EXPERIMENTANDO A VERDADE ANUNCIADA POR CRISTO

TEXTO - JOÃO 8:1 - 59



IDEIA CENTRAL DO TEXTO - Há muitas ideias pairando por este texto. E quanto  a isto nenhuma novidade, uma vez que o texto é bastante extenso. Por outro lado, e como forma de dar uma síntese c proposição para sua leitura, posso afirmar hipoteticamente que a verdade, neste caso, brota de uma relação entre Cristo e o Pai, que é a fonte de todas as verdades. 



INTRODUÇÃO


     A estada de Jesus em Jerusalém provocou certo desconforto às autoridades religiosas. Ele se apresenta como um judeu piedoso, ou seja, muito consciente da religiosidade e também da cultura religiosa de seu povo, bem como participante dela. Sua missão não é, em hipótese alguma, contestar a Lei mosaica, ou o elemento fundante daquilo que se tornou o seu princípio fundamental e que tinha sua origem na THEOPHANIA do deserto. Porém, isto não o impede de nela refletir e, quem sabe, até mesmo reinterpretá-la: "Ouvistes o que foi dito? Eu porém, vos digo..."

     Agora, como pode alguém sem nenhum passado na tradição religiosa de seu povo, na acepção da palavra, ser chamado de Rabí (Marcos 14:45; João 1:49, 4:31, 6:25, 9:2, 11:8)? De que escola rabínica ele era proveniente? Paulo se contentava em ser chamado de apóstolo do ponto de vista de sua relação com a igreja. Porém, enquanto alguém que foi educado, segundo suas informações, aos pés de Gamaliel(Atos 22:3), ele jamais fez questão de um tratamento com tamanha deferência ainda quando fazia parte e comungava da fé judaica, muito embora, conforme seu próprio testemunho afirmava que: "Excedia em judaísmo a muitos da minha idade"(Gálatas 1:14) . E se pensarmos em uma realidade que retrate sua vida pós conversão, nunca considerou as coisas deste mundo como ganho. 

     No caso do Senhor Jesus, o seu passado é de um membro de uma família em Nazaré e que tinha como ofício para ganhar a vida a arte da carpintaria(Mateus 13:55; Marcos 6:3). Sua missão além de anunciar a chegada do Reino de Deus, é também de estar numa prática constante de oração. O jardim das oliveiras é um lugar escolhido por ele sempre que esteve em Jerusalém para seus momentos de meditação, oração e devoção a Deus. Este seu jeito de agir nestas ocasiões sinalizam que sua vida devocional não se limita àqueles aspectos de um serviço litúrgico tanto no templo em Jerusalém quanto em qualquer sinagoga por onde passasse.

     Ele já sinalizava suas posturas quanto ao lugar para meditação e oração. O evangelho de Mateus registra sua orientação àqueles que realmente desejavam ter uma vida devocional viva e sincera para com Deus, e não se apegasse tanto às formalidades litúrgicas do templo e da sinagoga(Mateus 6:6). Ou o seu diálogo com  a samaritana, onde afirma àquela mulher que não seria ali naquele monte(GERIZIM) ou em Jerusalém que os verdadeiros adoradores adorariam a Deus(João 4:21). O que é fato, é que esses diálogos com o Senhor Jesus são bastante elucidativos quanto a uma conduta ética e religiosa que realmente seja do agrado do Pai

     Onde quer que esteja, sua vida é de constante meditação. Pensando com os valores de hoje pode-se afirmar que inexistia no cotidiano de Jesus uma separação entre vida secular e vida religiosa. Até porque quando falamos dele, não se pode esquecer do contexto e ambiente palestiniano onde está inserido. E este tem sua origem e vivência no oriente de onde ele jamais saiu. E que a relação entre profano e sagrado é típica de uma teologia do ocidente e bem tardia. A própria história da palavra, ou seja, sua raiz etimológica do ponto de vista de sua praticidade remonta ao quarto século do cristianismo ocidental.

     Agora pouco fiz referência a uma inexistente tradição rabínica no passado e formação do Senhor Jesus sem a qual, segundo as autoridades religiosas, não o habilitava para que ensinasse algum tipo de doutrina. Mas então porque as pessoas o seguem e se assentam para ouvi-lo?  Os sinóticos lembram que quando falava, ele falava com autoridade e não como os escribas(Mateus 7:29 e Marcos 1:22). Muito mais do que falar Jesus vive os ensinamentos que ministra ao povo e se mistura no meio do povo. Acima de tudo administra um olhar misericordioso para com os mais necessitados, aqueles que, efetivamente, como costumava afirmar, necessitavam de médicos.


     Poderíamos, claro, alterarmos a questão que incomodava aquelas autoridades religiosas. Não com relação a autoridade de que o próprio Cristo estivesse investido, e que eles simplesmente a desconheciam. Porém com relação a entender de onde vinha tanta sabedoria ou argúcia para contra argumentar com os escribas e até mesmo doutores da Lei. Para tanto, me permito trazer à tona uma discussão de séculos no seio da cristandade e rivalizada mais especificamente entre franciscanos e dominicanos quanto ao conhecimento, e cunhada como o eterno diálogo entre Platão e Aristóteles(TILLICH, Paul. Perspectivas da Teologia Protestante nos séculos XIX e XX. p.20).


     Logo esta leitura não visa ampliar o seu raio de discussão e abordagem, desde uma perspectiva histórica que alcance aqueles debates sobre o período herético do gnosticismo com uma fundamentação voltada única e exclusivamente ao alcance e contemplação da verdade. Mas ela visa seguir fundamentalmente uma abordagem agostiniana e é dela que, a princípio, se busca algum tipo de harmonização entre conhecimento a partir de um relacionamento com Deus tendo por base o relacionamento de Cristo com aquela transcendência que ele chamava de PAI.




I - CONSTRUÇÃO DE UM CONHECIMENTO, OU EXPERTISE, OU ATÉ MESMO UMA JURISPRUDÊNCIA COM BASE NA INSTRUMENTALIDADE DA LEI.(V.V.1-11).


     Todos os argumentos construídos pelos escribas e fariseus ocorrem com base no preceito legal de que qualquer testemunho dado por alguém deve ser confirmado por duas ou mais testemunhas e então se alcança a atestação de um fato propriamente dito(Êxodo 4:15, deuteronômio 17:6 e 19:15). Ao ser trazida a presença de Jesus uma mulher que fora apanhada no próprio ato de adultério tal como o texto nos revela. Aqueles que a trazem são os que dão testemunho deste pecado gravíssimo conforme a Lei e que era punido com a morte por apedrejamento.


     Por parte do Senhor Jesus, nenhum tipo de contestação quanto aos acusadores daquela mulher, sequer a contestação de que possa ter havido um falso testemunho(Êxodo 20:16; Deuteronômio 5:20). Sua primeira reação foi de se manter em silêncio e como aponta o texto, durante este silêncio escrevia no chão. O autor do evangelho, ou seu redator, como queiram, indica que a atitude daqueles homens não era necessariamente uma preocupação quanto a moral e os bons costumes e o consequente zelo pelo cumprimento da Lei. A intenção dos mesmos era buscar algum tipo fundamentação legal que posteriormente pudesse ser usada contra o próprio Cristo.


