Liturgia - Emblemática e crucial para os tradicionalistas


  

  Porque será que a questão litúrgica se tornou crucial e emblemática para os tradicionalistas católicos? A ponto de se tornar um movimento de retorno às práticas litúrgicas, rito tridentino, nos últimos anos. É ponto pacífico de que o referido rito antigo não foi abolido. E que as transformações  ou inovações na prática litúrgica que sucederam logo após a promulgação Concílio Vaticano II, faziam parte dessa abertura da Igreja para a cultura e modernidade que estava a sua volta. Com isso foi incrementado a celebração das missas nos vernáculos nacionais.


      Quando se olha para tudo que tem acontecido nestes tempos de pós modernidade, especialmente no catolicismo romano e europeu nos últimos cinquenta anos, e, a partir das proposições trazidas a efeito com o objetivo de se reformar a igreja, outras nem tanto, pelo próprio Concílio Vaticano II. Por que será que em alguns aspectos dessas mesmas proposições o que se pode ver são medições de força e verdadeiros campos de batalha entre progressistas e tradicionalistas? E que papel a tradição ocupa em todas essas disputas internas? 

   Será apenas uma questão de hermenêutica sobre a tradição(GUTIERREZ, Gustavo. A força histórica dos pobres, p.30), ou algum tipo de movimento interno, insurgente, porém reativo a uma primeira onda de caráter progressista para que a Tradição seja efetivamente abolida, ou como queiram, no linguajar jurídico e canônico ab-rogada? No início e introdução deste texto me vali da expressão"Quando se olha"... Pelo fato de que a minha situação, não sei se cômoda ou não, ser a de um mero expectador que assiste literalmente de fora.

   É justamente por estar de fora que sempre me perguntei no porque desse ferrenho apego a Tradição da igreja católica por parte desse grupo que comumente foi chamado de tradicionalista. E de minha parte, exatamente por estar de fora, não há qualquer tipo de conotação pejorativa. Especialmente quando o assunto em questão é a Reforma Litúrgica promulgada por Paulo VI. A Reforma da Liturgia foi provavelmente aquela que mais mudou na prática a vida das pessoas que frequentavam a igreja. 

   Por exemplo, com relação a mudança do Latim para os vernáculos nacionais, muito embora a igreja tenha o Latim como sua língua oficial, ao abrir-se à tradução de todos os ritos para as diversas línguas que formam a cultura humana, fez com que, na prática, o Latim caísse em desuso. Há uma crítica inclusive com relação a formação dos religiosos que atualmente não são versados em Latim. A missa conforme a crítica dos tradicionalistas acabou resultando em um evento teatral. O sacerdote que oficia a celebração sequer tem consciência do que faz ao não pronunciar o recitativo com propriedade.

      Para alguns tradicionalistas o estrago já está feito com a promulgação deste Missal. Um desses danos causados coincide com uma situação cismática dentro da igreja e afeta em cheio a sua hierarquia. Uma vez que a constatação deles é de que este novo Missal foi protestantizado. E por uma simples razão, mas que faz toda uma diferença do ponto de vista litúrgico: Algumas prerrogativas que são de exclusividade do sacerdote na missa. Principalmente no "Ofertório", não são tão relevantes e se confundem com as responsabilidades dos leigos.



HYPOLITO DE ROMA
     A própria consagração da hóstia e do vinho que caracteriza a presença real do Cristo e seu sacrifício se constituem muito mais em uma presença simbólica do que propriamente nesta presença real e num sacrifício real. Para tanto se utiliza da Oração Eucarística número II inspirada em Hipólito de Roma, pois nele a presença real e corpórea do Cristo não é enfatizada(HIPÓLITO DE ROMA, Tradição apostólica, p. 40-41). Ela está lá, porém, muito mais pelo seu simbolismo. E quando se fala de simbolismo nesta situação específica, o seu caráter é abarcador por se estender  e entender também como sacrifício, o sacrifício de louvor do povo, neste caso a congregação.

      A outra crítica procedente dos tradicionalistas não diz respeito apenas a introdução desta oração que é reputada a Hipólito de Roma. Mas por estar repleta de interpolações. Portanto é um texto compilado ao longo dos séculos e por isso não deveria gozar de tanta credibilidade a ponto de ser incluído na Reforma Litúrgica e neste missal de Paulo VI. Assim como fazem referência a este bispo de passado nebuloso por se saber muito pouco sobre sua vida e sua real sede episcopal. Soma-se a isto o seu passado anti papista e cismático(HIPÓLITO DE ROMA. Op.cit. p.  ). E aos seus escritos por ser os últimos a serem registrados em grego na Roma do século III


  O que no Protestantismo tem sido uma máxima, já que historicamente se ampliou o conceito de sacerdócio. É muito comum a utilização de textos como I Pedro 2:9 para se falar de um sacerdócio universal que amplia o conceito de investidura deixando um pouco de lado aquilo que comumente conhecemos como chamadas específicas. Já ouvi quando era seminarista até mesmo a referência ao se falar de chamadas específicas, como se fosse uma casta. Ou mesmo um grupo de privilegiados, e isto no seio do protestantismo denominacional.

     Ao que me parece para esta hierarquia católica e conservadora que aí está seria o mesmo que decretar o seu fim. Este, talvez seja, o seu grande temor: A não distinção entre o sacerdócio do padre e dos fiéis. O sacerdote tem uma função na missa que o fiel não pode desempenhar. Pois faz parte de sua vocação. E ao que tudo indica, segundo as críticas dos tradicionalistas, estes papéis estão interpenetrados e se confundem. Isto na prática acontece já que a introdução de textos litúrgicos neste missal são de dupla interpretação: Podem ser lidos numa perspectiva e abordagem tanto católica quanto protestante.

  É muito comum a qualquer organização institucional, seja religiosa ou não, passar por transformações e(ou) reestruturações de tempos em tempos. É também uma necessidade muito saudável. Porém, no ocidente, quando se fala em reformar uma instituição religiosa, infelizmente o que se vem ao pensamento é a ideia de um cisma, especialmente no contexto católico. E apesar de inúmeras tentativas de se reatar alguns laços, ainda há muito ressentimento de ambos os lados. 

  Entretanto, e a despeito de qualquer dúvida que possa haver, o cisma de que estamos falando e que aconteceu no século XVI, no seio do catolicismo, foi um movimento interno na igreja e gerou por parte do catolicismo um recrudescimento de suas ações resultando disso o movimento de Contra-Reforma. Isso é o que nós reles mortais sabemos através dos livros e dos historiadores que, geralmente nessas ocasiões, são poucos e raros os que tentam se manter isentos,  acabam escolhendo um lado.

     Mas, como eu dizia,"Assistir de fora", no meu caso, é a atitude de quem não se declara de confissão católica romana. De quem, muito embora esteja militando no âmbito de algumas questões de caráter eminentemente teológico, está ciente de que, em algumas situações, o que acontece nos arraiais católicos tem consequências sim para todo o mundo cristão e ocidental. Tive a oportunidade de assistir alguns discursos do Papa Bento XVI. E em alguns deles ele sempre enfatizou sua luta contra o relativismo.

