Texto - Lucas 19:28-40

Tema - O conceito de mentira a luz do que é a verdade revelada nas escrituras.

ICT - O capítulo 19 a partir do verso 28 relata algumas medidas tomadas pelo mestre que precederam sua entrada em Jerusalém. O relato indica que foi uma ida a cidade santa planejada. Como todo planejamento está sujeito a algumas surpresas. O que não se previu foi o tom festivo que precedeu a sua entrada na cidade. 

Objetivo Geral - Levar a congregação ao entendimento de que, a julgar pela reação do povo, algumas situações não são passíveis de controle.

Objetivo Específico - Levar a congregação ao entendimento de que nas situações em que se perde  o controle, o que se deve ter em mente é que nem tudo, muito embora esteja sob a direção divina, tem ou não a sua aprovação, ou independe dela.

Tese - Consciente ou inconscientemente a verdade é irrefutável.




INTRODUÇÃO


     Toda e qualquer atitude quando assume o caráter de um movimento popular possui uma forte tendência em ser registrada e, consequentemente, passar para a história. A história é sempre o relato dos movimentos que ganham corpo e protagonismo por meio de um grupo social. Em que pese as restrições dos teólogos, claro que com o auxílio de métodos científicos dentre os quais se destaca o histórico-crítico. O que está em torno de Jesus e a partir dele cresce, se propaga e ganha vulto histórico. É irreversível e não há como ser controlado.

     O perfil de um seguidor de Jesus da metade do primeiro século até o quarto século, por assim dizer, é muito diferente do que após o quarto século se tornará. Uma vez que quando este se reunia, o tipo de reunião era qualificada pelos que a perseguiam como clandestina, subversiva e perigosa. Os judaístas a viam como uma seita ou vertente em seu interior, porém não reconhecida. A partir de um determinado momento o devoto ou seguidor que se reunia nas dependências do templo em Jerusalém, ou em alguma sinagoga espalhada primeiramente pela Palestina. Dado a natureza do ambiente hostil entre os judaístas,  passam a se reunir em suas casas. 

   Começam a partir daí a relatar de forma oral, num primeiro momento, as experiências que alguns destes tiveram quando Jesus, depois de ressurreto, lhes aparece em reuniões desse pequeno grupo em suas casas. São: "As aparições do ressuscitado" a quem tinham como seu mestre. A seguir e, por conta de um crescimento exponencial desses seguidores(Discípulos) do nazareno, surgem algumas regras para que estas reuniões que, num determinado momento, foram colocadas na clandestinidade graças a perseguição. As quais podem ser entendidas como ritos litúrgicos(Há resquícios de doxologias nos evangelhos canônicos) onde o reconhecimento do elemento divino está presente neste a quem chamam de nazareno.

     O Cristo até então entendido nas primeiras comunidades como o mestre nazareno ganha vulto e relevância histórica pelo fato de que estão havendo conversões ou adesões a seu movimento. Os lideres deste movimento também conhecidos como apóstolos, são suas primeiras testemunhas. E o que eles efetivamente testemunham é que naquele homem natural de Nazaré, uma vila localizada na região da Galileia, subsistiu a presença do Deus hebreu por excelência. De forma que através de seus ensinamentos e no convívio direto com sua pessoa, estes a quem denominamos apóstolos, puderam comprovar que a plenitude divina nele esteve presente desde que ele se apresentou publicamente a Israel. Anunciando que o Reino de Deus estava mais próximo do que eles pudessem imaginar. 

     Muito mais do que falar a cerca das aparições do ressuscitado, o que se pode depreender a partir dos registros canônicos, ou evangelhos, a cerca deste personagem de Nazaré são seus gestos e atitudes para com aqueles que com ele se deparavam. A primeira impressão que se tem de sua atitude é do acolhimento de sua parte para com o outro independente de sua condição social, religiosa e até mesmo de saúde. O seu olhar para com os menos favorecidos se notabilizou como um olhar de misericórdia. Porém, como foi afirmado seu gesto ou atitude de acolhimento não ficou somente por aí.

  Ele também agiu de forma a transformar a condição daqueles que a ele se dirigiam. Os escritos contidos nos evangelhos canônicos, por conta destes relatos, se constituem numa retrospectiva biográfica que justifica para aqueles que agora aderem ao movimento e que, por uma ou outra razão, não conheciam a história do ressuscitado que toma vulto entre seus contemporâneos, o porque de se reverenciar a este homem de Nazaré. Esta é a grande sacada da literatura do Novo Testamento e, em especial, dos relatos encontrados nos evangelhos canônicos. 