     A insistência dos mesmos quanto ao que responderia o Senhor Jesus o fez levantar a cabeça e dizer a todos os presentes que qualquer um ali poderia atirar a primeira pedra. A Lei facultava isto. Por outro lado, se estes mesmos acusadores não reconhecem o senhor Jesus como uma autoridade religiosa, pode se deduzir que o fato de levarem tal mulher a sua presença tinha como principal objetivo buscar algum tipo de incoerência em seus ensinamentos. O próprio Jesus poderia tê-los inquirido sobre o real motivo deles terem vindo a sua presença. Eles tinham a própria orientação da Lei, pois eram tidos como doutos nela(Capítulo 5 do livro de Números), que se buscasse então a presença da autoridade religiosa com o objetivo de se chancelar, dar respaldo à execução. Como orienta o livro de Números, a autoridade em questão que chancelaria tal execução por apedrejamento seria então o sacerdote e não Senhor Jesus.


     Sou adepto daquele entendimento de que nenhuma ação praticada pelo ser humano é desprovida de intencionalidade. A intenção daquelas pessoas que poderiam se tornar algozes daquela mulher não era necessariamente a busca de justiça e de que a comunidade deles fosse protegida do pecado. De tanto insistirem em uma posição do Senhor Jesus. O mestre então lhes reponde e da melhor maneira possível. Uma vez que ao afirmar que aqueles que não possuíam pecados que fossem os primeiros a atirarem as pedras. Ou para se tornar bem mais pessoal, aquele que não tiver pecado que seja o primeiro atirar a pedra. E já que ninguém se atreveu a cumprir com tal ânsia de justiça. De uma tacada só chamou a todos de pecadores e, todos, afinal de contas, mereciam ser apedrejados.


     Aqueles homens faziam aquilo que mais tinham em comum. Eles se escondiam e simultaneamente mascaravam suas imperfeições e idiossincrasias por detrás de um princípio legal. Aliás essa é uma característica muito própria do pensamento judaico, leia-se nisto personalidade corporativa.
O mais importante de tudo isso é que o referencial ou parâmetro para pautarmos as nossas vidas continua sendo a própria Lei. E segundo o próprio texto esse tipo de argumentação de que se valeu o Senhor Jesus, tocou fundo na consciência de cada um daqueles que se faziam presentes naquele lugar e naquele momento. O tipo de constrangimento coletivo a que foram submetidos os prováveis algozes daquela mulher pecadora traz à lume um outro tipo de discussão, tanto com relação a natureza do pecado, quanto a definição do pecado enquanto mal moral.

     Já falamos de Jesus e de sua atitude diante daqueles que tanto desejavam apanhá-lo em alguma incoerência em relação a Lei. Falamos daqueles que sempre se mantiveram atentos e espionando-o com a intenção de acusá-lo de algum tipo de desvio tanto legal quanto religioso. Mas ainda não falamos do encontro de Jesus com aquela mulher pecadora e qual foi sua atitude para com ela. E quando todos se retiram do lugar onde o mestre estava e que ao chegarem traziam uma mulher "apanhada no próprio ato de adultério". Agora a tal mulher está diante do Senhor e ele então pergunta pelos seus acusadores. Ela prontamente o responde dizendo que todos tinham se retirado. O Senhor Jesus, então, e calmamente responde àquela mulher dizendo que ele também não a condenava e que ela deveria ir e não mais pecar(Mateus 18:21-22). Estar com Jesus é sempre merecer uma segunda chance. Mas isto não significa licenciosidade para pecar ou condescendência com o pecado. 


     "Vai-te e não peques mais", Impreterivelmente é preciso dar uma parada para uma análise um pouco mais criteriosa nesta recomendação que o Senhor Jesus fez a esta mulher. Eu disse recomendação, muito embora o tempo verbal mostre uma outra realidade que é a utilização do imperativo enquanto ordem, ou de uma ordem enquanto imperativo moral. E não poderia ser diferente, já que, como disse antes, com Jesus não existe qualquer tipo de transigência em relação ao pecado. Mas, ao que me parece e por tudo que anteriormente acontecera, este imperativo trás consigo uma forte carga de misericórdia divina, melhor dizendo, de um olhar misericordioso por parte do Senhor Jesus.


     Numa perspectiva claramente humana e de como a escritura deixa claro que o pecado para Deus é como um câncer que precisa ser extirpado, ainda se consegue ver o olhar e a preocupação divina revelada em Cristo para que aquela mulher não se enveredasse por esse caminho. E esta preocupação e zelo procedem pelo fato de que o Senhor, quando o assunto é justiça se torna implacável. E segundo o próprio Paulo é pela justiça que a ira divina se manifesta(Rom. 1:18; Col. 3:16). Faço menção desse olhar misericordioso pois o Senhor Jesus não deseja ver aquela vida sendo subjugada pelo pecado e ainda ter que passar pelo juízo divino que como disse é implacável contra o pecado. 





II - CRITÉRIOS E BUSCAS PARA SE ATESTAR UMA VERDADE(V.V. 12-19).




     Novamente o Senhor Jesus é acusado de dar testemunho de si próprio. E segundo o preceito legal aludido por mim no tópico anterior era o tipo de argumento para que, segundo este mesmo preceito legal, o testemunho do Senhor Jesus fosse invalidado e não deveria ser levado em consideração. Por conta disso, o Senhor Jesus é, inclusive, acusado de dar falso testemunho. É a partir deste diálogo que se pode perceber que não falam a mesma língua. A praticidade do argumento judaico no processo de construção de um entendimento se dá a partir de um consenso entre partes envolvidas. Não há por parte desses interlocutores em relação ao Senhor Jesus algum tipo de consenso, ou ponto em comum, de onde ambos, nesta relação dialógica possam ter partido.


     A resposta do Senhor Jesus ao ser acusado de dar um falso testemunho, já fizemos menção disto ao aludirmos a Êxodo 20:16 e Deuteronômio 5:20 que era inclusive passível de penalidades na Lei. Afirma que, muito embora o seu testemunho seja dado por ele próprio, alude à veracidade do seu testemunho pelo simples fato de que, ao contrário desses mesmos interlocutores, ele sabia de onde vinha e para onde ia, e simultaneamente apontava para a limitação dos seus interlocutores por desconhecerem a sua origem e muito menos o seu destino:


"Respondeu Jesus, e disse-lhes: Ainda que eu testifico de mim mesmo, o meu testemunho é verdadeiro, porque sei de onde vim, e para onde vou; mas vós não sabeis de onde venho, nem para onde vou."





     Existe um embate filosófico neste diálogo quanto a aferição da verdade. De um lado os interlocutores de Jesus com base no princípio legal de que a atestação de um fato dependa de testemunhos de duas ou mais pessoas. Obviamente que, neste caso, as pessoas precisam fazer parte de um consenso. Efetivamente terão que falar a mesma língua. O que notamos e já fizemos menção explícita a isso no parágrafo anterior, é que o Senhor Jesus não fala a mesma língua dos seus interlocutores. Naturalmente quando esse tipo de situação acontece, alguém corre o risco de ser chamado de mentiroso. E é exatamente o que está acontecendo.


     É neste embate que se estabelece uma diferença fundamental entre o padrão de julgamento divino e o que os homens em nome de uma Lei divina em que se constituem como seus especialistas e intérpretes estabelecem como padrões e critérios de ajuizamento das ações humanas. Para tanto a observação por parte do Senhor Jesus de que eles julgavam segundo carne deve merecer algum tipo de aprofundamento quanto a esta questão. Pois transparece que o elemento dinâmico que é o que exala vida havia sido petrificado em alguns princípios e eles simplesmente acabaram se desvinculando de uma conexão com a realidade perdendo sua temporalidade.


