Machado de Assis e o desafio de sua leitura




Capa do livro Machado de Assis: Lido e Relido (2016)

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     Há pelo menos uns cinco anos, quando meu filho caçula ainda era aluno do ensino médio. O seu professor de língua portuguesa comentou que havia um projeto a ser tocado entre os linguistas e especialistas em língua e literatura brasileira que tinha como finalidade reeditar algumas das obras de Machado de Assis, ou todo o seu trabalho de tal forma que ela fosse vertida(parafraseada) para um português mais atual e que fosse acessível a esta geração e às posteriores.

     Alguns aspectos são extremamente importante neste momento em face do desafio que pode ser esta empreitada. O primeiro deles, eu diria que pode até mesmo ser levado para o lado positivo. É a preocupação dos docentes da área em preservar a obra deste grande mestre da língua e literatura brasileira. Uma obra não apenas se preserva pelo fato de que o registro dos escritos estejam arquivados em museus ou bibliotecas. Ela também se preserva no constante diálogo que se estabelece entre autor e leitor.

     Machado de Assis é um desses escritores profundamente preocupado com os rumos da história, da cultura, bem como da vida social brasileira. Seus romances e contos ambientados num Rio de Janeiro que ainda é o centro cultural e político do Brasil. Logo, é para onde acorrem personalidades e políticos desta imensa nação. E que atravessa o tempo entre a monarquia e o império tão bem explorado em "Esaú e Jacó". Ele nos aproxima de algumas ruas e vielas, bem como bairros desse Rio antigo que nós cariocas conhecemos tão bem.

    Isto é, eu presumo que os cariocas, dentre os quais me incluo, devemos conhecer tão bem. Pelo menos quando se faz referencia a algumas de suas personagens as quais são devidamente ambientadas nas ruas, vielas, casas, palácios, etc. deste Rio de Janeiro descrito com tamanha propriedade e peculiaride por este genial escritor: "A obra de Machado de Assis reflete esse passeio pela cidade. Portanto, nada mais apropriado do que essa justa homenagem da Cidade ao seu filho ilustre." (* Trecho do parecer da Conselheira Natércia Rossi, do Conselho Municipal de Proteção do Patrimônio Cultural, relatora no processo de declaração da obra de Machado de Assis Patrimônio Cultural Carioca.)

     De outra maneira, caso não se destacasse o lado positivo mencionado nos parágrafos anteriores. Eu diria que nossa situação é tremendamente preocupante. E digo que é preocupante pelo fato de que o termo paráfrase empregado neste projeto docente já possui grau correspondente a uma situação catastrófica enquanto projeto cultural. Uma língua como a nossa, a portuguesa, que doravante me permitirei chamá-la de brasileira em homenagem ao grande mestre Afrânio Coutinho¹. Assim como todas as outras línguas de origem românicas, são uma evolução do latim falado, ou modo vulgar de se comunicar entre os cidadãos do império. Assim era a designação atribuída ao povo pelos latinistas ou puristas. Em síntese, as línguas românicas são uma corrupção degradante do latim e seu tempo áureo.

     E, se não fosse o destemido arrojo de tantos poetas e artistas que, acima de tudo, entendiam que a arte literária deveria ser consumida pelo povo e que para se alcançar esse povo(Plebe)², era necessário andar com ele, comer da sua comida e falar a sua língua, talvez, jamais tivéssemos o que, do ponto de vista literário, chamamos de ROMANCE(A moda romana). A literatura criada e construída sobre esta base popular foi fundamental na construção de uma natureza identitária das populações fazendo com que o conceito de latinidade se circunscrevesse a uma determinada região e posteriormente avançasse para as demais áreas de influência destes povos.  

     Mas, voltando a Machado  de Assis, quem conhece sua obra ou parte dela pode ver que o autor desde o início busca um diálogo com seu leitor e neste diálogo está subentendido que o leitor com quem dialoga é parte importante e vital na condução dos acontecimentos e até mesmo no ajuizamento moral que se faz a cerca das personagens envolvidas em suas crônicas e romances. Muito antes de nos preocuparmos com questões atreladas ao domínio e conhecimento de termos utilizados pelo autor, deveríamos nos preocupar com esta relação dialógica proposta pelo autor em sua obra, e, se efetivamente nestes tempos modernos, este diálogo ainda subsistiria com seus atuais leitores².

     E é exatamente essa relação com os atuais leitores um dos grandes problemas na leitura e releitura machadiana. E qual seria o leitor idealizado por Machado de Assis?³ Nos círculos acadêmicos Machado ainda é muito lido e celebrado. Mas, o nosso problema e discussão neste texto não diz respeito a este pequeno e seleto grupo de intelectuais que se debruçam aqui e nos exterior sobre a produção literária machadiana. A questão está localizada no  aluno do ensino médio e provável consumidor de uma literatura de qualidade, e, que pode sim, em contato com os textos de Machado, refinar ainda mais o seu gosto por literatura.

     Esse binômio leitor-consumidor é muito importante tanto para o grau de refinamento a que se chega qualquer bom leitor, quanto para estabelecer parâmetros no mercado editorial brasileiro no sentido de se consumir uma literatura de boa qualidade e de baixo custo. Por isso foi feito referência ao leitor enquanto consumidor. O ponto nevrálgico da realidade brasileira nas escolas de ensino médio coincide com a deficiência desse cliente(Aluno) e sua incapacidade diante de um texto qualquer, em articular ou conseguir relacionar as ideias disseminadas no mesmo, de tal forma que tenha competência para identificá-las.

     Não é meu objetivo identificar e catalogar nesta reflexão os muitos projetos e iniciativas que objetivavam o parafraseamento em algumas edições de obras de Machado de Assis. Tendo por base o significado do verbo parafrasear que subentende a tradução das palavras de um texto por outras de sentido equivalente, mantendo, porém, as ideias originais, não vejo com bons olhos uma inciativa como esta. Acho que qualquer tipo de iniciativa que preserve a memória e a obra machadiana são bem vidas. Pois, como carioca, sou defensor daquela ideia de que o Rio é Machado e Machado é o Rio. Preservá-lo é preservar a cidade, seus monumentos e logradouros.

     No entanto, o tipo de preservação que deve ser primordial em se tratando da obra de Machado de Assis e, que entendo, acontece apenas nos meios acadêmicos. É aquele onde o autor, desde uma perspectiva e época que remonta o Rio de Janeiro, entre o final do segundo reinado e início da República Velha, dialoga com os meandros e espaços culturais, políticos, filosóficos e religiosos. E penetra na alma de seus personagens estando estes inseridos em cada um destes contextos, os quais se constituem, por assim dizer em seus focos narrativos. Não conhecer Machado de Assis a partir de sua obra tal qual ela foi produzida. É um sintoma sério de perda de habilidade em narrar ou contar uma história. E a modernidade tem produzido este tipo de deformidade em nossa sociedade.

     De uma maneira bastante sintética, imaginação e vocabulário são condições imprescindíveis para todo e qualquer escritor assim como para todo e qualquer leitor. São elementos fundamentais para a construção de qualquer tipo de narrativa. É também por onde nos damos conta de nossa condição de seres humanos e de como nossas experiências carregadas de paradoxos se transmitem às gerações futuras. O código língua portuguesa é um conjunto de signos mediados por um sistema convencional e que pertence a um grupo de indivíduos. É preciso então, compreender o processo que acontece mediante a materialização das palavras utilizadas na construção de discursos e, assim, expor pensamentos e opiniões. Foi exatamente isto, no caso específico de Machado de Assis, que aconteceu para que ele produzisse uma obra volumosa e de qualidade.