  E o que o evangelho tido pelos teólogos e exegetas como o mais primitivo de todos(Marcos) destaca é o elemento sobrenatural que ocorre a partir de sua aparição pública. Os primeiros 15 versos do capítulo primeiro deste evangelho representam uma perspectiva sintética que dimensiona o caráter profético de sua missão previsto na escritura(Antigo Testamento). Esta dimensão profética se encontra materializada na figura de João Batista que o submete ao rito de iniciação que é o batismo e que logo após este rito vem a confirmação dos Céus que reforça a sua investidura como o messias divino. 

   Na sequência ocorre a sua retirada através do Espírito para o deserto onde durante o tempo que ali esteve foi tentado pelo maligno, muito embora tivesse sido assistido pelos anjos tal qual o registro deste evangelho. Este mesmo evangelho relata que a sua aparição pública após o batismo e consequente retiro no deserto ocorre sincronizado com o tempo em que João Batista, tendo cumprido o ministério para o qual fora chamado a fim de preparar o caminho do Senhor, sai de cena, primeiramente por ter sido preso e posteriormente por ocasião de seu martírio.

     O texto de Marcos está preocupado em ser o mais simples possível quanto ao relato. Por outro lado, ele se preocupa em atrelar a dimensão miraculosa de uma tão grande revelação divina em carne e osso à dimensão pública da pessoa a quem estes fatos estão relacionados. Ou seja, fato ou evento é tudo aquilo que alcança um domínio público. E, alcançando este domínio público, é passível de se dimensionar ou redimensionar aquele fato propriamente dito ao passado estabelecendo uma concomitância entre o que se depreende do passado e o que se absorve como desdobramento numa linha ascendente até o presente, de onde parte este olhar em perspectiva como consequência relacionada ao ser histórico que nos caracteriza enquanto seres humanos.

     A dimensão subjacente de que em uma pessoa com personalidade e existência histórica, também conhecida como nazareno e que agora faço menção em conformidade com o capítulo 19 do evangelho de Lucas. Onde esta figura histórica é ovacionada como uma pessoa com missão divina. É algo que, segundo as palavras do personagem, não lhe diz respeito e que foge a seu controle. É fato conforme a própria narrativa do texto que ele se prepara para ir a Jerusalém e assim o faz. Entretanto, os desdobramentos ocorridos durante este trajeto e nas proximidades da cidade santa não são passíveis de controle por sua pessoa e, muito menos do que possa transparecer, não existe qualquer tipo de orquestração quanto ao que está para acontecer.

     A natureza de uma fala como esta de Jesus registrada no capítulo 19:40 de que ao ser ovacionado e simultaneamente ser repreendido por alguns fariseus a cerca desta manifestação pública e espontânea do povo. Tem como resposta o fato de que como já havia sido afirmado anteriormente como algo que fugia ao controle. Buscou também dissipar qualquer tipo de orquestração conduzida por outrem. Leva-nos a depreender que em determinadas situações a inexorabilidade do tempo e dos acontecimentos são elementos que fundamentam o arcabouço, pelo menos, da verdade. Pois, o tipo de resposta que estes fariseus recebem é tão somente se aqueles que o ovacionavam se calassem até as pedras se manifestariam. Aquele acontecimento dada a natureza do evento jamais passaria despercebido. De certa maneira, esta é a finalidade do tratamento redacional que, a meu ver, o autor deste evangelho imprime ao fato e da forma como ele ocorre.

     O objetivo neste texto de caráter expositivo é explorar desde uma concepção de fato propriamente dito, e, como o mesmo numa conjugação de outros elementos, atinge o patamar de evento. E a partir de uma construção como esta, desde uma linha progressiva de entendimento que passa pelo desenvolvimento do tempo e de como o mesmo toma forma no espaço narrativo. A ideia de atrelar este espaço narrativo à proposição temática que trabalha com conceitos como verdade e mentira, não objetiva de forma revisionista questionar a validade do pressuposto moral a que estes dois substantivos nos remetem. Eles são, de fato, insubstituíveis neste aspecto.

     Falamos aqui de forma bem simplificada dos pressupostos morais que cercam estes dois substantivos. Mas, é evidente que o referencial para se tratar desta temática está baseado em ajuizamentos morais que se construíram ao longo dos tempos levando em consideração esses dois conceitos representados pelos substantivos "verdade" e "mentira". O parâmetro para tudo que chamamos de mentira é o que consideramos e chamamos de verdade. Então, é fundamental que passemos a tratar agora o termo mentira como tudo aquilo que fantasia ou distorce a realidade tal qual ela é. Pensando desta maneira, que caminhos devemos tomar até que cheguemos a alguns consensos que reflitam com especificidades as particularidades e subjetividades e que nos ajudem a construir, grosso modo, o que na prática entendemos por verdade.