     Não cabe aqui nenhuma abordagem mais ampla sobre o que se ventilou nas últimas seis linhas do parágrafo anterior. Mas, quem sabe, numa outra oportunidade e contexto possamos falar mais especificamente sobre o olhar petrificante daquele ser mitológico, as górgonas, entre os quais se destacava a medusa. Pode ser que o exemplo que acabo de oferecer neste parágrafo não tenha objetivamente uma relação mais próxima com o assunto aqui tratado e muito menos com o texto bíblico que nos serve de referência. Por isso, o deixemos de lado, por ora.




     Há algumas outras questões que precisariam ser debatidas nas alusões feitas dois parágrafos acima. Mas, elas podem ficar para algumas outras abordagens feitas sobre esta temática em textos a serem redigidos futuramente. Por agora, seria muito bom que atentássemos para o tipo de diálogo e a forma como o mesmo é conduzido. E um dos critérios basilares para se atestar a verdade está diretamente relacionado à conveniência e consenso social. Ou seja, os fariseus estão dizendo ao Senhor Jesus que ele somente fala de si mesmo. Logo, não existe a mínima possibilidade de que o seu testemunho seja verdadeiro. É um raciocínio legalista que tem muita praticidade e lógica.


     O que poderia ser esta luz do mundo? Um raciocínio recorrente e que faz parte do senso comum? Ou seja, no mínimo é de domínio público. A luz não é apenas aquele elemento que dissipa a escuridão ou trevas. Ela como instrumento nos dá o senso  de direção e faz com tenhamos consciência do ambiente em que estamos. Todavia, e a partir deste diálogo e o contexto por ele estabelecido, a luz ilumina os nossos pensamentos. O conceito de luz aqui utilizado por João, claramente lança mão de todas esses aspectos constitutivos da qualidade e dos benefícios da luz para cada um de nós. E o fato de estarmos diante de uma linguagem metafórica que sempre foi muito comum no falar de Jesus neste ambiente formatado e construído pelo autor do quarto evangelho: Eu sou o pão da vida (Jo 6:48); Eu sou o pão vivo que desceu do céu (Jo 6:51); Eu sou o bom pastor (Jo 10:11); Eu sou a ressurreição e a vida (Jo 11:25). Conduzem o diálogo tendo como pano de fundo uma dinâmica lógica e dialética. Ou seja, o leitor, um terceiro elemento neste texto será capaz de deduzir nesta mesma perspectiva de diálogo o que efetivamente é a verdade. E nas palavras do próprio Cristo, assumir a condição de discípulo de Cristo é não andar nas trevas ("Quem me segue não andará em trevas").


     Se não andamos em trevas isto significa que estamos a caminho de algum objetivo. Que objetivo seria este? Alcançar o pleno conhecimento da verdade? É perceptível o elemento dinâmico e não contemplativo para se alcançar a verdade. Metaforicamente a verdade é Cristo, por outro lado, neste momento é fundamental o auxílio da luz pra se iluminar o entendimento e o tipo de comunhão exemplificada pelo seu relacionamento com Deus, o Pai. É o ponto fundamental. Porém, jamais nos esqueçamos que tudo está carregado de intencionalidade. Não há nada que esteja acontecendo e que seja desprovido de intencionalidade.


     Está mais do que claro e patente aos nossos olhos que quando o Senhor Jesus faz referência a uma dimensão quanto a sua origem e que extrapola a visão e entendimento daqueles homens. De que eles não falam a mesma língua. O conceito de que a Lei é capaz de proporcionar todos os elementos ou recursos pra que a verdade seja sempre aferida, em tese é verdadeiro, ainda que para tanto eles teriam que ser capazes de redimensionar a abordagem hermenêutica(Há uma intencionalidade subjacente e ao mesmo tempo nenhum movimento na direção de sua alteração) que faziam da própria Lei enquanto escritura. Fica bastante claro que existe uma espécie de defasagem entre o que efetivamente pode ser encontrado na escritura, ou forma da letra, e o que a partir de uma hermenêutica consagrada com base num consenso de oralidade se aplica enquanto princípio legal ora referenciado.


     Isto é o que tentaremos explorar com mais especificidade no tópico seguinte. e veremos como é possível vivermos no mesmo lugar e compartilharmos dos mesmos valores e contextos culturais e não falarmos a mesma língua. Seremos capazes de redimensionarmos as muitas distâncias existentes entre um e outro ser humano que vivem na mesma época e desfrutam dos mesmos espaços?


     


     

III - COMO NUM DIÁLOGO PODE SE PERCEBER QUE NÃO SE FALA A MESMA LÍNGUA(V.V. 20-27).


     Esta situação relatada neste trecho do evangelho de João, dependendo do contexto e de quem a esteja experimentado, pode causar algum tipo de frustração. Ela poderia ser frustrante para o próprio Cristo. O verso 20 denota bem o que se tem para falar. Este verso diz que o Senhor Jesus está ensinando no lugar do tesouro, ou seja ali onde os fiéis se dirigiam para fazerem suas ofertas. Era onde ficava o gazofilácio. Num primeiro momento podemos até, pensando de forma alegórica, imaginar que o Senhor Jesus ali estava porque seus ensinamentos eram verdadeiras pérolas. Mas, eu prefiro pensar com os pés no chão entendendo que por se tratar de um lugar onde fluxo de pessoas era constante, o Senhor se posicionou estrategicamente naquele lugar. E, segundo o texto, e, em especial este verso, era ali que ensinava.


     Já falamos aqui que Jesus, os fariseus, os escribas e todas as autoridades religiosas de Israel não falavam a mesma língua. E agora entra mais um componente que também não fala a mesma língua do Senhor Jesus, o povo, as pessoas de um modo geral. Eles são aqueles fiéis que até então se alimentavam da hermenêutica proveniente deste grupo que há pouco foi elencado por mim. Como não falam a mesma língua, ainda não há, apesar das tentativas deste grupo majoritário, como formalizar algum tipo de proibição ao que o Senhor Jesus está fazendo, ensinando  a sua doutrina. Por isso não puderam prendê-lo. Por conta disso, a sua hora também ainda não havia chegado.


     O verso 21 mostra o Senhor Jesus dando uma conotação moral a sua fala, já que faz alusão ao pecado e a incapacidade dos seus interlocutores em estarem ou o encontrarem no lugar para onde vai, caso queiram procurá-lo. E a sua palavra é clara dizendo que o que o impedem de estarem no mesmo espaço onde se encontraria o Senhor Jesus é o pecado. Eles morreriam nos seus pecados. Os judeus tergiversam ironizando esta situação afirmando que o que o Senhor Jesus estava intentando cometer é um suicídio. Esse pensamento foi imediatamente combatido por Jesus no verso 23 ao afirmar que eles, os judeus eram debaixo e Ele de cima. Logo, eles pensavam com os valores por eles construídos neste mundo. O Senhor Jesus volta a enfatizar que a sua origem não é neste mundo. 


     O verso 24 deixa indício de que a situação experimentada por Jesus neste capítulo pode ser equiparada ao que Moisés experimentou em seu encontro com Deus na THEOPHANIA do deserto, lá no Monte Horebe. Moisés ainda estupefato com o que está presenciando, ouve de Deus que ele precisa retornar ao Egito e anunciar ao seu povo que Deus ouviu o seu clamor e que estava pronto para livrá-lo do cativeiro. Então Moisés pergunta ao Senhor e se eles me perguntarem pelo seu nome? E a resposta do Senhor a Moisés está no verso 14 do capítulo 3 do livro de Êxodo.