   Também, em algumas situações o que para ele significava salvar o catolicismo romano do que ele chama de relativismo, significava também salvar a Europa e a sua cultura religiosa e humanista. Essa crítica de Bento XVI se reveste de veemente contundência, uma vez que objetiva o resgate da autoridade e do magistério da Igreja Católica. A Igreja já não é mais vista como guardiã da verdade através do magistério que ocupa. Vale ressaltar que essa constatação acontece tanto dentro, quanto fora do catolicismo.

   Nos últimos anos, entretanto, tem se acirrado com maior amplitude as disputas pelo controle efetivo da igreja. Nessa querela, a tradição litúrgica exerce papel preponderante. Talvez seja por isso que as disputas pela prevalência na observância de um Missal em detrimento do outro tenham se ampliado sobre maneira. Esse tipo de disputa não tem livrado a cara até mesmo dos últimos sumo pontífices. Os quais deveriam se manter muito mais como moderadores, nestes casos, do que defensores deste  ou daquele rito litúrgico.

   Porém, não é o que se tem visto. Haja vista a série de documentos pontifícios que foram publicados, também denominados de cartas apostólicas. A começar pela "SUMMORUM PONTIFICUM " de 07/07/2007, que apresenta um relato sucinto, mas, bastante elucidativo sobre a situação histórica de promulgação dos dois Missais Romano de rito latino, a qual pertence o seguinte extrato:



<< O Missal Romano promulgado por Paulo VI é a expressão ordinária da "LEX ORANDI" ("Lei da Oração"), da Igreja Católica de rito de latino. Mas o Missal Romano promulgado por S. Pio V e novamente editado pelo B. João XXIII deve considerar-se como expressão ordinária da mesma "LEX ORANDI", e gozar do devido respeito pelo seu uso venerável e antigo. Estas duas expressões da "LEX ORANDI" da Igreja não levarão de forma alguma a uma divisão da "LEX CREDENDI" ("Lei da fé") da Igreja, pois são, de fato, dois usos do único rito romano. Por isso é lícito celebrar o sacrifício da Missa segundo  a edição típica do Missal Romano promulgado pelo B. João XXIII em 1962 e nunca ab-rogado, como forma extraordinária da Liturgia da Igreja.>> 


  Esse Motu Proprio referenciado no parágrafo anterior é um documento católico. Um expediente comum de que os papas fazem uso espontaneamente, porém, na atual conjuntura dos acontecimentos, e,  do ponto de vista da hierarquia da igreja, não faz qualquer tipo de diferença quando o assunto é o apaziguamento dos lados envolvidos. A consequência de tudo isso é uma crise de identidade e de autoridade dentro desta estrutura de poder. E querendo ou não, e pelas razões apontadas e negadas por Bento XVI nesta carta apostólica. Há sim a presença de duas igrejas que se digladiam e se acusam mutuamente como heréticas. 

   Cada vez mais o poder monárquico exercido pelo sumo pontífice se corrói. Seja quem for que esteja ocupando a cátedra romana, neste ou em outro momento e situação,  qualquer um dos lados envolvidos e que esteja no poder. Pode ser questionado, e sua investidura, também conhecida como ministério petrino, não ser reconhecida no exercício de sua autoridade. Esta situação tem sido muito mais comum e aberta do lado tradicionalista(Sede Vacante).

 Até aqui temos falado de deliberações de uma igreja sob a perspectiva de sua universalidade. Logo, e a meu ver, mesmo inconscientemente, reconheço que em alguns momentos a minha tendência para a abstração tem falado mais alto. Porém, ao falarmos de América Latina e o seu contexto histórico, principalmente no que diz respeito a sua colonização. Há um dado significativo que não pode nem merece ser omitido: A Lei do Padroado. Que, sem sombra de dúvida, é a fonte do catolicismo conservador que perdura até os dias de hoje neste continente. Vale lembrar que colonização e evangelização se confundiam por causa deste envolvimento entre igreja e estado(BELO DE AZEVEDO, Israel. As Cruzadas Inacabadas, p. 43)

    Há uma constatação por parte de alguns críticos de que a América latina é um continente sem história, ou melhor, ignorado pelos historiadores. Em parte, deve se dar um crédito à forma que este continente foi colonizado. Ele foi explorado como um apêndice das duas coroas que reivindicaram sua possessão e onde a mesma foi chancelada pelo Sumos Pontífices desse período. São as Bulas papais de Nicolau V, Calisto III e Alexandre VI que deram poderes pontifícios aos Reis de Portugal sobre a administração eclesiástica que estivesse dentro dos limites territoriais de seus domínios. Era o privilégio do Padroado.

   O Padroado foi a grande alavanca na construção do catolicismo conservador da América. Quando, por assim dizer, selou-se o grande casamento entre o Estado representado pelas duas coroas, Portuguesa e Espanhola e a Igreja. Foi uma forma de se reproduzir aquela pirâmide medieval e hierárquica que ruiu em quase toda a Europa. E coincidentemente ainda se mantinha firme nas duas coroas localizadas na península ibérica. Assim a práxis colonial se legitimou por uma fundamentação religiosa.

   A América, em especial a América Latina, acabou se constituindo em um grande laboratório de aperfeiçoamento dessas condições sociais, uma vez que os povos daqui, pela própria cultura que possuíam, não eram capazes de oferecer qualquer tipo de resistência às imposições dos seus colonizadores. Sobre todos os aspectos, até a América Latina se ressente desse estigma de não ser capaz de produzir a sua própria história. Daí a atribuição introjetada pela própria cúria romana de que a teologia da libertação não seja uma teologia genuinamente latino americana. 

   Resolvi me debruçar sobre esta temática, claro que com  a ajuda de algumas pessoas, amigos católicos aqui e ali, mas, no interesse de estar, mesmo observando "de fora",(Este de fora entre aspas, não significa que esteja abrindo mão de minha origem e inserção no contexto latino americano do qual faço parte)com extremo zelo e sinceridade, torcendo e orando para que as coisas tomem seu rumo em direção a unidade e união do povo  de Deus. Do ponto de vista teológico, religioso e dogmático, nós, e isto serve para católicos e protestantes, ainda não aprendemos a olhar para  o outro como o nosso próximo. E isto no sentido da horizontalidade.

     Sou de opinião que se para chegar a um mínimo de convivência pacífica entre irmãos precisamos passar por cima de algumas tradições, que seja feita então. O que não pode existir é aquele discurso que até hoje continua vigente de que para se preservar uma tradição, vale qualquer esforço, inclusive o de se passar por cima do próximo. Este tipo de atitude é anti bíblica. Pois não é isso que aprendemos como o próprio Cristo nos evangelhos. No capítulo 12 do evangelho de Mateus o Senhor Jesus é questionado pelos fariseus pelo fato de os seus discípulos estarem colhendo espigas no dia de sábado. Fundamentalmente o que é marcante em sua resposta é que instituição alguma ou princípio algum pode estar acima da dignidade humana.

   E ao direcionarmos nossos olhares para o nosso próximo, somos capazes de nos vermos nele? Talvez fosse essa a intenção de nosso Senhor Jesus Cristo ao nos orientar sob a forma de mandamento que nos amássemos uns aos outros(Jo. 13:34); e (ou) que devemos amar o próximo como a nós a mesmos(Mat. 19:19 ; 22:39). O que com certeza não foi o que aconteceu desde que os colonizadores aqui aportaram. O histórico da América é de uma colonização impiedosa e servil. Trabalhos forçados, doenças trazidas para cá cujos silvícolas não possuíam imunidade e etc.

