Fiquem com a fé!!!

 Texto - Hebreus 12:1-16


Tema - Fiquem com a fé!!!


ICT - Assim como essa grande nuvem de testemunhas do passado. É nosso dever e obrigação testemunharmos acerca da fidelidade de Deus.


Objetivo Geral - Levar a congregação ao entendimento de que somos apenas mais um para fazermos parte daquele grupo seleto de pessoas que testemunham da fidelidade de Deus para com seu povo.


Objetivo Específico - Levar a congregação a reconhecer que a fidelidade de Deus é uma experiência compartilhada por Ele a todos. E que a única forma de demonstrarmos nossa fidelidade para com Ele é transmiti-la à geração que sucede a nossa.


Tese - Na prática se reconhece a fidelidade divina porque Ela se revela e se renova de geração em geração.




Introdução 



Quando pensei em fazer uma reflexão sobre o texto proposto. Não pensei que me veria na obrigação de revisitar em forma de leitura toda a epístola. Mas, tive que fazer. Não que isso representasse algum tipo de indisposição da minha parte para com o texto sagrado. Pelo contrário, ler a epístola aos Hebreus é sempre uma leitura prazerosa. A epístola, diferentemente de algumas outras, traz um certo grau de refinamento já que seu texto tem como principal característica aquele floreamento típico da tradição grega alexandrina. Outra coisa muito importante desde o primeiro capítulo e primeiros versos é que a relação de identidade entre o Pai e o Filho é estabelecida, do ponto de vista da substância. Assim como a distinção entre as duas pessoas¹. Dessa forma, não existe qualquer tipo de problema ao fazermos referência a esta epístola como um tratado teológico que sustenta as nossas percepções tanto doutrinárias quanto teológicas acerca da doutrina da trindade. Sempre que vou e participo de concílios examinadores de pastores, quando os candidatos são provocados a darem exemplos de textos bíblicos que dão respaldo a doutrina bíblica da trindade, dificilmente fazem alusão a este texto. Também se percebe aquele conceito de palavra de Deus enquanto elemento gerador e sustentador do mundo. E palavra aqui não é logos e sim _ ῥήμα _ Rhéma(Tem relação com a palavra falada, pronunciada). A ideia aqui ao fazer distinção entre palavra do ponto de vista de uma relação escriturística com palavra falada está mais ou menos relacionado com aquilo que Ferdinand de Saussure estabeleceu com o conceito de ‘Lange & Parole’ em seu curso de Linguística Moderna¹. 


A respeito da fé, não tenho qualquer tipo de problema quando vejo que está sendo  colocada a prova. O tipo de relacionamento que tenho tido com Deus não passa pelo crivo e aferição de caráter técnico-científico. Porém, em algum momento eu posso me sentir na obrigação de dar conta epistemologicamente falando a alguém dos pressupostos da fé que professo. Quando tenho que dar conta da nossa esperança(I Pedro 3:15), ou porque tenho que prestar contas das vias da teologia na direção do conhecimento². Nós cremos na providência e graça divina e ponto. Eu não estabeleço com quem quer que seja qualquer tipo de diálogo quando de um lado está alguém com suas teorias e pressupostos científicos e do outro lado, eu e a fé que deposito em Cristo. Essa é a primeira premissa que desejo aqui discutir, debater ou expor a vocês. As teorias científicas vão e vêm. Algumas estão de pé há décadas e décadas, outras foram refutadas e em seus lugares apareceram outras muito mais elaboradas. Entretanto, ainda assim isto não é sinônimo de que elas estão imunes ao surgimento de outros experimentos científicos que venham refutar estas mesmas teorias³. Aceitar qualquer tipo de diálogo em que se discute a natureza de uma fé religiosa em que o contraponto dela seja um pressuposto científico é o mesmo que estabelecer uma equiparação desses patamares. Isto aqui não significa nenhum tipo de apologia que tente desestimular qualquer um de vocês a não buscar o crescimento profissional, técnico e científico. Estudem, façam ENEM, vão para as universidades e sejam sal lá também. Tenho certeza que Deus haverá de fazer da vida de vocês vasos de bênçãos. Mas, principalmente, não se deixem levar pelas teorias. A fé em Cristo e a base de conhecimento advindo desta relação não tem relação com suas atividades acadêmicas. Nós vamos tentar também entender conforme o registro do capítulo 11 e verso 3, que tipo de entendimento é este que se adquire apenas tão somente por meio da fé.