     O povo e muito menos as autoridades religiosas e doutores da Lei não estavam aptos naquele momento em fazer uma retrospectiva deste fato relatado no capítulo 3  do livro de Êxodo e o relacionarem às palavras do Senhor Jesus quando faz uso da expressão "Eu sou". A ignorância deles era tanta que no verso 24 eles perguntam: "Quem és tu?" E novamente o Senhor Jesus afirma em resposta: "Isso mesmo que já desde o PRINCÍPIO vos disse". Acho que a grande tacada redacional deste evangelho, e não é pra menos, foi a sua liberdade em se valer de um princípio de racionalidade tão bem conhecido no pensamento grego(O Logos) e o relacioná-lo ao que foi o evento da criação do ponto de vista da cultura e religiosidade judaica.


     O paralelismo antitético é visto e perpassa por todas as estruturas de diálogos que se reproduzem neste evangelho e com mais especificidade neste capítulo de número 8, porém e não necessariamente a maneira judaica que exibe um tom poético e sim desde de uma relação dialógica e dialética e com o claro objetivo de se construir uma verdade que seja mais prática e pública acerca daquilo que já está consagrado no princípio legal que os interlocutores de Jesus se auto proclamam seus defensores. 


     Os versos de 25 a 27 mostram não apenas a relação de cumplicidade e de testemunho mútuo entre Jesus e Deus(Pai), assim como o que efetivamente e para aquele momento era a sua missão. Ele tinha muito que dizer e julgar a cerca daquelas pessoas. Entretanto, e naquele momento, o que ele tinha que fazer era tão somente revelar o que tinha ouvido do Pai. E o que tinha ouvido, isso também falava. E mesmo assim, os judeus ainda não entendiam a relação que Jesus tinha com Deus como seu pai e de tudo que falava dessa relação a nível de conhecimento e na acepção do significado do verbo conhecer(Gnosko) que é o mesmo que participar um da vida do outro: "Eu e o Pai somos um."(João 10:30).


  




IV - A VERDADE É ALGO QUE POSSUI UM ELEMENTO DINÂMICO E É PASSÍVEL DE SER ALCANÇADA E O RESULTADO DESSE ALCANCE, NÃO OFERECE UM STATUS DE CONTEMPLAÇÃO QUANDO SE ESTÁ DIANTE DELA. (V.V. 28-32). 



     Não temos como falar neste capítulo dessa relação intrínseca entre Jesus e Deus, o Pai. Porém de tudo que já foi mencionado na leitura deste capítulo até aqui, este é o trecho em que mais fica patente esse elemento dinâmico do conhecimento adquirido a partir do relacionamento entre ambos. Ou seja, Jesus e a transcendência a quem ele chama de Deus Pai. Eu me lembro que quando estava escrevendo um texto sobre a questão litúrgica e de como ela é crucial para os católicos tradicionalistas, uma coisa que salta aos olhos de todos é que o objetivo quanto a preservação daqueles elementos mais tradicionais na missa de rito antigo é o caráter contemplativo.


     Neste trecho que estamos observando se tem uma coisa que não acontece é a contemplação. Muito embora o início de sua fala no verso 28, O senhor Jesus faça menção do seu martírio como algo que deverá ser visto por eles, os seus algozes. "Quando levantardes(...), então conhecereis que EU SOU, ..." Uma clara alusão a sua crucifixão. Mas a relação entre Jesus e Deus é uma relação de cumplicidade como já foi afirmado aqui e acima de tudo obediência. O senhor Jesus não afirma nada de si mesmo, e que falava estas coisas conforme o Pai lhe ensinara. Logo, percebe-se que esta relação é extremamente dinâmica. Até o verso 29, segue o testemunho do senhor Jesus sobre esta relação com o Pai e tanto de sua fidelidade quanto da fidelidade do Pai que também não o deixa pois o que sempre faz tem sido do agrado do Pai.


     Por conta desse testemunho que revela essa relação mútua e fiel entre o Senhor Jesus e Deus o Pai. Alguns dos judeus creram em suas palavras. A estes ele dizia que se permanecessem na sua palavra. Ou seja, se fossem fiéis ao que estavam aprendendo. Eles acabariam por se tornarem discípulos do mestre. Não apenas discípulos, mas discípulos verdadeiros. O resultado desta situação seria alcançar o conhecimento da verdade e a verdade como este elemento dinâmico libertaria esses discípulos.


     Alcançar o conhecimento da verdade, já é uma faceta dinâmica e estar diante dela, enquanto verdade propriamente dita, também não se constitui como elemento contemplativo. Pois conhecer a verdade é também alcançar a libertação. Porém tudo depende de uma conjugação de fatores. Há a pressuposição do elemento condicional colocado pelo Cristo. Se não, lembremos de suas palavras: Ele se dirige àqueles judeus que tinham crido nele, e, portanto, estabelece como condição e pré requisito para serem seus verdadeiros discípulos permanecerem em suas palavras. E se eles assim fizessem, também conheceriam a verdade e a verdade os libertaria.


     Na minha juventude tive um livrinho de origem e evangélica e norte americana, quanto a isso nenhuma novidade, onde o autor desenvolvia a temática a cerca de um momento antes da descida do Espírito Santo, atribuindo que a condição dos discípulos de Jesus naquele intervalo de tempo era de eles eram convertidos, mas não regenerados. Paulo, que é o grande escritor e teólogo do NT, não o único. Passou por muitas dificuldades ao lidar com os crentes de Corinto. E a impressão que se tem é de que eles não eram crentes. Embora esse tipo de ajuizamento jamais aconteça nesta epístola e por parte do apóstolo. O Corinto era uma cidade grega e muito rica. Havia muitos intelectuais ali. E pode ser que os crentes que aderiram a mensagem do evangelho pregado por Paulo, tenham aderido a mensagem imaginando que pudesse ser uma nova filosofia. 

     Mas voltando a questão do elemento dinâmico. Ele está intrinsecamente colocado como condição para a construção de um relacionamento fecundo e promissor entre Cristo, Deus o Pai e o crente. Por outro lado, faz com que pensemos, e a partir deste relacionamento para com Deus que envolve a construção e entendimento do próprio caráter de Deus enquanto um ser eminentemente dinâmico, no aspecto dinâmico das três pessoas da Trindade. E nada mais apropriado para caracterizarmos a Trindade do que seu aspecto dinâmico. Que alguém com extrema maestria assim definiu: O ir e vir de Deus em si e a partir de si mesmo. (TILLICH, Paul. Teologia Sistemática, p. 54-55).





V - O CONCEITO DE LIBERDADE NO FALAR E LINGUAGEM DO SENHOR JESUS (V.V. 33-38).


     De fato não há como Jesus e os judeus falarem a mesma língua. Há um hiato, um verdadeiro abismo já que muito embora sejam falantes de uma mesma língua seus conceitos se divergem claramente. Eles, os judeus, chegam até mesmo incorrerem numa mentira ao falarem que por serem descendentes de Abrão jamais foram servos ou escravos. Eles  estavam omitindo uma etapa da história cívica de seu povo quando foram subjugados no Egito. E a Páscoa como festa religiosa e data nacional é o maior exemplo disso.

     O termo utilizado para servir em grego é DOÚLOS_ Servo, ou escravo. E o maior exemplo pode ser encontrado no capítulo 20 de Êxodo, verso primeiro: "Eu sou o Senhor, teu Deus, que te tirou do Egito, da casa da servidão." Pode ser que o redator deste evangelho tendo em vista o objetivo de revelar o caráter desses interlocutores ao atribuir a eles este lapso de memória como se fosse algo intencional. Até porque neste trecho, em especial, o que ficará com maior evidência, é o fato de que o embate com o Senhor Jesus haverá de revelar quem efetivamente está falando  a verdade.

