentemente ser eliminado.



COMO ENTENDER A PÁSCOA TENDO JESUS COMO PRINCIPAL CHAVE LINGUÍSTICA?


      Uma indagação como esta, torna claro que em algum momento se tornará necessário algum tipo de dado informativo tendo como fonte algumas das ciências que se notabilizaram por tratarem especificamente sobre a exegese bíblica e neo testamentária. O objetivo e busca desse texto não tem prioritariamente este fim, mas é uma possibilidade. É fato que nas três partes que compõem a estrutura física deste texto, inclusive esta que se introduz agora, que, a despeito de na primeira a figura de Jesus do ponto de vista da tradição da páscoa israelita ter pouca ou quase nenhuma relevância. Todavia, a pessoa e figura de Jesus é sempre o referencial maior para o próprio desenvolvimento desse texto e a partir da própria narrativa aqui elencada como base para esta leitura que ora se faz.

      Um primeiro aspecto a ser destacado é o caráter redacional tocado pelo autor deste evangelho. Com muita perspicácia o autor estabelece uma relação entre os conspiradores que tramam a morte de Jesus com o fato de que eles estão a dois dias do início das festividades e procuram uma maneira de fazer com que a prisão de Jesus não ocorra neste período festivo por conta da presença massiva do povo nas ruas(Nada muito diferente do que a nossa atual experiência política e contemporânea). Enquanto isso, o Senhor Jesus repousa em casa de um grande amigo e que tem um qualificativo bastante sugestivo: Simão, o LEPROSO. Surge então uma mulher misteriosa com um caríssimo vaso de Alabastro que ao quebrá-lo unge ao Senhor desde a cabeça com aquele nardo puro.

        A atitude da misteriosa mulher gera algum desconforto entre os presentes. Alguns chegaram mesmo a falar em desperdício já que por ser um unguento de alto preço poderia ser vendido e revertido em benefício aos pobres. Mas o senhor Jesus acaba de vez com esta discussão ao afirmar que o seu ato foi virtuoso e que portanto ele será lembrado entre as gerações futuras. Notaram a forma sucinta e prática com que o autor desenvolve o ritmo de narrativa do texto? Ele assim age pois o que interessa para ele é o que acontecerá em Jerusalém. O bálsamo sobre Jesus é o prenúncio do seu grande martírio. Este evangelho desde muito cedo já sinaliza que o caminho que Jesus toma o leva para Jerusalém e para a cruz. E faz uma narrativa extremamente pragmática.  


       A trama para prender Jesus arquitetada pelas autoridades religiosas de Jerusalém. A unção de Jesus por uma mulher desconhecida e posteriormente a ausência e saída deliberada do traidor para se encontrar com os conspiradores. São elementos capazes de se constituir num corpus de palavras(Logia). A descrição do ambiente, e local da narrativa, e tempo da narrativa, caminham na direção de uma tradição comumente conhecida como pré pascal. Até mesmo neste contexto específico que precede as festas comemorativas da Páscoa Judaica, o objetivo é não vincular sua figura com esta festividade.


       Se mesmo neste momento em que sua pessoa se encontra envolvida nesta trama num contexto de páscoa judaica ainda não dá para inserir o nome de Jesus como uma chave linguística de entendimento da própria páscoa. No máximo o que dá pra fazer é arrolar o seu nome como uma vítima de injustiça por que passou, gerando a partir daí seu martírio e morte numa época de celebração de páscoa judaica, como tantas outras que se tem realizado ao longo dos séculos. Posso afirmar que estas percepções estão próximas daquilo que é o objetivo traçado pelo escritor deste evangelho. Ele tão somente se prende a narrar os fatos até o Calvário.



COMO ENTENDER A RELAÇÃO DE JESUS COM A PÁSCOA TENDO POR BASE A HERMENÊUTICA DO NOVO TESTAMENTO?


