Púlpito forte igreja saudavel.

 PÚLPITO FORTE IGREJA SAUDÁVEL.


"Por esta causa te deixei em Creta"

(Tito 1:5)



Nos três versos iniciais desta epístola, o apóstolo lança mão das justificativas teológicas pelas quais ele estabelece Tito como pastor da Igreja em Creta. Ele fala de sua investidura apostólica que possuía como missão essencial a condução dos eleitos de Deus à fé e ao conhecimento da verdade. Entender a profundidade dessas palavras do apóstolo é fundamental para tudo que vem pela frente. É fundamental, inclusive, para tratarmos de assuntos como a soberania de Deus no plano de salvação. Ou seja, Deus já tem os seus eleitos, e não nos cabe avocarmos pra nós mesmos nenhum tipo de glória ao considerarmos que quando alguém se converte isto acontece por causa da pregação de "A", "B", ou "C". A tarefa da pregação é pavimentar o caminho por onde esses eleitos devem trilhar. E o mote ou vetor estabelecido como parâmetro durante essa trajetória de fé é a esperança da vida eterna prometida por Deus. Promessa afiançada por Deus e acontecida antes dos tempos eternos. E que, segundo o apóstolo, ela se torna manifesta pela pregação, ou como queiram, pela proclamação(KĒRYGMA). 


Já o verso 4 nos apresenta Tito, a pessoa a quem está endereçada esta epístola. E quem é este Tito, senão um discípulo na acepção da palavra do apóstolo. Um homem gentio já que sua origem étnica conforme Gálatas 2:1-3, era grega. Por outro lado, não há como não notarmos o caráter bastante íntimo e expressivo com que o apóstolo trata este irmão.  Vale ressaltar que o tipo de paternidade aqui referenciada pelo apóstolo em nada pode se comparar ao que atualmente se tem difundido em alguns grupos sectários no protestantismo como alusão a um filho espiritual. Portanto, paternidade espiritual se tiver que ser aludida em nosso meio, apenas existe se estiver atrelada a nossa relação com Deus Pai e mediada pelo Cristo. Afinal de contas, é isto que temos depreendido na leitura desses quatro primeiros versos desta epístola. 


Outro diferencial que reforça essa palavra até aqui é quando comparamos, por exemplo, a relação de Paulo com Timóteo que em nenhum momento o apóstolo o trata como um filho espiritual, muito embora também o chame de filho(II Timóteo 1:2). E por uma simples razão. Quando Paulo conhece Timóteo(Atos 16:1),  o mesmo já possuía uma substancial formação religiosa, principalmente pelo fato de ser filho de mãe judia. E sua mãe já nesta época era uma mulher convertida(II Timóteo 1:5). Portanto, Timóteo é rapidamente integrado ao projeto missionário do apóstolo sem que houvesse qualquer tipo de relação que beirava a essa aberração chamada de paternidade espiritual. Mesmo o apóstolo João que em suas epístolas trata as igrejas ou crentes a quem suas epístolas são endereçadas tratando os mesmos como FILHINHOS, não faz por se considerar um pai espiritual deles.


Quem é então este Tito a quem o apóstolo faz alusão no verso 4 a um filho genuíno na fé comum? Primeiro de tudo, e o próprio verso 4 mostra isto, Tito é um cooperador de Paulo em seu projeto missionário, e, ao que tudo indica essa referência a uma filiação na fé, tem relação ao fato de que Tito é fruto desse trabalho missionário. Isso precisa ficar claro neste momento, pois quando adentramos ao verso 5, o apóstolo faz menção ao fato de que foi por causa disto que te deixei em Creta. Disto o quê? Por partilharem da mesma fé, ou da fé comum como o apóstolo assim sinaliza. 


É bastante também percebermos que a referência a uma fé comum não está necessariamente atrelada às imposições que, num primeiro momento, eram impostas pelo grupo dos judaizantes que perseveravam na igreja de Cristo com aquela ideia de que se os gentios não fossem circuncidados eles não teriam acesso ou direito a salvação. Para Paulo era suficiente uma profissão de fé pública pelo batismo que testemunhava a aceitação do crente a pregação apostólica que subentendia a morte e a ressurreição de Cristo. É pois, em função desse expediente que Paulo deixa o seu filho na fé,  também chamado de Tito, em Creta. O objetivo seria aquele de aparar as arestas, os pontos soltos que porventura pudessem deturpar essa mesma fé apostólica. 


É a partir dos comentários corolários dos versos de 1-4 do capítulo primeiro desta epístola, que agora faço a retomada da proposta temática desta semana teológica. E já faço não com o propósito de subverter esta verdade. Porém, se a direção do seminário me permitir, quero, e pretendo ser bem mais taxativo e rigoroso ao afirmar que SEM PÚLPITO FORTE NÃO HÁ IGREJA. Até o presente momento este texto se preocupou em amarrar a fé cristológica no contexto da pregação, com isso, inapelavelmente construímos outros conceitos que emolduram o quadro da teologia sistemática. 


Que outros conceitos seriam estes? Quando falamos de morte e ressurreição isto nos remete a ideia do sacrifício vicário, ou substitutivo do Cristo em nosso lugar. Aludimos ao pecado, logo, ao que no sistema teológico chamamos de HAMARTIOLOGIA. Portanto, como não é minha intenção expandir a configuração esquemática da teologia. Vou me limitar ao que listei até aqui: Cristologia e Hamartiologia. Deixando claro que toda especificidade com a qual lidamos com estes temas tem como objetivo o serviço que prestamos à igreja de Cristo. Logo, o ambiente onde militamos com o objetivo de preservar a essência da fé cristã que chamamos de pregação apostólica. É o ambiente e contexto da igreja do Senhor Jesus.