     

     

       

     

     

     



     
      





Texto - Lucas 17:1- 37

Tema - O tempo na perspectiva do Reino de Deus inaugurado por Jesus.

ICT - O tipo de cronologia aplicada por Jesus nesta passagem em nada se pode comparar àquela que faz parte de nossa vida e da maneira como aplicamos a mesma em nosso dia a dia.

Objetivo Geral - Levar a congregação ao entendimento de que para se fazer parte do Reino de Deus é necessário primeiramente que nos conscientizemos que ele está entre nós.

Objetivo específico - Levar a congregação ao entendimento de que qualquer instrumental de leitura do tempo que não passe por uma relação de igualdade entre todos, não pode também ser indício de que o Reino de Deus está entre nós. 

Tese - "Porque o Reino de Deus não é comida nem bebida, mas justiça, e paz, e alegria no Espírito Santo." (Romanos 14:17).




INTRODUÇÃO


     Os evangelhos e, neste caso, sem exceção, isto porque o que vale para os sinóticos vale também para o evangelho de João, são um conjunto de regras e ensinamentos deixados por Jesus e que fundamentalmente estabelecem parâmetros de conduta, de bem viver uns com os outros e, por extensão, um bom relacionamento para com Deus mediado por Cristo. A rigor, os mesmos não se constituem como princípios a serem observados sob a tutela de uma estrutura eclesiástica(Nominalmente conhecida por Igreja)tal como a conhecemos e com a qual nos relacionamos atualmente.

     Essa proposição de conduta iniciada por Jesus, seguindo um traço bastante distintivo da cultura e religiosidade judaica tem como objetivo o estabelecimento de regras de convivência entre todos. Assim como, ao se falar de uma questão como esta, o objetivo não é o fortalecimento de uma instituição que se diz portadora da mensagem e dos ensinamentos de Cristo e dos quais se diz sua guardiã. Isso é melhor compreendido naquele princípio conhecido como personalidade corporativa. Princípio que o próprio Paulo como um bom judeu soube aproveitar com maestria em suas epístolas quando fala da nova vida "Em Cristo".

     A simples alusão que se faz a cerca de uma dinâmica nova e diferente do ponto de vista de um relacionamento entre os homens e entre o homem e Deus mediado por Cristo. Já deixa claro, e, é bastante significativo que os tempos são outros. A ideia de um ciclo de tempo diferente surge pelo sentido, sentimento e percepção de que há algo de novo e passível de comparação com alguns pressupostos que trazemos do passado. O passado para os discípulos e contemporâneos de Cristo tem relação direta com a tradição veterotestamentária e a casta daqueles que reivindicavam para si o direito de serem os seus representantes.

     A religiosidade judaica como um sistema bem fundamentado, estabelecido e com um instrumental de aferição de verdade é a chave linguística na formatação de ajuizamentos éticos e morais de que o próprio Jesus, por ser um bom judeu, também se vale. Conceitos como escândalo, perdão, etc. estão muito presentes na relação social do dia a dia dos judeus. Essa dinâmica torna-se cada vez mais perceptível a medida que a narrativa deste capítulo se desenvolve com a utilização de formas verbais que demarcam, em um primeiro momento, o sentido de inexorabilidade do tempo.

     Do jeito que as coisas caminham, pelo menos, é o que o Senhor Jesus nos adverte ao fazer menção do caráter de irreversibilidade do tempo pra que não haja algum tipo de escândalo. Ou seja, alguém haverá de tropeçar nesta trajetória de vida e caminhada, moral e ética no meio deste povo. E, isto vindo a acontecer, seria melhor que o dito cujo prendesse ao pescoço uma pedra de moinho e se lançasse ao mar. Pra que serve então a advertência de Jesus? Ela incentiva a prática do perdão entre cada discípulo, uma vez que informa a possibilidade de que alguém esteja sempre na iminência de se tornar objeto de escândalo pela prática do pecado entre o povo.

     Não existe a mínima possibilidade de que não se tropece, nem se cometa qualquer tipo de falta grave, ou, até mesmo um pecado. O que se deve fazer então, de acordo com a orientação de Senhor Jesus? Aderir à prática do perdão, desde que aquele que foi o autor de tal falta se mostre arrependido. E, neste caso, o que salta os olhos é tanto a disposição e capacidade de cada um de nós para liberarmos o perdão e a consequente duração do tempo. Parece, e, não era pra menos, que os discípulos do Senhor Jesus tinham uma grande dificuldade na liberação do perdão tal como Senhor Jesus lhes ensinava. Eles chegam a pedir ao Senhor que aumente ou lhes acrescente mais fé.

     Todavia, a dificuldade dos discípulos era também no sentido de como deveriam ser as tratativas para com os seus servos. E o Senhor Jesus ao fazer a analogia da forma de tratamento com que alguns dispensavam a seus servos ensina que essa relação é também levada em consideração por Deus. Quando Ele, enquanto Senhor da vida de todos, nos dispensa os mesmos tratamentos com que dispensamos a nossos servos. E não acharmos que merecemos ou deveríamos obter da parte do Senhor um tratamento diferenciado daquilo que efetivamente fazemos.

     A sequência da narrativa nos informa que o Senhor Jesus estava a caminho de Jerusalém e toma o caminho que nenhum judeu tomava. Aquele que passava por Samaria e pela Galileia. Aquele senso de pureza regrado pelo sistema religioso judaico que se mostrava incapaz de prover o povo que o seguia de acolher o sentimento de amor e misericórdia para com o próximo. Agora, está sendo colocado a prova. Jesus está passando por duas regiões tidas e habitadas por pessoas imundas. O verso 12 diz que ao entrar em uma aldeia, lhe vem ao encontro dez homens leprosos. Estes, de longe, param e levantam a voz rogando pra que usasse de compaixão para com eles.

     A recomendação de Jesus era, segundo o que também estava estabelecido no princípio legal (Levítico 14), de que eles se apresentassem ao sacerdote. A chancela de que estavam ou não limpos, no caso da lepra, era uma prerrogativa do sacerdote. E o Senhor Jesus, como se deve sempre destacar e, como um bom judeu piedoso, segue a orientação da Lei. Então ele recomenda que eles se dirijam ao sacerdote para que sejam examinados, e, se limpos, tenham o aval da autoridade religiosa para que sejam reintegrados ao convívio de suas famílias e ao conjunto da sociedade.

     Evidentemente que houve, desde o momento que o Senhor lhes recomenda que procurem o sacerdote, a operação de milagres na vida daqueles homens. E ainda assim os homens e discípulos de Jesus que o acompanhavam não eram capazes de ver nessas operações de maravilhas traços distintivos que marcavam a presença do Reino de Deus pela própria presença de Jesus. A advertência de que o Reino de Deus não vem e não tem aparência exterior, é algo com que temos de lidar e termos o máximo de cuidado possível. Pois, desse tipo de tentação a nossa história está repleta de exemplos daqueles que se aventuraram em um identificação do Reino de Deus com determinados poderes hegemônicos e geopolíticos e, no máximo, o que aconteceu foi uma aliança entre a fé cristã e o braço político de um estado qualquer.