       A páscoa que segundo o texto de Marcos está para acontecer dentro de dois dias, é uma celebração milenar que faz parte do calendário judaico. O senhor Jesus como um bom judeu tinha consciência de suas obrigações enquanto tal. Ele foi um judeu na acepção da palavra. Ele frequentava a sinagoga(João 6:59 ; João 18:20). Muito embora propusesse algumas questões a cerca da interpretação de alguns princípios legais, ele sempre foi cumpridor da Lei. A ponto de em algum momento e por conta de algumas intrigas que se tentasse construir contra ele, afirma que veio para cumprir a Lei e não ab rogar a Lei(Mateus 5:17).

       Entender a relação de Jesus com  a páscoa é entender a relação de um Judeu extremamente religioso com as tradições religiosas, culturais e históricas de seu povo. A princípio parece algo simples, porém o que me parece é que há uma tendência cada vez mais clara em nossos dias de se desvincular a figura e a pessoa do Senhor Jesus desse contexto judaico de onde emerge. Ao mesmo tempo em que prevalece em tom bem mais enfático o caráter sacrifical de sua pessoa. Aquela ideia de que alguém precisa pagar pelo erro ou pecado de muitos.

       Logo a relação de Jesus com a páscoa é a relação de um judeu piedoso que cumpre fielmente e de forma ritualística sua obrigação para com a religião de seu povo. Entretanto, do ponto de vista de sua relação com a escritura(Neste caso e especificamente o Novo Testamento), que é objetivamente a fonte que aponta para os fatos de que algo diferente acontecia com ele. Passou-se a vê-lo como alguém com uma missão especial e que tudo quanto falava, fazia ou ensinava vinha da parte de Deus que, neste caso, era chamado por ele de Pai.

       O conjunto dessas tradições que se construiu a partir dele e depois de seu martírio também ficou conhecido como tradição pós pascal(EGGER, Wilhelm. Metodologia do Novo Testamento, p. 39). Aduz-se a isso o caráter hermenêutico por parte daqueles que passaram a se reunir em seu nome e a reproduzir suas experiências ou ensinamentos por ele transmitidos, assim como as suas aparições pós ressurreição.

       Logo, a relação de Jesus com a páscoa caracteriza-se e consolida-se pelo liame estabelecido por uma hermenêutica eminentemente cristã e como tradição escriturística, onde o mesmo é elevado à categoria de GLORIFICADO. É transformado em objeto de culto numa das camadas mais tardias a ser incorporada no corpus do NT. Já que nas fontes mais remotas das escrituras, o que se percebe é a morte Jesus sendo encarada como qualquer outra morte de profeta ocorrida na história de Israel(BRAATEN, JENSON et ali. Dogmática Cristã. São Leopoldo, Sinodal, p. 27).

       Quando se fala em sacrifício no ambiente e contexto do mundo antigo e, neste caso, do mundo greco-romano. Estamos falando de algo muito comum e peculiar. A cultura religiosa dos povos da antiguidade era uma cultura que envolvia sacrifícios de animais e com o intuito de se aliviar, ao que oferece sacrifício, de algum tipo de consciência pesada, ou de alguma falta grave que, por acaso, tivesse cometido. Nos festivais dionisíacos da Grécia antiga era comum soltar  um bode pela cidade e todo cidadão grego que tivesse cometido algum tipo de falha e se encontrasse com a consciência pesarosa, lançava algum objeto sobre o animal, ou até mesmo  chutava o animal. Posteriormente aquele animal era sacrificado.

        Para essa construção pós evento páscoa elencou-se toda a sorte de textos, bíblicos e, claro, uma espécie de evidência interna que sinalizasse o sentido de morte de Jesus como expiação vicária. Para isso são relacionados alguns escritos de Paulo e boa parte da literatura joanina. Mas, o ponto ápice desse tipo de constatação pode ser encontrada em sua mais sistemática expressão na Epístola aos Hebreus(BRAATEN, JENSON, et ali. Op cit. p. 29), na qual, o sacrifício é interpretado como background do rito do dia da expiação.