 A prova disso está na prática empregada pelos nossos colonizadores desde que chegaram a América. E, que, muito embora, de lá pra cá alguns avanços com relação aos direitos humanos e civis tenham sido alcançados. Ainda estamos muito aquém das necessidades que um ser humano precisa para viver com dignidade. Mesmo que, a despeito da existência de setores conservadores, que vislumbram uma América Latina tal qual foi exarada nesta tão malfadada Lei do Padroado.

    Por ela o ato de colonizar se confundia com o  de evangelizar; a ordem temporal se misturava com  a ordem espiritual, a esfera política com a eclesial e o econômico com o evangélico. Assim a Lei do Padroado concedia um conjunto de faculdades especiais e de privilégios. Os reis e outros mandatários de Portugal e Espanha assumiam a direção e organização da igreja. Desta forma se entendia esta relação: As leis da igreja são as leis do Estado e vice-versa.


S. Toríbio de Mongrovejo
Esta Lei acaba sendo  a prova cabal de que a igreja não pode se omitir de suas responsabilidades no genocídio da população ameríndia imposto pelos trabalhos forçados e em condições sub humanas. Muito menos na importação dos negros africanos e a mesma imposição de trabalho escravo ceifando a vida de milhões. Há que se fazer justiça para algumas personalidades eclesiásticas deste período, como Bartolomeu de las casas e São Toribio de Mongrovejo, porém a instituição Igreja Católica esteve presente neste processo de ocupação e colonização América Latina como parceira e patrocinadora deste grande empreendimento(BELO DE AZEVEDO, Op cit. p. 47).


   Um dado muito significativo a partir da Reforma Protestante e que provocou uma corrida e expansão de ambos os lados na busca de novos rebanhos. Assim questões teológicas e de natureza religiosa alcançaram uma amplitude geo política. Foi a  primeira consequência desse cisma no continente europeu do século XVI. Assim o empreendimento da colonização também foi patrocinado pela igreja, acima de tudo, pela percepção de que visava compensar a grande perda de rebanho ocorrida no velho mundo. 

  Esses eventos foram impulsionados mutuamente pois a descoberta das Américas já era fato consumado quando se consolidou a Reforma, e consequentemente houve a reação católica(Contra-Reforma). E acho que não há como dizer que América Latina seja também protestante, deixando de lado a questão do Brasil, como um caso a parte. A América Latina é sim extremamente arraigada no catolicismo, muito embora se possa questionar a forma como foi colonizada e(ou) evangelizada, desde os primórdios de sua colonização.

  Vale muito a pena abrir um parêntese para o assunto Reforma Protestante desde uma abordagem cristã evangélica, já que, querendo ou não, se eu tiver que me reportar a alguma tradição que me precede, impreterivelmente eu tenho que fazer referência a essa tradição reformista com a qual tenho uma identificação maior. Depois de todo o frisson por conta das celebrações de 31/10/2017, que para o mundo cristão evangélico e protestante é um evento marcante, emblemático e simbólico. O ano de 2017 então, se revestiu ainda mais de nuances significativas. 

 Por conta disso, estive pensando em como abordar um acontecimento ocorrido a 500 anos e que foi capaz de transformar drasticamente a vida de milhões de pessoas. A Reforma foi um evento de natureza interna no catolicismo romano do século XVI que teve como resultado imediato um cisma. Todavia, as consequências desse cisma ainda não podem ser mensuradas com precisão, já que ao me expressar da forma como estou me expressando, tenho consciência de que cometo o pecado de uma visão por demais anacrônica. E basicamente de caráter moderno, ao afirmar que ela provocou um efeito dominó avassalador em todas as instituições políticas, sociais, culturais e, claro, religiosa de sua época.

  Também não foi um evento pacífico. Muitas vidas foram ceifadas por causa dessas disputas no campo teológico e religioso e seus desdobramentos trouxeram consequências diretas na vida dos mais humildes, aqueles que sempre estiveram e estão na base da piramide social. Nesta época, os camponeses. A Reforma Protestante no continente europeu, acabou criando todas as condições para a reprodução do ambiente pré reforma, ao mesmo tempo que forneceu instrumentos legais de direito de posse pelo novo mundo recém descoberto, que visavam coibir esse mesmo tipo de movimento reformista na América Latina. 

  Um cidadão europeu mediano nos dias de hoje tem a seu favor todo um contexto histórico de lutas por direitos e construção de cidadania que remonta há pelo menos um milênio ao se adentrar o passado. diferentemente do que ocorreu aqui na América Latina. Aqui os invasores europeus chegaram impondo a sua visão de mundo a povos que ainda subsistiam através de uma cultura baseada na oralidade e em suas relações cíclicas com a própria natureza. Quanto às etnias mais organizadas em termos de hierarquia social, registros escritos e até mesmo na matemática e arquitetura. Que é o caso de Astecas, Maias e etc. Eles foram dizimados e seus registros históricos foram inclusive considerados heréticos.  

   Isto fez com que os conquistadores não levassem em consideração o grande contingente populacional que por aqui vivia. Principalmente na chamada América espanhola. Um dado que, a rigor, não foi nem um pouco considerado pelos colonizadores. Este dado foi negligenciado pelo fato de na grande maioria das vezes os habitantes desta parte do mundo não souberam oferecer qualquer tipo de resistência a ocupação do continente. Alude-se a isto ofato de que os dois povos que aqui aportaram, eram povos que tinham uma mentalidade militar de cruzados.

    A retórica religiosa levada a cabo nesta ocupação foi a de livrar esta terra recém descoberta da presença dos infiéis. Uma mentalidade tipicamente de um exército cruzado(BELO DE AZEVEDO, Israel, Ibid. p. 42). A própria atribuição de infiéis, já denota uma mentalidade bastante hostil com a população autóctone da América Latina. Estes objetivos foram satisfatoriamente alcançados pela conversão praticada através do uso da força, sendo que a espada levou milhões de seres humanos a morte. A colonização deste novo mundo já exibia desde o início uma característica muito peculiar que era a exportação dos problemas e mazelas oriundos no continente europeu recém saído do período medieval.
   
  A julgar pelos resultados que nos últimos 50 anos tem sido alvo de alguns questionamentos sobre o que foi a empresa da evangelização da América Latina e a necessidade, segundo a ótica progressista de uma re-evangelização, na contra partida de uma retórica mais conservadora que justifica a presença católica em nosso continente sob as bençãos de Maria, como libertadora de povos sanguinários e que ofereciam jovens e virgens em sacrifícios cruéis a seus deuses. O que grosso modo se depreende dessas duas visões antagônicas, mas de origem europeia, é tanto a tradição arraigada num medievalismo, quanto um humanismo europeu desprovido de sua roupagem religiosa.  

  Logo, o que fica mais patente é o fato de que este cisma provocou a exportação dos problemas do velho mundo para outras regiões até então conhecidas, mas que ainda não haviam experimentado esta  rivalidade tão hostil entre os grupos envolvidos. Está em jogo também, o caráter geo político, o controle dos mares e o fluxo de matéria prima que se exploraria nestas colônias recém ocupadas.