     Notem que no exato momento em que os fariseus indagam a Jesus a cerca do Reino de Deus, eles tinham presenciado a operação de um milagre. E não foram capazes de associar o milagre a presença de Jesus e como resultado de que o Reino de Deus se fazia presente pela identificação do mesmo com a pessoa de Jesus. Ainda pior seria o risco de que pela falta de discernimento na identificação do Reino com a presença de Jesus. Proporcionaria uma escalada de aparecimento de oportunistas e enganadores do povo se passando pelo Messias e dizendo que o Reino se fazia presente aqui e acolá.

     Uma das maiores dificuldades para se entender uma linguagem carregada de paradoxos, é que num primeiro momento, nada efetivamente faz qualquer tipo de sentido. É o tipo de linguagem que melhor se articula através daqueles que não se submetem a uma escala de pensamento mais ordinária. Este capítulo, nos apresenta algumas situações que vão desde a análise dos preceitos legais sobre os quais estão baseados a vida e a moralidade religiosa do povo judeu e a consequente insensibilidade entre os mesmos de se praticar algum tipo de compaixão entre si. Até que se chegue a necessidade de uma pregação sobre o Reino de Deus e seu caráter humanitário e de acolhimento e misericórdia para com aquele que padece por ter cometido algum tipo de pecado.

     A consequente identificação de Jesus como aquele que pela própria presença já se constitui em indício da presença do Reino  de Deus. Mesmo que, neste exato momento, o objetivo não é primordial para identificação do Reino com  sua presença. Já que uma etapa anterior a esse processo de anunciação e implantação do Reino precisa ser cumprida. Enquanto isto não ocorre, ficaremos a mercê de enganadores como já foi feito menção aqui que se levantarão dizendo que o messias está aqui e acolá. Todavia, a advertência de Jesus é no sentido de que se busque como exemplo alguns relatos que constam das escrituras sagradas e que fazem menção de como o povo já foi relapso no passado a cerca de quando Deus haveria de trazer os seus juízos sobre eles.

     Em poucas palavras, a advertência do Senhor Jesus chama-nos a atenção para aqueles que tiverem a capacidade de discernir a chegada de um novo tempo. Mas, este tempo não deve ser entendido como algo sequencial. É como a experiência de quem estuda história e num determinado momento de seus estudos, se dá conta, por exemplo, de que no idioma alemão existe dois termos para história. Um deles segue a estrutura morfológica do termo tal como o herdamos da tradição greco-latina _ historie, este se vincula a descrição do ponto de vista de um tempo rigorosamente cronológico e sequencial. O outro, geschichte _ Digamos que este termo tem uma relação mais abrangente com a sequência dos fatos propriamente dito, sem contar a sua relação com o caráter mais existencial do homem e que lhe proporciona a capacidade de ver, ler e entender a natureza de um evento.





I - Uma ideia de tempo e de perdão atrelada ao conceito de dia, ou em torno de um dia.(V.V.1-4)


     Há um crítica velada a forma como a vida do povo que vive sob a tutela da Lei mosaica. Nesta crítica, o Senhor Jesus não ataca o princípio legal, mas a forma como ele é disposto para ser observado pelo povo. As relações pessoais e sociais correm sério risco a continuar com este tipo de dinâmica. Ao olhar para o futuro e para a frente, seu diagnóstico quanto àqueles que não se adequarem a estes princípios legais é sombrio. Daí ele falar em um tempo que se torna implacável para os que não se ajustam a ele. A consequência disso, como opção menos pior para o tipo de desgraça que se avizinha é o suicídio.

     Se você está lendo este texto e de repente se depara com a interpretação de um relato em que palavras reputadas a Jesus estabelecem como opção em uma determinada situação o suicídio. Tenho a absoluta certeza de que seu ajuizamento a cerca do caráter e personalidade deste intérprete, não será dos melhores. Entretanto, e, no caso das palavras de Jesus, o que ele faz é uma analogia do princípio legal, e este representado por um sistema regulatório da vida do povo em sua época e que era altamente alienante e opressor. Pois idealizava uma perfeição exarada no princípio legal sem levar em conta as condições de sua observância por parte daqueles que deveriam observá-lo.

     Há inúmeros registros nos evangelhos a cerca de falas de Jesus advertindo aqueles que se diziam guardiões da lei e dos profetas também conhecidos como escribas e fariseus. Seus principais pecados se revelavam pela forma hipócrita com que lidavam com a lei e pelo fato de legislarem em benefício próprio. No trato com a lei não sabiam usar de misericórdia de tal maneira que eram capazes de coar um mosquito e engolir um camelo(Mateus 23:23-24). Também eram hipócritas no tratamento que dispensavam aos profetas(Mateus 23:29.

     Notemos que a fala do mestre nestes quatro primeiros versos aborda uma relação de pessoa a pessoa. Ele até mesmo estabelece uma espécie de parâmetro com um compromisso fundado e formado somente entre as partes: "Olhai por vós mesmos". É uma fala que, a princípio, não visa uma relação entre as pessoas através da mediação da lei ou de qualquer outro princípio legal. Ele chama atenção para a relação interpessoal que temos e, se não a temos, deveríamos ter, uns com os outros. E, é neste tipo de relação que o perdão pode e deve acontecer.

     Entretanto, ao se falar do perdão não se deve imaginar que o perdão seja algo automático ou instantâneo e que não obedeça determinados critérios até que o mesmo seja liberado. A parte ofendida precisa ser convencida de que quem cometeu a ofensa está realmente arrependido. Não sem antes sofrer algum tipo de repreensão. Para então, e, somente depois da repreensão e arrependimento o perdão possa ser liberado. Havendo essa dinâmica de liberação do perdão cumprido todos esses pré requisitos tantas vezes quantas forem necessárias durante o dia. Então, não há limites para se perdoar.

     Uma outra característica que deve ser abordada aqui diz respeito ao tipo de relação que temos, ou devemos ter com os nossos semelhantes. Para tanto, torna-se necessário o discernimento de duas esferas que interagem neste momento. É sempre uma dificuldade. Principalmente em se falando de Brasil se fazer uma distinção entre o que é público e o que é privado. No caso do princípio regulatório e legal da vida do povo judeu neste momento da história de Israel, e, de acordo com  a visão do próprio Cristo, que é capaz de alocar tanto a natureza da ofensa quanto a atitude do perdão no âmbito das relações pessoais sem que as mesmas sejam levadas para esfera pública bem como religiosa.

     A prática do perdão é um exercício diário. E sendo assim ela acaba se tornando um poderoso instrumento de educação religiosa, de civilidade e que contribui em grande medida para o crescimento das relações interpessoais. O perdão é o melhor princípio para nortear a nossa convivência pacífica. Ao mesmo tempo que se notabiliza como melhor antídoto contra a intolerância. Onde a prática do perdão se torna uma realidade não existe espaço para o que chamamos de ódio histórico.

     Agora, o que precisa ficar claro para qualquer discípulo de Jesus, é que essa prática não é facultativa. O que o Senhor Jesus está fazendo no verso 4 é dizer que a prática do perdão no seu discipulado é mandamento. Talvez até haja a necessidade de se fazer uma espécie de apropriação de algumas terminologias tais como o termo EPHẼMERO _ Ou como queira a forma de sua composição: EPI-HEMERA,  ou seja, uma preposição mais um nominativo singular de primeira declinação que tão somente significa: Aquilo que tem  a duração, ou gira em torno de um dia. Digamos, que depois de explicado como acontece o mecanismo de liberação do perdão. Vale lembrar mais uma vez que o perdão é condição básica para todo aquele que queira fazer parte do discipulado de Jesus.