     Por verdade haveremos de considerar o que subsiste por prevalência na realidade desde a perspectiva de um determinado contexto. Identificando neste referido contexto os aspectos que vislumbram os muitos sinais que a ele estão acoplados e que os caracterizam como escopo de leitura temporal espacial. Onde tempo e espaço são categorias que encerram a dimensão existencial e histórica relativa ao homem. Em termos absolutos, a verdade é tudo aquilo que haverá de balizar as ações humanas desde um discernimento moral que regule essas ações no grupo a que este homem enquanto animal social faça parte. A partir do momento que o contexto social assume pra si um tratado de convenção para regular as relações sociais do homem e suas práticas de vida em sociedade. Aspectos que dimensionam a vida como: Religiosa, social, cultural, histórica, e, porque não dizer psicológica e espiritual. Se constituirão em componentes que auxiliam na formação de uma moralidade, a qual será o elemento de fruição da verdade.

     A opção de se trabalhar com o conceito de mentira tem como pressuposto a ideia de signo linguístico e o que se compreende a partir de seu aspecto e definição: Signo é tudo aquilo que está no lugar de outra coisa. O signo tem caráter representativo e arbitrário. Para tanto é fundamental que o contexto onde se trabalha com este conceito se tenha a notável consciência de que os termos que ora são utilizados sejam a parte vital e constitutiva dos elementos vocabulares dos falantes, já que é fundamental que a comunicação esteja acontecendo. Isto subentende que todos os envolvidos sejam falantes de uma mesma língua. Este processo é tão importante para a condução e leitura de onde se depreende o texto, quanto para aqueles a quem a referida leitura se propõe alcançar.

     Ou seja, ficaremos apenas neste momento com a lógica linguística e saussureana, a título de esclarecimento, para que não nos deviemos completamente do objeto perseguido na leitura e interpretação do capítulo 19 deste evangelho. E para que não paire dúvida quanto ao tipo de abordagem nesta leitura. Ainda que se tenha feito menção de caráter estritamente técnico quanto a percepção e encaminhamento do contexto histórico onde através do relato seja passível a reconstrução do ambiente histórico de onde emerge a fala de Jesus e a de seus interlocutores. A esta altura do texto, a reprimenda dos fariseus, a resposta de Jesus e o eco popular de louvação a Jesus como aquele que vem em nome do Senhor ao fundo.

     Deixamos claro que inexistiu qualquer tipo de ação orquestrada neste sentido. Todavia, isto não significa que uma vez sendo constatado o fato não tenhamos condições com base no registro do texto de elaborarmos uma possível cena onde tudo acontece. Já que é uma possibilidade quando se segue alguns aspectos sobre técnicas de interpretação e reconstrução do ambiente apontado pelo texto. Desde que os referidos conhecimentos estejam fundamentados em dados advindos de fontes seguras e confiáveis. É bem verdade que, a rigor, a preocupação com as fontes e se as mesmas são seguras, é o menor dos problemas a serem vencidos nesta leitura. A busca ainda se concentra na melhor maneira de se conduzir a leitura. Ou seja, a questão ainda se insere no processo de orientação metodológica.


     Muito embora, ainda com relação a proposição temática, o objetivo a ser alcançado esteja no âmbito da racionalização e descrição de algo que ocorre no tempo e no espaço. Não resta dúvida que além do claro sinal que o caminho do mestre terá o ápice de tudo em Jerusalém. Pois, lá ele será martirizado. Assim como de praxe tem acontecido com todos os profetas que profetizam sobre a degradação moral e os consequentes desmandos da cidade santa. O mestre cumpre rigorosamente tanto as etapas até sua chegada a Jerusalém quanto o que ele programou como trajeto para sua chegada. Mas, o que chama a atenção neste momento é o fato de que alguns dos fariseus ao fazerem a real advertência para que ele pudesse interferir impedindo que a multidão se manifestasse tal qual estava fazendo.

     O que se revela na sequência e que sempre foi o que as autoridades queriam impedir a todo custo. É que a presença de Jesus faz aflorar a memória histórica, tão entorpecida, mas nunca erradicada a cerca dos grandes pecados de Jerusalém. Um desses grandes pecados é matar e apedrejar profetas. Ou seja, calar àqueles que se constituem na consciência e reserva moral do povo hebreu e que despertam sempre os propósitos de sua existência enquanto nação liberta desde o cativeiro egípcio. Tudo isto se traduz num canto de lamento por parte do Senhor Jesus que como interlocutor divino trás palavras de juízo sobre aquela geração em especial.

