TEMA - Conquistando e multiplicando, movidos pela graça.

TEXTO - II Coríntios 2:14

ICT - O apóstolo glorifica a Deus que por meio de Cristo se percebe a sua presença em todo lugar pelo odor que se exala de sua presença.

OBJETIVO GERAL - Levar a congregação ao entendimento de que a nossa presença é perceptível pelo odor que exalamos.

OBJETIVO ESPECÍFICO - O odor que exalamos é para revelar tanto que somos de Cristo, quanto para também nos denunciar que não temos parte para com ele.

TESE - Somos movidos pela graça e por isso conquistamos e multiplicamos.




INTRODUÇÃO


     A primeira vez que ouvi uma leitura exegética desse texto, por incrível que pareça, foi há, pelo menos, 37 anos atrás. Eu estava com 19 para 20 anos. E, ao entrar na capela do STBSB, uma vez que era a abertura do ano letivo de 1981, estava ali um pastor muito conhecido de todos os Batistas chamado Russell Shedd. Ele fora escolhido para a ministração daquilo que chamamos de aula magna, ou aula inaugural. Eu confesso que não prestei muita atenção na leitura e explanação deste texto pelo pastor Shedd. Isto se deu por um único motivo. Tudo ali era novidade para mim. Era uma cerimônia cheia de pompa. Estavam ali aqueles pastores tidos como mestres e doutores em suas respectivas áreas. Ou seja, o deslumbramento pelo visual tomou conta de tal maneira da minha pessoa, que não conseguia absorver tudo que estava acontecendo ao mesmo tempo e a meu redor.

     Uma coisa, porém, me chamou a atenção. E ela dizia respeito a forma como o pastor Shedd fez a aplicação especificamente deste verso. Principalmente na expressão utilizada por Paulo: "Que sempre nos faz triunfar, ou caminhar em triunfo, em Cristo". Ora a expressão em Cristo é uma marca registrada que Paulo utiliza naturalmente e é também uma herança de sua religiosidade judaísta. "Se alguém está em Cristo"(II Coríntios 5:17); Pois bem, a aplicação a que fiz menção relatava um fato que era corriqueiro quando algum comandante romano ao retornar a Roma e ser recebido pelo imperador. Até que chegasse ao imperador eles faziam um cortejo para celebrar a vitória. Neste cortejo, até mesmo os povos vencidos e conquistados por aquele comandante desfilavam fazendo parte do cortejo e caminhando em triunfo.

     Alguns outros hermeneutas chegaram até mesmo a fazer uma analogia com o evento relatado nos evangelhos a cerca do caminho do Senhor Jesus em direção ao Gólgota(Via Crucis). Aludindo em suas leituras de que o que poderia transparecer como derrota para Jesus e seus seguidores, na verdade foi a vitória por ele alcançada na Cruz. É evidente que este tipo de leitura encontra muito mais plausibilidade. Ela traz consigo tudo o que se possa caracterizar como evento, no sentido que, o próprio evento Cruz são uma simbiose de situações concomitantes capazes de nos induzir do ponto de vista do sentido que elas emprestam com o objetivo de se concluir favoravelmente de que a Via Crucis foi o caminho para a vitória sobre a morte e sobre o maligno.

     Durante muito tempo esta imagem e aplicação desta mensagem fez parte de minha memória. Ela faz até hoje, pois se não fizesse, eu não a estaria rememorando agora. Porém, comecei a querer entender e, quem sabe, até mesmo fazer alguma releitura desta passagem sem que tivesse como referencial a aplicabilidade da qual se serviu o pastor Shedd na leitura deste texto. Em alguns momentos, pensei até mesmo em fazer um requerimento junto ao STBSB, para que me disponibilizasse o texto desta aula magna. Acho que eles devem ter algum registro do mesmo em seus arquivos. Mais para frente, talvez eu faça isto, se até lá eu ainda gozar de minha boa saúde mental. Por ora, o que pretendo a nível de leitura deste texto, claro, tendo esta vaga lembrança da explanação do saudoso pastor Shedd, é vislumbrar que possibilidades todo o capítulo 2 de II Coríntios nos oferece, e especialmente o verso 14.

     É evidente que se torna indispensável a apropriação de todo o contexto. Ou seja, os versos precedentes ao 14, assim como os que o seguem. Este capítulo se inicia com Paulo fazendo menção de que alguém no seio da igreja de Corinto o estava caluniando. E o principal objetivo era minar sua autoridade de apóstolo entre os Coríntios. O envio desta missiva se justifica pelo fato de que este incidente causou profunda tristeza no coração do apóstolo. Ele, portanto, não se vê numa necessidade urgente em ir até Corinto para sanar esta dificuldade. Há muita tristeza e mágoa por conta disso. Ele então aconselha a liderança da igreja que trate com amor e carinho ao insurgente. E que o mesmo não seja alijado do convívio e comunhão com os demais crentes. Segundo ele, os crentes daquela igreja precisavam de muita argúcia de tal maneira que identificasse os ardis de satanás.