 

II - Fé como elemento de apropriação do conceito de tempo no reino de Deus.(V.V. 5-10)


     O que o Senhor Jesus nos ensina neste trecho do evangelho é de uma riqueza inesgotável. E derruba qualquer tipo de convenção criada pelos homens. Se até o verso quatro a questão  a ser abordada tinha uma relação direta com a liberação do perdão e que, a rigor, tudo tinha a duração de uma dia. Neste exato momento os apóstolos se dão conta de que a proposta de discipulado que Jesus lhes oferece exigirá de acada um deles muito mais fé. O pedido deles vem nesta direção, pois precisam de muito mais fé do que possuem.

     Eles, ao fazerem tal pedido, demonstram de uma maneira simples e teológica que até mesmo a fé que possuem não é algo de sua natureza, porém uma dádiva divina: "Isto não não vem de vós, é dom de Deus"(Efésios 2:8). Eu diria que a fé seguindo o discurso proposto por Hebreus 11:1 é  a capacidade dada por Deus de anteciparmos, melhor dizendo, de vivermos escatológica e antecipatória a plenitude do Reino de Deus. E a resposta de Jesus apenas corrige não o fato de que a fé é um dom divino, mas o fato de que os discípulos estavam subestimando o dom e a capacidade divina que lhes fora dada. Por isso a comparação com o grão de mostarda. Os discípulos em meio ao que se apresentava como desafio minimalizavam suas capacidades ao mesmo tempo em que, de certa forma, omitiam suas responsabilidades.  

     Neste trecho do evangelho é possível ver que o discipulado que Jesus lhes propõe mexerá com a própria estrutura de funcionamento da sociedade e a relação servo e senhor. Pois esta também é a relação que vigorará na razão direta entre eles e o próprio Deus. A partir do que são capazes de fazer a seus servos na condição de seus senhores, o mestre está dizendo que a relação entre eles e Deus não será assimétrica e que não existe a possibilidade de que o tratamento dado por Deus a eles vá além daquilo que eles mesmos são capazes de fazer para com seus semelhantes. Pensando em parte no que foi registrado no parágrafo anterior, subavaliar uma competência não exime quem quer que seja de suas responsabilidades ou culpas.

     A relação Senhor-servo, patrão-empregado não pode se constituir como camisa de força em nosso relacionamento com o próximo. E mais uma vez chamo a atenção para o que o Senhor Jesus tem afirmado e consequentemente trazido para o campo das relações pessoais. Afora o peso institucional pelo qual são pautadas nossas relações na esfera pública e onde a lei é vigente. Em nossas relações interpessoais no âmbito doméstico, no seio da nossas casas o que deve pautar nossos relacionamentos é o acolhimento do outro, ou aquilo que também chamamos de relação afetuosa e fraterna.

     As principais imagens que encontramos nos evangelhos quando se faz algum tipo de referência ao Reino de Deus, são aquilo que se convencionou chamar no meio teológico de comunhão de mesa(Mateus 8:11; Lucas 5:29) e que tem por objetivo enfatizar essa relação pessoal e próxima que devemos ter e cultivar entre nós. A crítica em apenas se fazer o que se manda é um retrato do tipo de convenção que estabelecemos para nós mesmos e que num determinado momento esse tipo de convenção adquire vida própria e passa a regular as nossas ações.



III - Fé como elemento de percepção simultânea e de síntese(V.V. 11-19).

     Falamos no último parágrafo e tópico anterior a cerca das convenções. E agora, o que vemos é o Senhor Jesus quebrando as convenções estabelecidas pelo homem. Isto se dá pelo trajeto escolhido para se chegar a Jerusalém. Fico imaginando como deve ter ficado o semblante de seus discípulos quando o Senhor Jesus escolhe ir por onde foi. E, principalmente, ao se depararem com um grupo de dez homens que padeciam de lepra e por isso mesmo estavam alijados da vida social e religiosa em Israel. Ao que parece esses homens, muito embora estivessem em Samaria, a sua maioria era composta por judeus e apenas um era samaritano.

     Eles sabiam da fama de Jesus e como última tentativa na vida antes que caíssem num completo esquecimento por parte de seus parentes, amigos e as relações pessoais e sociais que possuíam em Israel. Ao longe, e, ao avistarem o Senhor Jesus, clamam por sua misericórdia. O outro dado que mostra a nacionalidade judaica deles, pelo menos de nove deles, é o fato de Jesus lhes mandar que se apresentem ao sacerdote. Como foi mencionado na introdução deste texto, Jesus como um judeu piedoso orienta conforme o princípio legal estabelece em caso de lepra. Mas, o fato de ter dado esta orientação a estes leprosos significa que ele havia liberado a cura para aqueles homens. 

     Se dirigir à presença da autoridade religiosa, neste caso, era meramente uma formalidade que precisava ser cumprida e que chancelaria a liberação da cura por parte do Senhor Jesus. Curiosamente, apenas um deles retorna a Jesus. Ele reconheceu que se não fosse a intervenção miraculosa do mestre não haveria purificação de sua lepra. Os outros nove ainda que tenham sido também agraciados pelo milagre não conseguiam ver que houve um milagre operado em suas vidas. Como o texto diz, o que voltou reconheceu que o responsável pela operação deste milagre foi Jesus. Ele volta se prostra a seus pés e glorifica a Deus.

     É muito significativa a atitude deste homem não apenas por ele ter obedecido ao Senhor Jesus que o orientou e aos outros nove leprosos a se apresentarem ao sacerdote cumprindo assim um rito formal estabelecido pela lei. Os dez compreendiam a importância deste princípio legal como elemento regulador da sociedade judaica como um todo. Entendiam este princípio como a própria palavra de Deus. E se, afinal de contas, alguém padece de um mal, isto tem relação com a prática de algum tipo de pecado e se, objetivamente, esta enfermidade foi curada deve se concluir que houve também a liberação de perdão e a consequente purificação do pecado cometido.

     O décimo leproso foi o único que compreendeu desta forma o milagre que lhe acontecera. É fato conforme o próprio registro do texto que diante do próprio mestre ele se prostra. Ele se reconhecia na condição de pecador e isto está bastante claro pois, apesar de ser visto como estrangeiro por ser samaritano, também foi a presença do sacerdote. A forma que faço menção em termos de ajuizamento de pensamento tem ligação direta com o que foi discutido pelo Senhor Jesus quando aqueles homens que introduziram um paralítico em sua presença e pelo telhado(Mateus 9:1-5; Marcos 2:3-9). Naquela ocasião, o mestre propõe uma questão aos escribas e fariseus presentes quando pergunta-lhes o que seria melhor e mais lícito, perdoar os pecados, ou dizer àquele paralítico pra se levantar tomar o leito e ir embora?

