Resenha Crítica




STOTT, John. O discípulo radical. Traduzido por Meire P. Santos.
        Viçosa, MG, Ultimato. 2010, 120p.




     Em "O discípulo radical" obra derradeira desse escritor inglês, o autor num linguajar simples e objetivo trata de alguns dos males que hoje com muito mais frequência tem assolado os cristãos. Sua obra quer, antes de mais nada, oferecer um oportunidade aos crentes de encarar esses desafios através de uma atitude ética e comportamental, tanto em relação a Cristo encarando-o como seu mestre, e, de forma incondicional, quanto em relação ao mundo que cada vez mais sob a forma daquilo que se conhece como relativismo afronta a comunidade cristã. 

     Para tanto sua proposta trata-se de recuperar o sentido e a peculiaridade da palavra discípulo que neste caso é muito mais vantajosa e significativa quanto ao que propõe como projeto a ser alcançado no livro do que a palavra cristão que circunstancialmente serviu tão somente para a diminuição das diferenças étnicas. Foi opção do autor, muito embora tanto cristão/discípulo serem palavras que refletem um relacionamento com Cristo. Porém sua opção por discípulo se justifica pela relação aluno/professor.

     O autor também se vale de um discipulado radical e ao fazer referência a essa radicalidade sinaliza que não deseja perpetuar um cristianismo de conveniência ou negociado. Busca algum tipo de fundamentação ao analisar a origem etimológica da palavra RADICAL_ Do Latim radix, raiz. Ou seja, ele radicaliza por perceber em sua experiência de cristão diferentes níveis de comprometimento na comunidade cristã. E talvez, devido a essa onda relativista, deixa por um tempo a relação aluno/professor e evoca a soberania e autoridade de Cristo para falar dessa relação incondicional de obediência por parte do discípulo em relação a seu mestre.

     O autor também deixa claro que sua abordagem tem como propósito destacar oito características do discipulado cristão que atualmente são negligenciadas e que devem ser, merecem ser levadas a sério. E ao abordar cada uma dessas características ele oferece uma equilibrada base bíblica que lhe dá sustentação ao contra argumentar sobre as muitas e variadas tendências presentes no pensamento moderno e que devem soar como advertências aos descaminhos desse mesmo homem moderno.

     Assim, ao falar sobre o INCONFORMISMO, ele lembra de uma exigência moral que Deus faz a seu povo de que se deve ser santo. Quando introduz a temática SEMELHANÇA COM CRISTO,  faz alusão de que esta é a vontade de Deus. Sobre a MATURIDADE, faz referência ao perigo de cedermos e nos acomodarmos por causa de um falso triunfalismo devido a sua falta de profundidade. Ao fazer a ressalva de que o meio ambiente deve também ser objeto do nosso cuidado está sinalizando que este CUIDADO COM A CRIAÇÃO é um imperativo bíblico e que nos alerta para uma criação que geme.

     Com a SIMPLICIDADE o autor nos mostra que é ela e por meio dela que alcançamos um estilo de vida próprio capaz de nos colocar diante dos grandes dilemas que vive o ser humano e todos os flagelos a que o homem se vê envolvido. Com o conceito de EQUILÍBRIO, o autor não apenas indica a necessidade de um crescimento e, por isso, faz a alusão ao ciclo de vida assim como indica que todas as situações por ele listadas devem convergir para um sentimento comunitário, pois, é assim que se constrói uma comunidade.

     Com o sentimento de DEPENDÊNCIA, o autor prova através de exemplos como uma experiência por ele passada revela como somos limitados, ao mesmo tempo que nos conscientizamos de que em algumas situações experimentamos as nossas fragilidades. As quais podem ser físicas, psicológicas e espirituais. E com a proximidade da MORTE, o autor aborda a questão da vida que nos é oferecida em Cristo onde se abre a percepção de que com a sua chegada também se abre a questão da vida que está escondida em Cristo. O autor então se vale desse paradoxo de uma vida escondida na morte.

     O autor desta resenha não se sente em condições de afirmar categoricamente que esta obra seja algo como um livro de memórias de John Stott. Primeiramente por não conhecer sua obra, ou seja, a totalidade dos seus escritos. E depois, por deduzir a partir da leitura da obra em epígrafe que ao conduzir sua abordagem pelas linhas que se vêem no texto. A temática de um discipulado radical se justifica. Pois a atribuição de mestre cabe única e exclusivamente ao mestre Jesus e àquele que realmente procura viver sob sua disciplina. 

     A obra então, é marcada do meio para o seu fim por um tom melancólico e existencial. Pareceu também que ao se tratar da MATURIDADE, que é a quarta característica mais negligenciada no discipulado cristão e que se vê no triunfalismo a sua máscara. Fiz menção de uma escala progressiva com que essas características se arrolam no texto, muito embora não tenha tanta certeza se esta foi sua ideia. Pode ser que esta obra se preste a algumas advertências a cerca de como as igrejas e organizações cristãs estão desenvolvendo seus programas de educação cristã.

     A dificuldade de um mundo globalizado tem levado alguns programas educacionais das igrejas a selecionarem suas temáticas influenciadas por especificações pedagógicas que se prestam mais a desfigurar as qualidades essenciais de um discipulado. Pode ser que a consequência maior apontada pelo texto como as características frequentemente mais negligenciadas seja consequência do conteúdo programático e o extremo grau de racionalização a que a fé tem sido submetida.

     No mais a obra possui uma encadernação excelente e é bem maleável no manuseio. A tradução é excelente e equilibrada já que se utiliza de um português bastante acessível. Não era pra menos, apesar de ser um texto que abrange algumas abordagens de cunho teológico, é um livro sobre discipulado. Portanto, deve ser uma leitura tanto para discipuladores quanto para discípulos. É um texto bastante agradável de se ler. Portanto, posso recomendar sem sombra de dúvida a sua leitura. Não somente por trazer consigo o peso do autor, bem como pelo fato de ser bastante enriquecedora.  

   






     










Um comentário:

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