     Pode se perceber nas atitudes de Jesus desde que adentrou aos muros da cidade santa o objetivo de recuperação e confrontação entre a memória histórica que desde sempre norteou os princípios da nação de Israel. Ele é drástico e cirúrgico ao tratar com os vendilhões do templo e no que eles tinham transformado aquele lugar que era dedicado a oração. Contra o seu argumento nenhuma autoridade foi capaz de se manifestar publicamente. Pois, sua atitude estava fundamentada na própria lei. Mas, isto não impediu que estes mesmos líderes políticos e religiosos não conspirassem contra sua própria vida. Jesus era uma voz profética que precisava ser silenciada. Tanto a sua atitude quanto os seus ensinamentos, mesmo que expressassem o sentido e o sentimento de uma vida pautada pelos princípios legais e religiosos e que exalassem vida, incomodava muito estas autoridades que, sem sombra de dúvida, e, num futuro bem próximo, se tornarão seus algozes.



I - As noções categoriais de tempo e espaço que auxiliam como elementos dinâmicos e de transição na aquisição de sentidos(V.V. 28-35).


     Não resta dúvida de que, mesmo havendo variações nas narrativas biográficas de Jesus nos quatro evangelhos canônicos, o seu ministério era incansável e sua agenda intensa. Este capítulo, desde o primeiro verso exibe esse elemento dinâmico tão presente na trajetória de Jesus até sua chegada em Jerusalém como destino final. Por outro lado, é fato que nessa trajetória traçada pelo mestre com o objetivo de chegar a Jerusalém, sua escolha em passar por Jericó era a opção mais comum. A rigor, era o que todo galileu fazia quando se dirigia a Judeia, onde está Jerusalém.

     Isto talvez possa explicar a familiaridade de Jesus com as pessoas que residiam ao longo deste caminho. E por se valer desta rota com mais frequência do que outras tenha feito amizades e fosse uma figura carimbada durante seus deslocamentos pela Palestina. A trajetória a que me referi no parágrafo passado tinha como direção a planície do Jordão.  Dessa maneira se evitava passar pela terra dos samaritanos e qualquer outro tipo de embate de natureza racial. Ou seja, os embates seriam outros. O fato é que ao chegar a Jericó, conforme o texto relata. Jesus tem um daqueles encontros com as pessoas daquela cidade. E dessa vez foi com um publicano chamado Zaqueu.


     Além do encontro com o publicano Zaqueu, a recepção com outros publicanos que faziam parte do círculo de relações desse homem de baixa estatura. O mestre ainda propõe uma parábola para a reflexão de todos naquele recinto. Nela, ele fala de um homem de origem nobre que ao sair para se apossar de outro reino distante chama seus dez servos e a cada um deles coloca sob responsabilidades uma de suas minas. A proposta não é especificamente fazer um análise dessa parábola. E sim querer entender como a narrativa da parábola se arrola e se encaixa na perspectiva de relato quanto a um desfecho de história que tem como ápice e cumprimento a chegada do mestre em Jerusalém.

     O autor, não omite a expectativa por parte daqueles que se propõem a ouvir a narrativa da parábola feita por Jesus. E acrescenta que há uma expectativa por parte destes que são marginalizados e que no exato momento do relato do verso 11 deste capítulo 19 de Lucas, Nutrem uma esperança de que o Reino de Deus esteja para se manifestar. Essa expectativa tal como o texto marca está relacionada a proximidade com Jerusalém e a relação não muito amistosa entre os ouvintes da parábola do mestre para com as autoridades, inclusive religiosas, de Jerusalém. A cidade exercia e ainda exerce esse tipo de sentimento. Embora, e, de certa forma, estivessem alijados dos acontecimentos que se davam naquela metrópole religiosa. Pelas razões que se pode dizer não serem as mais adequadas, ainda assim, Jesus conseguia aglutinar em torno de sua figura essas pessoas contemplando-as com misericórdia e favor divino.

     A questão do deslocamento e chegada de Jesus a Jericó, bem como o encontro com publicanos e demais pessoas em casa de Zaqueu. A expectativa projetada sobre ele que está a caminho de Jerusalém, a cidade santa. Nos oferecem elementos para a construção de sentidos que o próprio redator estabelece como demarcadores daquilo poderíamos qualificar como missão e vocação messiânica de Jesus. Assim como também são capazes de balizar a expectativa que essas pessoas que viviam no sopé da montanha que dava acesso a Jerusalém, nutriam com relação a Jesus e sua messianidade.