Os capítulos 11 e 12 desta epístola tratam especificamente sobre a fé. O 11 começa com uma espécie de parâmetro ou definição do que seja a fé. Ele chega a afirmar numa espécie de síntese entre a temporalidade de algo que ainda não se vê e a projeção ou prova do que se espera. Dessa maneira, o autor praticamente acaba com qualquer tipo de gradação consecutiva que resulte num evento escatológico. O evento numa escala progressiva do já se deu, e o ponto central é o evento em que Deus em Cristo se revela pessoalmente. Este evento está muito bem descrito no capítulo primeiro desta epístola e em seus versos iniciais (Hebreus 1:1-4). A partir do momento que o crente tem essa experiencia de encontro com Cristo, não há mais qualquer tipo de razão escatológica e qualquer tipo de doutrina dispensacionalista perde razão e sentido. A intencionalidade identificada aqui por aquele que narra, ocorre pelo tipo de fala que deve transigir no horizonte do espectador, melhor dizendo, daquele que faz uso do dom divino dispensado a todo aquele que crê e aguarda pelo cumprimento da promessa divina. Evidentemente que, para quem acompanha estas duas narrativas contidas nesses dois capítulos (11 e 12). Para aqueles que nutriam suas expectativas de cumprimento da promessa divina esboçada especialmente no capítulo 11. O cumprimento de tal promessa ocorre no exato momento em que o autor em seu processo narrativo conclui através dos versos 39 e 40 fazendo alusão ao ato soberano de Deus. Ou seja, eles não alcançaram a promessa de imediato. Por Uma simples razão, fé é um evento corporativo, o termo PISTIS que traduzimos por fé não faz sentido se estiver sendo enquadrado tão somente no âmbito do indivíduo. Para o autor desta epístola, os testemunhos de fé dos antepassados tem sentido porque são aperfeiçoados em nós, que também cremos.  


O efeito que doutrinas dispensacionalistas produzem neste tipo de congregação é praticamente nulo. Uma vez que, da forma como nos propomos investigar este texto, dimensiona ao crente que a forma como Deus cumpre suas promessas para com seu povo está na razão  direta de como essas promessas são perpetradas ao longo dos tempos. Elas também são o retrato da fidelidade divina renovada a cada geração que se levanta para direcionar de forma bem mais abrangente a doutrina conhecida por todos nós como escatologia.. Aliás, quando nos apropriamos do real significado e sentido do termo ESCATON, o qual dá origem ao que conhecemos como escatologia, a doutrina dos últimos dias. Ela é doutrina dos últimos dias por causa de seu efeito antecipatório. O que seria da fé se não tivéssemos também construído do ponto de vista hermenêutico esse caráter descritivo de fé, tal como o vemos nos versos 1 e 2 do capítulo 11? O conceito de temporalidade como mera observação dos movimentos progressivos do tempo e com ele todo tipo de escala de medição, e aferição tende a fazer com que achemos que tudo ocorre aleatoriamente. A fé da forma como estamos falando e que, segundo a própria escritura, afirma que é dom de Deus aos santos(Judas 1:3), é um espectro fenomenológico que nos remete à transcendência por meio da religiosidade. 