     Enquanto o apóstolo se concentra na escrita do texto desta referida epístola, ele está envolvido em uma constante movimentação de uma cidade para outra. Ele é capaz de confidenciar o quanto é solitária sua vida de missionário. E se ressente de companhia de alguns de seus colaboradores tal como o próprio Tito. O trabalho missionário é recompensador por revelar o quanto nos identificamos com o Senhor Jesus. A tal ponto de exalarmos o odor ou fragrância do mestre. Este aspecto sinestésico do linguajar de Paulo é o divisor de águas quanto ao ajuizamento que se constrói do ponto de vista soteriológico. Tanto os que se salvam quanto os que se perdem são capazes de absorver este odor, ainda que o efeito não seja o mesmo. Já que para alguns é cheiro de vida e para outros é cheiro de morte.

     Onde quer que corporalmente nos encontremos, exalamos este bom perfume e todos conseguem ficar impregnados desta essência. E o apóstolo entende que isto não está relacionado a algum mérito de nossa parte. Quem de nós se mostrou idôneo para isto? Isto é um ato soberano de Deus: "Para Deus somos o bom perfume de Cristo". O apóstolo não questiona este ato soberano. Isto também contribui ao fato de que somente se pode exalar o perfume de Cristo se realmente estamos comprometidos com ele. Por ele realmente fazer parte de nossa vida. E de falarmos ou testemunharmos dele com sinceridade e pureza. É por conta disso, que Paulo afirma que o nosso trabalho missionário se reveste de uma realidade tal a ponto de, ao falarmos de Cristo, falamos dele como se estivéssemos falando de Deus e na presença de Deus.

     A questão do aroma bem como da presença corporal e o que essa presença corporal onde quer que se faça presente exale. A relação do aroma com a presença de Cristo é automática. A exploração dos recursos estéticos marcadamente registrados pela sensibilidade olfativa é mais uma das iniciativas do apóstolo ao destacar que a presença de Cristo está relacionada tanto ao deslocamento de seus missionários bem como pelo doce perfume que eles carregam para todo lado. E exalar a fragrância do seu conhecimento mostra que estamos impregnados de Cristo em nossos corpos. Ao mesmo tempo em que relaciona esse doce cheiro com o conhecimento que dele foi adquirido. O nosso odor corporal tem muito a ver com aquilo que ingerimos.




I - GRAÇA COMO FORMA DE DEVOÇÃO (V. 14a)


     O que o apóstolo Paulo jamais omite em suas epístolas é o reconhecimento de que a glória é sempre dada a Deus e por meio de Cristo. Quer estejamos em uma situação aparentemente desconfortante e com o sentimento de impotência reinante ante as dificuldades; Quer estejamos em uma situação de que temos triunfado sobre as dificuldades que se nos apresentem. A devoção do apóstolo tem apenas um único endereço. Ela é direcionada a Deus e por meio de Cristo. Sempre por meio de Cristo.

     Portanto, é a graça que possibilita todo e qualquer tipo de ação com o objetivo de glorificar a Deus. Ela é a única forma de devoção. Ao mesmo tempo em que reflete a doutrina econômica da trindade. Pois quando reverenciamos a Deus, o fazemos para aquele que simbolicamente representa a transcendência(O Pai). Assim como fazemos tudo isto pela mediação de Cristo. Este texto por si só reflete o que de mais primitivo e puro se constitui na devoção e reconhecimento de nossa parte para com Deus.

     É até mesmo um sacrilégio falarmos aqui em devoção sob pena de incorrermos inconscientemente num sistema de mediação estabelecido ao longo de nossa história cristã em níveis ou graus de mediação. Não há nada disso aqui, e o que possibilita isto que pra nós quase se torna um ideal é a doutrina da graça tal qual a vemos exposta neste texto Paulo. A questão da graça sempre aludida por Paulo sintetiza de maneira um tanto quanto simbólica a capacidade infusa em nós de estarmos na presença de Deus.

     Essa relação para com Deus por meio de Cristo e de quem tivemos por conta disso acesso a sua plenitude, nos inseriu em um estado de coisas onde tudo acontece conforme a expressão de João 1:16, graça por graça. Em um momento ou situação como esta a única atitude que nos resta é reverenciarmos a Deus por meio de sua graça: "Graças a Deus!" Logo, é o único meio que dispomos e por onde damos vazão a nossa devoção para com o Deus misericordioso.