     Pois bem, é depois da proposição e explicação da parábola que o mestre inicia o processo de subida para a cidade santa. E exatamente ao se aproximar de Betfagé e Betânia que toma a providência de enviar dois de seus discípulos a uma aldeia mais a frente para que lhe tragam um jumentinho. Caso alguém os interpelasse por soltar o animal, eles tão somente diriam que o Senhor dele precisa. E aconteceu que indo eles soltar o animal conforme lhes fora recomendado por Jesus. Os donos perguntaram por que estavam levando o animal e responderam de acordo com as orientações de Jesus. Trouxeram o animal que ainda não tinha sido montado por homem algum.



II - Um rei por excelência que é ovacionado de maneira imperativa e inconfundível(V.V.36-38).


     Imaginem vocês, de posse das informações que atualmente possuímos, poderem presenciar um líder carismático tal como as autoridades viam Jesus, que ao iniciar sua caminhada de entrada em Jerusalém, ser aclamado como rei e enviado divino. Isso claramente incomodaria não apenas o rei que ora estava instalado em Jerusalém devido a conchavos de natureza geopolítica com o império romano, assim como aquelas autoridades acostumadas e estabelecidas para dar sustentação e legitimidade a este poder estabelecido.
 
     Basicamente este é o incômodo e transtorno que a chegada de Jesus em Jerusalém, a princípio estava provocando. Não seria o único, pois muito mais ações desagradáveis estarão ocorrendo devido a intervenção de Jesus em Jerusalém. Na realidade, a reprodução desta cena é de uma riqueza, ao mesmo tempo em que deve também ser objeto de um maior detalhamento a cerca das condições socais e psíquicas daquele povo e forma como ele se manifesta. Existe um ar desespero e alento misturado. E qualquer um que despontasse naquele momento com algumas palavras e ações que fossem de encontro àquele ambiente desalentador, correria o risco de ser ovacionado e consagrado como um rei.

     Ao iniciar a sua entrada na cidade santa e sobre um jumentinho. As pessoas lançavam seu mantos e ramos de palmeiras para que o mestre passasse. Muito embora o animal de tração por ele utilizado seja um jumentinho, ainda assim a recepção popular que Jesus tem é digna de um rei. Este tipo de atitude é um claro e contundente sinal de que as coisas não andam bem e autoridades que deveriam se representar os anseios e ideais do povo. Principalmente dos mais indefesos, não gozam mais deste privilégio. O povo está cansado e não tem a quem recorrer e aquele papel mínimo que a religião deveria representar enquanto moderadora de questões sociais, ela é totalmente omissa. Pois serve aos interesses dos poderosos.

     A alcunha de líder carismático aqui utilizada para tentar entender essa figura ímpar chamada Jesus. Tem como objetivo deixar claro que o aparecimento de Jesus e a missão por ele desempenhada em pregar a chegada do Reino de Deus fugia completamente a qualquer tipo de comparação ou de atrelamento de sua atividade com a de qualquer um daqueles israelitas em seu tempo. O maior exemplo que se pode dar que comprove e sustente esta afirmação foi o que aconteceu no encontro entre Nicodemos e Jesus e o que Nicodemos fala a Jesus sobre o seu ministério no evangelho de João capítulo 3 verso 2 : "Rabí, bem sabemos que és mestre de vindo de Deus."   


   Grosso modo, um líder carismático é aquele que goza de uma vocação natural para estar a frente de algum movimento social, etc. Ele, ao contrário daquela elite intelectual e rabínica de Jerusalém não foi um iniciado desde a mais tenra idade na arte e interpretação dos livros da Lei. Não traz consigo a marca de alguma escola tradicional rabínica tais como HILEL e SHAMAI, também conhecidos como TANAIM. No caso de Jesus, ele estava sempre sendo confrontado por seus contemporâneos pelo fato de não ter este tipo de autoridade, ou seja, quando se pronunciava sobre qualquer situação do ponto de vista da Lei, não tinha uma escola de mestre rabínica que sustentasse seus argumentos. Em geral, ele falava sempre de sua experiência de aprendizado junto a Deus(Transcendência a quem ele chamava de Pai).

