Anacronismos ideológicos, ou ideologia anacrônica?

Recentemente eu estava passando por alguns vídeos sobre Teologia na plataforma YouTube, e me deparei com a palestra de um pastor que, sem sombra de dúvidas, me deixou bastante preocupado. Não com o que ele falava, muito embora ele não seja dos meus preferidos quando se trata de teologia. Mas, por causa de sua desonestidade, pra não falar de mal caratismo mesmo.


O vídeo tem pouco mais de uma hora de duração. Entretanto, logo em seu início, naquelas palavras introdutórias ainda. Este pastor começa a falar sobre algumas das reformas ocorridas na Europa e que foram desencadeadas pelo principal movimento reformador ocorrido na Alemanha. E por ter como seu grande mentor e protagonista o monge agostiniano Martinho Lutero, leva o nome de Reforma Luterana.


E como disse, foram nas palavras introdutórias deste pastor que percebi o quanto ele estava sendo desonesto na condução daquela palestra. Por volta do segundo minuto de suas palavras iniciais, ele descreve em cada lugar, e em conformidade com os contextos sociais e políticos dos mesmos, as especificidades de cada reforma. É quando ele cita a Reforma dos radicais Anabatistas, que resultou no massacre de camponeses alemães, que cresceu em mim um sentimento de indignação. 


A desonestidade começa pela tentativa de ofuscar, omitir, desconsiderar, ou qualquer outra tentativa de tornar a figura menos importante e icônica de um sujeito chamado Tomás Müntzer. Assim, ao invés de fazer referência ao nome de Müntzer como vinha fazendo anteriormente com os demais ícones e protagonistas de cada segmento reformador, na Europa do século XVI. Ele tão somente cita o movimento chamando de Radicais Anabatistas com fortes tendências apocalípticas.


E ao citar apenas este movimento dos radicais Anabatistas, ele os qualifica como radicais pelo fato de tentarem impor um tipo de República comunista ou socialista. Ora, estes eventos acontecem na Europa, em pleno século XVI. Se não me engano a figura obscura e não citada por este pastor, e que a historiografia o identifica como Tomás Müntzer, foi decapitado na cidade de Münster, em 1525. E você e qualquer outro mortal, apenas ouvirá ou terá lido alguma coisa acerca das ideias de Marx, a partir do século XIX(Marx 05/05/1818-14/03/1883).


E como o anonimato de Tomás Müntzer foi deliberado na palestra desse pastor. Me reservo também o direito de não citar seu nome deliberadamente. Até porque, o fato de se omitir em sua perspectiva histórica essa figura ímpar do século XVI. E mesmo quando descreve o movimento em que Müntzer era líder, o faz de forma pejorativa. Já mostra a sua opção política e ideológica. Nada contra essas opções e tudo contra a sua desonestidade e mal caratismo. 


Entretanto, a própria historiografia possui fartos registros desses eventos que tiveram seu lugar na Alemanha do século XVI. E o objetivo desses camponeses alemães, após séculos de exploração era de que a reforma até então religiosa, também chegasse ao campo como reforma agrária e antifeudal. O que era fundamentalmente contra os interesses da nobreza, mais precisamente dos príncipes alemães.  Com quem Lutero tinha acordos. 


Ao se tentar, não apagar a memória deste ou daquele com quem não possuímos qualquer tipo de identificação religiosa, política ou ideológica. Mesmo porque não seria possível, dada as razões de registros historiográficos já referenciados. Porém, isso não isenta este pastor em suas intencionalidades, ao tentar ofuscar a figura do outro. Percebe-se com muito mais clareza, a nível de sentimento, o tipo de impiedade humana a que podemos nos submeter. E muitas das vezes na busca por objetivos mesquinhos que não valem a pena e não se justificam. 


Minha intenção ao não citar o nome do referido pastor. Não tem por objetivo omitir a sua pessoa. Ele já é por demais conhecido nas redes sociais. Por outro lado, se ele foi capaz de identificar um movimento camponês alemão do século XVI, com as ideias de um determinado personagem que apenas apareceria no século XIX, que foi Marx. Quem sabe eu também não possa, enquanto pastor, me sentir no direito, e com liberdade para utilizar as palavras do Apóstolo Paulo em I Timóteo 6:8. E a partir desta citação bíblica fazer uma também contundente condenação dessa onda capitalista, neoliberal e consumista.



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