        Essa tradição sustentada por uma hermenêutica tardia quanto às camadas dos textos neo testamentários tem seu ponto culminante, enquanto objeto formal, filosófico e teológico em Anselmo de Cantuária. Em sua tentativa de explicar o porque da encarnação do Cristo: Cur Deus homo? lança mão de um argumento jurídico ao afirmar que todo delito precisa de uma compensação, ou POENA. Sendo o homem incapaz de pagar pelos seus delitos, alguém se apresenta voluntariamente para pagar pelo mesmo. Um cordeiro puro e imaculado(I Pedro 1:19).

       Desde então se consolidou no ocidente essa visão dominante da morte de Jesus enquanto expiação vicária e em Anselmo se experimenta a juridicização ou latinização da Obra de Cristo. Essa tem sido a principal maneira que durante séculos tem prevalecido no ocidente e assim a relação de Jesus com a páscoa é decorrente deste princípio hermenêutico meramente cristão. O lado negativo que se pode ter como consequência direta desta hermenêutica ocidental, é que a cruz foi transformada num bonito símbolo cultual após séculos de culto e arte.




CONCLUSÃO

    
        Na primeira epístola de Paulo aos Coríntios no capítulo 15 e verso cinco, há conforme alguns exegetas uma tradição das mais antigas quanto a ressurreição de Jesus e toda uma hermenêutica construída a partir dessa tradição. Ao mesmo que todo este capítulo encaminha uma discussão quanto a veracidade e necessidade de que este fato é fundamental para a pregação do evangelho. Pois, depois que o apóstolo faz toda uma exposição elencando um número bastante expressivo de testemunhas que presenciaram a aparição ou aparições do Senhor Jesus depois do martírio no Calvário, a começar por Pedro e depois por todos os apóstolos. Lembra ele ainda que depois disto mais de quinhentas pessoas também o viram e boa parte delas ainda vivem. Por último o senhor Jesus lhe aparece no caminho de Damasco.

         O apóstolo invoca o testemunho das escrituras alinhando-a com o testemunho dos apóstolos e dos crentes de que existe um sentido para o qual a morte de Jesus e sua consequente ressurreição é uma resposta: "Ele morreu pelos nossos pecados". A retórica e pregação paulina propõe uma reflexão onde não há espaço para dúvida quanto a veracidade do fato que, objetivamente, de acordo com as testemunhas, tenha ocorrido. Há uma destinação e entendimento hermenêutico que penetra na igreja. Por outro lado, não é uma tradição que penetra na igreja de origem judaica e sim grega como alguns eruditos têm apontado.

       Já foi dito aqui que a cruz foi transformada em um símbolo cultual após séculos de culto e arte. Mas o que não se especificou é como em linhas gerais chegamos a tal situação de fato. E aí não há como afirmarmos que isto é uma característica própria do catolicismo ou do protestantismo. É uma peculiaridade da teologia e da doutrina cristã que se tem construído de ambos os lados. Também quero esclarecer que somente me reporto aos aspectos e questões que dizem respeito diretamente a nós cristãos aqui do ocidente. 

       Para que fôssemos mais específicos nessa colocação, acho que demandaria uma espécie de curso em filosofia onde se procurasse conhecer um pouco mais das ideias de Aristóteles e de como essas ideias penetraram o mundo cristão, ou cristandade. Principalmente aquelas ideias do grande pensador macedônio sobre o conceito de arte enquanto MÍMESIS. E infelizmente não há como abrirmos um parêntese para falarmos um pouco sobre este assunto. Embora ele permeie toda a dinâmica deste texto. E isto não deveria, para os teólogos de plantão, soar como novidade. Senão, vejamos o que Martin Hengel afirma enquanto conclusão de um estudo sobre a crucificação de Jesus no mundo contemporâneo: 

       "O raciocínio teológico de nossa época mostra muito claramente que a forma particular da morte de Jesus, o homem e o messias, representa um escândalo que o homem gosta de mitigar, remover ou domesticar de qualquer maneira possível. Vamos ter que garantir a verdade de nosso pensamento teológico neste ponto." (Apud BRAATEN, JENSON et ali. p. 24)