     Então fica claro que além da alcunha de mestre, Jesus, via manifestação popular popular, está sendo ovacionado e recebido na cidade santa como um Rei. O tipo de atitude tomada pelo povo mostra o grau de descontentamento com as autoridades constituídas em Jerusalém. Revela que as ideias e influências da apocalíptica estavam efervescendo naquele momento e história da palestina. No imaginário daquele povo e da forma como se manifestam na entrada de Jesus em Jerusalém, eles anseiam por alguém que não apenas seja um líder político. Que este líder também seja líder espiritual desta nação espoliada por um poder hegemônico como o império romano de sua época. Querem fazer dele um Rei com mandato divino, já que vem em nome do Senhor.



III - Existem alguns trâmites de construção e perpetuação da verdade(V.V. 39-40)


     Não há como não arrolarmos alguns fatos em toda esta narrativa que comprovem a grande, inconfundível e incontestável liderança que Jesus exercia sobre grande parte da população de seu tempo. E mesmo sabendo que a atitude daqueles fariseus em meio aquela grande massa de pessoas tinha objetivos escusos, dentre os quais, censurar o próprio Jesus e, quem sabe, seus métodos. Eles reconheciam a liderança do mestre, por isso o tratam dessa maneira e o chamam a responsabilidade no sentido de que aquele tipo de manifestação deveria ter um final imediato. Logo, eles tinham um forte de senso de hierarquia e sabiam que a palavra de um mestre tem forte valor junto a seus discípulos. E é com esta intenção que eles se dirigem a Jesus na tentativa de impedir que uma manifestação como aquela fosse adiante.

     Pedir para repreender aos discípulos revela este senso de hierarquia pelas razões que foram dadas no parágrafo anterior.  Conforme o registro do verso 37, a multidão que começou a ovacionar Jesus chamando-o de Rei que vem em nome do Senhor, era a multidão dos seus discípulos. E agora, no verso 39, os fariseus que se infiltraram no meio desta multidão, apelam a Jesus para que ele repreenda aos seus discípulos e que parem com aquele tipo de manifestação. Existem neste trecho que nos serve de base para reflexão a presença de outros atores. Além da figura central do próprio Jesus, estão presentes também os fariseus, a multidão dos discípulos e agora os discípulos. Devemos, ao nos confrontar com qualquer tipo de massa de pessoas, identificar a presença de seus atores e os objetivos que fazem com que estejam atrelados a determinados movimentos de massa.

     De repente, emerge do meio deste emaranhado de pessoas que se manifestam publicamente algumas vertentes que, se apenas olharmos para a massa enquanto massa, não seremos capazes de identificar. Algo de sinistro e sorrateiro se poderia deduzir a partir da manifestação dos fariseus. O grito de repulsa e reprimenda emerge do meio da massa. Qual o motivo de estarem ali, por acaso estavam infiltrados? A manifestação deles em censurar a Jesus tinha algum tipo de atitude que revelaria o quanto estavam em desacordo com os rumos que tinham tomado e os livraria de serem listados pelas autoridades como aqueles que fazem parte, caso o objetivo tivesse a natureza de um levante, ou insurreição. 

     O fato é que a partir do momento que a entrada de Jesus em Jerusalém tomou este vulto, ela incomodou aqueles fariseus e eles tiveram que se manifestar. E quando eles se manifestam em tom de censura junto ao mestre, eles recebem um tipo de resposta que jamais imaginariam receber. O que Jesus está afirmando a estes fariseus é que independente dos rumos que as coisas tenham tomado. Seja qual for a intenção de cada pessoa que naquele momento se manifestava de tal maneira a reconhecer a liderança de Jesus como seu mestre, ou até mesmo com a intenção de torná-lo um Rei. O que Jesus está dizendo para aqueles fariseus é que não há como calar uma multidão naquilo que ela tem de reivindicação e anseio e aquele que ela elege para que represente essas aspirações e anseios populares. Era tão legítimo o tipo de manifestação popular que se presenciava, que o mestre adverte aos fariseus que se eles se calarem, até as pedras clamariam.

     Se há uma coisa que a narrativa da entrada triunfal de Jesus em Jerusalém estabelece como parâmetro, é que a verdade está e estará sempre presente se estamos falando acerca da obra redentora de Deus em Cristo Jesus. Primeiramente por ela ser reveladora de tudo que se encontra encoberto e que de alguma maneira se torna comprometedor para alguns. Falamos aqui num primeiro momento de uma multidão, ou de alguma massa informe e impessoal. Porém, de uma hora para a outra, emerge dessa mesma multidão alguns grupos que não eram assim tão identificados com o grupo dos discípulos que seguiam a Cristo.