  Das regiões que estiveram sob o radar de influência de monarquias católicas, a América Latina é um exemplo disto, seus habitantes foram submetidos a um processo de evangelização que significou, entre outras coisas, a total erradicação de suas culturas autóctones por uma aculturação de origem europeia e imposição de uma nova língua. O que se conclui que eles não foram evangelizados e sim europeizados. A conversão a fé católica estava diretamente relacionada ao aprendizado da língua. No caso do Brasil, ao aprendizado da Língua Portuguesa e através dela a catequese.

 Desde uma perspectiva geo política, a evangelização foi a ferramenta mais eficaz utilizada para ocupar, explorar e dominar o novo continente. Foi uma invasão branca, impiedosa e sem precedentes. Acho que, por conta de toda essa barbárie imposta à América Latina, desde o início de sua colonização através da imposição de um modelo europeu obsoleto e altamente ultrapassado. A América Latina tem sobrevivido a todo tipo de injustiça e a uma realidade dura e impiedosa.

    Foi também a questão estratégica, ao se falar de Brasil, que começou a esbarrar no forte e determinado espírito catequético e Jesuíta. Uma vez que não estavam respeitando as fronteiras nacionais entre a América espanhola e portuguesa. A companhia de Jesus, num primeiro momento foi fundamental para o povoamento e formação do colono brasileiro. Agora com o projeto de fortalecimento dos seus domínios no novo mundo. A coroa portuguesa começa a  se indispor com algumas ações impetradas por esta ordem:
o afastamento dos jesuítas dessa região significava tão somente assegurar o futuro da América Portuguesa pelo povoamento estratégico. O interesse de Estado acabou entrando em choque com a política protecionista dos jesuítas para com os índios e melindrando as relações com Pombal, tendo esse fato entrado para a história como “uma grande rivalidade entre as ideias iluministas de Pombal e a educação de base religiosa jesuítica” (Seco; Amaral, 2006, p. 5).
SECO, A. P.; AMARAL, T. C. I. do. Marquês de Pombal e a reforma educacional brasileira. 2006. Disponível em: http://histedbr.fae.unicamp.br/navegando/periodo_pombalino_intro
 
  As duas metrópoles que levaram a diante esse projeto de apropriação do continente foram Portugal e Espanha, que ainda estavam com os pés atados a uma realidade tipicamente agrária e feudal. Prova disso foi o tipo de pedagogia que se praticou por aqui para educar principalmente os nobres e a elite burguesa que naquele momento dava sinais de crescimento e fortalecimento. Durante os dois séculos em que a Companhia de Jesus permaneceu por aqui. Período de vigência do Padroado, os jesuítas deram forma e organizaram todo o sistema educacional brasileiro, porém sobre uma base elitista.

   Foi uma forma de conter o avanço dos protestantes e que de certa forma funcionou aqui no cone sul da América. O exemplo mais emblemático que se pode tirar disso foi que o acordo selado entre a Santa Sé e as duas monarquias ibéricas, conhecido como padroado. Que mesmo depois de rompido e com o estabelecimento de nações independentes, o catolicismo se estabeleceu de vez por aqui. Os novos estados permaneceram com a herança católica, ainda que para se chegar a tal situação não se economizou o emprego da força.

   Agora, o que alguém poderia questionar, é o que a questão litúrgica tem a ver com este arcabouço histórico de descoberta e colonização do novo mundo? Claro, que jamais esquecendo-me, e preciso me policiar com relação a isto, por ser uma leitura e olhar de quem se encontra do lado de fora do catolicismo. Uma primeira tentativa de se responder a esta questão, é que é justamente na América Latina que surgirá um foco de resistência e de insurgência contra a desigualdade social e a partir dos arraiais católicos progressistas oxigenados pela possibilidade de uma nova hermenêutica com o Concilio Vaticano II.

     E tudo isto acontece desde uma hermenêutica de interpretação da tradição quando afirma que a EUCHARISTIA não é tão somente tradição e apego ao passado. Pois além dos textos, há uma hermenêutica menos tradicionalista de onde se toma a consciência histórica do meio onde a igreja se faz presente(GUTIERREZ, Gustavo. A Força Histórica dos Pobres, p. 43). Mas não foi o que se viu desde o descobrimento do novo mundo. Pelo contrário, o que se constatou foi que a igreja, pelo menos, os setores conservadores e tradicionalistas aqui da América Latina, sempre foram os obstáculos para as mudanças sociais.

    Talvez seja por isso que houve um maior envolvimento dos setores progressistas com os movimentos sociais para que estes fossem efetivamente os agentes das mudanças sociais. E não propriamente a igreja, pois a partir do momento que esta se vê controlada por setores conservadores que aludem à catolicidade como argumento para a manutenção do status quo criando um estado de verdadeira angústia em cada católico ao se depararem com a realidade política e social(GUTIERREZ, Gustavo, Ibid p. 49). 

      Qual será então o objetivo de uma teologia latino americana com base na retórica e princípio de libertação, ao mesmo tempo que tenta superar a oposição interna do catolicismo conservador e tradicionalista? Sua busca, claro que em constante diálogo com  a tradição, é o distanciamento de uma escolástica essencialista(GUTIERREZ, Gustavo, Ibid. p. 51). Ao mesmo tempo em que tenta recompor uma antropologia que seja mais real e identificadora do homem latino americano na condição de pobreza e de alienação em que se encontra.

      Para Gustavo Gutierrez é altamente justificável o uso das ciências sociais na reflexão teológica da libertação na América Latina(GUTIERREZ, Gustavo. Teologia da Libertação, p. 18). Este meu olhar de fora do ponto de vista teológico e religioso com relação ao catolicismo, não me isenta de uma percepção da realidade tão aviltante, ultrajante e imoral como se pode ver por todo este continente. E é evidente que se tenho como fazer uma leitura desta situação através de um instrumental teórico-científico da realidade latino americana, porque não fazer?

    A pobreza não é um flagelo que Deus tem que resolver, ou vai resolver. Mas, o que nós fazemos com os pobres? O próprio Cristo certa vez afirmou que nós sempre teríamos os pobres conosco(João 12:8). Mas isto não nos isenta de uma responsabilidade do ponto de vista divino. O juízo final tal qual registrado no evangelho de Mateus 25:33-46 estabelece um elemento balizador para julgar e condenar os homens. Começa separando as ovelhas dos bodes. Depois justifica a recepção de boas vindas aos que estão a sua direita pelas ações destes em favor dos mais humildes; e também justifica suas duras palavras para com os que estão a sua esquerda pela omissão destes em favor dos mais humildes.

     Estava assistindo há pouco tempo atrás um vídeo do padre Paulo Ricardo, que tem sua figura associada aos grupos mais conservadores entre os católicos do clero brasileiro. Os seus vídeos, diga-se de passagem, são bem produzidos e bastante elucidativos. Pois bem, neste vídeo ele fala da abissal diferença entre católicos e protestantes e que essa abissal diferença entre o que um católico crê e o que um protestante crê, chega inclusive ao tipo de hermenêutica cristológica. Para tanto o padre se vale do termo latino CARO SALUTIS EST CARDO. E se vale desta expressão no intento de assegurar que a fé católica passa impreterivelmente pela encarnação do Cristo(Verbum caro factum est).  