     Esses judeus se autodeclaram a posteridade de Abraão e, portanto, omitindo o período em que seu povo permaneceu no Egito. E, que por isso mesmo, eles nunca viveram sob qualquer tipo de servidão. Com isso, tentam invalidar as palavras ou discurso de Jesus. Perguntando então como eles seriam livres se nunca conheceram o que é estar debaixo de algum tipo de jugo? A resposta de Jesus é seca, contundente e independe de uma origem étnica: "Todo aquele que comete pecado é servo(escravo)do pecado". 

     A fala do Senhor Jesus quanto a servidão do pecado serve e se encaixa em qualquer etnia que exista sobre a face da Terra. O pecado tem sim uma qualidade ou caráter universalista. Na metáfora da casa onde vivem tanto o servo quanto o Senhor da casa, somente o Senhor da casa permanecerá nela, o servo não, pois não é dono nem de si  e muito menos do local onde vive. Agora entre o filho e o Senhor da casa(Pai), a relação é diferente pois o filho é a sucessão ou o sucessor do Pai. Ambos têm o mesmo status enquanto Senhor da casa.

     Logo, somente o filho pode e tem poder para libertar quem quer que seja. Por isso  a sua palavra de que somente com a libertação que o filho dá é que verdadeiramente eles serão livres. Entretanto, permanece a disparidade de discurso entre os judeus e o Senhor Jesus. Não existe nenhum tipo de afinidade entre o que o Senhor Jesus fala e o que os judeus falam. Mesmo assim, o Senhor Jesus reconhece a descendência de Abraão presente neles como uma realidade. Esse estranhamento entre o que o Senhor Jesus e o que os judeus falam gera um conflito capaz de produzir o que os judeus já intencionam fazer há algum tempo: Tirar a vida dele.

     A versão que tenho utilizado não faz qualquer tipo de discernimento entre o que o Senhor Jesus testemunha daquilo que viu junto do Pai com o que os judeus falam do que viram junto do pai deles. Pois, bem, a versão que utilizo é a Almeida Corrigida e Fiel(ACF), porém a Almeida Revisada da Imprensa Bíblica acompanha o texto crítico e algumas outra versões do NT ao apontar que, no caso dos judeus, eles fazem o que ouviram(EKOUSATE) de seu pai e não o que viram(EORAKÁTE). O discernimento com referência à ACF, apenas acontece entre a real identidade do Pai a quem Jesus faz referência e a identidade do pai a qual o Senhor Jesus atribui aos judeus. E, neste caso, eles não possuem a mesma origem.

     
      


VI - CONCEITOS EQUIVOCADOS SOBRE A PATERNIDADE(V.V. 39-43)



     Há um verdadeiro conflito de interesses aqui neste trecho, como já dito antes, entre Jesus e os judeus. O que jamais aconteceu até agora, e não vai acontecer, é deles falarem a mesma língua. Os judeus buscando uma justificativa para as suas origens, primeiramente fizeram referências à sua etnia, já que diziam ter uma origem em Abraão. Mas o  próprio Cristo estranha essa origem em Abraão, pelo fato de que a intenção de tirar-lhe a vida não combinava com o caráter do próprio Abraão. E agora, uma vez que esse tipo de discurso está sendo derrubado pelo Senhor Jesus, eles de uma forma e atitude defensiva estão dizendo que não são produtos de uma relação condenada e deplorada pela própria escritura: "Nós não somos nascidos de fornicação, ou prostituição; temos um Pai, que é Deus."

     E novamente, há um conflito de Jesus com os judeus com relação a origem apontada por eles judeus em Deus. O Senhor Jesus encontra um contra senso nas palavras dos judeus. Se eles tivessem uma origem paterna em Abraão, como se explica o fato de que não falam a mesma língua, ou, melhor não fazem as mesmas obras de Abraão? E aponta novamente o motivo pelo qual tentam tirar-lhe a vida, ele fala a verdade que de Deus tem ouvido. E ao fazer referência a Abraão a quem o judeus têm por pai, ele diz que Abraão não faria o que eles intencionam fazer. Então o Senhor Jesus em um tom enfático afirma que eles fazem a obra do pai deles, que decididamente não era Abraão e muito menos Deus.

     Então, que pai, afinal de contas, é este que Jesus diz ser dos judeus? Ele afirma categoricamente que aqueles judeus fazem as obras do pai deles. Ora, a obra a que o Senhor atribui a eles é de que eles não somente não falam a verdade e que ainda intencionam e conspiram contra a vida do próprio Jesus. Este tipo de conduta não combina com Abraão e não combina com o próprio Deus. Eles continuam afirmando que não são filhos de fornicação, ou prostituição. Ou seja, a origem deles não é pecaminosa. Segundo eles, suas origens estão em Deus. E o Senhor Jesus afirma novamente que se Deus fosse o Pai deles, eles o amariam, pois a sua origem também está em Deus. Ele é enviado de Deus.

     Está claro a falta de entendimento, de discernimento entre o  que o Senhor Jesus fala e o tipo de atitude que surge na contra partida das palavras de Jesus. Eles, os judeus se sentem e se auto proclamam descendência de Abraão apenas como um ponto de referência e de inserção na linha de desenvolvimento histórico da cultura, da religião e de tudo o mais com relação aos valores que caracterizam e identificam o povo hebreu no cenário histórico. Para Jesus, ter uma identificação com Abraão, ou mesmo ter uma ascendência de origem no Deus a quem o patriarca Abraão serviu, é muito mais do que uma perspectiva de inserção histórica. É fazer as obras desse antepassado e ter uma ética de submissão a Deus. E uma resposta que o Senhor Jesus poderia dar a estes judeus foi  a que ele deu a um outro grupo de Judeus em Mateus 3:9: "Deus pode suscitar filhos a Abraão até mesmo destas pedras".  

     Que espécie de filhos de Abraão são esses judeus? Pois o próprio Jesus faz esse tipo de questionamento já que se eles se identificam como filhos, por que não fazem ou praticam as mesmas obras que Abraão? Ao condenar a atitude conspiratória que estes judeus tinham contra o Senhor Jesus, do ponto de vista de uma lógica bíblica por tudo aquilo que na escritura se conhecia de Abraão, o Senhor Jesus questiona essa paternidade abraâmica desses judeus. O raciocínio é o seguinte se alguém se identifica como filho de uma certa pessoa, este filho é quem sucede o antepassado. E suceder é perpetuar as ações daquele que viera antes. Então a pergunta do Senhor Jesus é a seguinte: "Se fôsseis filhos de Abraão, faríeis as obras de Abraão."

     O que se pode depreender a partir das próprias palavras de Jesus que o conceito de paternidade vai muito além de uma origem étnica e genética. Este assunto já foi devidamente explorado por mim em um outro texto de minha autoria. Onde discuto a questão da paternidade divina e por que é melhor jamais Deus de PAI e não mãe?(SANTOS,Aloizio José. Porque devemos chamar Deus de Pai e não de mãe? aljsantos.blogspot.com.br). Muito embora os judeus se digam filhos de Deus e que nas palavras de Jesus é um verdadeiro conta senso, haja vista a intencionalidade dos seus corações denunciadas pelo próprio Cristo, ele não nega que eles tenham uma paternidade: "Vós fazeis as obras de vosso pai"... Ou seja, há sim uma paternidade subjacente nas palavras de Jesus que apontam para uma origem paterna daqueles judeus e se justificam pelas atitudes por eles tomadas.