     Este samaritano ao retornar a Jesus reconheceu que o que lhe acontecera na vida foi obra da misericórdia divina. Ele tinha muitos motivos para glorificar a Deus. Todavia, o principal deles e que com absoluta certeza foi o que lhe motivou voltar e agradecer se resume a uma outra palavra do Senhor Jesus a cerca do perdão e que fala do entendimento que se tem quando se experimenta uma ação misericordiosa de Deus(Lucas 7:39-43). Ou seja, quanto mais nos sentimos e nos vemos na condição de pecadores e nos conscientizamos que não temos mérito algum do ponto de vista de nossa relação com Deus. Muito mais nos sentiremos gratos, e motivos não nos faltarão quando o assunto é a glorificação do nosso Deus por meio de Jesus.

     O comportamento de Jesus diante da atitude deste homem que ele faz questão de qualificá-lo como estrangeiro. Revela, a nível de discurso, a intenção de se estabelecer algum tipo de ensinamento, não sem antes deixar um ar de surpresa: "Mas, não foram dez os limpos? E onde estão os nove?" E a cobrança do mestre se resumia ao fato que apenas aquele estrangeiro retornou não para glorificá-lo, mas para glorificar a Deus. Uma caracterização do que se chama de fé no contexto da religião cristã que não observe a presença do elemento de percepção simultânea e de síntese que foi o que este estrangeiro fez, não será capaz de entender a principal característica do Reino de Deus e que se destaca como seu principal traço distintivo.



IV - O Reino de Deus não é perceptível pelas categorias da nossa finitude(V.V. 20-24).


     Além de não ser perceptível através das categorias de nossa finitude pela forma com que os fariseus interrogam o mestre a cerca do Reino. Ele apenas tem como chave linguística para entendimento e percepção de sua presença entre nós a figura do próprio Cristo.  A resposta aos fariseus diz respeito a um Reino desprovido de características externas. Numa alusão mais recente ao momento e situação política em que se encontrava a Palestina, o que Jesus afirma é no sentido de não se pensar um Reino tal qual o poder e domínio romano.

     E o verso 21, quando ainda o Senhor Jesus se dirige aos fariseus, ele desautoriza todo e qualquer tipo de utilização desta imagem de opressor do império romano para alimentar algum tipo de insurreição sob a forma de uma propaganda de um reino que não fosse aquele de poderio opressor estigmatizado pelos romanos. O Reino de Deus não está nem aqui nem ali. Ele está em todo lugar desde que esteja dentro de nós. O Reino de Deus dentro dessa compreensão extrapola todo e qualquer tipo de limite territorial ou geopolítico.

     E a questão do tempo fica mais interessante, se pensarmos que é fundamental para o entendimento das palavras de Jesus a cerca do Reino essa capacidade de discernir o tempo. O tempo precisa ser claramente entendido sob essa dinâmica de uma revelação divina. Porém, o que se percebe é que estes homens que estão inquirindo ao Senhor Jesus, não são capazes de ver que é a própria pessoa de Jesus a chave para o discernimento da mensagem do Reino de Deus. Primeiro pela afirmação de que o Reino está dentro de nós.  Ou seja, não vá atrás, aqui e ali, acerca daqueles que se dizem arautos do Senhor, ou mesmo o próprio Messias e que anunciam que o Reino de Deus está aqui ou acolá.

     O Reino de Deus, por assim dizer, extrapola a nossa capacidade de quantificar o tempo. Seu caráter é extremamente revelacional. Logo, não pode ser quantificado ou vislumbrado sob o aspecto até mesmo intuitivo humano. A figura do raio utilizada pelo Senhor Jesus, para o momento e época onde ocorre tal situação, neste caso, é muito emblemático. O raio enquanto um fenômeno natural em que a percepção de luz e seu exato comprimento e amplitude, faz com que também tenhamos a dimensão de espaço. Em outras palavras, este sinal leva-nos a compreensão e natureza de um evento e este caracterizado pela revelação divina no Cristo compreendida pela existência histórica deste homem chamado Jesus. 

     O verso 24 deste capítulo faz alusão ao elemento profético a cerca do próprio Jesus, que enquanto cidadão bem como tendo uma existência histórica, segundo a compreensão falha de seus interlocutores, os escribas e fariseus, apenas conseguem vislumbrar uma natureza de evento circunscrita ao ambiente histórico e localizado. A palavra de Jesus e a imagem do raio por ele utilizada extrapola esse tipo de dimensionamento e deveria provocar algum tipo de reviravolta senão em todos, porém, em boa parte dos contemporâneos do mestre, inclusive seus discípulos para que chegassem a esta compreensão. Então, seriam capazes de identificá-lo como Filho do Homem, um título de natureza messiânica.



V - A compreensão do tempo desde a perspectiva da finitude(V.V. 25-30).
  

     Nas palavras do próprio Jesus percebe-se que os homens têm escolhido viver uma vida marcadamente banal. Digamos que esta situação tal qual foi qualificada como banal seja a reprodução daquilo que também pode ser chamado de inclinação para a maldade, o pecado, a iniquidade, etc. A escritura já adverte que este tipo vida é a que conduz o homem para a perdição. Ou seja, ela configura o estado de total afastamento de Deus. Acho que valeria a pena uma leitura revisada do capítulo 3 de Gênesis, e, quem sabe refletir sobre a real a situação do homem antes da queda. Pois ali, não há nenhum tipo de referência a perenidade do homem. Sua perenidade ou vida eterna era tão somente desfrutada pelo fato de o mesmo gozar de uma comunhão plena para com Deus. A medida que houve uma espécie de ruptura pela desobediência e queda, ele perde essa condição.

     O verso 25 aponta para a forma banal que os homens da época de Jesus vivem. E, que por isso, não serão capazes de reconhecer nesta revelação máxima de Deus em Cristo a solução para os seus problemas e dificuldades. A expressão "Esta geração" e a atitude de reprovação que a mesma tomará em relação a Jesus e a messianidade nele presente e revelada é fator significativo que aponta para a banalidade com que os homens de uma maneira geral lidam com as coisas de Deus. E ela dá bem a consciência de nossa finitude e consequente falta discernimento no momento de nossa necessidade quando visamos o restabelecimento de nosso relacionamento para com Deus.

     "Esta geração" também pode ser entendida como elemento demarcador da existência histórica do Cristo e do fato de que foi através da existência deste homem de Nazaré que a plenitude divina se manifestou fazendo com que este, ainda que num determinado momento se transformasse num homem de dores e sofrimento. Ainda assim essas mazelas da vida a que foi submetido não foram suficientes para ofuscar a glória que nele se revelava. De um lado temos um Cristo rejeitado pela sua geração e, por outro, o próprio faz uma alusão às escrituras, mais especificamente aos tempos de Noé, e depois a Ló e sua família no contexto de Sodoma. Onde as pessoas tocavam suas vidas de forma banal e corriqueira e nunca se deram conta da iminência do juízo divino.

     E, ao que parece, pois já falamos aqui das palavras do Senhor num tom profético. Entre a existência histórica do Cristo e seu consequente martírio em decorrência da rejeição a sua palavra e o seu retorno em glória, há este mesmo tipo de comportamento banal apontados como exemplo das escrituras tanto na vida de Noé quanto na vida de Ló. É um total desdém em relação ao juízo divino. E a referência a palavra de Jesus qualificando-a como profética precisa ser melhor exemplificada. Para tanto, é necessário acrescentar ao caráter profético dessa palavra desde uma perspectiva escatológica como sendo algo que terá lugar num futuro, não sei se longínquo ou não, mas, que se pode vislumbrar de forma antecipatória.