   Se tal expressão latina reproduz com fidelidade esse axioma fundamental da fé católica a que os tradicionalistas se dizem tão apegados, seria natural um desdobramento das ações de todos em favor dos mais humildes, mesmo que em algum momento eles chegassem a um acordo sobre a utilização, ou não, do tipo de ferramenta utilizada pelos progressistas como chave e instrumental linguístico para leitura da realidade social, neste caso, o materialismo histórico. O que não dá para entender em tudo isto é o apego a alguns princípios, dizem aqueles que os defendem, que são axiomas da fé católica, mesmo que para tanto tenha que passar por cima da própria vida humana. 

     O flagelo da miséria que todos sabemos ser estrutural na América Latina não me parece que incomoda tanto aos tradicionalistas. É quando me pergunto, durante todo esse tempo de exploração e ocupação a que se viu  este continente, que espécie de moral cristã foi, afinal de contas, construída? A única lembrança que me vem a mente foi o que li na aba de um livro organizado e compilado por um autor de origem protestante aqui do cone sul. Quando falava da associação que algumas igrejas históricas estavam fazendo com os poderosos(Aqui estou falando do protestantismo) e por isso foi capaz de afirmar por inspiração Divina que: "A igreja sem os pobres é um lugar abandonado por Deus e por Jesus". 

     Toda fé tem realmente um elemento contemplativo. Acho que essa dimensão pode ser sim encarada como sacramental. Em alguns segmentos do protestantismo não se perdeu essa dimensão. Mas, não em nome desta dimensão e dos efeitos benéficos que ela pode trazer para o povo de Deus, ela não pode ser tão somente uma peculiar propriedade de um seleto grupo social que, a rigor, se encontra no topo da pirâmide social.

    A razão de minha busca por questões como estas que envolvem especialmente a cristandade católica, claro, ela tem o objetivo de construir um juízo de valor além daquele que já trago comigo. Que, num primeiro momento, é o referencial de que tenho me valido. Entretanto, ele sofre consequentemente algum tipo de transformação uma vez que minha postura de observador está sempre comprometida. É evidente que o meu envolvimento com esta temática não será capaz de me converter ao catolicismo, assim como não me deixará menos evangélico protestante. Porém, fortalecerá cada vez mais as minhas convicções cristãs. 

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AZEVEDO, Israel Belo de. As Cruzadas Inacabadas. Introdução à História da Igreja na                 América Latina. Rio de Janeiro, Gêmeos, 1980.


GUTIERREZ, Gustavo. A Força Histórica dos Pobres. Tradução de Alvaro Cunha.
         Petrópolis, Vozes, 1981.


__________ Teologia da Libertação. Tradução de Jorge Soares.
         Petrópolis, Vozes, 1983.


HIPÓLITO, Santo. Tradição Apostólica de Hipólito de Roma. Trad. de Maria da G. Novak.
       Petrópolis, Vozes, 1971.




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TEXTO ANEXADO




         DE PAGOLA SOBRE A EUCARISTIA, AO COMENTAR JOÃO 6,51-58:
Como é natural, a celebração da missa foi mudando ao longo dos séculos. Segundo a época, teólogos e liturgistas foram destacando alguns aspectos e descuidando de outros. A missa serviu para celebrar coroação de reis e papas, render homenagens ou comemorar vitórias de guerra. Os músicos a converteram em concerto. Os povos a integraram em suas devoções e costumes religiosos...
Depois de vinte séculos, pode ser necessário recordar alguns dos traços essenciais da última ceia do Senhor, tal como era lembrada e vivida pelas primeiras gerações cristãs.
No núcleo dessa ceia há algo que jamais deve ser esquecido: seus seguidores não ficarão órfãos. A morte de Jesus não poderá romper sua comunhão com Ele. Ninguém há de sentir o vazio de sua ausência. Seus discípulos não ficarão sós, à mercê dos avatares da história. No centro de toda comunidade cristã que celebra a Eucaristia está Cristo vivo e operante. Aqui está o segredo da sua força.
Dele se alimenta a fé de seus seguidores. Não basta assistir essa ceia. Os discípulos são convidados a “comer”. Para alimentar nossa adesão a Jesus Cristo precisamos reunir-nos para escutar suas palavras e guardá-las em nosso coração; e aproximar-nos para comungar com Ele, identificando-nos com seu modo de viver. Nenhuma outra experiência pode oferecer-nos alimento mais sólido.
Não devemos esquecer que “comungar” com Jesus é comungar com alguém que viveu e morreu totalmente “entregue” pelos outros. Jesus insiste nisto. Seu corpo é um “corpo entregue” e seu sangue é um “sangue derramado” pela salvação de todos. É uma contradição aproximar-nos para “comungar” com Jesus resistindo egoisticamente a viver para os outros.
(PAGOLA, Antonio. O CAMINHO ABERTO POR JESUS: JOÃO. Petrópolis: Vozes, 2013, pp. 107-108)


























O CONCEITO E CONSTRUÇÃO DA IGREJA NO ÂMBITO DA DIVERSIDADE DOS DONS ESPIRITUAIS. 







INTRODUÇÃO



      Há pouco tempo atrás recebi via WhatsApp, o vídeo de uma criança, um menino, que ostentando uma Bíblia aberta, simula a leitura de um texto. Eu disse simular não pelo fato de questionar a sua capacidade de leitura. O menino aparenta ter uns cinco anos, e, eu me lembro que com meus cinco pra seis anos de idade eu já estava alfabetizado em casa e também já era capaz de ler alguns textos, inclusive, a Bíblia sagrada. No vídeo também, o menino está  falando de Jesus como o caminho certo. E este caminho é reto e não há qualquer possibilidade de um desvio nem para a esquerda nem para a direita. Fiz  então um comentário, afirmando que o referido vídeo era um grande exemplo para se tipificar o fenômeno conhecido como GLOTTOLALIA. 

      A minha referência em relação a GLOTTOLALIA, diz respeito a algumas considerações que são muito pertinentes a este assunto. Algumas são de caráter pedagógico e educativo e outras especificamente têm uma relação mais teológica e exegética. E onde necessariamente entra a fala nesta história? Ela entra a partir do momento que afirmo com base em alguns pressupostos de natureza tanto antropológicos, histórico-científicos, quanto neurolinguísticos de que a fala não é sinônimo de inteligência. Todavia, se fosse o caso de se desviar do foco deste assunto, existe um vasto material com fundamentação científica sobre a origem e desenvolvimento da fala de aproximadamente 400.000 anos para cá, que vale muito  a pena dar uma pesquisada.

      Pois bem, vamos voltar ao texto e ver o que ele tem a nos oferecer como fonte de elucidação de algumas questões eclesiásticas e dogmáticas. Primeiramente, ao que parece, a questão dos dons espirituais estava se tornando um problema na igreja de Corinto. Aliás, parece que tudo que acontece nesta igreja acaba se tornando um problema para Paulo. E o apóstolo já começa afirmando que não queria que eles fossem ignorantes a cerca dos dons espirituais. e aponta como causa dessa ignorância o fato deles terem sido gentios e deixado ser guiados por ídolos mudos. Esta designação de ídolos mudos, a meu ver, diz respeito a natureza da revelação bíblica. O fato de Deus tanto no passado quanto em Cristo ter se valido da palavra para se comunicar com  os homens. Um dos termos que mais se usa quando se quer fazer referência a uma inspiração divina e cristã através da palavra é o termo grego THEOPNEUSTOS(II Tim. 3:16).