     O pai de vocês não pode ser Deus, pois se fosse, vocês me amariam, já que a minha origem está nele. Eu saí dele, e vim de Deus; não vim de mim mesmo, mas Ele me enviou. E é justamente esta origem de Cristo, diversa da dos judeus que faz com que eles não falem a mesma língua. E também não conseguem entendê-lo. Eles estão impossibilitados de ouvirem as palavras de Jesus. O Senhor Jesus então aponta que o problema está na origem deles, no pai deles, e por conta disso, ficam impossibilitados de entenderem a fala de Jesus, e o seu discurso. Tudo aquilo que, de forma expressiva, o Senhor tem falado àqueles homens, e que não conseguem absorver  nada do que no uso de seu discurso ou hermenêutica ele tem falado, muito embora, ele faça uso das palavras, de suas palavras(LÓGOS).

     



VII - A VERDADE E A MENTIRA SÃO ORIUNDAS DE FONTES RADICALMENTE DIFERENTES(V.V. 44-51).


     Ao atribuir a origem paternal daqueles judeus ao diabo, Jesus, na sequência, enumera todas as características daqueles que possuem tal paternidade: homicida, mentiroso e pai da mentira. E o motivo da incredulidade daqueles judeus com relação as palavras de Jesus, era tão somente pelo fato de o Senhor dizer a verdade. Ao mesmo tempo, o Senhor Jesus foi capaz de lhes lançar um desafio se algum deles era capaz de lhe convencer de algum pecado? E se ele dizia a verdade a eles por que será que não criam em suas palavras?

     O Senhor afirma que aqueles que pertencem a Deus, que têm uma origem paterna em Deus, são capazes de ouvir a palavra de Deus já que jamais lhes faltará entendimento. Por outro lado, se eles não criam e muito menos entendiam o que era a verdade e as próprias palavras de Deus. Era tão somente porque eles não eram de Deus. A reação daqueles homens às palavras fortes e contundentes do Senhor Jesus vem no sentido de se desconsiderar, melhor dizendo, desqualificar as suas acusações. E a forma por eles utilizadas está relacionada a atribuição de um adjetivo depreciativo por parte dos Judeus quando queriam desmerecer a quem quer que fosse. Eles o chamaram de samaritano e que também era possuído por demônio.

     Fato interessante neste caso é a reação e resposta de Jesus. Pois bem, se eles querem chamá-lo de samaritano, e se acham que ser um samaritano é algo tão depreciativo assim, que seja. Jesus não retruca o atributivo samaritano. Mas, ao atributivo de que ele tem demônio, sua resposta é de que não tem demônio e de que sempre busca honrar ao Pai. E eles judeus, fazem de tudo para desonrá-lo. Também afirma que não busca a sua própria glória,  ainda que deixe subentendido de que há quem busque e que julgue. E a sua referência de que aquele que guarda, conserva a sua palavra, é também aquele que jamais verá a morte, mostra bem o que é e o que significa a eleição do filho como aquele que sucede o Pai. A sua glória como ele mesmo já afirmou em outras situações é aquela glória que estava escondida junto do Pai(João 17:5). 

      


VIII - EGO SUM (V.V. 52-59).



     EGO EIMÍ seria a expressão presente na língua grega que tem o significado de EU SOU. Uma expressão dessa tem um peso enorme na tradição judaica. De certa forma, é como se ela fosse privativa apenas da divindade, do Deus todo poderoso, o Senhor dos Exércitos. Para que alguém pudesse pronunciar uma expressão como esta e tivesse a aceitação do povo judeu e suas autoridades religiosas, ela teria que ser pronunciada por um Homem de Deus, um profeta. Mesmo assim a sua aceitação não significaria que teria a adesão da totalidade do povo e principalmente das autoridades religiosas. Dado ao conturbado relacionamento entre o profeta e aqueles que se intitulavam líderes entre o povo(Hebreus 11:37). 

     Até aqui temos falado dos desencontros entre o o Senhor Jesus que fala com base na palavra de Deus que ele afirma ter aprendido, ouvido junto do Pai. Ao mesmo tempo em que se constata uma profunda desavença entre as palavras do Senhor Jesus e o que autoridades religiosas diziam enquanto porta vozes de sua religião. E, portanto, falavam em nome de Deus. Este desacordo se arrasta por todo este capítulo. Foi falado e enfatizado que eles de fato. Tanto o Senhor Jesus quanto os judeus nunca falaram a mesma a língua.

     Os judeus insistentemente afirmam que o Senhor Jesus era portador de algum demônio pelo tom enfático com que o Senhor Jesus afirmava que aqueles que guardassem as suas palavras jamais provariam a morte. E lançam mão das memórias históricas de seu povo para contra argumentar  com Jesus. Ora, como podia alguém ao guardar as palavras de Jesus não provar a morte, se o próprio Abraão, ou os profetas já tinham provado a morte antes de Jesus. Eles então indagam, quem ele achava que era? E o perguntam: "És tu maior do que o nosso pai Abraão?"

     O Senhor Jesus continua afirmando que o objetivo de sua palavra não é buscar a sua glória. Caso ele buscasse a sua glória isto não seria nada. Quem o glorifica é Deus a quem eles, os judeus, chamam de seu Deus. E insiste, vocês não o conhecem, mas, eu o conheço. E se disser que não o conheço, me faço de mentiroso tal qual vocês judeus se fazem. Eu o conheço e guardo  a sua palavra. Ainda acrescenta que Abraão exultou em ver o seu dia e quando o viu muito se alegrou. Pensando desde uma perspectiva de tempo cronológico, os judeus estranham aquelas palavras do Senhor Jesus. E perguntam como aquilo seria possível se na aparência do Senhor Jesus ele ainda não tinha 50 anos, como ele poderia ter visto o grande patriarca Abraão?

     É exatamente neste momento que a expressão EGO SUM(Latim), ou EGÒ EIMÍ(Grego). E que será motivo de muita revolta e ira por parte daqueles judeus, toma força. Ela não está sendo usada por alguém que neste exato momento se torna um emissário divino que fala em nome de Deus, mas não se coloca no seu lugar. Aquela relação filial do Senhor Jesus com o próprio Deus utilizada desde o início deste capítulo. E que estas autoridades religiosas não estavam levando a sério. E, por isso, conduzem o diálogo com o Senhor Jesus em tom irônico, pra não dizer sarcástico. Agora, toma um rumo inesperado da parte deles, a ponto de se revoltarem radicalmente com a atitude do Senhor Jesus ao se colocar no lugar de Deus.

     A atitude daqueles homens naquele momento passou fora dos limites. O Senhor Jesus já havia denunciado que eles conspiravam contra a sua vida. Entretanto, e de maneira comedida eles articulavam nos bastidores como tal acontecimento se daria. Mas, com o tipo de afirmação que o Senhor fizera, eles passaram por cima de qualquer plano, me perdoem pelo adjetivo, maquiavélico e calculado, e foram às vias de fato. Algo de mais grave não aconteceu, pois, como diz o texto, o Senhor Jesus se ocultou passando incólume pelo meio deles sem que os notasse, e dessa maneira se retirou daquele lugar, ou seja do Templo. 






CONCLUSÃO
  

     
     A abordagem de uma temática como esta, onde o que se procura é a experimentação, ou a praticidade desta verdade e que a partir de uma relação dialógica entre Cristo e seus interlocutores e futuros algozes, se pode construir uma perspectiva de conhecimento da verdade que leve em consideração um relacionamento com Deus. Este Deus que segundo a revelação contida neste texto e oferecida pelo próprio Cristo ocupa o espaço e vazio transcendental da figura paterna que não pode ser equiparada a este Pai que se revela em Cristo. Este tipo de afirmação se sustenta pela própria acusação do Cristo ao dizer que aqueles judeus, os seus interlocutores tinham por pai o diabo e única coisa que eles por inspiração deste pai produzem é a mentira.