     E aí mesmo quando Jesus se reporta ao passado citando personagens como Noé e Ló. E agora ao fazer menção por analogia desse passado com as consequências que lá ocorreram e que elas são passíveis de se reproduzirem a qualquer momento. O mesmo tipo de ordenança que fora dada a Noé e a Ló com relação a atitude de se olhar tão somente pra frente e jamais pensar em retroceder tal como o ocorrido com  a esposa de Ló. A forma banal como as pessoas vivem suas vidas ocasiona uma maneira de se ofuscar o que está por vir do ponto de vista da finitude humana. Usando a maneira grega de se pensar e refletir sobre a vida, sua banalidade e de como, de repente, de um modo trágico tudo pode se tornar em um grande drama, acentua muitissimamente bem a presença do elemento trágico destacado artisticamente através de seus grandes poetas.

     É com essa expectativa marcadamente de caráter estético que que identificamos a maneira como somos passíveis a acontecimentos que fogem ao nosso controle e que mesmo os deuses de uma cultura e mitologia como a grega. Portadora de um phanteon bastante elevado, também se veem impedidos de agir a favor daqueles que se dizem seus devotos. Podemos, por agora, chamar este tipo de sentimento de que nos vemos tomados como uma espécie de aptidão de nossa parte para a finitude. Na mensagem do Reino trazida por Jesus, há tanto o sentimento de finitude do ponto de vista de nossas subjetividades, quanto o entendimento de que a manifestação do filho do homem é o momento de determinação do fim da história.

     Não sei dizer se, curiosa ou lamentavelmente, este tipo de situação não se levanta com tamanha frequência na história do cristianismo. Entretanto, quando isto acontece, as coisas tendem a sair do controle e tem consequências que resultam em comoção social. A Reforma é um grande exemplo. A julgar pelo tipo de repercussão que ela provocou desde que Lutero, um monge agostiniano começou a ler as escrituras buscando tirar delas algum tipo de conforto ao se sentir diante do abismo iminente para onde caminhava sua vida sem uma certeza de que diante do encontro consigo próprio e com sua finitude, não concebia ainda a presença de um Deus misericordioso. E muito menos o conhecimento de todos os argumentos de natureza filosófica, teológica e até mesmo ontológica não lhes eram suficientes para lhe trazerem refrigério diante de sua agonia.



VI - O reino de Deus está em nosso meio, mas não se compõe de valores palpáveis(V.V. 31-37).


     Um primeiro dado que necessita ser destacado neste tópico é o fato de que o tempo na dinâmica de reconhecimento e apropriação da ideia e conceito do que é o Reino de Deus. Resume-se ao fato de que nessa perspectiva lidamos com duas modalidades de tempo antes dos fim: O dia de ontem e hoje. Já foi aqui falado ao se fazer alusão aos dias de Noé e de Ló que foram listados como exemplo pelo próprio Cristo. Que durante este período tal como relata a escritura, as pessoas estavam ocupadas com seus afazeres e preocupações do dia a dia. Elas também casavam, compravam, vendiam de tal forma que eram incapazes de entender ou ver a iminência de um perigo e principalmente o fato de que Deus lhes traria algum tipo de juízo.

     Ou seja, eu levo minha vida do jeito que todos levam faço minhas projeções para o futuro e para frente não levando em consideração de que algo pode acontecer e que acontecendo estão fora do meu controle. Valores palpáveis são valores que estão ali e são passíveis de serem por mim manipulados e sofrem ação do meu olhar controlador. O Reino de Deus e sua natureza extrapola a este tipo de identificação e controle do homem. Ele se reveste de uma maneira diferente quanto ao tipo de valoração que seja atribuída. Ou nos sentimos parte dele e nos contentamos ser sua parte constituinte sem que nada possamos lhe impor como condição, ou dele estamos fora.

     Nele todo tipo de preocupação ou carga emocional; Todo tipo de consciência indigna por causa das nossas iniquidades e pecados estão totalmente zeradas e inexiste qualquer tipo de preocupação quanto ao futuro, pois não não há futuro, uma vez que o tempo sempre se configura como o dia de hoje. Parafraseando a ideia que Paulo nos transmite com tamanha singularidade e perfeição ao aludir a justificação que Deus em Cristo nos proporciona pela fé: Ontem, eu era o mais indigno dos pecadores e hoje eu sou um pecador que fui justificado, tornado justo e aceito por Deus para fazer parte do seu Reino.

     Muito embora este trecho do evangelho de Lucas sinalize desde uma perspectiva de fala de Jesus para acontecimentos que terão seu lugar em um futuro. Bem como adverte aos seus discípulos a cerca de situações que provocarão transtornos e constrangimentos mútuos. Eles são muito mais comuns do que parecem. Agora pouco estávamos falando, melhor dizendo, no tópico anterior falávamos sobre acontecimentos abruptos nos relatos que o Senhor Jesus fez menção valendo-se da escritura. Tais como o que aconteceu nos dias de Noé e nos dias de Ló respectivamente. As pessoas simplesmente tocavam suas vidas dentro da mais pura normalidade. Fazendo, inclusive, planos para o futuro: Comiam, bebiam, casavam-se e davam-se em casamentos(...) comiam, bebiam...

     O grande apego que se tinha sobre as coisas fazia com que esquecessem de outros valores que, a rigor, não se constituem como palpáveis. E, por mais que estes esforços humanos tenham como objetivo a preservação da vida. Eles se constituem em erros fundamentalmente graves. A advertência do mestre vem acompanhada do grande exemplo que ele nos oferece ao fazer referência a mulher de Ló. Ele apela para a memória de seus discípulos a cerca do que aconteceu com esta mulher quando Ló e sua família estavam em uma rota de fuga em meio a destruição que ocorria em Sodoma. Ela estava tão apegada aos bens e valores materiais que foi capaz de desobedecer uma ordem divina para que não se olhasse para trás.

     Essas advertências do mestre dão bem o retrato da situação que reina no coração do homem que se apega às coisas de menos importância em detrimento daquelas que realmente importam e que nos colocam em uma dimensão de vida onde podemos identificar os indícios e manifestação do que chamamos de Reino de Deus. E a melhor percepção de indício do Reino de Deus está registrada na oração do mestre também conhecida como "Pai Nosso". O Reino de Deus é o que se pode chamar de império da vontade divina: "Venha o teu Reino seja feita a tua vontade assim na terra como no Céu".

     É suficientemente emblemática a declaração de Jesus no verso 37 deste capítulo. Todo o desenvolvimento deste tópico está pautado no grau de diferença entre o que é a valorização dos bens materiais e seu consequente apego por parte daqueles que os acumularam durante suas vidas e, que, por isso mesmo se tornam reféns desses valores materiais. Novamente volto a fazer menção do exemplo deixado pela esposa de Ló. Por outro lado, na advertência do mestre quando em um futuro ainda incerto este tipo de diferenciação atingir mais diretamente as nossas relações mais próximas e pessoais e em uma escala bem mais abrangente e avassaladora, o exemplo desta mulher deve fazer parte de nossas memórias.