O ponto focal para a construção de um conjunto de princípios de natureza religiosa é o acervo de experiências que uma geração constrói, conserva e transmite à geração futura que a sucede. Uma geração faz declaração a outra geração no sentido de que ela ao reconhecer as proezas operadas por Deus, e aí estamos fazendo referência aos relatos do Antigo Testamento. Ela reconhece e louva pelo que ela mesma experimentou. Dessa forma transmite a outra geração(Salmo 145:4). A esperança e fé nutrida e levada a cabo por essa tão grande nuvem de testemunhas, constitui-se no ponto de referência para a construção de princípios norteadores da jornada desta geração rumo aos objetivos, desde que sejam cada vez mais claros e definidos. Por outro lado, essa nuvem de testemunhas está a mercê de nossa hermenêutica. Ela apenas será dinâmica e exercerá toda sorte de bênçãos sobre nossas vidas se não se configurar como uma formula hermeticamente fechada. E que comumente é chamado de depósito da fé e da revelação. Aí, então, pode surgir aquela pergunta por que devemos ficar e permanecer com a fé? Bem, queiramos ou não, muito embora tenhamos levantado algumas questões de natureza científica que, de certa forma, tentam depor contra a nossa fé. Ter fé não é pressuposto construído a partir de demandas racionais ou devidamente racionalizadas. Pelo contrário, ter fé significa que fomos agraciados com esse Dom divino. E está muito no âmbito de nossa postura enquanto detentores desse dom do que propriamente como resultado de nossas elucubrações e investigações passíveis de se tornarem objetos de nosso intelecto. Mas isto não impede que façamos uma busca por entendimento. Pelo contrário, a fé é o ponto de partida ou start para o que buscamos: “Fides quaerens intellectum”⁴. Por ela entendemos tal como o relato de Hebreus 11:3_κατηρτίσθαι_(Katērtísthai), que o que está estabelecido para sempre pela palavra de Deus, não tem aparência.

3Πίστει νοοῦμεν κατηρτίσθαι τοὺς αἰῶνας ῥήματι Θεοῦ, εἰς τὸ μὴ ἐκ φαινομένων τὸ βλεπόμενον γεγονέναι.



I - Porque vocês jamais se sentirão solitários. (V.1)


A alusão feita ao capítulo 11, comumente conhecido como o capítulo dos heróis da fé de que ali somos capazes de conferir tantos servos de Deus que jamais abriram mão de uma relação mais próxima com o Deus todo poderoso que se revela a Israel adotando-o como seu povo. Ao longo de toda essa narrativa em caráter progressivo até que se atinja o foco e ponto central da revelação conforme os primeiros versos e primeiro capítulo desta epístola: “Deus falou-nos pelo seu filho, o qual é também a expressa imagem de seu ser. É esse ato revelatório de Deus ao interagir com seu povo que ocorre paulatinamente ao longo dessa história de revelação que é capaz de arregimentar aqueles seguidores fiéis. Os quais compõem o quadro dessas testemunhas. O ato de fé deve ser o mesmo entre nós. A fé como princípio fundamental é norteador de toda nossa trajetória de vida. O exemplo que se destaca na experiência de fé dessas pessoas no passado deve ser seguido pelas gerações que sucedem. Apenas dessa maneira podemos dizer que não estamos sozinhos. Um outro detalhe que deva ser destacado neste momento. É o fato de que, em algumas situações, e ao nos desgarrarmos de qualquer rebanho que façamos parte, bate um sentimento de abandono. E quando falo em rebanho, não quero nem desejo entrar naquelas discussões acerca de certos moralismos. O desgarro aqui é no sentido de não termos com quem dividir os nossos problemas e dificuldades. Porém, se o sentimento surge em decorrência de algum desvio de toda sorte deste mesmo rebanho, há neste caso, um conforto e consolo por conta dos testemunhos de fé que encontramos neste texto em especial. Eu vejo, nas maioria das vezes, nos pregadores a tentativa de privilegiar alguns autores bíblicos em detrimento de outros. Notem bem, não faço isso no sentido de condenar os pregadores. Digo mais, provavelmente o apóstolo Paulo é o autor mais lido e mais pregado na Bíblia. E há uma explicação plausível para isto. É ele quem mais produziu epístolas em o Novo Testamento. Algumas delas como Romanos, I e II de Coríntios, Gálatas, Efesios entre outras, figuram como documentos importantíssimos para a reconstrução do contexto histórico da Igreja no primeiro século.


A questão da solidão surge pelo fato de não sermos capazes de dialogar numa perspectiva de modo retroativo com os vários autores e as respectivas tradições a que eles estão ligados. E porque que esta é uma das principais dificuldades que encontramos quando buscamos do ponto de vista histórico neste período o que se sucede na história do Cristianismo desde o desaparecimento do último dos apóstolos, falamos de João evangelista, e de lá pra cá, o que encontramos em um ou outro teólogo protestante são algumas investidas e inserções neste período, porém bastante tímidas. Não resta dúvida de que sofremos uma grande influência a partir do período reformador. E parece que a história do evangelho começa a partir desse período de Reforma Prostestante. Essa nuvem de testemunhas limita-se a apenas aqueles nomes listados no texto e corpo desta epístola. Nossas hermenêuticas, sem distinção de uma ou outra, são limitadoras e inibidoras da possibilidade de também nos fixarmos em outras personalidades que tenham se destacado como vidas dedicadas ao serviço da casa de Deus. Isso faz com que exista um vácuo, ou solução de continuidade e fica parecendo que Deus não tem mais agido em favor de seu povo. Uma das principais críticas feita às denominações de origem protestantes diz respeito, devido ao princípio reformador ‘Sola Scriptura’, a este fenômeno conhecido como ditadura da palavra. 