O ONPHALO DE DELFOS, 
      E agora mais especificamente para se falar do termo GLOTTOLALIA, vale lembrar um ritual que acontecia no centro da religião Délfica, na Grécia antiga. Era muito comum que o grego fosse ao templo de Apolo em Delfos com o objetivo de consultar o oráculo. Há muitos outros mitos construídos a partir deste templo e em função desta pedra pontiaguda, comumente conhecida como o ONPHALO DE DELFOS, que existia neste templo. Mas, por hora, vamos nos concentrar no ritual que se realizava neste santuário de Apolo. A pitonisa ou sacerdotisa mastigava as folhas de louro, ao mesmo tempo em que entrava em transe ou frenesi. Não se sabe até hoje se o transe vinha da mastigação do louro ou de uma fenda que existia no lugar de onde emanava alguns vapores. Então, ela colocava as mãos sobre a pedra pontiaguda e era quando proferia o oráculo.



Frenesi e êxtase. Ambiente tipicamente pentecostal. Onde o cha-
mado Dom de Línguas é realidade.
 No que efetivamente consistia este oráculo? ele era uma sequência de palavras soltas e sem sentido. E por ser totalmente sem nexo, a designação de GLOTTOLALIA tem a sua aplicabilidade. Quem conhece um pouco de gramática grega está ciente que existem três verbos para o ato de falar: LEGO - Aquele que fala de maneira ordenada, racional e lógica. E de onde se origina o termo LÓGOS; Depois se tem o verbo PHEMI - De onde se origina o verbo composto PRO-PHEMÍ que está na raiz do substantivo feminino PROFECIA; E depois vem o verbo grego LALÉO - Que é o que está relacionado ao termo LALIA, que é uma fala desordenada, desencontrada e desprovida de racionalidade. O oráculo de Delfos então, consistia numa sequência de falas desencontradas, e, portanto, para este fenômeno era atribuída a designação de GLOTTOLALIA. 

  Fiz questão de inserir algumas informações de natureza circunstancial neste texto, apenas com a intenção de prover algumas informações que melhor podem nos ajudar a entender determinadas situações reproduzidas no texto bíblico. E que são pertinentes ao capítulo 12 desta epístola de I Coríntios. O templo de Delfos ficava nas proximidades de Corinto, mais especificamente no golfo de Corinto, e aqueles crentes de origem gentílica estavam sim muito familiarizados com o ritual da religião délfica, e, quem sabe, até influenciados com tudo aquilo. Paulo intenciona lembrar o passado daqueles crentes e de maneira elucidativa compara este passado com esta realidade nova que se vislumbra na igreja onde a soberania do Espírito Santo de Deus é inquestionável. Ou seja, na igreja de Cristo não se profere sequer uma palavra de adoração a Cristo, ou até mesmo o reconhecimento do senhorio de Cristo, se não for pela livre manifestação e ação do Espírito Santos.

      Tudo tem ordem e deve obedecer a uma racionalidade. Algo muito diferente do que se via nos rituais pagãos da antiguidade, inclusive, este que foi descrito e que acontecia no templo de Apolo em Delfos. Na igreja de Cristo a sintonia linguística é plena e é ditada pela ação e controle do próprio Deus e através do seu Espírito. Do verso 4 ao verso 7, o apóstolo fala de uma multiplicidade de dons e de operações desses mesmos dons. Mas não abre mão de enfatizar que tudo tem apenas uma origem, o Espírito de Deus. É um único Deus que opera tudo e em todos. E que jamais pode acontecer a prevalência de um dom ou sua operação sobre o outro, ou em detrimento do outro. A utilidade da operação do Espírito tem que obedecer a um objetivo comum, a um bem comum e coletivo. Portanto, para algumas hermenêuticas cada vez mais vigentes nestes tempos, se alguém acha que pode estabelecer algum tipo de hierarquia eclesiástica com base neste capítulo I Coríntios 12, saiba que não existe base para tal sustentação.

      O diferencial para qualquer igreja que queira ser chamada de igreja de Cristo é a presença do Espírito e o controle total e absoluto que este exerce sobre esta organização divina. No contexto e ambiente da igreja, o Espírito Santo é o único provedor pelo qual qual as coisas realmente acontecem. Em todo este provimento patrocinado pelo Espírito a presença da palavra, enquanto LÓGOS é uma realidade. Ela está presente tanto na sabedoria quanto na ciência. E se considerarmos que, segundo as palavras do próprio Paulo em Romanos 10:17, ao fazer uso do termo RHEMA, que sugere um enunciado que pode ser tanto oral quanto escrito e que subentende como a ação de um enunciado ou sua realização desde a concepção de um conceito abstrato como LÓGOS. Então o controle do Espírito na igreja é incondicional e inegociável.

      Paulo também pontua que, muito embora a habilidade da fala seja uma virtude dos crentes de Corinto, ainda assim, quando o assunto diz respeito aos dons e serviços que são distribuídos na igreja de Cristo. Eles acontecem pela ação do Espírito de Deus, e somente pelo fato do Espírito Santo ter total controle sobre tudo. E não há necessariamente nenhum tipo de prevalência de um dom sobre o outro. Também inexiste qualquer tipo de distribuição dos dons com base na meritocracia. O verso 11 nos dá conta que este tipo de distribuição dos dons e das operações feitas pelo Espírito ocorre da forma como Ele quer. De acordo com  sua vontade soberana: Ele reparte a cada um  como quer.

        A partir do verso 12, o apóstolo começa a se valer da metáfora do corpo para ilustrar tanto o que é esta atuação do Espírito e de como o corpo e as suas parte se adequam neste tipo de analogia. A analogia é a anatomia do corpo e a importância de cada um dos seus membros para um bom funcionamento e que seja saudável. Paulo mostra que é assim que deve funcionar a igreja. E que a igreja em Corinto não exibia esta realidade. Ele assinala desde o início o fato de que permanecer neste tipo de ignorância é um grave pecado que por si só já atenta contra a própria soberania do Espírito de Deus.

       Estamos falando de soberania do Espírito, mas isto não significa algum tipo de desrespeito às individualidades. Pelo contrário esta individualidade está patente na referência feita às etnias: Judeus e gregos; ou até mesmo às condições sociais de cada um tipificadas por servos e livres. Nada disso deve se constituir como barreira ou empecilho. São pela ação do Espírito que essas barreiras se superam, embora sejam respeitadas as peculiaridades de cada um, formando assim um corpo, o corpo de Cristo. Logo, a sua igreja. Paulo assinala que a igreja de Cristo é igreja de Cristo por beber de uma única fonte, ou seja, do Espírito Santo. Isto significa que o Espírito é o ser por excelência que cataliza, unifica e coordena a ação das muitas partes desse todo que é o corpo, e, que, por extensão, entendemos ser a sua igreja.