II - O TRIUNFO QUE SE ALCANÇA EM CRISTO(14b).


     Nós abordamos no tópico passado a questão da devoção e quando a mesma é direcionada única e tão somente a Deus. Mas, que motivos, afinal de contas, temos para reverenciarmos a Deus? Será tão somente pelo fato de que alcançamos o triunfo sobre tudo e todas as coisas, sem que absolutamente haja qualquer tipo de mérito em nós mesmos? É evidente, e não dá pra pensar diferente quando o assunto é Deus agindo de forma misericordiosa a nosso favor. Entretanto, se pensarmos na graça como uma estrada de acesso a Deus que, antes de Cristo, estava intransitável. E, que agora está pavimentada. Tomamos conhecimento de que as condições para seu uso são as melhores possíveis. Mas, ainda assim, precisamos ter a absoluta certeza de que as suas excelentes condições de trânsito são perfeitas do início ao fim. E, para tanto, somente se nos enveredarmos por ela. 

     Para Paulo, este estar em Cristo, é uma atitude antecipatória, e, que desde uma perspectiva humana sob as condições da nossa existência que, envolve sim a finitude, faz com que através da fé nos lancemos para um ambiente onde a presença divina é real e que apesar de sermos imperfeitos, ele nos torna perfeitamente justificados e dignos em desfrutarmos de sua presença real. Tudo isso somente se alcança pela fé que depositamos em Cristo. O triunfo não é necessariamente a superação de nossas dificuldades materiais e seculares. Deus coloca-nos a disposição tanto a sua graça quanto a fé como instrumento para que tenhamos acesso a sua pessoa. Porém, sem Cristo nada disso se torna real ou possível. Nele e sempre por seu intermédio triunfamos, pois a presença de Deus possibilitada por sua mediação é que nos blinda de todos os males e dificuldades.

  A chave para entendermos a natureza do nosso triunfo é a mediação de Cristo. Não pode haver qualquer tipo de dúvida a esse respeito. O apóstolo chega a ser categórico ao afirmar que Deus SEMPRE nos faz alcançar o triunfo em Cristo. Não há qualquer tipo de redundância ao afirmarmos que somos eleitos por Deus em Cristo. É por meio dele, Cristo, que o Deus todo poderoso se aproximou e se aproxima de nós, bem como por meio dele também podemos nos aproximar dele, Deus Pai. Logo, eu jamais diria que é um segredo, já que toda a mensagem da revelação anunciada por Cristo se sustenta por este ato divino de reconciliação para com o homem pecador e perdido. E é também o motivo pelo qual o apóstolo Paulo reverencia a Deus com ações de graças. Já que este triunfo somente acontece em Cristo Jesus.




III - A RELAÇÃO COM ELEMENTOS SINESTÉSICOS(14c)


     Esses elementos sinestésicos podem facilitar um tipo de leitura qualquer que fundamentalmente tem uma relação com o viés psicológico ou até mesmo de caráter estilístico no caso de um texto literário. Geralmente são palavras que evocam sensações e percepções diferentes desde um som ou ruído, bem como um cheiro e sua relação com uma cor. Evidentemente que isto varia de indivíduo para indivíduo. Porém, quando o apóstolo usa deste artifício para falar a esta igreja, ele a conhecia muito bem e dela era muito conhecido também. Aqueles crentes, então, estavam bem a par do tipo de expressão que o apóstolo utiliza. Ao mesmo tempo, que esta associação com Jesus através do cheiro, ou doce fragrância, estabelecia conforme o próprio texto como uma relação mais próxima com o mestre de tal forma que se constituía no aspecto distintivo daqueles que em todo lugar exalavam esse cheiro atrelado ao conhecimento advindo do relacionamento com Deus em Cristo Jesus.

     É evidente que essa nova vida em Cristo corresponde a uma dimensão de integralidade. Com absoluta certeza pode ser chamada de uma antropologia geral no sentido de sua abrangência quando o assunto é o tipo de benefício que Deus através de Cristo proporciona ao homem. O homem aqui, sob pena de se incorrer num anacronismo, é o indivíduo em tudo aquilo que compete à sua relação com Deus e com o mundo. E a eficácia de uma ação graciosa da parte de Deus por meio Cristo faz com que a medida que cada ser humano é alcançado, simetricamente essa graça também tende a se multiplicar. Também não dá para se omitir o senso e sentido de espacialidade que esta graça ao se multiplicar alcança: "Por meio de nós manifesta em todo lugar a fragrância do seu conhecimento". Os nossos corpos também têm linguagem própria. E a relação apontada entre esse doce e suave cheiro de um perfume dá muito bem a entender que, muito embora a questão de uma linguagem sinestésica esteja em foco, ela tão somente aponta para o grau de envolvimento e comprometimento que o cristão, em especial, tem com Deus por meio de Cristo.