     Este caráter aparentemente seletivo em que uns serão deixados e outros não. É o elemento indicador de que o Reino de Deus sempre esteve presente em nosso meio, muito embora alguns, ou seja, aqueles que eventualmente serão deixados nunca deram a real importância para ele. E são exatamente estes que nunca lhe deram importância e, que, se vivessem na época dos irmãos Esaú e Jacó, escolheriam vender sua primogenitura por um prato de lentilhas. O Reino de Deus para estes não tem aparência e muito menos é perceptível materialmente. Lembro-me do Senhor falando ao profeta Elias assim que o profeta em tom de bastante arrogância relatou que somente ele havia ficado depois de tão grande perseguição imposta pelo rei Acabe e a rainha Jezabel, o Senhor então responde ao profeta: "Também deixei ficar em Israel sete mil: todos os joelhos que não dobraram a Baal e toda boca que não o beijou." (I Reis 19:18).



CONCLUSÃO


     Chegamos ao término desta reflexão e a julgar por tudo que até aqui fora discutido tendo por base os ensinamentos do mestre, por meio de suas palavras e milagres. Podemos afirmar em tom categórico que ninguém nesta vida está habilitado a fazer um diagnóstico fiel a cerca de nossa natureza pecaminosa, da necessidade voraz em recebermos o perdão da parte de Deus Pai e de como temos dificuldade quando somos nós que precisamos liberar o perdão para  com os nossos semelhantes. 

     A própria escritura sempre denunciou a relação assimétrica que temos para com Deus quando o assunto é o perdão e este na razão direta de nosso relacionamento tanto para com Deus que nos perdoou primeiro quanto para com o próximo(I João 4:20). Sem dúvida ao se falar tanto do relacionamento ideal que devemos buscar para com Deus, assim como o mandamento de que devemos, é nossa obrigação enquanto discípulos do mestre, buscar o melhor relacionamento para com o nosso próximo, mesmo quando somos obrigados a liberar o perdão a este próximo, o que está em discussão em todo este texto são as nossas ações e como elas estão sendo ajuizadas por Deus.

     No pedido dos apóstolos no sentido de que o mestre lhes acrescentasse fé, percebe-se uma espécie de dissimulação por parte dos discípulos. Algo que pudesse justificar algum tipo de incapacidade natural para o exercício de tamanho aprendizado. A atitude de Jesus tem uma base pedagógica, porém com o objetivo de confrontar valores já enraizados nestes discípulos e que simultaneamente lhes tirasse dessa zona de conforto. Em outras palavras, os discípulos estão dizendo que não tinham fé e, por conta disso, se sentiam incapazes para algo tão complicado para quem trazia consigo uma cultura religiosa que não tinham como prática corriqueira a liberação do perdão.

     A analogia de Jesus ao se utilizar do grão de mostarda e sua associação a uma atitude de fé deve ser entendida antes que alguém lhe dê algum tipo de definição superficial tais como os coachers ou palestrantes de auto ajuda. O mestre está chamando a atenção dos discípulos para o insignificante grão de mostarda e a sua exuberante folhagem depois que o mesmo germina. E que tamanho e dimensão não podem definir o real potencial das coisas. Ou seja, tudo girava em torno de potencialidades que a própria natureza nos oferecia. Não esquecendo de que esta palavra do mestre se constitui numa primeira etapa  dos ensinamentos que ele está transmitindo a seus discípulos.

     A segunda etapa desses ensinamentos está baseada na relação de confiança e de perseverança que naturalmente surgem em decorrência do perdão que se libera. Uma lição extremamente fantástica se pode tirar deste ensinamento desde que haja como prática de vida a solução de problemas tidos como verdadeiros tabus quando se trata de algo que é parte imprescindível das nossas relações pessoais. São, afinal de contas, estas desconstruções ocasionadas pelo perdão que fazem com que tenhamos a ampliação de nossos horizontes. A metáfora do grão de mostarda é o exemplo emblemático de Jesus.

     Todos estes elementos sinestésicos(Não se aplicar este termo desde uma moderna literatura médica de diagnose, mas, se ater apenas ao que a estrutura morfológica deste termo nos indica a cerca de seu significado) alimentados por esta dinâmica de relacionamentos somente terá algum tipo de eficácia caso sua vigência ocorra em torno de um dia. E por causa de que esta ênfase, pelo menos do ponto de vista temporal, tem que ter a vigência de um dia? Primeiramente o que se tem buscado desenvolver durante a leitura deste texto está relacionado a perspectiva do Reino de Deus.

     Se o Reino de Deus é chegado, ou está próximo(Marcos 1:15) e estamos em pleno processo de sua implantação, significa, entre outras coisas e de acordo com a ótica Paulina, que ele se apresenta como parâmetro demarcador entre os que estão de fora e os que estão de dentro. Que o elemento único delimitador desta situação, é o que se pode chamar de incredulidade: Os que creem e os não creem. E esta incredulidade está claramente contaminada pela arrogância. Por isso não se consegue ver em sua plenitude a presença do Reino de Deus.

     O reino de Deus é inconfundível. Talvez, seja por isso que Jesus certa vez caracterizou o Reino como uma pérola de grande valor que fez com que um negociante de pérolas, ao encontrá-la, desfaz-se de tudo para comprar aquela pérola(Mateus 13:46). E, por conta disso, penso que nossa oração deveria ser sempre no sentido de que o Senhor, cada vez mais abrisse os nossos olhos e assim podermos descobrir as preciosidades deste reino que em algumas situações passam despercebidas dos nossos olhares.