Não custa nada lembrarmos que a congregação,  a igreja ou assembleia para ser igreja de Cristo precisa se reunir em torno da palavra. Palavra esta que se distingue das demais simplesmente por ser Palavra de Deus. E, neste caso, sendo bastante agostiniano, quando nos referimos a situações específicas acerca das nossas ações litúrgicas, que vislumbram e redimensionam a abrangência de tudo que se faz na igreja. Inclusive o entendimento de que na ordem discursiva quanto ao que se fala na igreja, as narrativas devem estar adequadas ao princípio escriturístico.  A história da salvação deve fazer parte da principal proposição  da fé. E não há história da salvação se a mesma não estiver relacionada com o ato criativo de Deus da forma como está registrado no Gênesis.


Por isso mesmo, colegas pastores, professores deste seminário,  seminaristas e membros das igrejas aqui representadas. Qualquer ajuntamento de pessoas, mesmo que se reúnam dominicalmente, se não for para celebrar a palavra de Deus por meio da pregação genuinamente apostólica e expositiva. Esse ajuntamento ou reunião de pessoas pode ser tudo, menos a igreja de Cristo. O capítulo dois do livro do apocalipse, quando o Senhor se dirige ao anjo da igreja em Esmirna. Ele se apresenta como aquele que é o primeiro e o último e que foi morto e reviveu. 


Ou seja, o que estamos testemunhando aqui neste verso de número oito do capítulo dois do livro do apocalipse é que o anjo ou pastor dessa igreja estava se deixando levar por outros discursos, narrativas, vozes ou ecos de vozes que brotavam no contexto desta igreja. São aqueles subgrupos que se formam dentro de um grupo maior e que depois tentam se adonar de tudo. Um desses grupos eram daqueles que se diziam judeus. Mas, o Senhor Jesus os chama de a Sinagoga de Satanás. Qualquer ajuntamento de pessoas que se auto intitula igreja precisa exibir o compromisso com a Palavra de Deus. E a Palavra de Deus com conotação apostólica é o testemunho da morte e ressurreição de Cristo para a justificação de nossas vidas.


Não nos iludamos, olhemos para o exemplo de Pedro naquela célebre confissão na região de Cesareia de Felipe, e que se encontra registrada no capítulo 16:13-20 do evangelho de Mateus. O Senhor Jesus perguntou a seus discípulos o que os homens diziam acerca do Filho do Homem. E as respostas eram incrivelmente variadas, indo desde João Batista; Elias; Jeremias ou alguns dos profetas. Entretanto, quando o Senhor Jesus se vira com a mesma pergunta para o seu grupo de discípulos, Pedro tomando a palavra diz que ele é O Cristo, o filho do Deus vivo. Se naquele exato momento Pedro foi capaz de ser usado pelo próprio Deus para fazer tal declaração. Pois o Senhor Jesus o chama de bem aventurado por não ter revelado a carne e o sangue, mas o Pai Celeste. 


Logo depois deste acontecimento, quando o Senhor começa a deixar mais claro a sua real missão que seria de padecer nas mãos das autoridades religiosas em Jerusalém, o que resultaria na sua morte e, no terceiro dia, a sua ressurreição. Este mesmo Pedro passa a ter um comportamento junto ao mestre como de censura pelo que falou. E que de modo algum esse martírio de Jesus aconteceria. E qual foi a reação de Jesus senão  a de repelir com veemência tal iniciativa do apóstolo: "Arreda, Satanás! Tu és para mim pedra de tropeço, porque não cogita das coisas de Deus, e sim das dos homens" (Mateus 16:21-23). Querer desviar Jesus do caminho da cruz era o objetivo de Satanás. Como não não foi possível, agora seu objetivo é fazer com que os pregadores não preguem sobre o Cristo da Cruz.


Estamos em plena semana teológica e no contexto deste seminário. Porém, não nos esqueçamos que esta instituição acadêmica e teológica é produto do sonho de um pastor. Nem vou mencionar o nome dele agora, senão as coisas podem redundar rasgação de seda, ainda que ele mereça, mas, vamos deixar isto para uma outra oportunidade. O que precisamos entender e nos conscientizarmos é que teologia é sim uma função da igreja. Teologia também não é nem pregação nem aconselhamento(TILLICH, Paul, op. cit. pág 13-14). Toda Pregação precisa sim de um suporte teológico e a teologia é a melhor ciência para este suporte. O que se depreende dessa maneira de pensar é característico de um olhar ativo e perspicaz na história da própria teologia. Quando ela se torna refém dos guardas que a protegiam, as demais ciências,  ela perde sua funcionalidade no seio da igreja. 


De forma bastante otimista vejo que a iniciativa deste seminário é o resgate da tão chamada funcionalidade da teologia no seio da igreja de Cristo. E para ser funcional e de serviço na igreja o que precisamos entender é que ela não é tão somente, ou se presta apenas como o braço forte da academia. A academia tem suas regras e portanto ela acaba engessando ou se portando como uma camisa de força e faz tudo isso em nome de uma epistemologia racionalista é técnica. Nada, mas nada mesmo, contra essa postura da academia. Porém, grosso modo, todo material ou as fontes que compõem o material teológico de reflexão estão na revelação divina. E quando falamos em revelação divina, falamos daquilo que está sempre um passo à nossa frente. Haja vista o entendimento que temos de um determinado termo de origem grega: DOGMA. O que é um dogma, ou o que são os dogmas senão a racionalização de algo que em algum momento do passado foi uma revelação. 













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