       Basicamente, o ser humano de um modo geral é alguém que se alimenta, do ponto de vista da arte, do seu elemento estético. Ninguém se imagina em uma situação em que possa conscientemente afirmar que está em meio ao caos. Mas quando por uma dessas fatalidades, ou quando alguém se depara com o que alguns teólogos chamam de elemento trágico. O resultado é quase sempre catastrófico. Alguns chegam mesmo a dar cabo da própria vida. Atualmente até a minha classe, a classe dos pastores, tem se enveredado por este tipo via. E aí vocês podem imaginar o tipo de estrago que se provoca numa congregação quando um colega tira a sua própria vida.

       A cruz nos afronta ao nos depararmos com a realidade da ofensa que ela como instrumento de Deus nos coloca. A dois parágrafos acima fiz uma menção a Aristóteles. E afirmei que o conceito de MÍMESIS utilizado por Aristóteles permeia toda a fundamentação teórica deste texto. Nos valemos a toda hora de aspectos cognitivos e estéticos que justifiquem, ou deem sentido ao escândalo e afronta que a cruz nos apresenta. O texto abaixo de autoria de H. J. Iwand é uma tentativa nossa de encontrar sentido na tragédia e no horror do Gólgota. Como resultado dessa tentativa nos isolamos contra a ofensa:

"Tornamos o amargor da cruz, a revelação de Deus na cruz de Jesus Cristo tolerável para nós aprendendo a entendê-la como uma necessidade para o processo da salvação(...) Como resultado disso a cruz perde seu caráter contingente e incompreensível."

"Nós cercamos o escândalo da cruz com rosas. Fizemos dela uma teoria da salvação. Porém isso não é a cruz. Essa não é a desolação que é inerente à cruz e foi colocada nela por Deus." (Apud BRAATEN, JENSON et ali. p. 25)


       Eu gostaria de encerrar este texto perguntando a quem possa interessar e claro, àqueles que este texto efetivamente tiver alcançado: O que, afinal de contas, nos incomoda na morte de Jesus? Ou ela não nos diz absolutamente nada? Se pensarmos do ponto de vista dessas celebrações de páscoa que ano após ano temos presenciado e celebrado. E que foi incorporada como parte do nosso calendário nacional culturalmente falando. Assumindo, além de uma celebração religiosa, uma característica identitária de nação que na maioria das vezes e no âmbito das relações comunitárias nem sempre condizem com essa realidade maior que aqui se tem feito menção. Prova constante disso são aqueles elementos da religiosidade brasileira tipicamente conhecidos como sincretismos. Então fica a pergunta: O que tem sido a páscoa para nós, enquanto elemento de culto ou celebração, ou até mesmo manifestação religiosa? 






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SHIMIDT, Ervino. Teologia no Brasil-análise-histórico-sistemática.
        São Paulo, ASTE, 1985.

EGGER, Wilhelm. Metodologia do N. T. Tradução Johan Konings & Inês Borges.
         São Paulo, Ed. Loyola, 2005.

BRAATEN, Carl & JENSON, Robert. Dogmática Cristã volume II. Tradução de Gerrit Delfstra et ali.                                       São Leopoldo, Sinodal, 1987.