     A julgar pela dinâmica que este capítulo 8 exibe, o grande e mais importante assunto que se debate é, quem, afinal de contas é detentor da verdade, e em seu nome deve falar, Jesus ou os fariseus? Evidentemente que a pressuposição farisaica de que o testemunho de Jesus não se sustenta e o acusam formalmente de não estar dizendo a verdade, baseia-se no fato de que o seu testemunho orbita em torno de si mesmo. E, no mesmo instante a resposta de Jesus em sua defesa é de que, muito embora, ele testifique de si próprio o testemunho dele é verdadeiro. Pois, ele sabe de onde vem e para onde vai. E eles, os fariseus, não sabiam de onde ele Jesus vinha e nem para onde ia.

     A todo o momento o Senhor Jesus lança no rosto de cada um deles, que o ajuizamento que eles fazem tem deficiências profundas com relação ao ponto de partida ou pressupostos construídos por eles. E o fundamental, eles julgavam com deficiência, por julgarem segundo a carne e cumpriam com um papel que não lhes era facultado. Já que o juízo ou o ajuizamento das ações humanas cabe única e exclusivamente a Deus. Por isso, o próprio Jesus afirma que a ninguém julga. Mas, se por acaso, ele tiver que julgar, o juízo será verdadeiro pois, é ele e o Pai que está com ele e que o enviou. A indicação de que a fonte de toda a verdade e conhecimento com o qual o Senhor Jesus compartilha está na sua relação viva e eficaz estabelecida entre ele e o Pai. Logo, a verdade, a grande verdade anunciada por Cristo, se baseia na relação entre Pai e Filho. Ele, e a transcendência que chama de Deus Pai.

     Para se experimentar esta verdade então, é necessário ter um relacionamento muito próximo com o próprio Cristo. Para que somente assim e partir dele possamos experimentar este conhecimento de Deus mediatizado pelo seu Cristo. Somente assim se pode conhecer a verdade e verdadeiramente alcançar a liberdade. Somente se o filho nos libertar verdadeiramente seremos livres. Já perdi a conta de quantas vezes fiz menção deste elemento dinâmico na relação do Cristo com Deus o Pai e de como este elemento torna-se novamente fundamental no tipo de entendimento e de relacionamento que queremos, podemos e desejamos construir para com Deus. E, ao mesmo tempo que recai uma ênfase sobre este elemento dinâmico, também surge uma advertência quanto ao tipo de conhecimento onde o elemento contemplativo é basicamente zero.

     Experimentar a verdade anunciada por Cristo, pode-se dizer que é o principal sentido que se empresta como ferramenta hermenêutica para se entender a REVELAÇÃO. A verdade aqui não é tão somente um pressuposto de ciência e que exala um perfume fino de leve odor acadêmico. Ela está relacionada ao aspecto de uma experiência pelo encontro formal e intuitivo com aquilo que chamo de transcendente. E este aspecto transcendente somente se tronou realidade porque foi mediatizado adentrando à nossa temporalidade. Quem se encarregou de nos revelar este lado visível, ainda que transcendente de Deus foi seu filho Jesus. E é por ele que somos gratos, e por meio de quem glorificamos a Deus, Amém!!! 

