A CRUZ DE CRISTO - QUAL O EFEITO DELA EM SUA VIDA ?

      Estamos em um período marcado por forte apelo religioso, também chamado de período da quaresma. É fácil de se entender esta situação uma vez que somos um país latino americano e fomos colonizados desde o século XVI por uma monarquia europeia e católica. Logo, temos fortes laços com o catolicismo romano. Fala-se muito deste período como um período de reflexão e onde a fonte inspiradora para tal reflexão foi o próprio martírio do Cristo. 

         Se pensarmos efetivamente na questão martírio do Cristo, veremos que a consequência deste martírio foi o fato de que o Cristo deixou descontentes em sua época os donos do poder. Ou que se diziam donos do poder. Eles detinham o controle da religião por administrarem o templo e detinham o controle sobre a própria hermenêutica que fazia da religião o que queriam que a religião fosse para o povo.

        Portanto, qualquer um que se levantasse e admitisse a possibilidade de se entender de uma outra maneira o que a religião oficial e seu clero propunha, corria o risco de se tornar persona non grata entre os mesmos. Há uma espécie de simulação de diálogo entre o sumo sacerdote Caifás e outros na ópera Rock JESUS CHRIST SUPERSTAR, onde o  religioso se expressa da seguinte maneira sobre Jesus: "He's dangerous" _ Ele é perigoso!  Mas para quem ele era, afinal de contas, perigoso? E o que e a quem, o Cristo pela palavra que pregava e os ensinamentos que propunha, ameaçava?

       Moral da história, o Cristo foi crucificado, ou seja, foi morto da pior maneira possível. Foi execrado, vilipendiado, abandonado pelos seus próprios seguidores. Há uma expressão utilizada pelo apóstolo Paulo em Filipenses 2:8, em que ele foi obediente até a morte e morte de CRUZ. Era o tipo de morte aviltante. Reservada para as piores pessoas da sociedade: Assassinos, estupradores, inimigos do império romano, etc.

       Aquele seu pequeno grupo de seguidores com muito custo e sob pesado cerco das autoridades conseguiram preservar os seus ensinamentos. Tudo aquilo que tinham ouvido e visto por experiência própria com ele quando estava entre eles passou a ser preservado nas reuniões desse pequeno grupo e principalmente nas ações coletivas que visavam sempre o bem de cada um. Essa vida em comum acabou se transformando naturalmente em rituais de natureza litúrgicas que identificava este grupo como um grupo separado _ EKKLESÍA.

       Aquele estigma aludido por Paulo de que maldito era todo aquele que fosse pendurado no madeiro(Gálatas 3:13), de repente perde um pouco de seu caráter hediondo e de sua principal característica em provocar em nós tamanha repugnância. começa-se então a pensar no porque e em função de que esta morte poderia nos favorecer? Para tanto, e desde então tem sido essa a função da própria teologia. 

        É público e notório, pelo menos do ponto de vista acadêmico, que teologia é o produto de um sistema religioso. Melhor dizendo, todo a religião tem nos seus elementos a base para que possa passar por um processo de sistematização. A esta sistematização é que chamamos de teologia. A teologia cristã, obviamente, nasceu das manifestações religiosas e históricas. Mas, e afinal de contas no que a teologia tem se transformado hoje. Será que ela ainda é produto de uma religiosidade genuína e essencialmente cristã?

        E quem são aqueles que atualmente se dizem cristãos e defensores dos ditos valores cristãos, será que são pessoas dignas de confiança? Ou, fazem do discurso, e apenas do discurso cristão, um mero exercício de retórica sem que jamais tenha algum tipo de compromisso moral com o que apregoam. Ser cristão é segundo a própria auto definição de qualquer cristão andar com Cristo, tê-lo em seu coração. Obedecer as suas ordenanças e andar como diz John Stott sob sua disciplina para que eficazmente possa ser comparado com um autêntico cristão.

        Mas ao longo dos séculos o que a teologia fez foi tão somente encher de flores a cruz de Cristo. E atualmente por mais que tenham se levantado algumas grandes mentes teológicas com o objetivo de se remover as flores da cruz, os projetos que até o momento têm surgido, não são suficientes para que tal objetivo seja alcançado no médio e longo prazo. Mas continua aquela necessidade de se remover essas flores da cruz.

       Enquanto essa cruz estiver envolvida por flores. Enquanto se tornar tão somente um objeto facilmente reproduzido sob a perspectiva estética e artística que é o que tem feito aqueles que buscam através de uma teologia descomprometida com o verdadeiro, autêntico e genuíno cristianismo. Ela, muito embora seja o símbolo máximo de uma religião que lutou contra tudo e contra todos quando o assunto era opressão e direito daqueles que sequer tinham direitos, continuará desvinculada de seu principal caráter representativo. Que é o símbolo que representa aqueles que são perseguidos por causa da fé que abraçaram, e que efetivamente são gerados em esperança(Romanos 8:24)