       Assim como foi definida essa dinâmica do corpo e suas partes no parágrafo anterior. Assim é todo o desenvolvimento dos versos de 12 - 22 deste capítulo 12. Sem que com isso haja qualquer tipo de desmerecimento pelas funções que desempenham cada membro do corpo. Todas as partes, ou membros do corpo que parecem ser os mais fracos são necessários. Tal como afirma o verso 22. O verso 23 já começa com um verbo utilizado por Paulo e que tem relação com um ajuizamento construído  a partir de todos estes conceitos e dinâmicas também trabalhados pelo apóstolo até este exato momento. Ele usa o verbo DOKEO e este flexionado na primeira pessoa do plural, no presente do indicativo ativo. Traduzido em algumas versões como REPUTAMOS, porém este verbo tem uma conotação bastante significativa quando se trata de um consenso.

     Foi na dinâmica do corpo e suas relações com os demais membros. E na extensão deste entendimento, a relação estabelecida com o corpo de Cristo, sua consequente relação com a igreja e por extensão a ação do Espírito que se estabeleceu de maneira ajuizadora, o conhecimento. Pode se entender  conhecimento aqui como ausência de ignorância. Cada membro  se conhece e se discerne um do outro e é pelo outro também discernido. A partir daí, sob a égide da noção de valores, Deus em sua sabedoria estruturou o corpo de tal maneira a dar honra àqueles membros que tinham falta dela. Com o objetivo de que subsista um corpo sem divisão e bem ajustado. Ou seja, quando um membro sofre, todos sofrem com ele. E quando um membro é honrado todos se alegram com ele. Assim somos também nós enquanto igreja, um corpo. Membros ativos e participantes do corpo de Cristo. Neste ínterim, fica patente a diferença que existe entre a hermenêutica que construímos sobre o corpo e o ato de Deus ao criá-lo.

       A expressão ou atribuição de que aqueles crentes ali de Corinto são também corpo: "Vós sois o corpo de Cristo, e seus membros em particular"(Verso 27). Aponta para aquilo que Paulo assinalou como aqueles que não se constituem como as partes mais nobres, porém, Deus agindo de forma soberana, sabe como compensar a tal falta de nobreza para com alguns membros deste corpo(Versos 23-24). Se cabe com muito mais especificidade uma analogia com o corpo aqui, eu diria que a vida humana em uma dinâmica constante de formação de formação e maturação desde fecundação do óvulo no útero materno e todo o desenvolvimento desencadeado a partir daí. Até quem sabe a formação das unhas dos pés e mãos, obedecem a um cronograma. E no caso deste texto, conforme o próprio Paulo demonstra, a primazia dos apóstolos ocorre por eles se constituírem como aqueles que ao testemunharem a revelação em seu estágio primário, são aqueles que receberam a semente do evangelho.

       No verso 28 encontramos uma síntese representativa de todos esses dons e suas consequentes operações no contexto e desenvolvimento histórico da igreja. Estabelecido pelo próprio Deus. A ideia é a primazia de uma operação sobre a outra em função de sua manifestação no tempo e no espaço. Então, no contexto de igreja o apostolado teve seu tempo e subsequentemente seu espaço de operação seguido do dom de profecia e assim por diante. Chegando então ao momento de manifestação daqueles que têm dom de falar uma variedade de línguas. Os demais versos, ou seja, 29 e 30 continuam revelando que o elemento demarcador em todas essas operações de ministérios através do Espírito é o tempo em sua progressividade e consecução.

       Uma grande polêmica se criou ao longo dos tempos quanto a leitura que se faz deste capítulo e a real importância do dom de línguas. Com isso formou-se outros tantos tabus que foram, inclusive pivôs de rachas denominacionais ao se tratar especificamente de um provável dom e o porque dele ser elevado a uma relativa primazia se o que estamos vendo pela leitura deste texto é o agir soberano de Deus e a forma como Deus por intermédio do seu Espírito faz a distribuição desses dons. Nas palavras de Paulo existe algo de muito emblemático que não temos como omitir. Estou me reportando a questão do tempo e este desde uma perspectiva que leva muito em consideração os conteúdos revelacionais. Se adotamos este modo paulino de se observar a evolução do tempo, faz muito sentido e tem lógica a ordem por ele estabelecida onde o apostolado seguido do dom de profecia, depois os doutores, depois o que operam milagres, em seguida os dons de curar, os que prestam socorro, os que sabem administrar ou governar, para então se chegar a variedade de línguas.

       A referência a dom de línguas estabelece uma relação direta com  a língua do ponto de vista da fala, ou seja, aquilo que está relacionado à expressividade. Paulo não proíbe a manifestação ou operação deste dom, mas estabelece um critério para que ele efetivamente aconteça na igreja. Tem que existir a figura do intérprete, ou hermeneuta(I Coríntios 14:27). Não resta dúvida que boa parte deste raciocínio do apóstolo está relacionado àquilo que todos são unânimes em qualificar como um raciocínio corporativista. A ideia do corpo, a responsabilidade corporativa, a visão de que tudo que se faz na igreja precisa objetivar o bem comum, a coletividade. E aí surge uma outra questão para aqueles falantes de línguas: O que fala em línguas, objetivamente faz o quê? É um dom diferente do dom de profetizar, aquele que profetiza, prega. E ao pregar, faz com que a palavra de Deus no ambiente e contexto de igreja se torne de domínio público. Pensando desse jeito o intérprete tem muito mais efetividade do que o que fala em línguas.

       Depois de tudo isso, o apóstolo aconselha a aqueles crentes a procurarem com zelo os melhores dons. Ele oferece esta liberdade de opções a eles. Vemos que este elemento dinâmico que governa a igreja e que é patrocinado pela ação efetiva do Espírito Santo, não se constitui em uma estrutura hermeticamente fechada. Há sim este caráter flexível na igreja, a ponto de se respeitar os gostos e as liberdades individuais. Vocês têm toda liberdade de procurar com zelo os melhores dons. Ao mesmo tempo o apóstolo sinaliza que tudo que acontece na igreja é básico para assinalar ao que a igreja do Senhor Jesus realmente aponta. Ela aponta para algo que está para além de tudo isso. Igreja que se perde em picuinhas de membros que lutam por uma pseudo primazia entre os irmãos, não consegue mensurar o caráter da mensagem transcendente que a igreja de Cristo anuncia. Por isso Paulo está exortando  e de uma maneira imperativa a busca pelos melhores dons. Pois então ele, Paulo, poderá mostrar algo de mais excelente que eles não estão conseguindo alcançar neste exato momento. Isto é, "Um caminho mais excelente."

       Que espécie de conclusão se poderia tirar a partir desta leitura, por alguém que se vê constituído neste contexto de igreja como alguém que exerce seu ministério e se sente parte integrante deste corpo? Com absoluta certeza, é alguém que tem consciência de ser parte de uma estrutura que historicamente cumpriu com suas responsabilidades no passado e se vê nesta dimensão projetada desde o passado um presente onde ele é parte integrante de tudo que está acontecendo, independente de sua condição enquanto função desempenhada neste corpo. A proposição de Paulo ao discutir este tipo de temática neste capítulo, tem como fundamento uma espécie de preparação para o que ele desenvolverá no capítulo 13. Nada do tem acontecido do ponto de vista da dinâmica da igreja e de como a igreja do Senhor Jesus tem se desenvolvido e consequentemente se estruturado possui algum tipo de relevância se não somos movidos pelo amor. E é absolutamente o amor o tema de discussão no capítulo seguinte. É o caminho mais excelente que o apóstolo se compromete a mostrar a estes crentes.