     Mas, o texto também deixa bastante claro que o odor a que faz menção e que por ser marca registrada daqueles que possuem uma nova vida em Cristo, revela, no caso do relato e experiência de Paulo, que tudo isto somente se configura como verdade em sua materialidade quando se faz a obra em conjunto com outros que também são solidários na sua consecução. Percebe-se isto com tamanha nitidez nos versos 12 e 13 deste capítulo os quais precedem o 14, objeto dessa reflexão, na referência que o apóstolo faz a Tito, seu irmão, e o infortúnio provocado por sua ausência. O evangelho não pode ser equiparado ao sonho de uma pessoa e a busca por realização, muito menos tocado como um empreendimento pessoal. Talvez seja por isso que não tenha se sentido  a vontade para tal desafio ao chegar a Trôade. Ele sinalizou logo a ausência do amigo e irmão Tito, e, isto o deixou bastante preocupado e pensativo a ponto de, se despedindo, daqueles irmãos ali em Trôade, partir para a Macedônia.







CONCLUSÃO



     De tudo que se tem falado nesta leitura, fica aquela percepção de que a mesma não corresponde ao tipo de abordagem temática proposta para ser seguida. A mesma pode ser entendida como uma leitura feita à revelia do que fora proposto. Pode ser que sim. Afinal de contas, quem está levantando esta discussão é o seu autor. Em algum momento percebi que o texto me levava em direção contrária ao que o tema me sugeria. Nestes casos, segui a leitura do texto e aqueles aspectos passíveis de serem identificados em seu interior. Não cabe aqui destacar o porque de uma proposição temática como esta, muito embora haja uma explicação bastante peculiar. O que importa, e isto foi suficientemente positivo pra mim, é o prazer em analisar o texto desta epístola explorando as variadas possibilidades hermenêuticas e, consequentemente o entendimento de que a referida proposição temática atingiu ou não os objetivos que lhe foram propostos.

     Quando se tem uma aproximação maior com este tema e consequentemente a utilização de duas formas verbais no gerúndio. O principal aspecto a se identificar é o elemento dinâmico. Uma vez que a própria forma nominal dos verbos em questão nos dão conta disso. Outro dado, é que são duas formais verbais que se completam simultaneamente, mas que obedecem a um movimento progressivo. A título de entendimento, esta sequência está muito bem delineada pela forma como a concomitância das ações verbais estão dispostas. Deus nos faz triunfar em Cristo, manifesta através de nós e em todo lugar o doce e agradável do seu conhecimento. Se pensarmos na proposição temática e este conquistar que significa entre outras coisas ocupação espaços, o resultado é tão somente a multiplicação pela difusão e exalação em forma de odor do conhecimento revelado em Cristo.

     E quando foi feita menção dos recursos sinestésicos utilizados pelo apóstolo. Fica bastante claro que o objetivo de Paulo não é tão somente que os crentes tenham como recurso que auxiliam no entendimento da mensagem divina e a dimensão da situação e realidade experienciada por eles não se restringe ao órgão da visão. É fato, que o apóstolo não somente alude ao cheiro de conhecimento vindo da parte do Senhor por meio de sua maior revelação, assim como assim como exalamos o mesmo conhecimento e, além do mais, distinguimos pelo olfato quando o referido conhecimento é vindo da parte do Senhor. E quando ele vem de Deus, a fragrância é doce, agradável e impregna a todo o ambiente. 

    

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14 Τῷ δὲ Θεῷ χάρις τῷ πάντοτε θριαμβεύοντι ἡμᾶς ἐν τῷ Χριστῷ καὶ τὴν ὀσμὴν τῆςγνώσεως αὐτοῦ φανεροῦντι δι’ ἡμῶν ἐν παντὶ τόπῳ 15 ὅτι Χριστοῦ εὐωδία ἐσμὲν τῷ Θεῷἐν τοῖς σωζομένοις καὶ ἐν τοῖς ἀπολλυμένοις 16 οἷς μὲν ὀσμὴ ἐκ θανάτου εἰς θάνατον οἷςδὲ ὀσμὴ ἐκ ζωῆς εἰς ζωήν καὶ πρὸς ταῦτα τίς ἱκανός 17 Οὐ γάρ ἐσμεν ὡς οἱ πολλοὶκαπηλεύοντες τὸν λόγον τοῦ Θεοῦ ἀλλ’ ὡς ἐξ εἰλικρινείας ἀλλ’ ὡς ἐκ Θεοῦ κατέναντιΘεοῦ ἐν Χριστῷ λαλοῦμεν
     



      


      

     

     

     

Um comentário:

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