     Vale dizer que o tipo de manifestação da multidão vai muito além daquilo que o próprio Jesus enquanto mestre daqueles que o ovacionam lhes tinha ensinado. Porém, naquele exato momento, o que eles estão a reverenciar é aquele que vem em nome do Senhor. Isto, entre outras coisas, dava a entender às portas de Jerusalém, a cidade santa, que as autoridades religiosas, não ocupavam com legitimidade as funções que o próprio Deus através do princípio legal tinha estabelecido para orientar e dirigir seu povo. A própria presença do mestre e a forma como ele adentra a cidade, é sintoma claro de aqueles que naquele momento ocupavam o espaço e lidernça espiritual do povo não possuíam qualquer tipo de legitimidade: "Bendito aquele que vem em nome do Senhor." 

     

Conclusão


     O que está em torno de Jesus e ganha status ou projeção de evento. Está alavancado não necessariamente pela história desse Jesus, mas pela personalidade única e inconfundível que os evangelhos canônicos descrevem biograficamente e que segundo estes mesmos registros nos dão conta de que este Jesus possuiu existência histórica. Ou seja, mais ou menos é como a base de notação teológica estabelecida por Joachim Jeremias  quando faz uma comparação entre IPSSISSIMA VOX e IPSSISSIMA VERBA. 

    O que não se pode perder de vista é que os evangelhos canônicos são escritos. E muito embora neles se perpetuem narrativas de fatos identificados e atribuídos a seu principal personagem. Eles são submetidos a um processo de controle redacional. Que não se resume a uma narrativa que busque tão somente a comunicação. Eles são produtos de interpretações dessas ocorrências, as quais estão diretamente ligadas a figura ímpar desse Jesus que emerge desses relatos ou ditos a cerca do mesmo. E que, portanto, se constituem nos principais elementos de composição dessas narrativas.

     Embora havendo intercorrências nas narrativas dos evangelhos. Ainda assim foi possível estabelecer bases comuns, ou fontes das quais se serviram, pelo menos três deles. Por isso são chamados de sinóticos. É preciso entender que cada um deles traz consigo sua própria hermenêutica. O próprio evangelho de Lucas sobre o qual nos debruçamos para fazer esta leitura. É um achado ou peça que segundo o autor foi haurida a partir de pesquisas minuciosas, e em meio a um emaranhado de ditos a cerca do mestre(Lucas 1:1-4). 

     O que chama a atenção neste prólogo lucano não é necessariamente a ênfase que se coloca sobre o processo de transmissão oral a cerca dos fatos e aqueles que efetivamente os presenciaram e, por conta disso, se tornaram ministros da palavra. Mas a informação de que muitos, sabe-se lá quantos, mas o autor fala de muitos, tinham também empreendido pôr em ordem estes fatos que são testemunhos desses ministros. É fato, portanto, que existem muitas hermenêuticas circulando durante o período em que o autor do evangelho de Lucas se propõe a levar a diante também seu projeto de texto.

     Não há necessidade de se entrar no assunto propriamente dito e que atende pelo nome de literatura apócrifa, mas a existência de outros textos também chamados de evangelhos e que, desde muito cedo, a igreja se pronunciou dogmaticamente sobre os mesmos e não os incluiu na lista de textos sagrados. Pode muito bem ilustrar a preocupação do autor com essa enxurrada de textos, porém com algum tipo de hermenêutica duvidosa. Um fato histórico tem somente relevância desde que alcance o status de evento. E para que olhemos para Jesus como evento, basta que seja passível de um sem número de acepções que circulem em torno de sua pessoa e existência histórica.

     A partir de pequenos contextos de ou núcleos tais como famílias, grupos de pescadores, ou aquelas pessoas ainda mais alijadas da vida social em suas épocas(Leprosos, prostitutas, cegos, etc.), é que se verifica primeiramente o acolhimento de alguém da envergadura de Jesus. É em torno dele e de suas palavras e mensagens que estes primeiros crentes haverão de se reunir. Jesus é sinônimo de comunhão, de mesa posta, de partilha. E não dá para falar dele se omitimos tudo que fez, que falou, que ensinou. Parte disso, evidentemente, são percepções a cerca das projeções que as comunidades que reunidas em seu nome cultivou. 

   As primeiras pessoas que o acolheram, fizeram por causa de seu olhar acolhedor. O acolheram porque se sentiram acolhidas por ele. E a intenção de considerar este Jesus das narrativas dos evangelhos como um evento histórico dá-se por conta do crescimento exponencial e contingente daqueles que se sentiram acolhidos por ele. Tenho absoluta certeza de que a ideia de corpo que cresce e se expande toma o sentido de uma hermenêutica eclesiástica devido a este sentimento de acolhimento e pertença que todos aqueles que são contemplados por esta graça são tomados e se tornam seus seguidores.