       Falar do amor como tema de discussão no próximo capítulo é até uma ofensa ou falta de sensibilidade de minha parte. Digamos que o que Paulo faz ao tratar do amor é como a composição de uma ode, um hino de louvação. Pois é por ele que devemos nos mover e fazer as coisas acontecerem dentro da igreja. E se no verso 28 deste capítulo 12, Paulo elenca numa escala cronológica  a variedade de línguas como o último dos dons do ponto de vista de sua utilidade para o conjunto e coletividade da igreja. Ele ao iniciar o capítulo 13 desta mesma epístola, ele inverte a sequência começando pelo final do que está no capítulo 12:28. Em síntese, o apóstolo deixa o ensinamento de que independente desta ou daquela operação de dons no seio da igreja, nada disso terá algum proveito ou utilidade se não fizermos movido por aquilo que também moveu nosso Senhor e salvador Jesus Cristo: "O Amor."  

       



1 Corinthians 12 Greek NT: Tischendorf 8th Edition with Strong's Numbers

1Περὶ δὲ τῶν πνευματικῶν, ἀδελφοί, οὐ θέλω ὑμᾶς ἀγνοεῖν. 2οἴδατεὅτι ὅτε ἔθνη ἦτε πρὸς τὰ εἴδωλα τὰ ἄφωνα ὡς ἂν ἤγεσθε ἀπαγόμενοι.3διὸ γνωρίζω ὑμῖν ὅτι οὐδεὶς ἐν πνεύματι θεοῦ λαλῶν λέγει, ἀνάθεμαἸησοῦς, καὶ οὐδεὶς δύναται εἰπεῖν, κύριος Ἰησοῦς, εἰ μὴ ἐν πνεύματιἁγίῳ.
4Διαιρέσεις δὲ χαρισμάτων εἰσίν, τὸ δὲ αὐτὸ πνεῦμα· 5καὶ διαιρέσειςδιακονιῶν εἰσιν, καὶ  αὐτὸς κύριος· 6καὶ διαιρέσεις ἐνεργημάτωνεἰσίν,  δὲ αὐτὸς θεός,  ἐνεργῶν τὰ πάντα ἐν πᾶσιν. 7ἑκάστῳ δὲδίδοται  φανέρωσις τοῦ πνεύματος πρὸς τὸ συμφέρον. 8 μὲν γὰρ διὰτοῦ πνεύματος δίδοται λόγος σοφίας, ἄλλῳ δὲ λόγος γνώσεως κατὰ τὸαὐτὸ πνεῦμα, 9ἑτέρῳ πίστις ἐν τῷ αὐτῷ πνεύματι, ἄλλῳ δὲ χαρίσματαἰαμάτων ἐν τῷ ἑνὶ πνεύματι, 10ἄλλῳ δὲ ἐνεργήματα δυνάμεων, ἄλλῳδὲ προφητεία, ἄλλῳ δὲ διάκρισις πνευμάτων, ἑτέρῳ γένη γλωσσῶν,ἄλλῳ δὲ ἑρμηνεία γλωσσῶν· 11πάντα δὲ ταῦτα ἐνεργεῖ τὸ ἓν καὶ τὸαὐτὸ πνεῦμα, διαιροῦν ἰδίᾳ ἑκάστῳ καθὼς βούλεται.
14καὶ γὰρ τὸ σῶμα οὐκ ἔστιν ἓν μέλος ἀλλὰ πολλά. 15ἐὰν εἴπῃ  πούς,ὅτι οὐκ εἰμὶ χείρ, οὐκ εἰμὶ ἐκ τοῦ σώματος, οὐ παρὰ τοῦτο οὐκ ἔστιν ἐκτοῦ σώματος· 16καὶ ἐὰν εἴπῃ τὸ οὖς, ὅτι οὐκ εἰμὶ ὀφθαλμός, οὐκ εἰμὶ ἐκτοῦ σώματος, οὐ παρὰ τοῦτο οὐκ ἔστιν ἐκ τοῦ σώματος· 17εἰ ὅλον τὸσῶμα ὀφθαλμός, ποῦ  ἀκοή; εἰ ὅλον ἀκοή, ποῦ  ὄσφρησις; 18νυνὶ δὲ θεὸς ἔθετο τὰ μέλη, ἓν ἕκαστον αὐτῶν, ἐν τῷ σώματι καθὼςἠθέλησεν. 19εἰ δὲ ἦν τὰ πάντα ἓν μέλος, ποῦ τὸ σῶμα; 20νῦν δὲ πολλὰμὲν μέλη, ἓν δὲ σῶμα. 21οὐ δύναται δὲ  ὀφθαλμὸς εἰπεῖν τῇ χειρί,χρείαν σου οὐκ ἔχω,  πάλιν  κεφαλὴ τοῖς ποσίν, χρείαν ὑμῶν οὐκἔχω· 22ἀλλὰ πολλῷ μᾶλλον τὰ δοκοῦντα μέλη τοῦ σώματοςἀσθενέστερα ὑπάρχειν ἀναγκαῖά ἐστιν, 23καὶ  δοκοῦμεν ἀτιμότεραεἶναι τοῦ σώματος, τούτοις τιμὴν περισσοτέραν περιτίθεμεν, καὶ τὰἀσχήμονα ἡμῶν εὐσχημοσύνην περισσοτέραν ἔχει, 24τὰ δὲ εὐσχήμοναἡμῶν οὐ χρείαν ἔχει. ἀλλὰ  θεὸς συνεκέρασεν τὸ σῶμα, τῷὑστερουμένῳ περισσοτέραν δοὺς τιμήν, 25ἵνα μὴ  σχίσματα ἐν τῷσώματι, ἀλλὰ τὸ αὐτὸ ὑπὲρ ἀλλήλων μεριμνῶσιν τὰ μέλη. 26καὶ εἴτεπάσχει ἓν μέλος, συνπάσχει πάντα τὰ μέλη· εἴτε δοξάζεται μέλος,συνχαίρει πάντα τὰ μέλη.
27ὑμεῖς δέ ἐστε σῶμα Χριστοῦ καὶ μέλη ἐκ μέρους. 28καὶ οὓς μὲν ἔθετο θεὸς ἐν τῇ ἐκκλησίᾳ πρῶτον ἀποστόλους, δεύτερον προφήτας, τρίτονδιδασκάλους, ἔπειτα δυνάμεις, ἔπειτα χαρίσματα ἰαμάτων,ἀντιλήμψεις, κυβερνήσεις, γένη γλωσσῶν. 29μὴ πάντες ἀπόστολοι; μὴπάντες προφῆται; μὴ πάντες διδάσκαλοι; μὴ πάντες δυνάμεις; 30μὴπάντες χαρίσματα ἔχουσιν ἰαμάτων; μὴ πάντες γλώσσαις λαλοῦσιν;μὴ πάντες διερμηνεύουσιν; 31ζηλοῦτε δὲ τὰ χαρίσματα τὰ μείζονα. καὶἔτι καθ’ ὑπερβολὴν ὁδὸν ὑμῖν δείκνυμι.







Fiquem com a fé!!!

  Texto - Hebreus 12:1-16 Tema - Fiquem com a fé!!! ICT - Assim como essa grande nuvem de testemunhas do passado. É nosso dever e obrigação ...