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The Plot to Kill Jesus
Jesus Anointed at Bethany
Καὶ  ὄντος  αὐτοῦ  ἐν  Βηθανίᾳ  ἐν  τῇ  οἰκίᾳ  Σίμωνος  τοῦ  λεπροῦ,  κατακειμένου  αὐτοῦ  ἦλθεν  γυνὴ  ἔχουσα  ἀλάβαστρον  μύρου  νάρδου  πιστικῆς  πολυτελοῦς·  συντρίψασα  τὴν  ἀλάβαστρον  κατέχεεν  αὐτοῦ  τῆς  κεφαλῆς.  ἦσαν  δέ  τινες  ἀγανακτοῦντες  πρὸς  ἑαυτούς  Εἰς  τί    ἀπώλεια  αὕτη  τοῦ  μύρου  γέγονεν;  ἠδύνατο  γὰρ  τοῦτο  τὸ  μύρον  πραθῆναι  ἐπάνω  δηναρίων  τριακοσίων  καὶ  δοθῆναι  τοῖς  πτωχοῖς·  καὶ  ἐνεβριμῶντο  αὐτῇ.    δὲ  Ἰησοῦς  εἶπεν  Ἄφετε  αὐτήν·  τί  αὐτῇ  κόπους  παρέχετε;  καλὸν  ἔργον  ἠργάσατο  ἐν  ἐμοί. πάντοτε  γὰρ  τοὺς  πτωχοὺς  ἔχετε  μεθ’  ἑαυτῶν,  καὶ  ὅταν  θέλητε  δύνασθε  αὐτοῖς  (πάντοτε)  εὖ  ποιῆσαι,  ἐμὲ  δὲ  οὐ  πάντοτε  ἔχετε.    ἔσχεν  ἐποίησεν·  προέλαβεν  μυρίσαι  τὸ  σῶμά  μου  εἰς  τὸν  ἐνταφιασμόν.  ἀμὴν  δὲ  λέγω  ὑμῖν,  ὅπου  ἐὰν  κηρυχθῇ  τὸ  εὐαγγέλιον  εἰς  ὅλον  τὸν  κόσμον,  καὶ    ἐποίησεν  αὕτη  λαληθήσεται  εἰς  μνημόσυνον  αὐτῆς. 
Judas Agrees to Betray Jesus





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O calendário judaico é um calendário Lunissolar. Isso significa dizer que ele se baseia nos movimentos tanto da Terra em relação ao Sol quanto da Lua em relação a Terra. A Lua completa uma volta completa em torna da Terra em um tempo aproximado de 29,5305 888 531 ou  29 dias, 12 horas, 44 minutos e 3 segundos (Cabe notar que esse é o tempo médio, havendo variações pequeníssimas de mês para mês).
A partir disso estabelece-se  o mês, com duração de 29 ou 30 dias no calendário judaico, 12 meses juntos formam um ano, com um total de 353, 354 ou 355 dias. Contudo, como algumas datas importantes no calendário estão relacionadas com as estações do ano, estabeleceu-se um ciclo que faz com que a cada 19 anos existam 7 anos com um mês extra, desse modo os meses se mantêm bastante fixos em suas estações e concilia-se assim as diferenças entre o movimentos aparentes do Sol e da Lua. Por exemplo, Pessach,  também chamada de Chag Aviv  (Festa da Primavera), precisa cair todos os anos na primavera do hemisfério Norte.
 Nesses ciclos, estabeleceu se que o anos 3, 6, 8, 11, 14, 17 e 19 de cada ciclo terão um mês extra. Uma forma fácil de calcular em que ano do ciclo se está é dividindo o ano por 19 e o resto da divisão será o respectivo ano do ciclo. O ano que estamos 5770 é o 13º do ciclo 304.(5770/19 = 303 com resto 13 – assim houve 303 e ciclos completos).   

Estes são os meses do calendário judaico


Normal
incompleto
Norma
lregular
Normal
completo
Embolísmico
incompleto
Embolísmico
regular
Embolísmico
completo
Mês
Dias
Dias
Dias
Dias
Dias
Dias
Nissan
30
30
30
30
30
30
Iyar
29
29
29
29
29
29
Sivan
30
30
30
30
30
30
Tamuz
29
29
29
29
29
29
Av
30
30
30
30
30
30
Elul
29
29
29
29
29
29
Tishrei
30
30
30
30
30
30
Cheshvan
29
29
30
29
29
30
Kislev
29
30
30
29
30
30
Tevet
29
29
29
29
29
29
Shevat
30
30
30
30
30
30
Adar I
-
-
-
30
30
30
Adar II*
29
29
29
29
29
29

353 dias
354 dias
355 dias
383 dias
384 dias
385 dias

(*) No ano "normal", este mês é denominado simplesmente "Adar".




Fiquem com a fé!!!

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