________________________________________     


Ἰησοῦς  δὲ  ἐπορεύθη  εἰς  τὸ  ὄρος  τῶν  ἐλαιῶν.  Ὄρθρου  δὲ  πάλιν  παρεγένετο  εἰς  τὸ  ἱερόν,  καὶ  πᾶς    λαὸς  ἤρχετο  πρὸς  αὐτόν.  καὶ  καθίσας  ἐδίδασκεν  αὐτούς.  ἄγουσιν*  δὲ  οἱ  γραμματεῖς  καὶ  οἱ  Φαρισαῖοι  〈πρὸς  αὐτὸν〉  γυναῖκα  ἐπὶ*  μοιχείᾳ  κατειλημμένην,  καὶ  στήσαντες  αὐτὴν  ἐν  μέσῳ,  λέγουσιν  αὐτῷ,  Διδάσκαλε,  αὕτη    γυνὴ  κατείληπται*  ἐπ’*  αυτοφώρῳ*  μοιχευομένη.  ἐν  δὲ  τῷ  νόμῳ  Μωϋσῆς* ⇔  ἡμῖν  ἐνετείλατο  τὰς  τοιαύτας  λιθάζειν*·  σὺ  οὖν  τί  λέγεις;  τοῦτο  δὲ  ἔλεγον  πειράζοντες  αὐτόν,  ἵνα  ἔχωσιν*  κατηγορεῖν  αὐτοῦ.    δὲ  Ἰησοῦς  κάτω  κύψας,  τῷ  δακτύλῳ  κατέγραφεν*  εἰς  τὴν  γῆν·  ὡς  δὲ  ἐπέμενον  ἐρωτῶντες  αὐτόν,  ἀνέκυψεν*  καὶ*  εἶπεν*  αὐτοῖς*,    ἀναμάρτητος  ὑμῶν  πρῶτος  〈τὸν〉  λίθον ⇔  «ἐπ’  αὐτῇ  βαλέτω».  καὶ  πάλιν  κάτω¦κύψας  ἔγραφεν  εἰς  τὴν  γῆν.  οἱ  δὲ,  ἀκούσαντες  〈καὶ  ὑπὸ  τῆς  συνειδήσεως  ἐλεγχόμενοι〉,  ἐξήρχοντο  εἷς  καθ‿  εἷς,  ἀρξάμενοι  ἀπὸ  τῶν  πρεσβυτέρων  〈ἕως  τῶν  ἐσχάτων〉·  καὶ  κατελείφθη  μόνος  〈ὁ  Ἰησοῦς〉,  καὶ    γυνὴ  ἐν  μέσῳ  οὖσα*.  10 ἀνακύψας  δὲ    Ἰησοῦς,  〈καὶ  μηδένα  θεασάμενος  πλὴν  τὴς  γυναικὸς〉,  εἶπεν  αὐτῇ,  〈Ἡ〉  γύναι*,  ποῦ  εἰσιν  〈ἐκεῖνοι  οἱ  κατήγοροί  σου〉;  οὐδείς  σε  κατέκρινεν;  11   δὲ  εἶπεν,  Οὐδείς,  κύριε.  εἶπεν*  δὲ  〈αὐτῇ〉    Ἰησοῦς,  Οὐδὲ  ἐγώ  σε  κατακρίνω·  πορεύου  καὶ  [ἀπὸ  τοῦ  νῦν]  μηκέτι  ἁμάρτανε. 
Jesus the Light of the World
12 Πάλιν  οὖν  αὐτοῖς  ἐλάλησεν    Ἰησοῦς  λέγων  Ἐγώ  εἰμι  τὸ  φῶς  τοῦ  κόσμου·    ἀκολουθῶν  ἐμοὶ*  οὐ  μὴ  περιπατήσῃ  ἐν  τῇ  σκοτίᾳ,  ἀλλ’  ἕξει  τὸ  φῶς  τῆς  ζωῆς.  13 εἶπον  οὖν  αὐτῷ  οἱ  Φαρισαῖοι  Σὺ  περὶ  σεαυτοῦ  μαρτυρεῖς·    μαρτυρία  σου  οὐκ  ἔστιν  ἀληθής. 14 ἀπεκρίθη  Ἰησοῦς  καὶ  εἶπεν  αὐτοῖς  Κἂν  ἐγὼ  μαρτυρῶ  περὶ  ἐμαυτοῦ,  ἀληθής  ἐστιν    μαρτυρία  μου,  ὅτι  οἶδα  πόθεν  ἦλθον  καὶ  ποῦ  ὑπάγω·  ὑμεῖς  δὲ  οὐκ  οἴδατε  πόθεν  ἔρχομαι    ποῦ  ὑπάγω.  15 ὑμεῖς  κατὰ  τὴν  σάρκα  κρίνετε,  ἐγὼ  οὐ  κρίνω  οὐδένα.  16 καὶ  ἐὰν  κρίνω  δὲ  ἐγώ,    κρίσις    ἐμὴ  ἀληθινή  ἐστιν,  ὅτι  μόνος  οὐκ  εἰμί,  ἀλλ’  ἐγὼ  καὶ    πέμψας  με.  ‹πατήρ› 17 καὶ  ἐν  τῷ  νόμῳ  δὲ  τῷ  ὑμετέρῳ  γέγραπται  ὅτι  δύο  ἀνθρώπων    μαρτυρία  ἀληθής  ἐστιν. 18 ἐγώ  εἰμι    μαρτυρῶν  περὶ  ἐμαυτοῦ,  καὶ  μαρτυρεῖ  περὶ  ἐμοῦ    πέμψας  με  Πατήρ. 19 ἔλεγον  οὖν  αὐτῷ  Ποῦ  ἐστιν    Πατήρ  σου;  ἀπεκρίθη  Ἰησοῦς  Οὔτε  ἐμὲ  οἴδατε  οὔτε  τὸν  Πατέρα  μου·  εἰ  ἐμὲ  ᾔδειτε,  καὶ  τὸν  Πατέρα  μου  ἂν  ᾔδειτε.  20 Ταῦτα  τὰ  ῥήματα  ἐλάλησεν  ἐν  τῷ  γαζοφυλακίῳ  διδάσκων  ἐν  τῷ  ἱερῷ·  καὶ  οὐδεὶς  ἐπίασεν  αὐτόν,  ὅτι  οὔπω  ἐληλύθει    ὥρα  αὐτοῦ. 
21 Εἶπεν  οὖν  πάλιν  αὐτοῖς  Ἐγὼ  ὑπάγω  καὶ  ζητήσετέ  με,  καὶ  ἐν  τῇ  ἁμαρτίᾳ  ὑμῶν  ἀποθανεῖσθε·  ὅπου  ἐγὼ  ὑπάγω  ὑμεῖς  οὐ  δύνασθε  ἐλθεῖν.  22 ἔλεγον  οὖν  οἱ  Ἰουδαῖοι  Μήτι  ἀποκτενεῖ  ἑαυτὸν,  ὅτι  λέγει  Ὅπου  ἐγὼ  ὑπάγω  ὑμεῖς  οὐ  δύνασθε  ἐλθεῖν;  23 καὶ  ἔλεγεν  αὐτοῖς  Ὑμεῖς  ἐκ  τῶν  κάτω  ἐστέ,  ἐγὼ  ἐκ  τῶν  ἄνω  εἰμί·  ὑμεῖς  ἐκ  τούτου  τοῦ  κόσμου  ἐστέ,  ἐγὼ  οὐκ  εἰμὶ  ἐκ  τοῦ  κόσμου  τούτου.  24 εἶπον  οὖν  ὑμῖν  ὅτι  ἀποθανεῖσθε  ἐν  ταῖς  ἁμαρτίαις  ὑμῶν·  ἐὰν  γὰρ  μὴ  πιστεύσητε  ὅτι  ἐγώ  εἰμι,  ἀποθανεῖσθε  ἐν  ταῖς  ἁμαρτίαις  ὑμῶν.  25 ἔλεγον  οὖν  αὐτῷ  Σὺ  τίς  εἶ;  εἶπεν  αὐτοῖς    Ἰησοῦς  Τὴν  ἀρχὴν  ὅ¦τι  καὶ  λαλῶ  ὑμῖν;  26 πολλὰ  ἔχω  περὶ  ὑμῶν  λαλεῖν  καὶ  κρίνειν·  ἀλλ’    πέμψας  με  ἀληθής  ἐστιν,  κἀγὼ    ἤκουσα  παρ’  αὐτοῦ,  ταῦτα  λαλῶ  εἰς  τὸν  κόσμον.  27 οὐκ  ἔγνωσαν  ὅτι  τὸν  Πατέρα  αὐτοῖς  ἔλεγεν.  28 εἶπεν  οὖν  [αὐτοῖς]    Ἰησοῦς  Ὅταν  ὑψώσητε  τὸν  Υἱὸν  τοῦ  ἀνθρώπου,  τότε  γνώσεσθε  ὅτι  ἐγώ  εἰμι,  καὶ  ἀπ’  ἐμαυτοῦ  ποιῶ  οὐδέν,  ἀλλὰ  καθὼς  ἐδίδαξέν  με    Πατὴρ,  ταῦτα  λαλῶ.  29 καὶ    πέμψας  με  μετ’  ἐμοῦ  ἐστιν·  οὐκ  ἀφῆκέν  με  μόνον,  ὅτι  ἐγὼ  τὰ  ἀρεστὰ  αὐτῷ  ποιῶ  πάντοτε. 30 Ταῦτα  αὐτοῦ  λαλοῦντος  πολλοὶ  ἐπίστευσαν  εἰς  αὐτόν. 
The Truth will Set You Free
34 ἀπεκρίθη  αὐτοῖς    Ἰησοῦς  Ἀμὴν  ἀμὴν  λέγω  ὑμῖν  ὅτι  πᾶς    ποιῶν  τὴν  ἁμαρτίαν  δοῦλός  ἐστιν  τῆς  ἁμαρτίας.  35   δὲ  δοῦλος  οὐ  μένει  ἐν  τῇ  οἰκίᾳ  εἰς  τὸν  αἰῶνα·    υἱὸς  μένει  εἰς  τὸν  αἰῶνα.  36 ἐὰν  οὖν    Υἱὸς  ὑμᾶς  ἐλευθερώσῃ,  ὄντως  ἐλεύθεροι  ἔσεσθε.  37 οἶδα  ὅτι  σπέρμα  Ἀβραάμ  ἐστε·  ἀλλὰ  ζητεῖτέ  με  ἀποκτεῖναι,  ὅτι    λόγος    ἐμὸς  οὐ  χωρεῖ  ἐν  ὑμῖν.  38   ἐγὼ  ἑώρακα  παρὰ  τῷ  Πατρὶ  λαλῶ·  καὶ  ὑμεῖς  οὖν    ἠκούσατε  παρὰ  τοῦ  πατρὸς  ποιεῖτε. 

39 ἀπεκρίθησαν  καὶ  εἶπαν  αὐτῷ    πατὴρ  ἡμῶν  Ἀβραάμ  ἐστιν.  λέγει  αὐτοῖς    Ἰησοῦς  Εἰ  τέκνα  τοῦ  Ἀβραάμ  ἐστε,  τὰ  ἔργα  τοῦ  Ἀβραὰμ  ἐποιεῖτε*·  40 νῦν  δὲ  ζητεῖτέ  με  ἀποκτεῖναι,  ἄνθρωπον  ὃς  τὴν  ἀλήθειαν  ὑμῖν  λελάληκα,  ἣν  ἤκουσα  παρὰ  τοῦ  Θεοῦ·  τοῦτο  Ἀβραὰμ  οὐκ  ἐποίησεν.  41 ὑμεῖς  ποιεῖτε  τὰ  ἔργα  τοῦ  πατρὸς  ὑμῶν.  εἶπαν  [οὖν]  αὐτῷ  Ἡμεῖς  ἐκ  πορνείας  οὐ*  γεγεννήμεθα*,  ἕνα  Πατέρα  ἔχομεν  τὸν  Θεόν.









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