Enfim, e isto é ponto pacífico, sabedores que somos de que estamos rodeados por uma grande nuvem de testemunhas, ainda há algumas obrigações de nossa parte que devem ser observadas. Há embaraços e empecilhos sobre os quais devemos nos desvencilhar e ao mesmo tempo que tomamos ciência do exemplo dessas testemunhas. Elas servem de conforto e alento para todos que ainda temos uma carreira pela frente. Porém, não nos esqueçamos que o pecado também nos rodeia. É o que esta epístola também nos adverte. Nesta situação, tal qual o primeiro verso deste capítulo relata, superar todo e qualquer tipo de empecilho e o próprio pecado já não deve ser algo que independe de nossa força de vontade. E o argumento que tem como base essa tão grande nuvem de testemunhas reforça a ideia de que o pecado, pela graça divina alcançada em Cristo, já não tem qualquer tipo de poder sobre nós. 


Ao nos depararmos com o desafio de fazermos uma leitura que seja equilibrada da Bíblia. Percebemos também que a Bíblia não é para ser manuseada por amadores. Isto não significa, em hipótese alguma, que nossa intenção seja aquela de limitar o seu uso ou manuseio por determinadas classes de pessoas. Principalmente aquelas pessoas que se dizem letradas. Dotadas de uma capacidade ímpar de entendimento e que esteja também apta na produção de texto. A Bíblia existe para ser manuseada em leituras comunitárias e populares. Mas, também não negar que nela há sim níveis de leituras. E precisamos ter consciência desses níveis e de como eles na forma se apresentam em seus processos dinâmicos que demandam de nossa parte uma habilidade maior de ao lermos o texto, sejamos capazes de reproduzi-lo de uma maneira que seja a mais fiel possível àqueles que recebem a palavra. E ao recebê-la aqueles para quem a palavra esteja sendo endereçada,  a receba como palavra de Deus. Por conta disso, esquecer todo é qualquer conceito que remete a um mero sentimento de contemplação. Pois não é disso que estamos falando. Ao fazer alusão ao fato de que eventualmente possamos sucumbir à tentação de que a experiência de vida cristã se limite apenas ao conceito de contemplação como o ápice daquilo que Deus tem proposto para nós.  


No capítulo 3 do Gênesis quando por ocasião da queda do homem, ali o sentido da contemplação como desejo de se alcançar conhecimento e através dele alcançarmos o patamar de igualdade em relação a Deus, nosso criador. Foi sim.uma realidade. Após o diálogo com a serpente. Onde a serpente convence a mulher que nenhuma outra consequência haveria para o homem senão a conquista dessa paridade com Deus. A principal consequência adquirida após esse convencimento, foi o fato de que a mulher ao contemplar novamente a a ‘Árvore da Ciência do Bem e do Mal’: “E viu a mulher que aquela árvore era boa para se comer, e agradável aos olhos, e árvore desejável para dar entendimento; tomou do seu fruto, e comeu, e deu também a seu marido, e ele comeu com ela.”(Gênesis 3:6). Há um fundo mitológico de como essa narrativa é construída, e diz respeito aquela ideia de que o conceito, ou a sua busca incessante acaba por petrificar o homem. É assim que acontece com o mito da medusa onde todo e qualquer ser vivo que a contempla é passível de virar uma estátua⁵. O fato de que no caso da narrativa bíblica nós não nos encontrarmos na condição de solitários, por causa dessa nuvem de testemunhas. Aí sim temos grandes condições de enfrentarmos esses desafios. Enfrentamos deixando de lado o embaraço e o pecado que ainda tenta exercer algum tipo de relevância sobre nossas vidas.  