     A verdade nas escrituras sagradas tem forte apelo popular. O exemplo pacífico, porém com conotações de protesto e insatisfação popular onde o povo aclama um líder carismático e galileu como seu Rei e justamente na entrada da cidade santa. Cidade que goza da reputação de matar todos que são enviados da parte de Deus(Lucas 13:34). Agora, e diante de uma manifestação como a que está ocorrendo se sente de mãos atadas sem saber o que fazer e não tendo condições de fazer uso da violência como forma de reprimir aquela manifestação pacífica. Porém, que trazia grande incômodo às autoridades religiosa da época.

     Nada naquele momento poderia fazer sentido para os fariseus e para as autoridades religiosas. A sensação que se tem foi de que eles perderam o controle da situação. Apenas para recapitularmos o que está acontecendo em plena Jerusalém que era o centro da religiosidade judaica. Onde também se encontrava o templo. Um homem oriundo e vindo da Galileia entra por seus portões sendo aclamado Rei e reconhecidamente como enviado divino. Tal era o absurdo quanto ao que estava acontecendo, que lembrei-me do que Natanael falara a Felipe quando lhe dissera que havia encontrado o Messias: "Pode vir alguma coisa boa de Nazaré?" (João 1:45-46). Como explicar então que um nazareno seja aclamado como Rei e Messias em Israel? Estava aí o motivo que fez com fariseus que se encontravam no meio da multidão se revelassem.

     A verdade tem sido reveladora e ao mesmo tempo em se tratando de uma dinâmica que tem como líder o próprio Cristo, é também provedora de sentido. Aqueles fariseus no meio da multidão achavam que estavam no controle das coisas e que passariam incólume sem que fossem notados no meio da multidão. Pelo contrário, tiveram que se revelar e ainda ouviram algo que não se podia, em hipótese alguma ser passível de contestação. Não se pode lutar contra a verdade. A verdade é reveladora, é libertadora e sempre acompanha o servo do Senhor. Por isso, que todo aquele que vem em nome do Senhor é provado na verdade. E foi exatamente isto que aconteceu no episódio narrado por este evangelho. Amém !!!

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29 Καὶ ἐγένετο ὡς ἤγγισεν εἰς Βηθφαγὴ καὶ Βηθανίαν πρὸς τὸ ὄρος τὸ καλούμενον Ἐλαιῶν ἀπέστειλεν δύο τῶν μαθητῶν 30 λέγων Ὑπάγετε εἰς τὴν κατέναντι κώμην ἐν εἰσπορευόμενοι εὑρήσετε πῶλον δεδεμένον ἐφ’ ὃν οὐδεὶς πώποτε ἀνθρώπων ἐκάθισεν καὶ λύσαντες αὐτὸν ἀγάγετε 31 καὶ ἐάν τις ὑμᾶς ἐρωτᾷ Διὰ τί λύετε οὕτως ἐρεῖτε Ὅτι Κύριος αὐτοῦ χρείαν ἔχει 32 Ἀπελθόντες δὲ οἱ ἀπεσταλμένοι εὗρον καθὼς εἶπεν αὐτοῖς 33 λυόντων δὲ αὐτῶν τὸν πῶλον εἶπαν οἱ κύριοι αὐτοῦ πρὸς αὐτούς Τί λύετε τὸν πῶλον 34 Οἱ δὲ εἶπαν ὅτι Κύριος αὐτοῦ χρείαν ἔχει 35 Καὶ ἤγαγον αὐτὸν πρὸς τὸν Ἰησοῦν καὶ ἐπιρίψαντες αὐτῶν τὰ ἱμάτια ἐπὶ τὸν πῶλον ἐπεβίβασαν τὸν Ἰησοῦν 36 Πορευομένου δὲ αὐτοῦ ὑπεστρώννυον τὰ ἱμάτια ἑαυτῶν ἐν τῇ ὁδῷ 37 ἐγγίζοντος δὲ αὐτοῦ ἤδη πρὸς τῇ καταβάσει τοῦ ὄρους τῶν Ἐλαιῶν ἤρξαντο ἅπαν τὸ πλῆθος τῶν μαθητῶν χαίροντες αἰνεῖν τὸν Θεὸν φωνῇ μεγάλῃ περὶ πασῶν ὧν εἶδον δυνάμεων



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