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Luke 17 Tischendorf
1Εἶπεν δὲ πρὸς τοὺς μαθητὰς αὐτοῦ· ἀνένδεκτόν ἐστιν τοῦ τὰ σκάνδαλα μὴ ἐλθεῖν, οὐαὶ δὲ δι’ οὗ ἔρχεται· 2λυσιτελεῖ αὐτῷ εἰ λίθος μυλικὸς περίκειται περὶ τὸν τράχηλον αὐτοῦ καὶ ἔρριπται εἰς τὴν θάλασσαν, ἢ ἵνα σκανδαλίσῃ τῶν μικρῶν τούτων ἕνα. 3προσέχετε ἑαυτοῖς. ἐὰν ἁμάρτῃ ὁ ἀδελφός σου, ἐπιτίμησον αὐτῷ, καὶ ἐὰν μετανοήσῃ, ἄφες αὐτῷ· 4καὶ ἐὰν ἑπτάκις τῆς ἡμέρας ἁμαρτήσῃ εἰς σὲ καὶ ἑπτάκις ἐπιστρέψῃ πρὸς σὲ λέγων· μετανοῶ, ἀφήσεις αὐτῷ. 5Καὶ εἶπαν οἱ ἀπόστολοι τῷ κυρίῳ· πρόσθες ἡμῖν πίστιν. 6εἶπεν δὲ ὁ κύριος· εἰ ἔχετε πίστιν ὡς κόκκον σινάπεως, ἐλέγετε ἂν τῇ συκαμίνῳ ταύτῃ· ἐκριζώθητι καὶ φυτεύθητι ἐν τῇ θαλάσσῃ, καὶ ὑπήκουσεν ἂν ὑμῖν.
7Τίς δὲ ἐξ ὑμῶν δοῦλον ἔχων ἀροτριῶντα ἢ ποιμαίνοντα, ὃς εἰσελθόντι ἐκ τοῦ ἀγροῦ ἐρεῖ αὐτῷ· εὐθέως παρελθὼν ἀνάπεσε; 8ἀλλ’ οὐχὶ ἐρεῖ αὐτῷ· ἑτοίμασον τί δειπνήσω, καὶ περιζωσάμενος διακόνει μοι ἕως φάγω καὶ πίω, καὶ μετὰ ταῦτα φάγεσαι καὶ πίεσαι σύ; 9μὴ ἔχει χάριν τῷ δούλῳ ὅτι ἐποίησεν τὰ διαταχθέντα; 10οὕτως καὶ ὑμεῖς, ὅταν ποιήσητε πάντα τὰ διαταχθέντα ὑμῖν, λέγετε ὅτι δοῦλοι ἀχρεῖοί ἐσμεν, ὃ ὠφείλομεν ποιῆσαι πεποιήκαμεν.
11Καὶ ἐγένετο ἐν τῷ πορεύεσθαι εἰς Ἱερουσαλὴμ καὶ αὐτὸς διήρχετο διὰ μέσον Σαμαρίας καὶ Γαλιλαίας. 12καὶ εἰσερχομένου αὐτοῦ εἴς τινα κώμην ὑπήντησαν αὐτῷ δέκα λεπροὶ ἄνδρες, οἳ ἔστησαν πόρρωθεν, 13καὶ αὐτοὶ ἦραν φωνὴν λέγοντες· Ἰησοῦ ἐπιστάτα, ἐλέησον ἡμᾶς. 14καὶ ἰδὼν εἶπεν αὐτοῖς· πορευθέντες ἐπιδείξατε ἑαυτοὺς τοῖς ἱερεῦσιν. καὶ ἐγένετο ἐν τῷ ὑπάγειν αὐτοὺς ἐκαθαρίσθησαν. 15εἷς δὲ ἐξ αὐτῶν, ἰδὼν ὅτι ἰάθη, ὑπέστρεψεν μετὰ φωνῆς μεγάλης δοξάζων τὸν θεόν, 16καὶ ἔπεσεν ἐπὶ πρόσωπον παρὰ τοὺς πόδας αὐτοῦ εὐχαριστῶν αὐτῷ· καὶ αὐτὸς ἦν Σαμαρίτης. 17ἀποκριθεὶς δὲ ὁ Ἰησοῦς εἶπεν· οὐχὶ οἱ δέκα ἐκαθαρίσθησαν; οἱ ἐννέα ποῦ; 18οὐχ εὑρέθησαν ὑποστρέψαντες δοῦναι δόξαν τῷ θεῷ εἰ μὴ ὁ ἀλλογενὴς οὗτος; 19καὶ εἶπεν αὐτῷ· ἀναστὰς πορεύου· ἡ πίστις σου σέσωκέν σε.
20Ἐπερωτηθεὶς δὲ ὑπὸ τῶν Φαρισαίων πότε ἔρχεται ἡ βασιλεία τοῦ θεοῦ, ἀπεκρίθη αὐτοῖς καὶ εἶπεν· οὐκ ἔρχεται ἡ βασιλεία τοῦ θεοῦ μετὰ παρατηρήσεως, 21οὐδὲ ἐροῦσιν· ἰδοὺ ὧδε ἤ, ἐκεῖ· ἰδοὺ γὰρ ἡ βασιλεία τοῦ θεοῦ ἐντὸς ὑμῶν ἐστιν.
22Εἶπεν δὲ πρὸς τοὺς μαθητάς· ἐλεύσονται· ἡμέραι ὅτε ἐπιθυμήσετε μίαν τῶν ἡμερῶν τοῦ υἱοῦ τοῦ ἀνθρώπου ἰδεῖν, καὶ οὐκ ὄψεσθε. 23καὶ ἐροῦσιν ὑμῖν· ἰδοὺ ἐκεῖ, ἰδοὺ ὧδε· μὴ ἀπέλθητε μηδὲ διώξητε. 24ὥσπερ γὰρ ἡ ἀστραπὴ ἀστράπτουσα ἐκ τῆς ὑπὸ τὸν οὐρανὸν εἰς τὴν ὑπ’ οὐρανὸν λάμπει, οὕτως ἔσται ὁ υἱὸς τοῦ ἀνθρώπου ἐν τῇ ἡμέρᾳ αὐτοῦ. 25πρῶτον δὲ δεῖ αὐτὸν πολλὰ παθεῖν καὶ ἀποδοκιμασθῆναι ἀπὸ τῆς γενεᾶς ταύτης. 26καὶ καθὼς ἐγένετο ἐν ταῖς ἡμέραις Νῶε, οὕτως ἔσται καὶ ἐν ταῖς ἡμέραις τοῦ υἱοῦ τοῦ ἀνθρώπου· 27ἤσθιον, ἔπινον, ἐγάμουν, ἐγαμίζοντο, ἄχρι ἧς ἡμέρας εἰσῆλθεν Νῶε εἰς τὴν κιβωτόν, καὶ ἦλθεν ὁ κατακλυσμὸς καὶ ἀπώλεσεν ἅπαντας. 28ὁμοίως καθὼς ἐγένετο ἐν ταῖς ἡμέραις Λώτ· ἤσθιον, ἔπινον, ἠγόραζον, ἐπώλουν, ἐφύτευον, ᾠκοδόμουν· 29ᾗ δὲ ἡμέρᾳ ἐξῆλθεν Λὼτ ἀπὸ Σοδόμων, ἔβρεξεν πῦρ καὶ θεῖον ἀπ’ οὐρανοῦ καὶ ἀπώλεσεν ἅπαντας. 30κατὰ τὰ αὐτὰ ἔσται ᾗ ἡμέρᾳ ὁ υἱὸς τοῦ ἀνθρώπου ἀποκαλύπτεται. 31ἐν ἐκείνῃ τῇ ἡμέρᾳ ὃς ἔσται ἐπὶ τοῦ δώματος καὶ τὰ σκεύη αὐτοῦ ἐν τῇ οἰκίᾳ, μὴ καταβάτω ἆραι αὐτά, καὶ ὁ ἐν ἀγρῷ ὁμοίως μὴ ἐπιστρεψάτω εἰς τὰ ὀπίσω. 32μνημονεύετε τῆς γυναικὸς Λώτ. 33ὃς ἐὰν ζητήσῃ τὴν ψυχὴν αὐτοῦ περιποιήσασθαι, ἀπολέσει αὐτήν, καὶ ὃς ἐὰν ἀπολέσει, ζῳογονήσει αὐτήν. 34λέγω ὑμῖν, ταύτῃ τῇ νυκτὶ ἔσονται δύο ἐπὶ κλίνης μιᾶς, εἷς παραλημφθήσεται καὶ ὁ ἕτερος ἀφεθήσεται· 35ἔσονται δύο ἀλήθουσαι ἐπὶ τὸ αὐτό, ἡ μία παραλημφθήσεται ἡ δὲ ἑτέρα ἀφεθήσεται. 36 37καὶ ἀποκριθέντες λέγουσιν αὐτῷ· ποῦ, κύριε; ὁ δὲ εἶπεν αὐτοῖς· ὅπου τὸ σῶμα, ἐκεῖ καὶ οἱ ἀετοὶ ἐπισυναχθήσονται.
Tischendorf's 8th edition Greek New Testament
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Fiquem com a fé!!!

  Texto - Hebreus 12:1-16 Tema - Fiquem com a fé!!! ICT - Assim como essa grande nuvem de testemunhas do passado. É nosso dever e obrigação ...