II - Porque a fé não se limita ao conjunto de fatos ou situações aleatórias.(V.V. 2-4) 


Já fizemos menção ao capítulo 11 ao alcançarmos o fato de que lista os nomes daqueles que se constituíram como testemunhas dos atos de Deus a favor dos seus servos e de como estes mesmos servos permaneceram fiéis a Deus apesar das dificuldades e perseguições pelas quais muitos padeceram. Como vimos no primeiro verso deste capítulo 12. O pecado já não se constitui mais como empecilho ou embaraço já que dispomos, como um ato providencial de Deus, da obra de redenção realizada por Cristo. Por conta disso,  o autor o chama como aquele que efetivamente é o autor e consumador da fé. A fé somente existe se for o instrumento pelo qual nos apoiamos em Cristo e nele nos miramos com o objetivo de alcançarmos a plenitude da vida na eternidade. É necessário afirmar em tom categórico que a fé não é um comportamento tipicamente humano e atrelado à performance e desempenho deste homem. Ela se instrumentaliza de uma maneira claramente corporativa, coletiva e, tratando-se de igreja, comunitária.


A fé na cadeia lógica de desenvolvimento do tempo é o elemento que dá sentido a tudo mais quando o assunto é nossa carreira cristã. O relato de cada uma dessas testemunhas e a maneira como em sua respectiva época e contexto fez da sua vida uma vida de testemunho do quanto Deus fora fiel para com cada uma delas. Se percebermos como o autor dispõe na apresentação dos nomes: Abel, Enoque, Noé, Abraão, Jacó, José, Moisés, por conseguinte o início  da saga de entrada na terra prometida. E o fato de Moisés, muito embora tivesse sido criado e educado no interior do Palácio de Faraó, em um momento de sua vida e através da fé recusou-se a ser chamado filho da filha de Faraó. Ele escolheu antes ser maltratado com o povo de Deus, do que por um pouco de tempo ter o gozo do pecado. O que é mais interessante é a forma como o autor relaciona Moisés com Cristo: “Tendo por maiores riquezas o vitupério de Cristo do que os tesouros do Egito; porque tinha em vista a recompensa.” (Hebreus 11:26). O resultado como efeito de uma abordagem tipicamente que visa um olhar histórico e existencial. Ou seja, o lado histórico do texto ocorre quando o autor ao elencar no texto essas diferentes personalidades em diferentes épocas e contextos, porém que emergem tendo um fundo existencial que projeta para cima e para frente a concretização de uma promessa. Ao fazer alusão ao fato de que o autor vincula a figura de Moisés a de Cristo. No texto ocorre a guinada de relato dessa saga de testemunhas. Num primeiro momento, dispõe de tradições um tanto quanto ligadas à ancestralidade, haja vista, que se buscarmos indícios arqueológicos e históricos desse tempo. Em algum momento dessa busca ao retroagirmos no tempo veremos que o tipo de materialidade para tanto se resumiria a algumas tradições orais compiladas em uma cultura de povos que já se extinguiram. Vide o exemplo da civilização suméria de onde provém o patriarca Abraão. 


A fé tem essa característica de não se limitar ao conjunto de fatos ou situações aleatórias por conta de seu caráter definidor de sentido. E isto acontece porque ela também é uma dádiva divina. Em meio a relevância do caráter redacional do texto dessa epístola. Temos a consciência de que quem dirige a história é o próprio Deus. A forma como Deus dirige a história é, na maioria das vezes, recusada por aqueles que se acham agentes de suas próprias vidas e destino. Chamamos esta atitude de desobediência. Podemos também nominar de INCREDULIDADE. Do que mais poderíamos chamar de incredulidade se não de falta de abertura para o sobrenatural. O sobrenatural é a estrada por onde Deus atua a favor e consequentemente também contra o ser humano. Aqueles que foram vocacionados pelo próprio Deus para se constituírem em suas testemunhas diretas para a comunicação com os homens, nem sempre foram bem sucedidos. E por um motivo que a própria epístola aos Hebreus explica: "Porque também a nós foram pregadas as boas novas, como a eles, mas a palavra da pregação nada lhes aproveitou, porquanto não estava misturada com a fé naqueles que a ouviram.” (Hebreus 4:2). Logo, é a fé que empresta sentido às nossas palavras, às nossas próprias vidas. Sem ela o mundo é um conjunto de fatos ou situações aleatórias.


Tudo bem que a fé que empresta sentido a tudo. Tudo que efetivamente diga respeito a Cristo Jesus. É Cristo Jesus que potencializa o que chamamos de fé. É em função dessa afirmação que trago a luz para efeito aquela afirmação do autor da epístola no capítulo 11:40; “pra que eles sem nós não fossem aperfeiçoados.” Quando já no capítulo 12 e verso 2 constatamos que o autor direciona de maneira mais concreta a nossa relação com Cristo. Dando nos conta que é nossa obrigação nos livrarmos de todo embaraço é do pecado que tão de perto nos rodeia. E nos desvencilhando desses entraves seguimos para a carreira que nos está proposta. Fitando os olhos em Jesus, autor e consumador da nossa fé. E aí então, a referência passa a ser uma relação mais efetiva e concreta com o sacrifício vicário do filho de Deus. O autor enaltece o sofrimento de Cristo. Já que foi proposição divina que passasse por tal padecimento. Com tal obra logrou alcançar o trono da majestade. O exemplo do sacrifício de Cristo por conta desta missão que lhe foi dada pelo Pai, não é uma prerrogativa apenas sua. Todos aqueles que o seguem também estão propensos e passíveis de serem submetidos ao martírio. Ao mesmo tempo, o autor chama os crentes a reflexão no sentido de que eles devem considerar aquele que suportou todas as afrontas dos pescadores contra si próprio sem desfalecer. A advertência do autor assinala que os crentes ainda não resistiram até o sangue por causa do pecado, à semelhança do próprio Cristo. Ou seja, a carreira de vocês ainda está no meio do caminho. E ao que parece alguns desses crentes já dão sinais de que estão baixando a guarda. E seguindo a advertência vem também a correção divina. Que é o que veremos a seguir.



III - Mesmo com a fé que é dom divino, somos passíveis de correção da parte do Senhor(V.V. 5 - 11)


É também através da fé que adquirimos a condição de filhos. Como filhos somos passíveis de correção. O autor é capaz de trazer à memória dos crentes esta condição. Nos colocamos nesta situação que condiciona ao fato de que Deus como Pai tem o direito de fazer a correção  e Ele assim procede por ser um pai amoroso. Não devemos nos desesperar quando a correção vier da parte do Senhor. O Senhor corrige o que ama e açoita a qualquer que recebe como filho. É o que afirma o verso 6. É nossa obrigação suportar a correção do Senhor com humildade. Pois se Ele assim nos trata é porque estamos na condição de filhos e não de bastardos. É uma maneira de nos prepararmos para uma herança que nos foi prometida. Caso não aceitemos a disciplina do Senhor significa que somos filhos rebeldes e bastardos e não temos parte na herança. O autor ainda afirma, que filho há que o pai não corrige? Se estamos sem disciplina, da qual todos nós fomos feitos participantes, então não somos filhos.


O autor agora se vale da analogia dos pais segundo a carne, em que todas as vezes que por eles fomos ou somos corrigidos ainda assim os reverenciamos. Não deveríamos então mais ainda nos sujeitar ao Pai dos espíritos para vivermos? A relação de submissão por sermos filhos fala muito aos nossos corações. O viés para se argumentar a favor desse ato de submissão está ligado ao fato de os nossos pais, segundo a carne, serem reverenciados, como forma de reconhecimento de sua autoridade legítima sobre nossas vidas. Queiram ou não, os críticos da família no tocante a atribuição de que nas narrativas bíblicas o foco central é a família tradicional. O fato é que a relação de submissão aos pais gira em torno da obediência e em reconhecimento de que eles são os doadores de nossas vidas(Genitores). Assim como aqueles que cuidam de nós quando nos encontramos naquela fase de indefesos. O mandamento divino ensina no sentido de que devemos honrar os nossos pais e de que este é o primeiro mandamento com promessa(Efesios 6:2-3). E a promessa conforme o registro do verso 3, é de que teremos uma vida longeva e de felicidade sobre a terra. Mas, não pensemos que isto está na razão direta de nossa relação com Deus, a qual é mediatizada pela fé. 


A questão que se levanta se concentra no fato de um argumento lógico. Se somos passíveis de submissão aos nossos pais. O texto ainda destaca de maneira a desvincular essa ideia de moralidade e de discernimento dessa moralidade. Já que ao se referir a forma como os nossos pais nos corrigiam, segundo o autor, como bem lhes parecia. Porém, com relação a disciplina e correção divina é para nosso proveito. Pois o objetivo é de sermos participantes da sua santidade. A correção ou educação por meio da disciplina oriunda das experiências de família não são por assim dizer produtora de santidade, muito de uma moralidade como muitos apregoam por aí. Assim como a correção presente não tem a aparência de gozo ou alegria. Pelo contrário, sua aparência é de muita tristeza. Porém, o resultado no médio e longo prazo é um fruto pacífico de justiça. Em outras palavras, é a maneira com que Deus em Cristo Jesus infunde os seus atributos, isto é, aqueles que são passíveis de transmissão como: Amor, Santidade, Justiça.



IV - É também a fé que promove a ação de graças(V.V. 12 - 16)


Temos que estabelecer alguns parâmetros aqui nesta palavra. Primeiramente precisamos entender que sem fé não temos como agradar a Deus. Sequer temos como nos aproximar Dele. Muito menos nos tornarmos capacitados em levantar nossas mãos em ações de graças. A exortação do autor fala de tornar a levantar as mãos cansadas e dobrar nossos joelhos. O autor assinala que isto em algum momento do passado desses crentes já havia acontecido. De alguma maneira precisamos entender que mesmo ao nos libertarmos dos pecados, este pecado continua a nos rodear. De acordo com o primeiro verso deste capítulo a condição para não nos tornarmos presa fácil do pecado que vive a nossa espreita, é continuarmos com os olhos fixos em Cristo. Nossa resiliência precisa ser lembrada e é o que o autor faz. Ele faz menção de nossas mãos cansadas e de nossos joelhos desconjuntados. O cansaço físico ou algum tipo de distrofia física, nada disso é, ou pode se tornar empecilho. Algumas vezes celebramos em nossas vidas ditados e adágios populares. E muitas vezes são reputados como sabedoria popular. Eles também são passíveis de algum tipo de crítica: “Deus escreve certo por linhas tortas”, este é um exemplo e espero que fiquemos somente com este por hora para nossa reflexão. O maior exemplo bíblico que depõe contra este ditado popular foi a missão que João Batista recebeu do Senhor conforme aquela profecia registrada no livro do profeta Isaías 40:3 e depois registrada em Mateus 3:3; Marcos 1:3; Lucas 3:4; João 1:23.  


O que precisamos como necessidade urgente para efeito de entendimento sob pena de estarmos sempre sendo penalizados por algum erro de avaliação que são as muitas hermenêuticas equivocadas. É nos conscientizarmos de que se trilharmos terrenos acidentados há uma forte tendência de também nos acostumarmos com este tipo de terreno. Isso pode causar algumas lesões que deixam, por exemplo, joelhos desconjuntados, ou que podem fazer, devido a esforços desmedidos, com que as nossas mãos fiquem cansadas. O pecado nos desfigura, nos atrofia, faz com que as nossas mãos por conta do excessivo esforço físico fiquem cada vez mais cansadas. Nada disso é motivo para nos acomodarmos e aceitarmos a derrota. O autor nos versos 4 e 5 chama a atenção para o fato de que ainda não resististes até ao sangue combatendo o pecado e já vos esquecestes da exortação que argumenta convosco como filhos. Ele faz questão de lembrar da condição que nos encontramos a partir do momento que temos Cristo como Senhor de nossas vidas. 


Não são as nossas atrofias que fazem com que nos locomovemos com certas dificuldades. Não são nossas mãos cansadas os reais motivos que fazem com que nos enveredemos por terrenos tortuosos. É a consciência moral e restauradora de nossa relação com Cristo que deve fazer com que possamos construir caminhos de virtudes e de fé. Eles nos conduzem através da fé para a santificação. E a fé é tanto uma condição para nos aproximarmos de Deus assim como é a santificação orientada pela fé que nos coloca numa condição em que tenhamos a plenitude de contemplarmos ao Senhor. Por isso a exortação de que devemos seguir a paz com todos e a santificação sem a qual ninguém verá o Senhor. Temos a obrigação moral de fazer com que nossas veredas sejam direitas. Apenas e tão somente deste jeito não seremos privados da graça divina. E mesmo brotando qualquer tipo de raiz de amargura que ela não nos perturbe. Ainda não estamos imunes a tudo que o pecado pode provocar quando falamos em danos. E a advertência a que não sejamos devassos como foi Esaú, advertência que mostra que ele foi capaz de trocar sua primogenitura por uma refeição. Temos neste caso o exemplo de Esaú como um exemplo negativo. E é realmente um exemplo negativo. A atitude de Esaú depõe contra tudo que temos falado até agora. E percebam que no capítulo 11 quando o autor fala daqueles personagens tidos como heróis ou exemplos de fé. Eles estão ali por serem exemplos positivos. Porém, quando adentramos o capítulo 12, também temos ciência dos perigos que corremos e por isso somos advertidos. E o exemplo de Esaú é aquele tipo de exemplo que em hipótese alguma deve ser seguido.  



Conclusão 


Temos chegado ao término desta reflexão e a minha principal preocupação é no sentido de que tenhamos aprendido a mirar as nossas vidas e a carreira que nos foi proposta por Deus em Cristo Jesus, e  de que não devemos esquecer aqueles que vieram antes de nós. Muitos outros também foram testemunhas dessa maravilhosa graça. Por isso elas são aqui identificadas como nuvens. E a memória delas devem sim povoar as nossas mentes. Quem de nós não traz na lembrança a memória de um ente querido que tenha sido exemplo de fé. Às vezes, não são parentes e sim pessoas que se tornaram próximas de nós por causa do amor que tinham pelo evangelho. Quando penso dessa maneira a minha vida e memória não me remetem a apenas aquelas pessoas listadas no capítulo 11. Eu dimensiono, melhor dizendo, redimensiono a abrangência dessa mensagem relatada no texto a todas aquelas testemunhas fiéis que contribuíram com suas vidas e até mesmo com o sacrifício para que o evangelho chegasse até nós nestes tempos que nos encontramos. Esta epístola é um bom exemplo de relato que nos ajuda a que também possamos reproduzir o mesmo comportamento que seu escritor tem nos mostrado. E o comportamento é aquele que nos remete a lembrança de todas aquelas pessoas que foram importante para nossa carreira cristã. Quantas vezes fui realmente tocado por Deus através de pessoas que realmente se importavam comigo. Na minha trajetória de vida e de caminhada com Cristo, tenho tantas pessoas em minhas memórias que contribuíram para que também pudesse ser exemplo de fé para os outros e sou muito grato pela vida de todos eles. Apenas não me sinto à vontade para fazer menção  de seus nomes. Porém, se tem um nome que posso citar dentre tantos outros é o de minha mãe. Ela foi a responsável direta pela minha educação. Foi ela que me alfabetizou em casa assim como a todos os meus irmãos. Era ela que nos levava para a igreja. E ela também o instrumento usado por Deus para a minha conversão. Poderia continuar falando de suas qualidades e de sua grande importância para todos nós, os seus filhos. E se tem um versículo que faz a Ela, a seu caráter e personalidade é aquele texto de Provérbios 31:10: Mulher virtuosa quem a achará? O seu valor muito excede ao de rubis.”










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¹SAUSSURE, Ferdinand. Curso de Linguistica Moderna. São Paulo, Cultrix, 2006. p.27


²TILLICH, Paul, Teologia Sistemática. São Paulo, Ed. Paulinas; São Leopoldo, Sinodal. 1984. p. 67.


³POPPER, Karl. A lógica da pesquisa científica. São Paulo, Cultrix, 1972. p. 51.


⁴LEONOR, M. A questão de deus na história da filosofia. p. 108.


⁵Medusa uma das três irmãs górgonas. A Medida dentre as irmãs também górgonas era a única que não era imortal. Carregava a maldição de quem morasse com os olhos em sua direção eram imediatamente petrificados.


* In-text citation: Nota de rodapé, letra ‘e’, do capítulo 1, verso 3, da Epístola aos Hebreus, p. 1559(A Bíblia De Jerusalém, 1973)




 

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